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Nulidade no Auto de Infração MESTRADO EM DIREITO

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Marly Moreira Couto Criales

Nulidade no Auto de Infração

MESTRADO EM DIREITO

SÃO PAULO

(2)

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Marly Moreira Couto Criales

Nulidade no Auto de Infração

MESTRADO EM DIREITO

Dissertação apresentada à Banca

Examinadora da Pontifícia Universidade

Católica de São Paulo, como exigência

parcial para obtenção do título de

MESTRE em Direito Tributário, sob a

orientação da Profa. Dra. Clarice von

Oertzen de Araújo.

SÃO PAULO

(3)

Banca Examinadora

______________________________________

______________________________________

(4)

Com todo meu amor a José Eimar, Luiz

(5)

AGRADECIMENTO

Primeiramente, a Deus pela dádiva da vida e a benção nesta produção.

Ao meu marido e melhor amigo, Luiz André, que me apoiou e ajudou na

realização deste sonho.

Aos meus pais, Margarida Maria e José Eimar, pelo amor incondicional e que

sempre me incentivaram a estudar, fazendo nascer o sonho que hoje realizo. Nada

seria sem os seus ensinamentos.

Aos meus irmãos, Beatriz e Rogério, pelas alegrias que seus filhos, Gustavo e

Leonardo, me dão e por compreenderem a minha ausência durante este último ano.

À minha cunhada Gladys e sua família por me ajudarem no abstract.

Aos meus melhores amigos, Taciana, Marcia e Luiz, pelas palavras de apoio

e incentivo.

À minha orientadora, Clarice von Oertzen de Araújo, que não só contribuiu

para a produção deste trabalho com suas orientações, mas proporcionou meu

amadurecimento profissional e intelectual.

À Professora Fabiana Del Padre Tomé e ao Professor Tácio Lacerda Gama

pelas contribuições preciosas no exame de qualificação.

Aos professores de mestrado: Paulo de Barros Carvalho, Charles Willian

Mcnaughton, Estevão Horvath, Roque Antonio Carrazza e Robson Maia Lins, por

todos os ensinamentos e discussões.

Ao Rui e Rafael que sempre foram atenciosos e dispostos a me ajudarem.

A todos que direta ou indiretamente contribuíram para a produção deste

(6)

Nulidade no auto de infração

Marly Moreira Couto Criales

RESUMO: O objetivo do trabalho é estudar as invalidades no auto de infração por

desrespeito aos requisitos obrigatórios para a sua lavratura, com a finalidade de

determinar os critérios de classificação das espécies de invalidades, vícios e seus

efeitos, relacionado aos requisitos no art. 10 do Decreto n°. 70.235/72. O estudo tem

início com o entendimento de norma jurídica como uma construção do ser humano

ao interpretar os textos de lei e atribuir-lhes significação. Trabalha a invalidade como

antítese da validade, e analisa os conceitos de validade, existência e eficácia das

normas jurídica. Em seguida, estuda o auto de infração como ato administrativo para

definir que os seus requisitos de lavratura são compostos de elementos intrínsecos e

pressupostos de validade. Por fim, analisa as teorias de invalidade e sua aplicação

no Direito Tributário, para concluir que são duas as espécies de invalidade, nulidade

e anulabilidade, as quais se relacionam com os vícios materiais e formais.

(7)

Nullity of Tax Notice

Marly Moreira Couto Criales

ABSTRACT: This paper’s purpose is to study the invalidities on the tax notice for

disrespect of mandatory requirements for its transcription with the purpose of

determining the criteria for the classification of types of invalidities, defects and their

effects, related to the requirements of act 10 of decree 70.235 /72. The study begins

with the understanding of the rules of law as a construction of the human being to

interpret the texts of law and give them meaning. It works invalidity as the antithesis

of validity, and analyzes the concepts of validity, existence and effectiveness of legal

standards. Then, it studies the tax notice as an administrative act to define that their

requirements for transcription are composed of intrinsic elements and assumptions of

validity. Finally, it analyzes the theories of invalidity and its application in Tax Law, to

conclude that there are two types of invalidity, nullity and voidability, which relate to

material and formal defects.

(8)

LISTA DE ABREVIATURAS

AgRg Agravo Regimental

ART. Artigo

CARF Conselho Administrativo de Recursos Fiscais

CC Código Civil

CTN Código Tributário Nacional

DCTF Declaração de débitos e créditos tributários federais

DIPJ Declaração de informações econômico-fiscais da Pessoa Jurídica

DIRPF Declaração do Imposto sobre a Renda de Pessoa Física

IRPJ Imposto de Renda de Pessoa Jurídica

LPA Lei n°. 9.784, de 29 de janeiro de 1999

MPF Mandado de Procedimento Fiscal

MS Mandado de Segurança

PAF Decreto n°. 70.235, de 06 de março de 1972

REsp Recurso Especial

RFB Receita Federal do Brasil

RMIT Regra-Matriz de Incidência Tributária

RMS Recurso Ordinário em Mandado de Segurança

STJ Superior Tribunal de Justiça

STF Supremo Tribunal Federal

(9)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 10

CAPÍTULO I NORMA JURÍDICA ... 16

1. DIREITO: LINGUAGEM E REALIDADE ... 16

2. A NORMA JURÍDICA NO CONSTRUCTIVISMO LÓGICO-SEMÂNTICO ... 17

2.1. Estrutura Lógica: A → C ... 20

2.2. Norma jurídica tributária ... 25

3. NORMA JURÍDICA COMPLETA ... 27

4. NORMA: ABSTRATA E CONCRETA, GERAL E INDIVIDUAL ... 31

5. PROCESSO DE POSITIVAÇÃO DO DIREITO ... 33

CAPÍTULO II EXISTÊNCIA, VALIDADE E EFICÁCIA DA NORMA JURÍDICA .... 38

1. EXISTÊNCIA E VALIDADE DAS NORMAS JURÍDICAS ... 38

1.1. Teoria de Pontes de Miranda ... 39

1.2. Teoria de Norberto Bobbio ... 41

1.3. Teoria de Paulo de Barros Carvalho ... 44

1.4. Nossa posição ... 46

2. EFICÁCIA DAS NORMAS JURÍDICAS ... 49

CAPÍTULO III AUTO DE INFRAÇÃO ... 53

1. AUTO DE INFRAÇÃO ... 53

2. AUTO DE INFRAÇÃO E O ATO ADMINISTRATIVO ... 62

(10)

4. AUTO DE INFRAÇÃO E OS REQUISITOS DO ATO ADMINISTRATIVO ... 69

4.1. Elementos intrínsecos ... 72

4.2. Pressupostos de validade ... 75

CAPÍTULO IV INVALIDADE DO AUTO DE INFRAÇÃO... 81

1. HISTÓRICO DA TEORIA DA NULIDADE ... 81

2. INVALIDADE NO DIREITO CIVIL ... 83

3. INVALIDADE NO DIREITO ADMINISTRATIVO ... 87

4. INVALIDADE NO DIREITO TRIBUTÁRIO ... 94

5. PRINCÍPIO DO PREJUÍZO ... 98

6. ATOS IRREGULARES ... 105

7. VÍCIOS NO AUTO DE INFRAÇÃO... 109

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 120

(11)

INTRODUÇÃO

O direito tributário é regido por princípios gerais e específicos. Dentre esses

princípios, destacamos o da estrita legalidade e da tipicidade, inerentes ao sistema

tributário, que preveem que os entes tributantes União, Estados, Distrito Federal e Municípios – só têm competência para tributar – consistente em instituir, arrecadar e fiscalizar os tributos – nos estritos limites das leis em vigor.

