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Primeira sessão

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2. MÉTODO

3.1 CASO CLÍNICO: MARGARIDA

3.2.1 Primeira sessão

Figura 1 - Primeiro cenário de Margarida

O material foi apresentado a Margarida, que permaneceu quieta e observou todos os elementos dispostos na sala. Olhou a caixa com areia molhada, contudo, voltou-se para a caixa de areia seca e colocou uma das mãos na areia, mostrando-se ainda tímida, deixando somente

um dedo encostar no material. Ao seu lado estavam as miniaturas e, então, iniciou a montagem de seu primeiro cenário (Fig. 1).

Escolheu as miniaturas uma a uma e foi colocando-as cuidadosamente na areia, esse movimento pode ser notado pelas inúmeras marcas deixadas na areia. Para o pesquisador, a sensação de estar calma e entretida com a atividade foi contundente, tendo permanecido em silêncio durante toda sessão. Após finalizar seu cenário, mostra-se contemplativa com o resultado e sinaliza que terminou.

Margarida deu ao cenário o nome de “A fazenda”, dizendo que estava pensando em fazer uma, pois é um lugar para relaxar e descansar, diz também que é um lugar para cuidar das plantas e dos animais. Colocou em seu cenário: seis pessoas, vinte e uma árvores e plantas, cercas, uma poltrona, cinco pedras, três pássaros, um galo, uma vaca, um burro, dois cavalos, uma casa, três blocos e uma bola. Pode-se destacar que as pessoas estão sem movimento, sentadas, dentro das cercas ou encostadas na lateral da caixa. Identifica-se também que há falta de interação entre as figuras humanas.

Trata-se de um cenário com pouco movimento, apesar da configuração colorida e com presença dos quatro elementos (mineral, vegetal, animal e humano), dados esses que apontam, segundo Turner (2005), um bom prognóstico. A autora diz que um bom prognóstico no cenário inicial é a presença mínima de possibilidade de movimento e presença de vegetação, assim o espaço livre da caixa oferece a ideia de ação, deslocamento e locomoção dos objetos.

Ainda assim, a presença de cercas delimitando um campo onde pessoas e animais permanecem juntos, pode ser indicador de trauma psíquico, pois, de uma maneira geral, a presença de animais em imagens de pessoas que vivenciaram situações traumáticas, aponta Jung (1957/2011), pode representar aspectos não humanos da psique, com isso, o autor quer dizer que animais sob um ponto de vista simbólico representam aspectos instintuais e primitivos da personalidade.

Cercas podem ser utilizadas para espaços que ainda precisam ser integrados, de acordo com McNally (2012), o que indicaria que Margarida ainda não apresenta força egoica suficiente para integrar tal material, sendo assim, as cercas podem funcionar como defesa. Animais e pessoas, instintos e aspectos cotidianos, ainda não interagem e, como coloca Dundas (1978), são aspectos ameaçadores do inconsciente que ainda não podem ser enfrentados ou assimilados; exatamente por estes aspectos estarem cercados, demonstram ser fragmentos da história da paciente que não estão disponíveis para o trabalho psíquico.

Outras figuras humanas, em especial as duas figuras femininas, que podem ser observadas na Figura 1, encontram-se em posições passivas, uma de costas para o restante do cenário, enquanto a outra está sentada. Figuras que passam a ideia de estarem negando o que se passa no cenário, assim sugerindo não ter o movimento necessário para transitar de maneira saudável pelo espaço da caixa.

A presença de aves se constitui outro destaque desse cenário (Fig.1) e a presença do galo, que aparentemente funciona como guarda das cercas. Segundo Chevalier e Gheerbrant (2015), o galo é um símbolo solar, pois seu canto anuncia o nascimento do sol, mas carrega em si outros aspectos relevantes, como símbolo de tempo, de origem histórica como encarnação dos aspectos interiores e psíquicos. Kalsched (2013) coloca que em situações de trauma a psique normalmente se protege com o aparecimento de uma figura daimônica, neste sentido, o galo pode ter aparecido como um símbolo que avisa a respeito do perigo de entrar em contato com os elementos traumáticos inconscientes da psique.

Ademais, os outros pássaros presentes no cenário apontam para aspectos transcendentes de bondade e alegria, podem personificar aspectos bons e maus, segundo os referenciais de análise apresentados por McNally (2012). Na vivência do trauma, uma das defesas mais utilizadas de acordo com Knox (2003) é a cisão do afeto, assim como os pássaros carregam em si os polos bom e mau.

