• Nenhum resultado encontrado

4.1 RELATO DE INTERVENÇÃO

4.1.1 Oficinas

4.1.1.1 Primeira Oficina: Arte Cartonera

Confecção das capas dos diários de leitura e da antologia poética Três encontros de 1hora e 40minutos cada.

1º Passo: Explanação sobre a história da editora cartonera: origem e expansão.

2º Passo: Confecção das capas dos diários de leitura 3º Passo: Confecção das capas da antologia literária

4.1.1.1.1 Relato

De acordo com Helder Pinheiro (2002), envolver o maior número de alunos na confecção de antologias, de forma organizada, cria um sentido coletivo de trabalho e uma recepção facilitada. Ao professor, cabe o trabalho de seleção dos poemas. Com base em algumas dessas sugestões, organizei uma antologia com quinze poemas: seis poemas de Zila Mamede, cinco de Manuel Bandeira, e quatro de Carlos Drummond de Andrade. Quanto à capa, optei pela arte cartonera.

Convidei para ministrar essa oficina o escritor e editor Francisco Martins, que é pioneiro nessa atividade no Rio Grande do Norte, e criou a editora Carolina Cartonera. Foi um momento muito envolvente porque me coloquei no papel de professora e aprendiz, uma vez que estava junto com os alunos aprendendo e participando do processo. E, como disse Guimarães Rosa, “Mestre não é aquele que ensina, mas aquele que de repente aprende”. Lembro que quando

anunciei uma semana antes que eles iriam ganhar uma antologia de poemas e um diário de leitura, e que havia convidado um escritor para nos dar uma oficina para confeccionarmos as capas, eles vibraram e ficaram ansiosos para que os dias se passassem.

A princípio, planejei duas aulas para esta oficina, mas foi preciso um total de seis aulas. Assim, negociei com o professor de artes para me ceder seus horários. Totalizando, tivemos três encontros. Assim, enquanto eu prosseguia com as outras oficinas no meu horário normal, nos dias das aulas de artes, nós estávamos envolvidos nessa atividade prática de confecção das capas.

No primeiro encontro, Francisco Martins fez uma explanação do que é um livro cartonero, quando o movimento nasceu na Argentina e sua expansão por vários países da América Latina, como também outros continentes. Segundo ele, as editoras costumam homenagear mulheres, assim, ele resolveu homenagear Carolina Maria de Jesus, escritora negra, que viveu parte da sua vida na favela Canindé, em São Paulo-SP. Era catadora de papel e escreveu seu diário Quarto de Despejo – Diário de uma favelada. Por tal motivo, ele nomeou a editora dele de Carolina Cartonera.

Ficou acordado que primeiro os alunos iriam fazer as capas dos diários e depois as da antologia. O editor solicitou-lhes para esboçarem um rascunho de uma arte desenvolvida por eles mesmos, com tema livre. Em seguida, passar a arte final para uma meia folha de papel peso 40. Todos receberam um papelão na mesma medida da folha em que criaram sua arte, e pintaram de branco para dar a ideia de uma tela. Colocaram ao sol para secar e depois fazer a arte na capa. Finalizamos esse encontro com essas ações.

Fotografia 1 – Alunos pintando as capas dos diários de leitura

No segundo encontro desse bloco, os alunos10 pintaram a arte anterior, usando tinta lavável, fazendo a mistura das cores e descobrindo as nuances das demais cores criadas. Eles usaram pincéis.

No último e terceiro encontro dessa primeira oficina, os estudantes fizeram a produção da capa da antologia. O desenho foi feito num papelão, com tamanho de 15 x 22 cm, pintado todo de branco, dando a impressão de ser uma tela. Como o “miolo” já estava impresso, coube a cada aluno revesti-lo com uma página A4, na cor amarela, criando desta forma a folha de rosto, na qual foi colado o selo da Editora Carolina Cartonera. Em seguida, receberam a capa da antologia, pintada totalmente em branco, com tinta lavável, e nela fizeram desenhos usando lápis de cor, giz de cera e canetas de hidrocor. Vencida esta etapa, cada aluno entregava a sua produção ao editor, que por sua vez deu o retoque final, fazendo a costura da antologia na capa.

Fotografia 2 – Aluna com a antologia nas mãos

Fonte: Elaborada pela autora

Tal experiência foi bastante enriquecedora, porque desenvolveu neles tanto um sentido de coletividade como também de pertencimento. Além disso, alguns relataram que não tinham tido tal experiência e constatamos a dificuldade em desenhar, mexer com colas e tintas. Para eles, essas oficinas eram atividades lúdicas. Todos participaram ativamente, até mesmo os alunos mais indisciplinados. Portanto, o ato de envolvê-los no processo teve um significado especial. Seria totalmente diferente se eu chegasse com tudo pronto e pedisse para lerem os poemas da antologia e escrevessem as impressões nos diários. Não teria a mesma receptividade.

10 O registro dessas ações, por meio de fotografias e produções textuais, foi autorizado pelos pais e/ou responsáveis

dos alunos, conforme documento assinado por eles, o qual faz parte do arquivo pessoal da autora da dissertação, conforme modelo anexo (ANEXO AV).

Durante todo esse processo de confecção das capas, fiz as devidas orientações sobre a leitura dos poemas e como escrever o diário. É importante ressaltar que os alunos ficaram de posse da antologia, mesmo com a capa em andamento. Fiz isso para não atrapalhar a leitura dos poemas. Em relação à leitura da antologia, pedi-lhes que lessem de diversas formas: em voz alta, silenciosamente. Falei da importância de ler e reler quantas vezes fosse preciso o mesmo poema para poder apreender o sentido do texto e atentar para detalhes, o que em uma única leitura não seria possível. Quanto ao diário de leitura, eles iriam escrever as impressões sobre os poemas, fazer comentários. Ao passar essas orientações, tive o cuidado de não fazer isso como se fosse uma cobrança ou imposição, pois tinha um certo receio de que com tal atitude limitasse a criatividade deles e podasse o prazer da leitura. Falei também que haveria um momento de socialização dessas leituras entre os colegas. Afinal, como afirma Rildo Cosson (2006), selecionado o livro, no nosso caso os poemas, é necessário ter o cuidado de trabalhá- los adequadamente em sala de aula, uma vez que já se sabe que não basta somente mandar os alunos lerem.

4.1.1.2 Segunda Oficina: “Cartas esperam respostas”