Esses princípios garantem aos contribuintes não sofrerem abusos na

tributação, bem como asseguram ao ordenamento jurídico sua necessária

estabilidade junto com o princípio da segurança jurídica.

O desrespeito a esses princípios gera uma ilegalidade no ato de produção

normativa por haver um desajuste entre as disposições legais (norma abstrata e

geral) e a norma jurídica introduzida (norma concreta e individual), que pode

acarretar a expulsão da norma do sistema pela decretação de sua “nulidade”.

Nesse contexto, o presente estudo será realizado, destacando os seguintes

aspectos:

O auto de infração é ato administrativo em que o Fisco, constatando a

ocorrência de um ato ilícito, efetua o lançamento de ofício do tributo, quando for o

caso, e aplica a penalidade ao infrator.

Para a lavratura do auto de infração, a lei prescreve requisitos essenciais de

procedibilidade e de conteúdo. O desrespeito a um desses requisitos pode gerar um

defeito (vício) na norma jurídica introduzida e, consequentemente, uma ilegalidade

que acarrete a decretação de “nulidade” do ato normativo, fazendo cessar a

(12)

do crédito tributário; ou da possibilidade de lavrar novo auto de infração ou

lançamento de ofício para constituir o crédito tributário.

Nesse contexto, realizaremos o nosso estudo na análise dos requisitos legais

para a lavratura do auto de infração e os possíveis desajustes na norma introduzida,

pretendendo sistematizar as “nulidades” para classificar suas espécies; os vícios e

seus efeitos.

Tentaremos responder às seguintes perguntas durante a exposição:

1) Como é regido e aplicado o sistema das “nulidades” no Direito

Tributário? Quais são os seus critérios?

2) Quais são as espécies de “nulidades”?

3) Quais são os vícios e seus efeitos?

4) Na relação com os requisitos de lavratura do auto de infração, como se

processa a sistematização em relação à “nulidade”?

Para tanto, antes de expormos o percurso da pesquisa, fixamos três

premissas que consideramos relevantes à compreensão do assunto com o fim de

garantir coerência à produção científica.

A primeira premissa fixada é que trabalhamos com as normas jurídicas

vigentes. Partimos do conceito de direito positivo como o conjunto de normas

jurídicas válidas em uma determinada sociedade. Tudo, para ser direito, é norma

jurídica, inserida no ordenamento por ato: (i) Poder Legislativo na edição de leis; (ii)

Poder Judiciário nas prolações de sentenças e acórdãos; (iii) Administração Pública,

por meio, especialmente, da edição de atos administrativos, em que destacamos o

auto de infração; e (iv) particular, por exemplo, na emissão do “autolançamento” e do

(13)

A segunda premissa fixada é a de que entendemos “nulidade” como a

invalidade1 da norma jurídica. Com isso, trabalhamos a “nulidade” como a antítese

da validade, fixando o entendimento, neste momento, de que o rol do art. 59 do PAF,

que trata das “nulidades”, é exemplificativo2.

Ademais, o termo “nulidade” é ambíguo, sendo utilizado para denotar o

gênero e a espécie. Logo, para assegurar o rigor científico, a partir deste momento,

o denominaremos de invalidade3.

A terceira premissa que fixamos é que analisaremos o auto de infração no

âmbito da competência tributária da União, que é regido pelo Decreto n°. 70.235/72,

que trata do Processo Administrativo Fiscal, e pela Lei n°. 9.784/99, que estabelece

as normas básicas sobre o processo administrativo no âmbito da Administração

Federal.

Além da fixação das premissas, o conhecimento científico requer a aplicação

de um método em que o sujeito cognoscente determina um sistema de referência

para se aproximar do objeto de estudo e construir um discurso científico coerente.

1 Fica superada a corrente que defende que nulidade é a aplicação de uma sanção por desrespeito ao preceito legal, defendida por: Ada Pellegrini Grinover, Antonio Scarance Fernandes e Antonio Magalhães Gomes Filho (As nulidades no processo penal. 12. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p. 26); Clovis Bevilaqua (Theoria geral do direito civil. Atualizada por Achilles Bevilaqua. 6. ed. Rio de Janeiro: Editora Paulo de Azevedo, 1953, p. 3); e Maria Helena Diniz (Curso de direito civil brasileiro, v. 1: teoria geral do direito civil. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 557).

2 NEDER, Marcos Vinicius; LÓPEZ, Maria Teresa Martinez. Processo administrativo fiscal federal comentado. 2. ed. São Paulo: Dialética, 2004, p. 478.

(14)

Optamos por utilizar no desenvolvimento deste trabalho o método do

Constructivismo Lógico-Semântico, que foi desenvolvido por Lourival Vilanova e

aprofundado por Paulo de Barros Carvalho4.

Esse método tem como referencial filosófico a Filosofia da Linguagem que

entende: (i) a linguagem cria a realidade; (ii) só conhecemos o que é apreendido

pela linguagem; (iii) o ser humano atribui os sentidos (significados) aos termos

linguísticos com base nas suas referências culturais, a fim de criar a realidade; e (iv)

a linguagem é fenômeno comunicacional que precisa ser interpretada para haver

comunicação. Utiliza a Semiótica nesse processo.

Nesse referencial, o direito é concebido como um fenômeno linguístico em

que para ser compreendido (interpretado) é necessária a atribuição de significados

aos enunciados prescritivos, do qual os textos do direito positivo são ambíguos e

vagos, cabendo ao Cientista do Direito, ao interpretá-los, dar coerência à mensagem

legislada.

Assim, o método que trabalharemos tem duas vertentes: a) a atribuição de

sentido é construída (Constructivismo) pelo sujeito ao interpretar os fenômenos

linguísticos; e a interpretação opera no b) plano lógico-semântico

(Lógico-Semântico) com o fim de dar formalismo ao discurso e uma aproximação do objeto.

Não se trata de abandonar o plano pragmático, mas de dar ênfase a esses dois

planos.

Nesse contexto, o Cientista do Direito decompõe o seu objeto de estudo em

uma linguagem formalizada para garantir rigor ao discurso científico, extraindo às

(15)

ambiguidades e vaguezas com aplicações de conceitos de Lógica Jurídica e de

Semiótica.

Nessa conjuntura, o estudo foi sistematizado em quatro capítulos dos quais

percorremos estudos pela Teoria Geral do Direito, Direito Civil, Direito

Administrativo, Direito Tributário e Direito Processual Tributário.

No primeiro capítulo trataremos da definição de norma jurídica. Iniciamos com

uma breve introdução do direito na metodologia do Constructivismo

Lógico-Semântico. Analisando a Teoria Geral do Direito, discorreremos sobre o conceito de

norma jurídica no método de trabalho e sua estrutura lógica; a norma jurídica

completa; a classificação da norma quanto à estrutura dual; e o processo de

positivação do direito. Durante o capítulo faremos a aplicação dos conceitos gerais

no Direito Tributário.

Fixada a premissa de que a invalidade é a antítese de norma jurídica válida,

que tem como consequência a cessação da produção dos seus efeitos, se faz

necessário discorrer sobre validade e eficácia, que será objeto do segundo capítulo.

Neste capítulo faremos um corte nas teorias da validade da norma jurídica para

trabalharmos com as vertentes de validade e existência, pois o tratamento das

invalidades se relaciona com esses institutos jurídicos, devendo, assim, ser firmada

uma posição para a coerência do discurso científico.