Observando a utilização do espaço delimitado da caixa, nota-se que o centro está vazio (Fig. 1). Ammann (2002) expõe que em sua experiência na utilização do Sandplay, o centro da caixa está ligado ao Self, Ego e personalidade, noção essa que, no caso de Margarida, aparece empobrecida. Levando em consideração os lados da caixa, a citada autora discute que o lado direito da caixa é representativo da consciência, indicando fragmentos, necessidade de cuidado e pouco espaço para que a energia psíquica atue.

Segundo o Quadro de Referência de Mitchell e Friedman (2003), os temas que sugerem feridas psíquicas expressos no cenário são: separação, confinamento e ameaça. Já o tema de cura presente é: energia.

3.2.2. Segunda sessão

Figura 2 - Segundo cenário de Margarida

Na segunda sessão Margarida se mostrava familiarizada com o material, começou a montar um cenário diferente da figura 1. Inicialmente, colocou uma ponte ao centro do cenário, miniatura essa que poderia indicar uma conexão, ou ao menos, uma possível conexão, ligação dos pólos já apresentados no primeiro cenário (Fig. 1), nos ambientes separados pelas cercas, como apontam Bradway e McCoard (1997). Após observar seu próprio cenário, Margarida retirou a ponte e começou a montar o que seria seu cenário representado na figura acima (Fig. 2).

A retirada da ponte pode indicar que a integração ainda é prematura. Deste modo, Margarida por enquanto, não parece estar pronta para fazer conexões. É importante observar as construções dos cenários de uma maneira geral, os movimentos de “por e tirar”, pois, podem funcionar como atos falhos da consciência, como neste cenário específico (Amatruda & Simpson, 1997). Este dado mostra que, apesar da paciente ainda não estar pronta para fazer conexões, internamente identifica-se um potencial para realizá-la, assim apresentando, mais uma vez, a ideia de um bom prognóstico.

Ao montar seu cenário, Margarida trabalhou intensamente no lado esquerdo da caixa. Escondeu todas as pedras cuidadosamente e, a medida que contava uma história, ia revelando essas pedras. A respeito deste movimento de esconder e mostrar, Amatruda e Simpson (1997)

dizem que crianças, ao fazerem esse movimento, normalmente querem nos mostrar que algum conteúdo inconsciente precisa vir à superfície.

Complementar a isso, Raftopoulos (2015) escreve um artigo sobre o uso de pedras e joias, sugerindo que pedras são formações que surgem da colisão da terra, paralelo que se pode fazer com a tensão dos opostos, que pode oferecer crescimento psicológico. Assim, são consideradas partes inconscientes que a pessoa considera preciosas. Com relação ao trauma, autora expõe que pedra escondida em cenários iniciais, podem simbolizar inocência, integralidade, o corpo e senso de segurança, ideias que, no caso de Margarida, ficam comprometidas pela situação traumática. Temas esses que estavam, até então, enterrados e puderam começar a emergir no espaço livre e protegido representado pelo Sandplay. Logo, podendo representar o potencial inconsciente de cura sendo mobilizado.

Ao finalizar o cenário, Margarida conta a seguinte história:

“Era uma vez uma família que era muito pobre, eles tinham bastante doces, pois a mãe vendia bolo para arrecadar dinheiro. Um dia o menino (filho) foi jogar bola e descobriu pedras preciosas no quintal e correu para contar para sua mãe”. Relacionando o cenário com a história contada, observa-se que a divisão (cisão do afeto, causado pelo trauma) parece mais evidente e exacerbada, assim a dualidade parece ficar clara, não apenas pelo fato do cenário estar divido em dois ambientes, mas também pelas verbalizações feitas apresentarem duas histórias que não se conectam. Os lados do cenário podem ser compreendidos como inconsciente X consciente, levando em consideração as proposições de Ammann (2002) e Furth (2004).

O lado esquerdo do cenário apresenta: duas figuras adultas, uma criança, alimentos espalhados, um sofá e uma poltrona e à frente deles, uma televisão (Fig.2). Configuração que poderia indicar uma família nutritiva e com boa interação, porém chama a atenção que a criança olha para a figura masculina e está de costas para a figura feminina. Novamente, como no primeiro cenário (Fig.1), a mesma miniatura de mulher é colocada como se não estivesse interessada no que está acontecendo no restante do cenário, pode-se inferir aqui o quanto existe na vida de Margarida uma imagem feminina que não se importa ou nega os fatos que vão acontecendo.

