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CAPÍTULO III – AUTO DE INFRAÇÃO

4. AUTO DE INFRAÇÃO E OS REQUISITOS DO ATO ADMINISTRATIVO

4.2. Pressupostos de validade

Os pressupostos de validade, que são externos ao ato administrativo, compreendem os pressupostos: subjetivo, objetivo, teleológico, lógico e formalístico.

O pressuposto subjetivo se refere ao sujeito que produz o ato, ou seja, o agente que tem competência136 para a prática do ato administrativo. Competência se diferencia de sujeito por ser “o plexo de atribuições outorgadas pela lei ao agente administrativo para consecução do interesse público postulado pela norma”137.

No auto de infração, o pressuposto subjetivo é a autoridade administrativa a quem a lei confere a competência legal para fiscalizar e lavrar o auto de infração138, que conforme a alteração legislativa passa a ser o Auditor-Fiscal da RFB139. Diferencia-se do sujeito ativo no consequente da norma jurídica, que tem o direito subjetivo de exigir o cumprimento da obrigação imposta no auto de infração e é o ente tributante.

Nos requisitos do auto de infração temos esse elemento no caput e no inciso VI140 do art. 10 do PAF.

No caput do artigo há a previsão de que deve ser lavrado o auto de infração por servidor competente, e no inciso VI determina-se a qualificação do funcionário que lavrou o auto de infração para o fim de verificar a legalidade do ato produzido em conformidade com as atribuições do agente público, ou seja, a sua competência.

Os pressupostos objetivos compreendem os requisitos procedimentais e o motivo do ato.

Os requisitos procedimentais são os procedimentos, como sequência de atos, previstos em norma para a formação do ato administrativo.

136 Fabiana Del Padre Tomé denomina de competência, mas preferimos usar sujeito competente

(2011/2012, p. 325).

137 FIGUEIREDO, op. cit., p. 200.

138 CARVALHO, 2011, p. 476; e HORVATH, 2010, p. 62. 139 Decreto n°. 8.303/2014 e Portaria RFB 1.687/2014. 140 NEDER; LÓPEZ, 2004, p. 185.

EURICO MARCOS DINIZ DE SANTI141 destaca que o último ato do procedimento e essencial para a “juridicização do enunciado do ato administrativo”142 é a publicidade.

Esse pressuposto não é previsto para todos os atos administrativos, mas os que têm previsão normativa devem ser observados na sua formação.

Na lavratura do auto de infração, o procedimento consiste na emissão de MPF, que conforme discorremos, pode ser dispensado. Tem previsão nos arts. 7°, 8° e 9°, todos do PAF, não fazendo parte do rol do art. 10 do diploma.

A publicidade, como último ato do procedimento, é no auto de infração a comunicação ao contribuinte da exigência que lhe é feita. É elemento essencial à sua lavratura. Com esse ato, o auto de infração se torna inalterável, nos termos do art. 145 do CTN143. Está previsto no inciso V (segunda parte) do art. 10 do PAF, quando determina: “intimação para cumpri-la ou impugná-la no prazo de 30 (trinta) dias” 144.

O motivo do ato consiste no “[...] pressuposto de fato que autoriza ou exige a prática do ato. É, pois, a situação do mundo empírico que deve ser tomada em conta para a prática do ato”145.

141 Eurico Marcos Diniz de Santi (2010, p. 81); Karem Jureidini Dias de Mello Peixoto (Op. cit., p. 132);

e Renata Rocha Guerra (Op. cit., p. 33).

142 SANTI, 2010, p. 82.

143 Art. 145. O lançamento regularmente notificado ao sujeito passivo só pode ser alterado em virtude

de: I - impugnação do sujeito passivo; II - recurso de ofício; III - iniciativa de ofício da autoridade administrativa, nos casos previstos no artigo 149.

144 NEDER; LÓPEZ, 2004, p. 185. 145 MELLO, op. cit., p. 397.

No auto de infração, o motivo do ato administrativo é a ocorrência do evento que dará suporte ao seu relato em linguagem competente para constituir o fato jurídico tributário ilícito previsto no antecedente da norma concreta e individual. Ou seja, é o acontecimento no mundo fenomênico que tem previsão no antecedente da norma abstrata e geral.

O pressuposto teleológico é a finalidade146, e consiste no objetivo que deve ser alcançado com a expedição do ato administrativo. Vem delimitado em lei.

LÚCIA VALLE FIGUEIREDO147 diferencia finalidade imediata de finalidade mediata. A finalidade imediata também é chamada de fim, e a mediata é a que “visa a atuar a vontade normativa, o interesse público que pode estar apenas subjacente na norma”. Concordamos com essa distinção e no auto de infração há a finalidade mediata, o interesse público, e a finalidade imediata aplicação da “coação administrativa”148.

146 Eurico Marcos Diniz de Santi critica esse pressuposto por entender que como só é possível auferi-

lo quando do ato já produzido não pode ser nem elemento e nem pressuposto do ato administrativo. Determina que a finalidade é: “[...] a finalidade, é nexo lógico internormativo. É dada pelo cotejo entre a prescrição da finalidade legal que designa a relação intranormativa (o ‘conteúdo’) em abstrato (na norma jurídica que regula a criação do ato-norma) e o fim concreto, prescrito pela relação jurídica intranormativa do ato-norma (‘conteúdo do ato’). É a concatenação semântica, entre o ‘conteúdo legal’ e o ‘conteúdo do ato-norma’, é, pois, a relação hiponímica que se estabelece entre estes enunciados prescritivos, i.é., relação que ‘intercorre entre expressões com sentido mais específico e expressões genéricas’” (2010, p. 79).

147 FIGUEIREDO, op. cit., p. 203.

O pressuposto lógico é a causa149. A causa é a relação lógica que deve existir entre o motivo, a motivação e o conteúdo do ato150. KAREM JUREIDINI DIAS DE MELLO PEIXOTO151 observa que a causa deve ser analisada sob dois aspectos da causalidade jurídica: intranormativa e internormativa. A relação intranormativa, dentro da norma concreta e individual, consiste na relação de adequação entre o fato jurídico tributário e a obrigação tributária, ou seja, a implicação do antecedente e o consequente; e a relação internormativa, fora da norma concreta e individual, é a subsunção, ou seja, a relação entre a norma abstrata e geral e a norma concreta e individual. Concordamos com o entendimento e o aplicando no auto de infração entendemos que deve haver relação de adequação entre antecedente e consequente pela implicação; e na subsunção da norma abstrata e geral com a norma concreta e individual introduzida.

Por fim, o pressuposto formalístico. É a formalização e compreende a forma específica prevista em lei para o ato administrativo ser exteriorizado.

No auto de infração, o suporte físico152 é a formalização, ou seja, o próprio auto de infração em sua essência, conforme nosso entendimento.

Sistematizamos:

149 Eurico Marcos Diniz de Santi critica a causa como pressuposto. Explica que ela é elemento interno

do ato-norma, mas que não pode ser um elemento, posto que os elementos ao ato-norma são as variáveis e a causa é uma constante lógica (2010, p. 78.).

150 FIGUEIREDO, op. cit., p. 204; GASPARINI, op. cit., p. 120; MELLO, op. cit., p. 408; e OLIVEIRA,

op. cit., p. 61.

151 PEIXOTO, op. cit., p. 135-136. 152 TOMÉ, 2011/2012, p. 324-326.

Feitas essas considerações sobre o auto de infração e seus requisitos, passamos a estudar a invalidade, suas espécies, os vícios e seus efeitos.

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