No terceiro capítulo trataremos do conceito de auto de infração e os seus

requisitos de lavratura. Já aproveitamos para afirmar que auto de infração é ato

administrativo e com isso é necessário estudar o seu regime jurídico. Assim, faremos

incursões no Direito Administrativo para discorrer sobre o conceito, atributos e

requisitos dos atos administrativos, relacionando, por todo o capítulo, aos aspectos

(16)

Por fim, no quarto capítulo, discorremos sobre a invalidade aplicada no auto

de infração. Iniciaremos com um breve relato da origem histórica do instituto para,

em seguida, traçarmos a sua aplicação no Direito Civil, no Direito Administrativo e no

Direito Processual Tributário. Delimitaremos as suas espécies e os critérios de

classificação no Direito Tributário, os vícios e seus efeitos, relacionando-os com os

conceitos do capítulo anterior quanto aos requisitos de lavratura do auto de infração.

Ressaltamos que no decorrer do estudo analisaremos, quanto à aplicabilidade

das invalidades no Direito Tributário, para o fim de sua sistematização e resposta às

perguntas formuladas, as decisões dos tribunais administrativos e judiciais, em

especial do CARF, do STJ e do STF, quando houver aplicação.

Não pretendemos com esse estudo esgotar o tema, mas fazer reflexões sobre

a invalidade aplicável ao auto de infração para o fim de analisar as posições

doutrinárias (teoria) e jurisprudenciais (prática), na tentativa de confirmá-las ou

(17)

CAPÍTULO I NORMA JURÍDICA

1. Direito: linguagem e realidade

O direito consiste em um conjunto de normas jurídicas que tem o fim de

regular as condutas intersubjetivas dos cidadãos em uma sociedade. É o

instrumento do Estado para intervir no meio social5.

Nesse sentido, há a orientação das condutas para os valores que a sociedade

quer ver realizados com o propósito de organizar a vida em sociedade.

Podemos defini-lo: “Direito é um corpo de regras que se voltam para a região

material das condutas intersubjetivas” 6.

Assim, o direito cria a sua própria realidade ao eleger os eventos, que

ocorridos no mundo fenomênico, terão o condão de constituírem o fato jurídico

quando vertidos em linguagem. Isso porque só é possível conhecer a realidade no

momento em que são atribuídos significados aos dados brutos e constituída em

linguagem7.

Nisso podemos afirmar que há dois acontecimentos que retratam a realidade

jurídica: o evento e o fato jurídico. O evento é um acontecimento no mundo

5 CARVALHO, Paulo de Barros. Teoria da Norma Tributária. 5. ed. São Paulo: Quartier Latin, 2009, p. 21.

6 CARVALHO, Paulo de Barros. Direito Tributário

– Fundamentos Jurídicos da Incidência. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 216.

(18)

fenomênico. O fato é o relato em linguagem competente do evento ocorrido.

Somente após esse relato é que se torna conhecido o evento e é criada a realidade.

O relato do evento em linguagem é ato realizado pelo ser humano que

constata a sua ocorrência e “fala” dele.

No mais, a linguagem é o veículo que o homem se utiliza para se comunicar,

e o direito positivo, como conjunto de normas jurídicas válidas que tem como

destinatários os cidadãos da sociedade, é um sistema comunicacional.

Assim, entendemos que o direito é um sistema linguístico composto

unicamente de normas voltadas a regular as condutas intersubjetivas8, e que para conhecê-lo é preciso compreendê-lo, interpretando-o, construindo seu conteúdo,

sentido e alcance. Nesse contexto, trata-se de um fenômeno comunicacional

representado pela linguagem prescritiva de condutas.

Esse é o parâmetro segundo o qual desenvolveremos nosso trabalho.

2. A norma jurídica no Constructivismo Lógico-Semântico

O direito é fenômeno comunicacional representado pela linguagem prescritiva

de condutas no signo simbólico9, composto unicamente de normas jurídicas. Mas, o que é norma jurídica no contexto da nossa metodologia (o Constructivismo

Lógico-Semântico)?

8 OLIVEIRA, Vivian de Freitas e Rodrigues de. Lançamento Tributário como ato administrativo. São Paulo: Quartier Latin, 2009, p. 28.

(19)

A definição de norma jurídica que utilizamos se diferencia de outras acepções

em que: norma jurídica é o próprio texto de lei (a lei publicada no Diário Oficial)10; que do texto de lei se extrai o conteúdo da norma11; ou que é o conjunto de textos de lei como sistema jurídico em sua unidade12.

Partimos do entendimento de que norma jurídica é o mínimo de manifestação

deôntica de sentido completo representada por um antecedente que implica um

consequente e compreende em sua definição: “a significação que obtemos a partir da leitura dos textos do direito positivo”13. Expliquemos:

O intérprete tem o primeiro contato com as leis (textos de lei). Este é o ponto

de partida para a construção da significação e transmissão da mensagem deôntica

desejada pelo legislador. Contudo, como manifestação em linguagem, para construir

a norma jurídica, o intérprete precisa atribuir valores aos símbolos (signos) por meio

da interpretação pelo percurso gerador de sentidos. Esse é o processo de

interpretação a ser percorrido pelo intérprete para a construção da norma jurídica.

PAULO DE BARROS CARVALHO14 descreve o percurso gerador de sentido em quatro fases de interpretação: plano da expressão; plano da significação; plano

do conteúdo; e plano da sistematização.

10 João Maurício Adeodato ressalta que para a Escola da Exegese Francesa, norma jurídica é a lei (Uma teoria retórica da norma jurídica e do direito subjetivo. São Paulo: Noeses, 2011, p. 158). 11 CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. 7. ed. Almedina: Coimbra, Portugal, 2003, p. 1218; e GRAU, Eros Roberto. Ensaio e discurso sobre a interpretação/aplicação do direito. 5. ed. São Paulo: Malheiros, 2009, p. 28.

12 CARVALHO, Aurora Tomazini de. Curso de Teoria Geral do Direito. 2. ed. São Paulo: Noeses, 2010, p. 278.

(20)

O plano da expressão compreende a análise dos textos de lei em sua

literalidade como frases soltas sem significado. São as marcas de tinta no papel,

como suporte físico, e trata-se do contato sensorial do intérprete, de onde parte para

a construção da significação.

Após esse primeiro contato, o intérprete precisa iniciar a atribuição de

sentidos, passando para o plano da significação, em que começa a adotar “valores unitários aos vários signos, que encontrou justapostos, selecionando significações e

compondo segmentos portadores de sentido”15. Nesse plano, o intérprete constrói os

enunciados prescritivos por meio do agrupamento das frases soltas em significados

voltados ao objeto do direito: a prescrição das condutas. Começamos a ter uma

mensagem veiculada, mas que ainda não é a norma jurídica.

Construídos os enunciados prescritivos, o intérprete passa ao plano do

conteúdo, em que agrupará esses enunciados para a composição da norma jurídica

em seu esquema de juízo implicacional, ou seja: um antecedente que implica um

consequente. Nesse plano há a norma jurídica, e é transmitida a mensagem

deôntica desejada pelo legislador, com a prescrição da conduta a ser obedecida

pelos seus destinatários.

Por fim, no plano da sistematização, as normas jurídicas são organizadas em

uma estrutura hierárquica por traços de coordenação e de subordinação, formando o

sistema jurídico em sua unidade significativa de escalonamento normativo.

Logo, o texto de lei se diferencia da norma jurídica16. A doutrina17 utiliza para

essa diferenciação dois termos, respectivamente: norma jurídica em sentido amplo e

norma jurídica em sentido estrito.