No outro lado do cenário, temos quatro figuras masculinas, pedras, dois coqueiros e um dado. O arranjo dos “meninos”, todos de costas, em frente a uma bola, mesmo que na história

apareça apenas um menino jogando bola. Ammann (2002) chama a atenção a respeito dos símbolos duplicados, neste caso, o número quatro é o que se destaca.

Turner (2005) diz que este número traz ordem ao caos, o mundo material é ordenado pelos quatro pontos cardeais, o tempo é ordenado pelas quatro estações e traz a forma do quadrado, que oferece o sentido de base. Ideia essa que corrobora os aspectos simbólicos da pedra, já explorados acima, de que já há o movimento que Weinrib (1993) chama de regressão criativa, a energia psíquica se dirige para o inconsciente para depois emergir de forma transformada.

A figura masculina, evidente neste cenário, se relaciona com o processo simbólico a ser realizado, ora visto como perigo e ora como figura de apego. A dualidade de sentimentos a respeito desta figura é notória, é aquele que além do acolhimento paterno, oferece regra, princípios e organização, em outro momento se quer interage. Resultando em ligações mais conscientes como: a figura masculina é a que abusa, mas também é a que cuida.

Paralelo a essa questão do masculino, com o processo terapêutico, no qual o terapeuta (no caso, o pesquisador) é uma figura masculina, é possível que Margarida vivencie algo diferente já que dentro de um processo terapêutico se pode oferecer constância, favorecendo, através desse universo simbólico, a solução para a dualidade apresentada.

Nesta sessão, Margarida pede para contar um sonho. Para Kalff (1980), os sonhos e os cenários na caixa de areia são praticamente as maneiras mais eficazes de acessar o inconsciente do paciente, e como o brincar simbólico no Sandplay, pode favorecer o sonhar por se tratar também de imagens, o sonho da paciente se constituiu em um importante recurso para compreensão do processo que está sendo vivido.

“Estava indo na casa da minha madrinha que é do outro lado da rua, quando cheguei lá, ela tinha uma irmã gêmea. Do nada minha avó apareceu e também tinha uma irmã gêmea. Do nada elas viraram zumbis, as quatro e vieram para cima de mim. Eu sai correndo e acordei quando comecei a bater na porte de casa”. O pesquisador questiona o que sente a respeito de sua madrinha e sua avó, sendo que Margarida diz que são as pessoas que mais confia. O primeiro indicativo do sonho, então, diz o quanto perigoso é confiar nas pessoas mais próximas, confiabilidade é uma das coisas mais comprometidas nas situações traumáticas. É possível fazer um paralelo com a maneira se comporta atualmente, enxergando as situações sempre como perigosas, sentindo que sempre

está sendo perseguida e comportando-se de forme que foge das situações que “podem” repetir o trauma.

Jung (1928/2012) diz que sonhos traumáticos estão sempre acompanhados por figuras de animais perigosos ou monstros, zumbis, mortos vivos, símbolos de um espírito maligno que anda vagando e assustando pessoas. Relação essa com a figura daimônica de Kalsched (2013), que aterroriza o mundo interno da pessoa ao mesmo tempo em que a protege de contatar situações que reproduzam o trauma.

Além da duplicação das pessoas durante o sonho, chama a atenção novamente o número quatro, citado inclusive pela paciente. O sonho, enquanto linguagem universal do inconsciente, parece também comunicar que a ordenação do caos está em processo/ em andamento, trazendo os conteúdos da psique que já estão “mortos” mas ainda parecem exercer alguma influência em seu funcionamento.

Levando em consideração o cenário e o sonho, de acordo com o Quadro de Referência de Mitchell e Friedman (2003), os temas de ferida psíquica são: divisão, caos, ameaça e ocultamento, enquanto os temas de cura são: união, energização e aprofundamento.

3.2.3. Terceira sessão

Figura 3 - Terceiro cenário de Margarida

Na terceira sessão, Margarida faz um cenário e o intitula de “O parque”. Conta ao pesquisador que ficou pensando no que ia montar durante a semana (referindo-se ao cenário na

caixa de areia). A adolescente, que até então se mostrava excessivamente apática a qualquer estimulação do ambiente, nesta sessão demonstra ao contrário. Até a segunda sessão, independente da temperatura do ambiente, vinha vestida com um blusão cor de rosa com capuz, entretanto, neste encontro, compareceu sem o blusão e pareceu mais disposta a conversar e interagir durante a sessão.

