• Nenhum resultado encontrado

3. Ilustrações do Ciberativismo

3.2 Primavera Árabe, Egito

O Egito é um dos países mais populosos dentre os países árabes. A importância histórica do país está em ser o berço de ideias políticas, com o Nacionalismo Árabe; e culturais, com a música, o cinema e a literatura Pan-Arábica. A geografia egípcia é relevante, pois o país tanto está próximo à Europa e às reservas petrolíferas, como

Nesta ferramenta da internet, o internauta tem um padrão com

poucas alterações de

personalização. Os conteúdos publicados na fanpage estão, principalmente, em espanhol.

A fanpage do Facebook possui 88.774 curtidores que pediram para receber as informações publicadas pelo grupo.

76

“controla o Canal de Suez, a mais importante rota comercial, e continua a desempenhar uma importante função na geopolítica do Oriente Médio”25 [tradução livre] (OSMAN, 2010, p. 05).

Com relação aos representantes políticos do país, Mohamed Ali governou o Egito de 1805 a 1849. Considerado o “Fundador do Egito Moderno”, ele instaurou o período monárquico de influência europeia que durou até 1952. Posteriormente, o regime sofreu um golpe e Gamal Abdel Nasser assumiu o poder até 1970, quando ele faleceu. O período de Nasserismo “significa o único projeto de desenvolvimento verdadeiramente egípcio na história do país, desde a queda dos faraós”26 [tradução livre] (OSMAN, 2010, p. 43).

Com a morte de Nasser, o vice Anwar Sadat assumiu o poder e se manteve no governo até 1981, quando foi assassinado por fundamentalistas islâmicos (OSMAN, 2010). Durante este período, Sadat quebrou relações com a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), aliou-se aos Estados Unidos e iniciou um processo de paz com Israel. Após a morte de Sadat, Hosni Mubarak tornou-se governante do Egito de 1981 até 11 de fevereiro de 2011, quando ele renunciou após as manifestações da população que pediram o fim do governo autoritário.

As insatisfações da população egípcia não são recentes, em 2005, o Miércoles Negro foi a luta pelos direitos das mulheres, que resultou em repressões brutais; e em 2005 e em 2010, a população protestou contra as fraudes no processo eleitoral (CASTELLS, 2012). Em 2009, por meio do Facebook, alguns ativistas se mobilizaram para “protestar contra uma proposta de lei que limitava a largura de banda consumida por usuários da internet” (KIRKPATRICK, 2011, p. 309), um fato importante, pois, em tempos passados, era proibido contestar e, desta vez, a população não só questionou os representantes do governo como conseguiu que o Ministro das Comunicações atendesse as reivindicações (KIRKPATRICK, 2011).

A corrupção policial em Alexandria, Egito, também era outro motivo que provocava indignação da população. Tanto que, em 2010, o cidadão egípcio Khaled Said decidiu distribuir um vídeo denunciando o assunto, razão pela qual ele foi torturado até a morte por policiais27. Em memória dele, a fanpage “We are all Khaled

25 “It controls the Suez Canal, the world’s most important trade route, and it continues to play a pivotal

role in Middle Eastern geopolitics” (OSMAN, 2010, p. 05).

26 “[...] signifies the only truly Egyptian developmental project in the country’s history since the fall of the

pharaonic state” (OSMAN, 2010, p. 43)

77

Said” foi criada no Facebook (CASTELLS, 2012), com a contribuição do executivo de marketing da Google, Wael Ghonim.

Figura 05 – Fanpage no Facebook do We Are All Khaled Said

Fonte: www.facebook.com/elshaheeed.co.uk?fref=ts

O objetivo inicial da fanpage era a denúncia aos regimes ditatoriais e à defesa pelos direitos humanos, porém, logo depois, passou a ser um espaço para divulgação de informações sobre as manifestações, cujo lema era “Pão, Liberdade e Justiça”. As publicações são em formatos textuais, imagéticos e audiovisuais, as quais os internautas podem interagir por meio das curtidas, comentários e compartilhamentos. Há também convocações para manifestações no ambiente off-line, seja em apenas um lugar específico, como em Londres, Reino Unido; seja em várias e não especificadas localidades no mundo, como eles descrevem28.

Importante salientar que junto aos comentários das denúncias, havia usuários que afirmavam não acreditar que aquilo havia sido feito num inocente e que a polícia estava fazendo seu papel. Entretanto, não fica

(https://www.facebook.com/elshaheeed.co.uk/info). Data de Acesso: 15/11/2013.