15 CARVALHO, loc. cit.

(21)

Nesse contexto, o intérprete, a partir da leitura do(s) texto(s) de lei constrói a

norma jurídica ao agrupar os enunciados prescritivos no esquema de juízo

implicacional, em que a norma jurídica é uma construção intelectual da mente do

intérprete.

Assim, percorremos do suporte físico, como o texto de lei, para a significação

da norma jurídica, como mensagem deôntica completa.

Mas, qual é a mensagem transmitida pelo legislador ao destinatário da norma,

ou seja, o que é veiculado pela norma jurídica?

O direito é um sistema que regula as condutas intersubjetivas dos cidadãos

durante um lapso de tempo (vigência temporal) e em um determinado espaço

(vigência territorial). As condutas reguladas são: obrigatória, proibida ou permitida.

Assim, a norma jurídica transmite comandos: obrigatórios, permitidos e proibidos na

estrutura lógica representada por um antecedente que implica um consequente. Isso

constitui a articulação lógica da norma jurídica (juízo implicacional) que passamos a

estudar.

2.1. Estrutura Lógica: A → C

A estrutura da norma jurídica é composta de um antecedente que implica um

consequente. Essa é a estrutura lógica de toda e qualquer norma jurídica para ter a

unidade mínima e irredutível de significação deôntica.

(22)

Nesse sentido, a norma jurídica apresenta homogeneidade sintática, mas é

heterogênea semântica e pragmaticamente, porque cada norma jurídica apresenta

conteúdo e aplicação diferentes18.

A mensagem veiculada na norma jurídica é a previsão de um comportamento

desejado pelo sistema que consiste em uma conduta (obrigatória, proibida ou

permitida) a se manifestar pela ocorrência de um evento relacionado ao surgimento

de uma relação jurídica.

Nesse contexto, o legislador, ao descrever a norma jurídica, seleciona os

eventos que considera importantes para configurarem como fatos jurídicos e que

terão o condão de fazerem surgir os efeitos jurídicos por meio da instauração da

relação jurídica.

Assim, no antecedente da norma jurídica está a descrição do evento e no

consequente a instauração da relação jurídica com a previsão da conduta a ser

obedecida e seus efeitos jurídicos.

Podemos representar por: D (A → C), em que: “D” é dever-ser; “A” é o antecedente (descrição do “evento”); “C”, o consequente (previsão da relação jurídica); e “→” (implicação), que é um conectivo condicional que tem a função de

estabelecer um nexo-causal entre a causa (antecedente) e o efeito (consequente), e

se apresenta como functor neutro.

Mas quais os elementos mínimos necessários para a identificação do

antecedente e do consequente?

(23)

A doutrina diverge quanto aos elementos mínimos. Portanto, preferimos

trabalhar com a doutrina de PAULO DE BARROS CARVALHO19 que elenca critérios mínimos para a identificação do fato jurídico e da instauração da relação jurídica.

O antecedente tem a função de descrever um fato (de possível ocorrência ou

jurídico), que nos critérios material, espacial e temporal20 possibilitam a sua delimitação. É a causa para a implicação dos efeitos jurídicos previstos no

consequente.

O critério material pode ser descrito na projeção para o futuro ou passado. Na

projeção para o futuro, descreve um evento de possível ocorrência no mundo

fenomênico e é composto por um verbo no impessoal, infinito e de predicação

incompleta. No passado, representando a concretude do evento, é o seu relato em

linguagem competente para constituir o fato jurídico.

O critério espacial é a delimitação do local em que deve ocorrer ou ocorreu o

evento, em sua projeção para o futuro ou para o passado, respectivamente. No

futuro, pode estar implícito ou explícito na norma, mas deve ser possível identificá-lo.

O critério temporal tem as informações para determinar o momento da

ocorrência do evento. Explica AURORA TOMAZINI DE CARVALHO21 que o critério temporal não é para determinar o instante em que se instaura o vínculo jurídico, mas

a delimitação da ocorrência do evento. O vínculo é instaurado, segundo nossa

premissa, quando vertido em linguagem competente, em que é constituído o fato

jurídico.

19 CARVALHO, 2011, p. 255-256. 20 Id., 2012, p. 243.

(24)

No mais, o critério temporal tem duas funções: a) direta, de identificar com

exatidão o momento da ocorrência do evento relevante para o direito; e b) indireta,

que é a determinação das regras vigentes a serem aplicadas a partir do momento da

ocorrência do evento.

Já, o consequente tem a função de estabelecer o vínculo relacional entre dois

ou mais sujeitos perante um objeto com a aplicação do efeito jurídico previsto pelo

legislador. Seus critérios de identificação são o pessoal e o quantitativo22, e é representado pelo functor deôntico para regular as condutas modalizando em

obrigatório, proibido ou permitido.

Há doutrinadores23 que determinam que deve conter no consequente um critério espacial e um critério temporal para determinar o momento e o local em que

deve ser cumprida a prestação. Entendemos ser desnecessário, posto que o

cumprimento ou não da prescrição normativa é elemento de outra norma jurídica

que descreve o evento do descumprimento ou cumprimento da conduta com os seus

efeitos: aplicação de penalidade ou extinção da obrigação, por exemplo.

O critério pessoal identifica os sujeitos da relação jurídica a ser instaurada e

contém o sujeito ativo e o sujeito passivo. O sujeito ativo tem o direito subjetivo em

relação ao objeto (prestação pecuniária), e o sujeito passivo o dever jurídico.

Necessariamente, um dos sujeitos eleito pelo legislador deve ter relação com o

evento descrito no antecedente24.

22 Já aplicamos a denominação e os elementos do Direito Tributário. Na Teoria Geral do Direito é denominado de critério prestacional. Esse critério indica a conduta que o sujeito passivo deve prestar ao sujeito ativo. É o núcleo do direito por regular as condutas intersubjetivas (CARVALHO, 2010, p. 409-410).

(25)

Segundo PAULO DE BARROS CARVALHO25, direito subjetivo é “[...] a

faculdade que tem o sujeito ativo da relação jurídica de exigir do sujeito passivo o

cumprimento do dever jurídico estipulado na proposição normativa”, e “[...] O dever

jurídico que pode ser exigido pelo titular do direito subjetivo é sempre uma ação ou

omissão do ser humano, e seu descumprimento desencadeia a aplicação de medida

juridicamente sancionadora”.

O critério quantitativo é a conduta que o sujeito passivo deve prestar ao

sujeito ativo, representado pela base de cálculo e pela alíquota. É o núcleo do direito

como regulador de condutas intersubjetivas, e, para fins do nosso estudo, é a

prestação pecuniária de entregar aos cofres públicos a importância devida em

pecúnia constituída no crédito tributário ou na aplicação da penalidade.

Assim, representamos: D [(cm . ct . ce) → (cp . cq], em que se ocorrer o

evento descrito no antecedente (A), então, dever-ser o consequente com a

instauração da relação jurídica (Rj) entre os sujeitos Sa e Sp, na qual uma conduta

será obrigatória, permitida ou proibida entre eles:

[...] (i.a) hipótese, pressuposto ou antecedente (H), cuja função é

descrever uma situação de possível ocorrência (f), que funciona

como causa para o efeito jurídico almejado pelo legislador; e (i.b)

consequente ou tese (C), cuja função é delimitar um vínculo

relacional entre dois sujeitos (S’RS”), que se consubstancia no efeito

almejado; e (ii) conectivo condicional (→), também denominado

vínculo implicacional, cuja função é estabelecer o liame entre a

(26)

causa e o efeito ao imputar a relação prescrita no consequente

normativo, caso verificada a situação descrita na hipótese26.

