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4.1.1 Prevalência da desnutrição protéico-calórica

No documento AUTORA: MARIA LUISA COELHO SILVA (páginas 61-64)

A prevalência da desnutrição protéico-calórica neste estudo em crianças de 0 a 59 meses foi de 21,96%, sendo inferior às estimativas nacionais apresentadas pelo Conselho Nacional de Segurança Alimentar (CONSEA), em 1994, que foi de 30 a 40% (OLIVEIRA, CUNHA & MARCHINI, 1996). Foi inferior também ao limite considerado pela Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição (PNSN/1989).

As prevalências da desnutrição protéico-calórica variam de região para região. Na região Norte, Ferreira e Ott, em 1988, estudando a população de crianças menores de 5 anos de Rondônia, encontraram prevalência de 36,7%, segundo classificação de Gómez, e 6,2%, segundo Waterlow.

Na região Sul, Carvalho et al, 1992, estudando a população urbana periférica, menores de 5 anos, de Porto Alegre, RS, encontraram uma prevalência de 82,3%, segundo P/I menor ou igual a 90% do padrão. Já Ell et al, 1992, estudando crianças da área urbana menores de 5 anos atendidas pela rede municipal, área urbana, em Curitiba, PR, encontraram prevalência de 28,1%, segundo a classificação de Gómez. Ainda, Post et al, 1996, avaliando duas coortes de nascimento em Pelotas, RS, encontraram, em 1982, prevalência de 5,4%; em 1993, prevalência de 3,8%, ambas utilizando como critério de classificação da desnutrição crianças abaixo de 2DP do NCHS (menos de 2 desvios padrão do NCHS).

Em relação à região Nordeste, Santos et al, 1995, pesquisando a desnutrição em pré- escolares do semi-árido da Bahia, utilizando menos de 2DP do NCHS como critério de classificação, encontrou prevalência de 19,1% de desnutrição.

A região Sudeste é a mais estudada. Monteiro e Conde, 2000, estudando a evolução da desnutrição em crianças de 0 a 59 meses em São Paulo, SP, com critério de classificação menos de 2DP do NCHS, encontraram no primeiro inquérito, prevalência de 19,5%; no segundo inquérito, prevalência de 10,1%; no terceiro inquérito, prevalência de 2,4%. Domene et al, 1999, estudando crianças de 0 a 24 meses em bolsões de pobreza de Campinas, SP, com mesmo critério de classificação, encontraram prevalência de 7,2%. Ainda, Molina et al, 1989, avaliando crianças menores de 6 anos de Belo Horizonte, MG, também com o mesmo critério de classificação, encontraram prevalência de 20,1%.

Ainda na região Sudeste, dois estudos com crianças menores de 5 anos que utilizaram a classificação de Gómez para desnutrição, encontraram os seguintes resultados: Marins et al, 1995, durante a Campanha de Vacinação em Niterói, RJ, encontraram prevalência de 20,1% e Reichenheim e Harpham, 1990, estudando a população de comunidade de baixa renda, Rio de Janeiro, RJ, verificarm prevalência de 45,9%.

Apesar dos estudos publicados sobre prevalência da desnutrição protéico-calórica utilizarem diferentes formas de classificação da desnutrição e diferentes condições sociais da população serem observadas, os resultados encontrados neste estudo são semelhantes aos de Ell et al, 1992; Monterio e Conde, 2000; Marins et al, 1995 e Molina et al, 1989.

É importante ressaltar que este estudo tem um diferencial em relação a todos. Não trabalhou-se amostra da população em relação à desnutrição protéico-calórica, mas com toda a população.

A prevalência da desnutrição protéico-calórica na zona urbana foi de 60,17%, sendo maior do que o valor encontrado na zona rural, que foi de 39,83%. Apesar de inicialmente parecer que há um menor controle da desnutrição protéico-calórica na zona urbana, verifica-se exatamente o contrário quando comparamos a prevalência à distribuição geográfica da população, ou seja, prevalência de 60,17% na zona urbana em uma população que

representa 79,8% da população do município e prevalência de 39,83% na zona rural em uma população que representa 20,2% da população do município.

