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Prevenção das Doenças Crônicas Não Transmissíveis

CAPITULO I: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1.4 Prevenção das Doenças Crônicas Não Transmissíveis

Atualmente as Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT ou DNT) são as principais causas de mortes e incapacidades em todo no mundo, com considerável importância do número de mortes prematuras, da perda de qualidade de vida (prejudicando a capacidade laborativa e de lazer), e ainda a acumulando o impacto econômico para a sociedade em geral, distanciando o princípio de equidade do SUS.

Um relatório de 2010 produzido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) revelou que das 57 milhões de mortes no mundo em 2008, 36 milhões, ou 63%, foram em razão das DCNT, com destaque para as doenças do aparelho circulatório, diabetes, câncer e doença respiratória crônica. Cerca de 80% das mortes por DCNT ocorrem em países de baixa ou média renda, onde 29% são de pessoas com menos de 60 anos. Nos países de renda alta, apenas 13% são mortes precoces32.

No Brasil a realidade não é diferente, pois estas doenças constituem o problema de saúde de maior magnitude correspondendo a cerca de 70% das causas de mortes e atingindo fortemente as camadas pobres da população 4.

Apesar desta realidade desconfortante, na última década, houve uma redução, cerca de 20%, nas taxas de mortalidade causadas pelas DCNT 4. Documentos do MS atribuem este decréscimo à expansão da atenção primária, a melhoria da assistência e a redução do consumo do tabaco desde os anos 1990, mostrando importante avanço na saúde dos brasileiros 4,33.

Embora a expectativa de elevação da incidência das DCNT seja perturbadora, a intervenção eficaz é possível e o seu impacto pode ser revertido através de ações de promoção da saúde que contribuam para a redução dos fatores de risco associados a estas doenças, para o diagnóstico precoce e para o tratamento adequado, avalizado pela realidade de cada indivíduo.

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O termo risco é definido pela OMS como “probabilidade de um resultado adverso, ou fator que aumenta essa probabilidade”32. As condições de riscos múltiplos, que tendem a se agrupar em populações distintas, estão associadas com a etiologia das DCNT.

A Organização Mundial da Saúde (OMS)32 também classificou os fatores de risco em dois grupos denominados por: fatores individuais e fatores comunitários (ou contextuais).

Dentre os fatores individuais estão:

• Fatores de risco não-modificáveis: a idade, o sexo, o nível de instrução e a composição genética;

• Fatores de risco comportamentais: onde são encontrados os principais alvos do Plano de Enfrentamento de DCNT no Brasil como o tabagismo, a má alimentação e a inatividade física;

• Fatores de risco intermediários: níveis séricos de colesterol, diabetes, hipertensão e obesidade.

Os fatores de risco Comunitários (contextuais) são compostos por: • Situação socioeconômica: pobreza, emprego, composição familiar; • Meio-ambiente: clima, poluição do ar;

• Cultura: práticas, normas e valores;

• Urbanização, que influencia a habitação, o acesso a produtos e serviços.

É notável que as principais DCNT tenham fatores de risco em comum como o tabagismo, a alimentação inadequada e a inatividade física, por exemplo. Tais fatores de risco são responsáveis, em grande parte, pela epidemia de sobrepeso e obesidade, pela elevada prevalência de hipertensão arterial e pelo colesterol alto34,35. Partindo desta premissa é possível retardar ou evitar o aparecimento de mais de uma doença com a contenção dos mesmos fatores de risco.

Baseando-se na previsão dos danos causados pelas DCNT no Brasil, o Ministério da Saúde elaborou o Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) no Brasil, 2011-2022 4, contando com parceria de instituições de ensino e pesquisa, diversos Ministérios do governo, Organizações Não Governamentais (ONGs) na área da saúde, entre outros.

O Plano visa preparar o Brasil para enfrentar e deter, nos próximos dez anos, as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) 4.

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A união entre os diversos Ministérios denota o entendimento das DCNT como multicausal, sendo uma delas os determinantes sociais (baixa escolaridade, desigualdades no acesso à informação e aos bens e serviços). Esta visão corrobora com a intensão da educação popular em saúde, pois não vislumbram as DCNT apenas como produtos dos hábitos determinantes da saúde (tabagismo, sedentarismo e inatividade física).

Outra ação governamental de cunho internacional é a Iniciativa Carmem (Conjunto de Ações para a Redução Multifatorial das Enfermidades Não transmissíveis), iniciada pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), em 1996, ao apoiar o Programa de Prevenção Integrada de DNT nas Américas34.

Em setembro de 2002, a Conferência Sanitária Pan-Americana aprovou um modelo de saúde pública para as DCNT, vinculado a quatro princípios34 e ratificou a iniciativa CARMEN, denominada como Conjunto de Ações para a Redução Multifatorial das Enfermidades Não Transmissíveis, como sendo a principal estratégia para a prevenção integrada de DCNT. Dentre os quatro princípios, são observados a perspectiva sistêmica que considera o contexto social, a avaliação de ações relativas à promoção de políticas ou programas ou ainda intervenções nos serviços de saúde, o apoio financeiro para garantir a universalidade do modelo e a avaliação das necessidades e perspectivas da população garantindo a atuação desta nos programas de prevenção e controle34.

Mais uma vez o que ocorre é considerado individualidade, ou seja, cada indivíduo vive e enfrenta problemas singulares assim como as soluções encontradas por cada um. Este fator prevalece como determinante para o sucesso da iniciativa, igualmente à necessidade de mudanças nas políticas para permitir o alcance dos objetivos.

O objetivo geral da Iniciativa CARMEN é melhorar o estado de saúde de determinadas populações mediante a redução de condições de risco comuns às DNT34.

O objetivo do Plano de Enfrentamento de DCNT é o de promover o desenvolvimento e a implementação de políticas públicas efetivas, integradas, sustentáveis e baseadas em evidências para a prevenção e o controle das DCNT e seus fatores de risco e fortalecer os serviços de saúde voltados às doenças crônicas 4.

A análise dos objetivos da Iniciativa Carmen e do Plano de Enfrentamento revela a similaridade entre ambos: ações voltadas para o coletivo, percebendo o contexto individual de cada coletividade, valorizando a intervenção nos fatores de risco, baseadas em evidências e atingindo a construção das políticas públicas.

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