Por fim, aplicamos a estrutura lógica da norma jurídica e seus critérios de

identificação em dois exemplos do Direito Tributário para o fim de confirmar a teoria:

a) RMIT – IRPJ: no antecedente, o critério material é auferir renda, o critério espacial no Território Nacional, e o critério temporal no período de 1º de janeiro a 31

de dezembro. No consequente, o critério pessoal tem a União como sujeito ativo e o

contribuinte como sujeito passivo; e no critério quantitativo, a base de cálculo é o

valor da renda e a alíquota que varia entre 7%; 15%; 22,5% e 27,5% a depender da

base de cálculo; e

b) Lançamento de ofício por omissão de receita de IRPJ: no antecedente, o

critério material é omitir renda, o critério espacial no Território Nacional, e o critério

temporal no período apurado pelo Fisco. No consequente, no critério pessoal, a

União é o sujeito ativo e o contribuinte o sujeito passivo, e no critério quantitativo a

base de cálculo é o valor da renda omitida e a alíquota que varia entre 7%; 15%;

22,5% e 27,5% a depender da base de cálculo.

2.2. Norma jurídica tributária

Ao atribuirmos o conceito de norma jurídica aplicável ao direito, se faz

necessário determiná-la no campo de nosso estudo: o direito tributário, isto posto, o

direito se apresenta por diversas espécies de normas: constitucional, administrativa,

(27)

civil, tributária, etc., cada qual com o seu conteúdo, em que se diferenciam no

campo da heterogeneidade semântica27.

O Direito Tributário28 é o ramo do direito que regula, direta ou indiretamente, a instituição, arrecadação ou fiscalização de tributos. Compreende: os princípios

constitucionais tributários a serem aplicados pelo legislador; e o nascimento, a vida e

a extinção das relações jurídico-tributárias.

Dessa forma, a norma jurídica tributária é a que trata direta ou indiretamente

da instituição, arrecadação e fiscalização dos tributos.

Portanto, há três tipos de relações: a de instituição dos tributos; a de

arrecadação dos tributos e a de fiscalização dos tributos.

Dado essas relações, o CTN, no art. 11329, prevê que há obrigações

tributárias principais e os deveres instrumentais30. Obrigações tributárias principais são as que surgem da incidência da norma jurídica relacionada à instituição do

27 CAMPILONGO, Paulo Antonio Fernandes. Os limites a revisão no auto de infração no contencioso administrativo tributário. 2005. 270f. Dissertação (Mestrado em Direito), Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC/SP, São Paulo, 2005, p. 76; e CARVALHO, 2012, p. 131.

28 Entendemos que o sistema jurídico é uno e indecomponível, mas didaticamente é necessário fazer o corte para uma melhor análise do objeto (CARVALHO, 2011, p. 46).

29Art. 113. A obrigação tributária é principal ou acessória. § 1º A obrigação principal surge com a ocorrência do fato gerador, tem por objeto o pagamento de tributo ou penalidade pecuniária e extingue-se juntamente com o crédito dela decorrente. § 2º A obrigação acessória decorre da legislação tributária e tem por objeto as prestações, positivas ou negativas, nela previstas no interesse da arrecadação ou da fiscalização dos tributos. § 3º A obrigação acessória, pelo simples fato da sua inobservância, converte-se em obrigação principal relativamente à penalidade pecuniária”.

(28)

tributo, e os deveres instrumentais se apresentam pelas normas que regulam a

forma de arrecadação e fiscalização dos tributos.

Nessa perspectiva, podemos delimitar que as normas jurídicas tributárias são

de duas espécies: as que preveem a forma de instituição do tributo, e as que

preveem a forma de arrecadação e fiscalização; classificando-as, respectivamente,

em norma jurídica em sentido estrito e em sentido amplo31.

Assim, as normas jurídicas tributárias, que devem se apresentar pela

estrutura lógica, são: a) as que têm como objeto a instituição do tributo e se

apresentam pela regra-matriz de incidência tributária, lançamento tributário ou auto

de infração; e b) as que tratam da forma de arrecadação ou fiscalização como, por

exemplo, da obrigatoriedade de emissão de DCTF, DIPJ, DIRF.

3. Norma jurídica completa

A norma jurídica completa é uma estrutura dual que inicialmente compreende:

a norma primária e a norma secundária. Foi desenvolvida por HANS KELSEN32, que ao analisar a característica de coação do direito, determinou que havia duas normas

para completar o sistema, classificando-as segundo o critério sancionador.

Inicialmente HANS KELSEN33 entendia que a norma primária era a que

prescrevia a sanção a ser aplicada pelo Estado-Juiz, quando houvesse

descumprimento da norma secundária; e a norma secundária a que descrevia o

31 CARVALHO, 2011, p. 297.

32 KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. Tradução de José Cretella Junior e Agnes Cretella. 4. ed. São Paulo: RT, 2006, p. 69/70.

(29)

comportamento desejado pela ordem jurídica. Contudo, verificando a inconsistência

pelas críticas que recebeu, reviu os conceitos e determinou que: a) norma primária é

a que prescreve o comportamento desejado, e b) a norma secundária é a norma

aplicada pelo Estado-Juiz como coerção à desobediência à norma primária.

Nesse sentido, EURICO MARCOS DINIZ DE SANTI34 descreve a norma primária e a norma secundária:

A norma primária vincula deonticamente à ocorrência de dado fato a

uma prescrição (relação jurídica); a norma secundária conecta-se

sintaticamente à primeira, prescrevendo: se o fato de a não

ocorrência da prescrição da norma primária se verificar, então deve

ser uma relação jurídica que assegure o cumprimento daquela

primeira, ou seja, dada a não observância de uma prescrição jurídica,

deve ser a sanção.

Assim, a norma primária é a que descreve um evento de direito material de

possível ocorrência que tem o condão de desencadear uma relação jurídica; e a

norma secundária é a que prescreve a aplicação de uma sanção mediante coerção

do Estado-Juiz ao sujeito que não cumpriu com o previsto na norma primária. Dessa

forma, LOURIVAL VILANOVA35 classifica a norma primária de relação jurídica de cunho material e norma secundária de índole formal (processual).

Seguindo essa sistemática, a norma jurídica completa: “expressa a

mensagem deôntica-jurídica na sua integralidade constitutiva, significando a

34 SANTI, op. cit., p. 36.

(30)

orientação da conduta, juntamente com a providência coercitiva que o ordenamento

prevê para seu cumprimento”36 e apresenta estrutura lógica interproposicional com

representação simbólica:

Simbologia: D{[H→C] v [H’ (-c) →S]}: A norma primária estatui

direitos e deveres a dois ou mais sujeitos como consequência

jurídica ‘C’, em decorrência da verificação do acontecimento descrito

em sua hipótese ‘H’. A norma secundária estabelece a sanção ‘S’,

mediante o exercício da coação estatal, no caso de não observância

dos direitos e deveres instituídos pela norma primária ‘H’ (-c)37.

Contudo, EURICO MARCOS DINIZ DE SANTI38 constatou que além da sanção aplicada pelo Estado-Juiz prevista na norma secundária, há a sanção

administrativa aplicada pela Administração, e passa a classificar a norma primária

em dispositiva e sancionadora. A norma primária dispositiva é a que descrevem

relações jurídicas de direito material com a ocorrência de um fato lícito, e a norma

primária sancionadora é a que descreve a sanção a ser aplicada

administrativamente pelo descumprimento do prescrito na norma primária dispositiva

consubstanciada em um fato ilícito.

