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ostra em estudo

2. Prevalência de PADL por faixa etária, sexo e natureza da instituição (OE2 e OE3)

2.1. Prevalência de PADL por faixa etária

Embora nesta investigação não se tenha verificado presença de PADL nas crianças de 3 anos, outros estudos realizados mostraram a sua ocorrência nesta idade. SILVA, MCGEE & WILLIAMS (1980; 1983; 1987 Cit. por ANAES, 2001) verificaram que 8,4% das crianças de 3 anos apresentavam um tipo de perturbação da linguagem. Já TOMBLIN, FREESE & RECORDS (1992 Cit. por CASTRO- REBOLLEDO et al., 2004) encontraram uma prevalência de 7,4% de PADL em crianças de 3 anos sem atraso mental à entrada para o JI. Num estudo português, encontrou-se uma frequência de 28,13% de crianças de 3 anos com possível PADL (COSTA, 2010). A diferença encontrada entre as prevalências no estudo realizado e no de TOMBLIN, FREESE & RECORDS (1992 Cit. por CASTRO- REBOLLEDO et al., 2004) poderia ser justificada pelas diferenças existentes na dimensão da amostra, sendo esta constituída por 29 e 937 crianças, respetivamente. Este argumento não pode ser válido para as diferenças encontradas com o estudo de COSTA (2010) uma vez que o grupo etário das crianças de 3 anos é constituído por um número muito próximo de elementos (n=32 no estudo de COSTA (2010)). Uma outra explicação possível para as diferentes prevalências está relacionada com o facto da investigação realizada englobar apenas as perturbações da linguagem primárias, enquanto que os outros estudos parecem englobar todas as crianças, independentemente do tipo de perturbação da linguagem.

À semelhança do encontrado no estudo de COSTA (2010), foi na faixa etária dos 4 anos que as PADL foram mais frequentes. A prevalência de 23,5% estimada para este grupo etário, é muito próxima da prevalência de PADL em crianças australianas desta idade encontrada no estudo de MCLEOD & HARRISON (2009 Cit. por MCLEOD, 2009) que foi de 20,0% – tendo-se verificado pontos de corte semelhantes aos deste estudo (entre -1DP e inferiores a -2DP abaixo da média) – e no Atual Doss Santé Publ do Alto Comissariado de Saúde Pública Francês (1999, Cit. por ANAES, 2001) em que a prevalência foi de 26,8% entre 1987-1988 e de 24,9% entre 1992-1993. Embora no estudo de COSTA (2010) não tenha sido calculada a prevalência de PADL, a frequência destas perturbações (82,26%) foi muito superior à encontrada, mesmo que o número de crianças de 4 anos tenha sido inferior.

Neste estudo, a prevalência de PADL em crianças de 5 anos foi de 14,9%. Os estudos realizados por BEITCHMAN et al. (1986) (Canadá) e TOMBLIN, RECORDS & BUCKWATER (1997 Cit. por ANAES, 2001 e por SIMMS, 2007) (EUA) apontam para diferentes prevalências, sendo esta superior no primeiro estudo (entre 16,2% e 21,8%) e inferior no segundo (7,4%). As diferenças encontradas nas prevalências parecem ser devidas aos critérios utilizados quer para a seleção da amostra como para a definição de perturbação da linguagem. Um aspeto a ter em consideração é o facto de TOMBLIN, RECORDS & BUCKWATER (1997 Cit. por ANAES, 2001 e por SIMMS, 2007) terem contemplado no

seu estudo crianças sem défice auditivo e com QI superior a 85%, aproximando as características da amostra à da investigação realizada, uma vez que também são excluídas crianças que estejam sinalizadas ou que tenham défice auditivo ou cognitivo. Relativamente ao critérios de PADL, ambos os estudos apresentaram pontos de corte inferiores aos estabelecidos na presente investigação (- 1DP e -1,25DP abaixo da média), à exceção de um dos critérios de BEITCHMAN et al. (1986) que contemplou um ponto de corte de -2 desvios-padrão abaixo da média em pelo menos um dos subtestes de linguagem. O facto do estudo de TOMBLIN, RECORDS & BUCKWATER (1997 Cit. por ANAES, 2001 e por SIMMS, 2007) ter definido que as crianças tinham que apresentar -1,25 desvios- padrão em pelo menos duas de cinco provas e este estudo, independentemente do ponto de corte definido, contemplar como critério resultados inferiores em apenas uma prova, pode explicar, também, que a prevalência superior estimada neste estudo. Há que ter em consideração que as amostras dos estudos de BEITCHMAN et al. (1986) e TOMBLIN, RECORDS & BUCKWATER (1997 Cit. por ANAES, 2001 e por SIMMS, 2007) eram de base populacional com dimensões entre 1655 e 7218 crianças, constituindo esta mais uma possível justificação para as diferenças encontradas. No estudo de COSTA (2010), a frequência de possível PADL nas crianças de 5 anos (71,43%) volta a ser muito superior à encontrada neste estudo.