Entre as crianças desnutridas, 60,46% (627) apresentavam desnutrição leve (percentil maior que 3 e menor ou igual a 10, Peso/Idade) e 39,54% (410), desnutrição acentuada (percentil menor ou igual a 3, Peso/Idade). A prevalência da desnutrição acentuada foi de 8,64% e da desnutrição leve foi de 13,22%. Apesar da prevalência da desnutrição encontrar-se abaixo dos limites aceitáveis, a prevalência da desnutrição acentuada encontra-se acima do esperado (5%, segundo Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição – PNSN/1989). Isso geralmente acontece quando existem programas de recuperação da desnutrição, uma vez que crianças com desnutrição leve são mais fáceis de recuperar que crianças com desnutrição acentuada.

Verificou-se que a maior parte dos desnutridos está na sede – zona urbana com 62,5% (648), sendo que na zona rural o distrito com mais desnutridos foi Santa Rita de Ouro Preto, com 11,7% (121), seguido de Antônio Pereira, com 4,8% (50) e Santo Antônio do Salto, com 4,1% (43).

No entanto, o distrito mais prevalente foi Santo Antônio do Salto, com 39,81% das crianças com desnutrição protéico-calórica, seguido de Santa Rita de Ouro Preto, com 28,27%, São Bartolomeu, com 26,78% e Miguel Burnier, com 24,42%. Esses distritos apresentaram prevalências superiores à prevalência do município, que foi de 21,86%.

Ao observarmos a distribuição da desnutrição protéico-calórica, por bairros, temos: as maiores concentrações da desnutrição protéico-calórica (1º patamar) foram nos bairros Morro Santana, com 18,06% (117), São Cristóvão, com 12,34% (80) e Alto da Cruz, com 9,41% (61). A seguir (2º patamar), foram nos bairros Padre Faria, com 6,64% (43), Antônio Dias, com 5,86% (38), Piedade, com 5,56% (36) e Vila Itacolomy, com 5,09% (33). Por fim (3º patamar), vêm os bairros Santa Cruz, com 4,32% (28), Taquaral, com 4,01% (26), Vila Aparecida, com 3,86% (25) e Caminho da Fábrica, com 3,09% (20).

Ao analisarmos a prevalência da desnutrição protéico-calórica por bairros vimos que os mais prevalentes foram Liberdade (33,33%), Passa Dez de Baixo (33,33%), Nossa Senhora de Lourdes (33,33%), Morro Santana (30,95%), Taquaral (30,95%). A seguir vêm os bairros Pocinho (29,63%), Águas Férreas (28,57%), Santa Cruz (27,18%), Piedade (26,86%), São Cristóvão (26,58%). Por fim, vêm os bairros Morro da Queimada (24,00%), Vila Aparecida (23,36%), Padre Faria (23,34%), Morro São Sebastião (22,86%) e Caminho da Fábrica (22,47%). Todos esses bairros tiveram prevalências superiores à da sede – zona urbana, e do município.

Podemos observar no mapa da sede – zona urbana que a maior parte dos desnutridos encontram-se nos bairros da periferia do município de Ouro Preto, que são também os bairros mais prevalentes, mostrando, indiretamente, uma relação entre condições sócio- econômicas e desnutrição protéico-calórica.

Tanto a prevalência e a distribuição por distritos, quanto prevalência e distribuição por bairros, por serem dados nunca antes pesquisados no município de Ouro Preto, são incomparáveis, até então. São dados importantíssimos, que servem de subsídios na elaboração de programas de controle da desnutrição no nível municipal, possibilitando a priorização de ações de acordo com localidades mais necessitadas. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, todos os programas já existentes eram aplicados sem um embasamento científico local.

No documento AUTORA: MARIA LUISA COELHO SILVA (páginas 61-64)

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