Assim, teríamos a norma primária dispositiva com o antecedente que

descreve um fato lícito que implica uma consequência; e a norma primária

sancionadora que descreve, no antecedente, o fato ilícito pelo descumprimento do

(31)

dever da norma primária dispositiva e, no consequente, a aplicação da sanção,

como, por exemplo, uma multa. É simbolizada: D {[p → q] v [- q → S]}.

Desse modo, a norma primária sancionadora precisa, para existir, da norma

primária dispositiva, por se tratar da aplicação de uma sanção por seu

descumprimento.

Mas não é necessário para a validade do sistema que exista a norma primária

sancionadora, podendo haver a regulação do sistema pela norma primária

dispositiva e a norma secundária39.

Portanto, a norma jurídica completa, após os estudos desses autores,

compreende: a) a norma primária que é norma de direito material e prescreve o

comportamento desejado pela ordem jurídica. Classifica-se em: a.1) norma primária

dispositiva, que no antecedente descreve um fato lícito, e a.2) norma primária

sancionadora, que no antecedente descreve um comportamento ilícito pelo

descumprimento da norma primária dispositiva; e b) que, se descumpridas, quando

existentes ambas, será aplicada a norma secundária, de natureza processual, pelo

Estado-Juiz.

Aplicando esses conceitos ao Direito Tributário, teremos:

a) Norma primária dispositiva: dada a ocorrência no tempo e no espaço do

evento tributário previsto no antecedente da RMIT (antecedente), dever-ser a

instauração da relação jurídica tributária entre o contribuinte e o Fisco (consequente)

com a lavratura do lançamento de ofício;

b) Norma primária sancionadora: dado que o contribuinte, devidamente

notificado, não pagou o tributo e nem apresentou impugnação (antecedente),

(32)

ser a constituição da relação jurídica tributária entre o contribuinte e o Fisco para

efetuar o lançamento de ofício e a aplicar a penalidade (consequente) mediante a

lavratura de auto de infração; e

c) Norma secundária: dado que o contribuinte notificado da lavratura do auto

de infração não recolheu aos cofres públicos a pecúnia e nem impugnou o auto de

infração (antecedente), dever-ser que o Fisco inscreva em Dívida Ativa o crédito

tributário e ingresse com a Execução Fiscal, para que, formando a relação triádica

entre contribuinte, Fisco e o Estado-Juiz, seja expropriado o patrimônio do

contribuinte até a satisfação do débito (consequente).

4. Norma: abstrata e concreta, geral e individual

Trabalhamos com o conceito de norma jurídica como unidade mínima e

irredutível de manifestação do deôntico, em que um antecedente implica um

consequente.

As classes de normas em abstrata e concreta, e geral e individual se referem

aos elementos dessa estrutural lógica: antecedente e consequente.

O antecedente descreve o evento de possível ocorrência ou seu relato em

linguagem competente para constituir o fato jurídico. A descrição de um evento de

possível ocorrência no mundo fenomênico, que quando vertido em linguagem

competente, constitui o fato jurídico, é a representação da norma em sua abstração;

que ganha concretude quando é relatado em linguagem competente e constituído o

fato jurídico. Daí a abstração e a concretude estão no antecedente40 e referem-se aos elementos fáticos.

(33)

PAULO ANTONIO FERNANDES CAMPILONGO41 descreve que a abstração

é a descrição de um fato hipotético que não ocorreu e se apresenta com o verbo no

impessoal e de predicação incompleta, tendo como elemento obrigatório o

complemento da indicação de espaço e tempo; e a concretude é a ocorrência do

evento vertido em linguagem competente que constitui o fato jurídico, completado na

indicação do espaço e do tempo, e do verbo no pretérito.

Assim, podemos definir abstração e concretude como: a) abstração é um

conjunto de critérios para se identificar um evento de possível ocorrência no tempo e

no espaço e está projetada para o futuro; e b) concretude é o relato em linguagem

competente do evento ocorrido no tempo e no espaço que constitui o fato jurídico e

está projetado para o passado.

O consequente instaura a relação jurídica entre dois ou mais sujeitos em

relação a uma prestação. Assim, há que prever os sujeitos que compõem a relação

e estão na classe normativa do geral e do individual42. A classe do geral é a que não

determina os sujeitos, ou seja, os sujeitos da relação são indeterminados, e da

individual há a definição dos sujeitos na sua individualização ou identificação no

grupo de pessoas.

Logo, podemos definir geral e individual como: a) geral é a previsão de uma

classe indefinida de sujeitos; e b) individual é a delimitação de uma classe

determinada de sujeitos: ativo e passivo.

Fazendo a relação entre as classes e a estrutura lógica da norma jurídica (A

→ C), teremos: normas abstratas e gerais, normas concretas e gerais, normas

(34)

abstratas e individuais, e normas concretas e individuais; que se aplicam ao Direito

Tributário:

a) Normas abstratas e gerais são as que têm no antecedente a descrição de

um evento de possível ocorrência no tempo e no espaço; e no consequente a

previsão da instauração de uma relação jurídica entre sujeitos indeterminados. Trata

da RMIT que institui o tributo;

b) Normas concretas e gerais são as que no antecedente relatam em

linguagem competente o evento ocorrido no tempo e no espaço para constituir o fato

jurídico tributário; e no consequente há a previsão da instauração de uma relação

jurídica entre sujeitos indeterminados. Trata-se do auto de infração como norma

introdutora43;

c) Normas abstratas e individuais são as que têm no antecedente descrevem

um fato de possível ocorrência a ser delimitado no tempo e no espaço; e no

consequente a previsão da instauração da relação jurídica com a individualização

dos sujeitos da relação. Trata-se da consulta tributária; e

d) Normas concretas e individuais são as que constituem no antecedente o

fato jurídico tributário; e no consequente instaura a relação jurídica entre sujeitos

determinados. Trata-se do lançamento tributário.

5. Processo de positivação do direito

As normas jurídicas têm como objetivo regular as condutas intersubjetivas

para o fim de produzirem os efeitos prescritos pelo legislador. Só é possível atingir a

(35)

conduta regulada pelo direito com a máxima concretude e individualização da

norma. Assim, passam da abstração à concretude para o fim de atingirem as

condutas intersubjetivas reguladas pelo direito, que, segundo nossas premissas: é a

linguagem do direito positivo projetando-se sobre o campo material das condutas

intersubjetivas para organizá-las deonticamente. A esse processo denominamos de

positivação do direito, que compreende o caminho percorrido da abstração da norma

para chegar a sua concretude.

O processo de positivação do direito se dá em duas etapas: a) com a

ocorrência do evento, pela incidência normativa; e b) com a introdução da norma

jurídica no ordenamento jurídico, no ato de aplicação. Assim, esse processo

compreende o ato de incidência e o de aplicação da norma jurídica44.

Há duas teorias que explicam o processo de positivação do direito: a teoria

tradicional e a teoria do Constructivismo Lógico-Semântico.

A teoria tradicional45 entende que a incidência é automática e infalível, e se

diferencia do ato de aplicação. Entendem que ocorrido o evento no mundo

fenomênico, que tem suporte no antecedente da norma jurídica, esta “cai” sobre ele,

sem necessidade de um relato em linguagem competente ou uma ação humana,

para juridicizá-lo, tornando-o fato jurídico, e fazendo nascerem sozinhos os efeitos

44 GUERRA, Renata Rocha. Auto de Infração Tributário: produção e estrutura. 2004. Dissertação (Doutorado em Direito) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP, São Paulo, 2004, p. 28.

