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3 MÉTODOS E TÉCNICAS

3.1 PRIMEIRA ETAPA: LEVANTAMENTO DE DADOS

A E.C.I.T Enéas Carvalho é um estabelecimento de ensino público tradicional no município de Santa Rita – Paraíba. Fundada em 1980, ela conta com mais de 1200 alunos distribuídos nas modalidades de ensino superior, médio e técnico e EJA, esta última que atende à demanda da cidade e também recebe alunos dos distritos rurais circunvizinhos.

Devido à grande procura, a escola possui oito turmas na categoria EJA: cinco turmas do ciclo V (equivalente ao primeiro e segundo ano do ensino médio) e três do ciclo VI (equivalente

ao terceiro ano do ensino médio). Todas as turmas funcionam no período noturno.

Um fato interessante sobre a escola é que cada disciplina possui uma sala de aula, e todas as salas são personalizadas conforme a disciplina que nela é ministrada. Assim, ao mesmo tempo em que a escola dá a oportunidade e liberdade dos professores disponibilizarem a sala conforme o assunto ou temática trabalhada, ela também proporciona ao aluno uma imersão imagética sobre as áreas de conhecimento.

Nesta pesquisa trabalhamos com a turma 5B do Ciclo V, constituída por 20 alunos de gênero, faixa etária, renda, ocupação e outras especificidades que serão relatadas posteriormente. A escolha da turma se deu primeiramente pela indicação da coordenadora e de professores da escola. Entramos em contato com os integrantes da turma e explicamos todos os pontos da pesquisa de acordo com termos enviados ao comitê de ética. Após o aceite dos alunos, prosseguimos nossa pesquisa aplicando o círculo epistemológico mostrado a seguir.

3.1.1 Aplicação do círculo epistemológico de cultura

Freire e Romão sugerem que o coordenador organize uma ficha-roteiro antes de iniciar o círculo. Mesmo não sabendo os caminhos que os debates irão percorrer, é importante que se tenha ciência do ponto de início. “Estas fichas-roteiro devem ser meros subsídios para os coordenadores, jamais uma prescrição rígida a que devam obedecer e seguir” (FREIRE, 1967, p. 114). Assim, preparamos uma estrutura-base que serviu como norte, mostrado no quadro abaixo:

Quadro 1 - Ficha-Roteiro do Círculo de Cultura Epistemológico

Tema Conteúdo a ser discutido

I. Apresentação

• Apresentação de cada participante (nome, idade, profissão, local que reside);

• Breve explicação da pesquisa e das práticas que serão realizadas.

II. Experiências pessoais sobre aprendizagem

• Motivações para o retorno ao estudo;

• Atividades do dia-a-dia que dificultam a ida para a escola;

• O que os participantes mais gostam na escola. III. Experiências com

metodologias na aprendizagem

• Preferências de atividades realizadas em sala de aula; • Melhores e piores momentos das aulas.

IV. Experiências pessoais sobre o conhecimento adquirido

• Possibilidades de estudos ou práticas do conhecimento em ambientes fora da escola;

• Compreensão do conhecimento adquirido na escola: dificuldades e facilidades;

• Métodos pessoais de estudo para testes, provas e outras verificações de aprendizagem.

V. Experiências com Mapas Mentais

• Conhecimento e experiências com mapas mentais; • Dinâmica: montagem coletiva de mapa mental. Fonte: Acervo da autora.

O papel de um coordenador dentro de um círculo epistemológico é de, a partir das provocações levantadas, animar o debate instigando os participantes a opinarem, questionarem e relatarem suas experiências pessoais. “O diálogo é condição essencial de sua tarefa, a de coordenar, jamais influir ou impor” (FREIRE, 1967, p. 8).

Uma das estratégias usadas para se fazer um debate igualitário e sem imposições foi o posicionamento das cadeiras da sala de aula em formato circular. Essa a organização favoreceu a interação, a construção dialógica e coletiva. Antes, as cadeiras eram organizadas em fileiras, disposição que poderia dificultar a comunicação e o diálogo.

Embora a turma seja composta por vinte alunos nem todos puderam comparecer nesta etapa, então decidimos dar continuidade de acordo com nosso planejamento realizando o círculo com os sujeitos presentes.

Assim como sugerido no Quadro 1 nossa conversa se inicia com apresentações do grupo participante: seus nomes, idades, profissões e motivações para estarem em sala de aula. A coordenadora também se apresentou e explicou de forma breve as práticas que seriam realizadas ao longo da pesquisa.