O facto da prevalência de PADL ter sido maior nas crianças de 4 anos, relativamente às de 5, mesmo que estas não sejam significativas do ponto de vista estatístico, pode ser explicada por dois aspetos. Um deles está relacionado com o facto das crianças de 5 anos apresentarem competências linguísticas mais complexas, para além das que foram avaliadas pelos instrumentos de avaliação selecionados. Deste modo, se se avaliassem outras competências, nomeadamente ao nível da metalinguagem, existiriam, possivelmente, mais PADL nas crianças de 5 anos. Ao nível do subsistema fonológico, as crianças desta idade já apresentam indícios de consciência fonológica, especialmente de segmentação silábica e identificação de rimas (SIM-SIM, 2008a). Na semântica, apresentam um vocabulário mais elaborado, preciso e abstrato, definem palavras, identificam e nomeiam opostos, sinónimos e homónimos comuns e nomeiam classes de palavras (RIGOLET (2000); BERNSTEIN & TIEGERMAN-FARBER (2002); BOCHNER & JONES (2003); FREIBERG, WICKLUND & SQUIER (2003); JAKUBOVICZ (2004); REBELO & VITAL (2006); RIGOLET (2006); SIM-SIM (2008a) e SIM-SIM (2008b)). No subsistema da morfossintaxe, dá-se a produção de estruturas frásicas mais complexas, o aperfeiçoamento de subordinadas causais e o aumento da produção de artigos indefinidos e preposições (RIGOLET (2000); BERNSTEIN & TIEGERMAN- FARBER (2002); BOCHNER & JONES (2003); FREIBERG, WICKLUND & SQUIER (2003); JAKUBOVICZ (2004); REBELO & VITAL (2006), RIGOLET (2006); SIM-SIM (2008a) e SIM-SIM (2008b)). Ao nível da pragmática, as crianças de 5 anos utilizam frases para pedir clarificações, negociar e fazer humor (RIGOLET (2000); FREIBERG, WICKLUND & SQUIER (2003); JAKUBOVICZ (2004); RIGOLET (2006); SIM-SIM (2008a) e SIM-SIM (2008b)). As competências apresentadas e que estão presentes nas crianças de 5 anos não são avaliadas pelos instrumentos utilizados. No entanto, se se tiverem em consideração as características dos testes formais standartizados para o Português Europeu destinados à avaliação da linguagem em crianças apresentados no enquadramento teórico e conceptual, pode constatar-se que dos quatro disponíveis, os selecionados

Discussão

(TALC (SUA-KAY & TAVARES, 2011) e Subteste Fonológico do TFF-ALPE (MENDES et al. (2009)) são os que permitem uma avaliação mais completa que integra e deverá integrar, segundo OWENS, METZ & HAAS (2003), FREIBERG, WICKLUND & SQUIER (2003) e A.S.H.A. (2008) a avaliação dos quatro subsistemas linguísticos nas componentes de compreensão e expressão. Para além deste aspeto, os instrumentos selecionados são os que permitem que se realize a mesma avaliação para as três faixas etárias em estudo, tendo sido este um dos principais motivos pelo qual foram escolhidos.

Um outro aspeto está relacionado com a recolha de dados numa das instituições ter sido realizada em contexto de sala de aula. Mesmo que o ambiente fosse calmo, considera-se que a sala tinha vários distratores visuais e auditivos que podem ter influenciado as respostas das crianças, nomeadamente nas provas que exigiam mais concentração. Neste sentido, foi feito um esforço de maneira a que as condições de investigação fossem o mais semelhantes possível nos diferentes contextos, de forma a minimizar o viés.