(36)

jurídicos. Esse processo ocorre no plano dos pensamentos46, de forma que a norma incide “sozinha e por conta própria” sobre os acontecimentos sociais para

juridicizá-los. Após a juridicização dos fatos, a norma poderá ser aplicada pelo homem,

momento em que pode haver falha se for descumprida. Dessa forma, os atos de

incidência e de aplicação se constituem em momentos distintos.

A teoria do Constructivismo Lógico-Semântico só conhece o que é

representado pela linguagem. Entende que os atos de incidência e de aplicação

ocorrem com o relato em linguagem competente do evento que constituí o fato

jurídico e instaura a relação jurídica. Com esse relato nascem os efeitos jurídicos

previstos em lei. Assim, ambos são atos que se formam conjuntamente

representados pelo último ato: de aplicação. Os efeitos da norma só serão

verificáveis quando ingressarem no sistema do direito positivo por seu relato em

linguagem competente. A linguagem competente é das provas.

TÁCIO LACERDA GAMA47 faz críticas sobre a concepção automática e

infalível da incidência, nos termos seguintes:

Uma vez aceita a premissa de que o direito é um conjunto de

normas, que se manifestam em linguagem, não dá para conceber

que acontecimentos sociais, destituídos de uma linguagem

competente, promovam qualquer tipo de alteração a esse conjunto.

46 ARAÚJO, 2011, p. 97; MIRANDA, 2012, t. I, p. 69.

(37)

[...] O ponto a ser destacado aqui é a necessidade de que um sujeito

indicado pelo sistema do direito positivo relate o acontecimento numa

forma juridicamente prevista (linguagem competente). Sem isso, os

acontecimentos sociais não passarão a integrar o sistema de direito

posto, criando obrigações passíveis de serem exigidas

coercitivamente. [...] Para que aconteça a incidência da norma, é

necessária a realização simultânea de duas operações lógicas:

subsunção e imputação. Na primeira, observa-se a pertinência do

fato à norma de superior hierarquia; na segunda, prescreve-se o

efeito que será, necessariamente, uma relação jurídica.

Assim, pela metodologia que adotamos neste trabalho, nos filiamos à

segunda teoria e, nos baseando nela, passamos a discorrer com mais detalhes os

atos de incidência e de aplicação.

A incidência é operação lógica de subsunção e de implicação. A subsunção é

operação em que se constata que um evento ocorrido no mundo fenomênico se

enquadra na classe dos critérios descritos no antecedente da norma. A implicação é

a determinação normativa em que constituído o fato jurídico (com o relato em

linguagem competente do evento subsumido) instaura-se a relação jurídica entre as

partes. Essas operações lógicas se materializam no ato de aplicação realizado pelo

ser humano, que constata a ocorrência do evento que se subsume aos critérios da

norma jurídica e o verte em linguagem competente por meio de provas para

constituir o fato jurídico (antecedente) e instaurar a relação jurídica (consequente).

Nesse sentido, RENATA GUERRA48 explica: “Aplicar o direito nada mais é que criar

(38)

o direito, criar normas jurídicas nas suas variadas combinações entre antecedente e

consequente”.

No mais, o ato de aplicação pode ser concretizado pelo Legislativo, ao editar

as leis; pelo Judiciário, ao proferir sentenças ou acórdãos; pela Administração

Pública, na edição do ato administrativo; e pelo particular, ao firmar contratos ou

efetuarem o “autolançamento”.

Por esse enfoque, conclui-se que o processo de positivação do direito

compreende a forma que se criam as normas jurídicas no nosso ordenamento

(39)

CAPÍTULO II EXISTÊNCIA, VALIDADE E EFICÁCIA DA NORMA JURÍDICA

1. Existência e validade das normas jurídicas

A concepção de validade se relaciona com o conceito de direito49. Nesse

sentido, é termo plurívoco que pode assumir:

[...] a especial forma de existência de uma norma; atributo da norma

compatível com aquela que programou a sua criação; aptidão para

vir a ser aplicada por um tribunal; circunstância de, efetivamente,

disciplinar comportamentos; compatibilidade da norma do direito

positivo com padrões religiosos, racionais ou humanos, em acepção

ampla50.

Para fins do nosso estudo, se destacam as teorias que entendem validade

como atributo ou qualidade da norma jurídica, que se relacionam com a questão de

sua existência51, pois a teoria da validade como atributo da norma a concebe como

49“Sem validade não há norma, sem norma não há direito, logo sem validade não há que se falar em

sistema do direito positivo” (MOUSSALLEM, Tárek Moysés. Fontes do Direito Tributário. 2. ed. São Paulo, Editora Noeses, 2006, p. 167).

50 GAMA, Tácio Lacerda. Teoria dialógica da validade: existência, regularidade e efetividade das normas tributárias. In: SCHOUERI, Luís Eduardo (Coord.). Direito tributário – Homenagem a Paulo de Barros Carvalho. São Paulo: Quartier Latin, 2008. p. 130.

(40)

sinônimo de norma jurídica existente, e a teoria da validade como qualidade da

norma como ato de aferição posterior à existência da norma, na sua aplicação.

Essas teorias são pertinentes por se contraporem às teorias de invalidade que

estudaremos e trabalham com as classes: do ato inexistente, do ato nulo e do ato

anulável, além das meras irregularidades.

Assim, se entendemos que o vício na norma acarreta a sua invalidade, que é

a antítese da validade, se faz necessário delimitar os campos de existência e/ou

validade da norma jurídica, que no estudo dessas teorias já serão demarcadas.

Para tanto, discorreremos sobre as acepções de validade e existência nas

teorias: de Pontes de Miranda, de Norberto Bobbio e de Paulo de Barros Carvalho,

para em seguida fixarmos nossa posição.

1.1. Teoria de Pontes de Miranda

Para PONTES DE MIRANDA52, validade é qualidade da norma jurídica.

O autor entende que o ordenamento jurídico é formado por três planos: da

existência, da validade e da eficácia do ato jurídico.

O plano da existência se sobrepõe ao plano da validade, em que o ato jurídico

precisa ingressar no ordenamento para, posteriormente, aferir se é válido ou inválido

no ato de aplicação da norma.

52 MIRANDA, Pontes. Tratado de direito privado. Tomo IV

(41)

Assim, se houver um defeito na essência do ato jurídico que torne impossível

o seu ingressar no mundo jurídico, o ato é inexistente, e não há que se falar em

validade ou invalidade, muito menos em “ato jurídico”:

1. EXISTIR E VALER – Para que algo valha é preciso que exista.

Não tem sentido falar-se de validade ou de invalidade a respeito do

que não existe. A questão da existência é questão prévia. Somente

depois de se aferir que existe é possível pensar em validade ou em

invalidade. Nem tudo que existe é suscetível de a seu respeito

discutir-se se vale, ou se não vale. Não se há de afirmar nem de

negar que o nascimento, ou a morte, ou a avulsão, ou o pagamento

valha. Não tem sentido. Tão-pouco, a respeito do que não existe: se

não houver ato jurídico, nada há que possa ser válido ou inválido. Os

conceitos de validade ou de invalidade só se referem a atos jurídicos,

isto é, a atos humanos que entraram (plano da existência) no mundo

jurídico e se tornaram, assim, atos jurídicos53.

Logo, é pressuposto da validade que o ato jurídico exista, ou seja, que tenha

ingressado no ordenamento jurídico, constituindo o fato jurídico suficiente mediante

a incidência da norma no suporte fático.

Ao existir o ato jurídico que se verifica sua validade ou invalidade por meio da

análise da presença dos pressupostos regulados no ordenamento jurídico no ato de

aplicação da norma54, em que:

(42)

A conduta contrária à regra jurídica talvez seja desconhecedora

dessa. Não importa se a pessoa conhece ou não conhece a regra

jurídica: ela, por ser jurídica, incide, com ou sem esse conhecimento.