3.1.1.1 Perfil dos participantes

Neste primeiro momento foi possível identificar que na turma há uma grande variedade de faixa etária, entre 18 e 45 anos. Aqueles que trabalham possuem profissões diversas: mecânico, cuidador de idosos, empregada doméstica e donas de casa. Diferente de outras turmas em que os alunos residem em regiões mais distantes, os alunos da 5B moram, em sua maioria, nos arredores da escola ou em bairros vizinhos.

Figura 26 - Círculo Epistemológico de Cultura - Debates

Fonte: Acervo da autora.

Sobre as motivações que os fizeram retornar para o ambiente escolar, os participantes debateram sobre a possibilidade de conquistar um futuro melhor através da educação. A partir da finalização dos estudos de nível médio, eles acreditam que é mais fácil inserir-se no mercado de trabalho ou conseguir melhores ocupações. Muitos também almejam dar continuidade aos estudos, cursando o ensino técnico ou superior. A escola Enéas Carvalho também surge como fator estimulante: o corpo docente, a estrutura e até o lanche ofertado os incentivam a seguir adiante.

É preciso, porém, contornar dificuldades para obter êxito em sala de aula. O cansaço do trabalho, afazeres domésticos, os cuidados com a família e a falta de apoio são fatores levantados pelos sujeitos que podem causar a desistência ou desmotivação dos estudos.

3.1.1.2 Experiências na aprendizagem: práticas e metodologias

Adentrando na temática das práticas e métodos de aprendizagem, os participantes relataram que gostam quando os professores oferecem novas estratégias ou ferramentas de aprendizagem em sala de aula. Estimulados a falarem também sobre os métodos menos interessantes, eles citam que não gostam de aulas “muito paradas” (expositivas) ou em que eles devem apresentar o conteúdo através de um seminário. Também foi citada a dificuldade de fazer anotações das aulas ou dos slides ao mesmo tempo em que o professor está abordando o assunto oralmente.

A modalidade EJA é comumente encontrada no período noturno para atender a demanda do público, que utiliza os outros turnos para ocupações domésticas ou profissionais. Trazendo à tona o debate sobre o tempo para estudos fora da sala de aula, a maioria dos participantes do

círculo informaram que devido aos afazeres do dia-a-dia, o momento principal (e muitas vezes único) para se dedicarem aos estudos é no horário escolar. Quando o estudo precisa ser intensificado, é utilizado o horário da madrugada, finais de semana ou o intervalo das refeições. Aproveitando o debate sobre metodologias e técnicas de aprendizagem, a coordenadora questionou se os participantes conheciam os mapas mentais. A maioria dos participantes nunca tinha ouvido falar sobre a técnica e os que já ouviram, não sabiam como funcionava ou não souberam dizer para que servia.

Como fechamento desta primeira etapa, elaboramos uma dinâmica com o objetivo de introduzir e exemplificar o funcionamento de um mapa mental. Para isto, fizemos uma montagem coletiva de um mapa a partir do tema “como estudamos em casa”. A coordenadora explicou de forma simplificada o conceito de mapa mental e estimulou os alunos a relatarem sua rotina de estudos extraclasse. A partir das respostas e considerações do grupo, esquematizamos o mapa separando as palavras e imagens-chave. Para a construção desse mapa coletivo, utilizamos o quadro branco da sala como base e pincéis de quadro coloridos para diferenciar os tópicos e subtópicos, como mostrado nas imagens a seguir:

Figura 27 - Círculo Epistemológico de Cultura - Dinâmica

Fonte: Acervo da autora.

A partir dessa dinâmica, os alunos puderam compreender o conceito básico de mapas mentais e sua aplicação, além de serem provocados a entender mais sobre a técnica.

As informações obtidas nessa primeira etapa foram importantes para compreendermos melhor os sujeitos da pesquisa. Eles possuem características comuns ao que concerne o universo da EJA: intervalo longo ou intermediário fora de sala de aula, expectativas de crescimento profissional e intelectual, tempo escasso para se dedicar aos estudos. Por se tratar de uma estratégia que trabalha reconhecimento de informações a partir de referências imagéticas e palavras-chave, os mapas mentais podem auxiliar positivamente nos estudos dos sujeitos.

Após o levantamento de dados e a compreensão do perfil dos sujeitos participantes da pesquisa, seguimos para a segunda etapa do projeto, a construção do objeto de aprendizagem.

3.2 SEGUNDA ETAPA: DESENVOLVIMENTO DOS MAPAS MENTAIS

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