28 Fonte: https://www.facebook.com/elshaheeed.co.uk/events?ref=ts. Data de Acesso: 16/11/2013.

A fanpage conta com 337 mil curtidos, no instante em que esta imagem foi capturada (16/11/2013). O inglês é o idioma mais utilizado por aqueles que inserem conteúdo na página.

A fanpage tem um hiperlink que direciona o internauta para outra página, com mais informações sobre o grupo. O

endereço eletrônico é

www.elshaheeed.co.uk, com o país de origem sendo o Reino Unido.

78

claro se estas são mensagens reais ou se foram feitas pela equipe de monitoramento do governo egípcio (REIS; BARROS, 2011, s/n).

Esta descrição dos acontecimentos no Egito ilustra o poder da internet tanto em provir liberdade aos internautas, como também de facilitar a vigilância por parte de adversários. A rede mundial de computadores contribuiu para a disseminação de conteúdos sobre a insatisfação da população local e de outros países com os respectivos governantes, como também a exposição dos fatos permitiu que o Governo egípcio repreendesse os manifestantes egípcios, censurassem os meios de comunicação e bloqueassem o acesso à internet (CASTELLS, 2012).

Dentre os resultados deste embate (CASTESLLS, 2012), os ativistas conseguiram o desbloquear a censura com o conhecimento dos hackers; receberam apoio de entidades internacional defensoras dos direitos humanos; e a Al Jazira, empresa de comunicação local, continuou divulgando informações com o apoio do jornalismo cidadão, Além disso, o governo do Egito perdeu, aproximadamente, 90 milhões de dólares por cinco dias sem acesso à rede, como também foi pressionado pelos EUA pela volta da normalidade no país (CASTELLS, 2012).

As redes de internet, as redes móveis, as redes sociais pré-existentes, as manifestações na rua, a ocupação de praças públicas e as reuniões, às sextas-feiras, em torno das mesquitas, contribuíram para formar as redes multimodais, espontâneas, geralmente sem líderes, que colocaram em pé a revolução egípcia [tradução livre] (CASTELLS, 2010, p. 68).29

O descontentamento da população não podia mais ser controlado, a internet potencializou e conectou os egípcios de tal maneira que não tinha mais retorno. Os hackers apoiavam a luta, contribuíram para derrubar barreiras e continuaram acessando à rede. As manifestações se fizeram presentes no Facebook, no Twitter e no Youtube, com a disponibilização de informações que permitiam a troca de mensagens entre os ativistas egípcios e estrangeiros. A compreensão da internet como espaço de luta foi representada em charges e em cartazes, divulgados no período.

29 “las redes de Internet, las redes móviles, las redes sociales preexistentes, las manifestaciones en la

calle, la ocupación de plazas públicas y las reuniones de los viernes alrededor de las mezquitas contribuyeron a formar las redes multimodais, espontánea, generalmente sin líderes, que pusieron en pie la revolución egípcia.”. (CASTELLS, 2010, p. 68)

79

Figura 06 – Manifestante com cartaz escrito Egypt (Egito, em inglês)

Fonte: Google Imagens.

Nesta fotografia, o manifestante utiliza-se de ícones da internet para formar a palavra Egito, podendo indicar que a rede proporciona a liberdade e garante o fim da ditadura no país. Da palavra Egypt, a letra é “E” é representada pelo símbolo da Internet Explorer; o “G”, do Google; o “Y”, do Yahoo!; e o “T” do Twitter. Este último foi utilizado de pelos egípcios e, diferentemente dos mexicanos, os internautas que tinham interesse em segui-los não precisava de aprovação, bastava clicar no link “Seguir” e já podia acompanhar as publicações dos ciberativistas.

80

Figura 07 – Conta no Twitter do We Are All Khaled Said

Fonte: www.twitter.com/Alshaheeed

As diferenças com o movimento Zapatista não se restringem à restrição de informações, mas também à condição em que ambos os grupos começaram a luta. Enquanto o EZLN surgiu sem a presença da internet na sociedade, a Primavera Árabe começou no ambiente on-line. Como os egípcios não tinham liberdade de expressão e de imprensa nas ruas, eles recorriam à rede mundial de computadores para divulgar ao mundo o que acontecia dentro do país. As preocupações iniciais vivenciadas pelos mexicanos não foi percebida pelos manifestantes do Egito.