Se a regra mesmo violou princípio de publicidade, é outra questão e

somente diz respeito à sua validade55.

Nesse contexto para o autor há: a) ato inexistente, que não ingressou no

ordenamento por não preencher o suporte fáctico para a incidência da norma; b) ato

jurídico, que é o ato que ingressou no ordenamento mediante o preenchimento dos

elementos do suporte fáctico, incidindo a norma para constituir o fato jurídico em

que: b.1) é ato válido por os pressupostos essenciais de formação do ato terem

sidos preenchidos e a norma ter sido aplicada; e b.2) é ato inválido, em que há

ausência de algum(s) do(s) pressuposto(s) essencial(is) de formação do ato, e, por

isso, a norma não é aplicada.

1.2. Teoria de Norberto Bobbio

NORBERTO BOBBIO56 entende que a validade é sinônimo de existência da norma jurídica, ou seja, é um atributo da norma57. Assim, afirmar que a norma

jurídica válida é verificada se é uma norma jurídica ou não, em que:

55 MIRANDA, 2012, t. I, p. 70. 56 BOBBIO, 2008, p. 46-45.

(43)

O problema da validade é o problema da existência da regra

enquanto tal [...] o problema da validade se resolve com um juízo de

fato, isto é, trata-se de constatar se uma regra jurídica existe ou não,

ou melhor, se tal regra assim determinada é uma regra jurídica.

Validade jurídica de uma norma equivale à existência dessa norma

como regra jurídica.

Com o ingresso da norma jurídica no ordenamento é norma jurídica válida,

pois para a norma ser jurídica tem que ter validade.

Dessa forma, o autor atribui três operações para verificar a validade da norma

jurídica:

Em particular, para decidir se uma norma é válida (isto é, como regra

jurídica pertencente a um determinado sistema), é necessário com

frequência realizar três operações: a) averiguar se a autoridade de

quem ela emanou tinha o poder legítimo para emanar normas

jurídicas, isto é, normas vinculantes naquele determinado

ordenamento jurídico (esta investigação conduz inevitavelmente a

remontar até a norma fundamental, que é o fundamento de validade

de todas as normas de um determinado sistema); 2) averiguar se não

foi ab-rogada, já que uma norma pode ter sido válida, no sentido de

que foi emanada de um poder autorizado para isto, mas não quer

dizer que ainda seja, o que acontece quando uma outra norma

sucessiva no tempo a tenha expressamente ab-rogado ou tenha

regulado a mesma matéria; 3) averiguar se não é incompatível com

(44)

implícita), particularmente com uma norma hierarquicamente

superior58.

LUIS CESAR SOUZA DE QUEIROZ59, possuindo o mesmo entendimento do autor, ainda complementa: “[...] é lógica e juridicamente impossível uma norma ser jurídica e não ser válida”.

Assim, toda norma que é jurídica é válida, ou seja: ou a norma é válida e

existe no sistema; ou não é válida e não existe no sistema jurídico; do qual, ser

norma jurídica é existir no ordenamento jurídico e, consequentemente, ser válida.

Tem essa posição HANS KELSEN60 defendendo, ainda, que para a garantia da unidade da ordem jurídica é necessário que exista uma norma fundamental61 de

superior hierarquia que prescreve como as normas jurídicas inferiores devem ser

criadas. No sistema brasileiro, a norma fundamental é a CF, que dá fundamento de

validade às normas inferiores.

Dessa forma, para essa teoria a validade é concebida: a) a norma ingressou

no ordenamento jurídico, é norma jurídica, é existente e é válida, por ter sido

expedida pelo agente competente mediante o procedimento específico; e b) a norma

não ingressou no ordenamento jurídico por desrespeito a um dos pressupostos de

sua constituição, não é norma jurídica, não é existente e é inválida.

58 BOBBIO, 2008, p. 47.

59 QUEIROZ, op. cit., p. 37-123. 60 KELSEN, 1986, p. 3-4.

(45)

1.3. Teoria de Paulo de Barros Carvalho

A Teoria de PAULO DE BARROS CARVALHO62 tem estreita relação com a Teoria de Norberto Bobbio, por conceber validade como norma jurídica existente.

Para o autor, validade é relação de pertencialidade da norma com o sistema,

em que norma válida é a norma jurídica existente por ter ingressado mediante o

procedimento estabelecido no sistema:

[...] E ser norma válida quer significar que mantém relação de

pertencialidade com o sistema “S”, ou que nele foi posta por órgão

legitimado a produzi-la, mediante procedimento estabelecido para

esse fim [...] relação é o vínculo que se estabelece entre a

proposição normativa e o sistema do direito posto, de tal sorte que ao

dizermos que u’a norma “N” é válida, estaremos expressando que ela

pertence ao sistema “S”.

Os critérios de pertencialidade são: autoridade competente e procedimento

próprio63. A autoridade competente consiste na pessoa autorizada pela ordem jurídica a editar a norma jurídica. O procedimento próprio representa a forma a ser

observada na produção da norma jurídica. Assim, o desrespeito a qualquer dos

critérios torna a norma jurídica passível de ser decretada inválida.

62 CARVALHO, 2011, p. 113. Também é o entendimento de Gregorio Robles (O direito como texto: quatro estudos de teoria comunicacional do direito. Tradução Roberto Barbosa Alves. São Paulo: Manole, 2005, p. 107); e Lourival Vilanova (2010, p. 51).

(46)

A relação da pertinencialidade da norma com o sistema é inerente à norma

jurídica válida. Nessa perspectiva, pode ser questionada e confirmada após o seu

ingresso no ordenamento. Isso posto, a norma jurídica que ingressa no sistema

presume-se válida por ter sido expedida pelo agente competente mediante o

procedimento próprio. Somente com o ingresso de outra norma que reconheça o

desrespeito aos critérios de pertinencialidade e expulse a norma inválida do sistema

que ela perde seu atributo e deixa de pertencer ao sistema.

Nisso, para a garantia do ordenamento, ao existir a norma há a presunção de

validade64, segundo a qual foram observadas as formalidades essenciais no ato de produção.

Assim, a norma jurídica nasce com presunção de validade, com força para

incidir e ser aplicada, havendo a possibilidade de ser contestada a compatibilidade

ou não da norma com as prescrições jurídicas para a sua criação, decretando-a,

quando houver o seu desrespeito, inválida, e a retirando do sistema65. Somente com

64 Aurora Tomazini de Carvalho descreve a presunção de validade: “Há, na realidade, uma

‘presunção’ posta pelo direito, de que todo o processo enunciativo introdutor de normas se deu nos

moldes das normas que o regulam, até que se constitua o contrário. [...] Se durante o processo enunciativo não foi alegado qualquer vício, ao seu término, com a produção da norma veículo introdutor, presume-se que tudo ocorreu nos moldes prescritos pelas normas de produção em vigor, porque assim diz a linguagem constituída. Presume-se que a autoridade enunciativa é competente e que o procedimento realizado para enunciação é o próprio, e que a materialidade do documento tem respaldo em norma de hierarquia superior, porque sem essa presunção torna-se impossível trabalhar

com a linguagem jurídica. [...] A ‘presunção’ é de que a enunciação (constituída juridicamente pela

enunciação-enunciada) e o produto por ela criada encontram-se em conformidade com as normas que regulam sua criação, está ligada à adequação (formal/material), não à validade da linguagem jurídica.” (2010, p. 712-713).

Referências

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