Neste cenário utilizou nove figuras femininas, sete figuras masculinas, três pássaros e três tartarugas, um pato, plantas, uma bola e pedras azuis (Fig. 3). No centro do cenário tem um lago, Bradway (2001) coloca que o simbolismo do lago está ligado ao oculto e misterioso, sendo que o lago está estritamente ligado à psique do ser humano. Diz respeito a tudo que está em um nível espacialmente mais baixo, o que se pode compreender como o inconsciente. Um ponto importante que se relaciona com a história de Margarida é que a superfície do lago funciona como um espelho, no sentido de autocontemplação, consciência e revelação.

O lago, enquanto possibilidade de desvelar conteúdos, complementa com a representação simbólica do pato e das tartarugas que estão saindo do lago. As tartarugas apareceram na década de 90 como animais capazes de auxiliar no salvamento de pessoas que estavam se afogando. Assim, Kalff (1980) coloca que o animal carrega em si o símbolo de união dos opostos, a imagem do masculino (cabeça) e do feminino (o casco, no sentido de continência, útero). Já Bradway e McCoard (1997) apontam a tartaruga como uma imagem de ajuda.

As autoras analisam as tartarugas do ponto de vista biológico e discorrem a respeito desse animal ser o único que sobrevive sem ao menos ter visto a mãe, pois a mãe abandona seus ovos antes de nascerem os filhotes. Assim, para as autoras, pode ser também símbolo de abandono materno. Mas, além desse símbolo, as tartarugas, em tempos de perigo, podem simplesmente se guardarem dentro de seu próprio casco, portanto, também pode ser símbolo de proteção. Ambos os aspectos podem ser articulados a história de Margarida.

O abandono materno não é um tema tão claro, porém pode-se pensar que uma mãe depressiva, conforme informado, não pode oferecer os cuidados básicos que Margarida possa precisar e, além disso, os elementos de suporte para enfrentar a situação de violência também podem vir no ambiente familiar, assim a figura materna não parece estar disponível para executar tais funções. Frente a essa questão de abandono, o movimento que uma tartaruga faz de fechar-se no casco para se proteger, parece ser o movimento que Margarida faz para se proteger de seus próprios conteúdo.

O pato, uma ave que muitas vezes está associada à tolice e ao engano, porém na cultura americana, era utilizado como um guia seguro, pois estava à vontade tanto na água quanto no céu (Chevalier & Gheerbrant, 2015). Assim, os movimentos que vem acontecendo nos outros cenários analisados (Fig. 1 e Fig. 2) indicavam a mobilização de energia do inconsciente, que parecem vir à consciência com a revelação desses animais de guia e proteção, que podem mostrar o caminho para a possibilidade de cura.

O número três aparece em dois agrupamentos, os pássaros e as tartarugas. Segundo Turner (2005), é um número que abarca passado, presente e futuro, diz respeito ao movimento e ao dinamismo, hipótese esta que vai sendo confirmada ao olhar as configurações dos cenários (Fig. 1, 2 e 3), as cercas e os seres humanos começam a ganhar movimentos e ocuparem espaços diferentes.

Os polos continuam a aparecer, não só nas imagens acima exploradas, mas também na configuração dos dois grupos de pessoas, as meninas no piquenique e os meninos jogando futebol. Apesar das polaridades, os grupos entre si já denotam boa interação, elas comem e eles jogam. Mas, ainda não existe uma integração da figura masculina e da feminina.

Margarida conta a seguinte história sobre seu cenário:

“Hoje eu fiz um parque. Tem meninas fazendo piquenique enquanto os meninos estão jogando futebol. Tem um lago, usei as pedras azuis como água e deste lago, saem três tartarugas e pássaros perto das árvores porque sem isso não é parque. Tentei fazer igual uma redação que eu escrevi no terceiro ano do fundamental”.

Aproveitar o parque, se divertir já parece como uma possibilidade viável. Novamente traz um sonho:

“Tinha um menino na rua, seu cachorro se transformou em lobisomem, o menino saiu correndo e entrou em um açougue, aí apareceu um lobisomem bom e matou o cachorro mal e ficou tudo bem”.

Diz que lobisomem é perigoso, novamente o sonho reensaia uma situação traumática. A figura monstruosa que personifica o trauma, como coloca Jung (1928/2012), continua a aparecer. Porém, de uma forma diferente, o desfecho da história muda quando um “lobisomem

do bem” aparece e resolve a situação. O surgimento do outro polo coincide com a mudança de postura a respeito do trauma e da vida de uma maneira em geral, como compartilhado no início quando do relato sobre a percepção do pesquisador sobre a paciente.

Como sugere o Quadro de Referências (Mitchell & Friedman, 2003), o tema de ferida psíquica presente é o de divisão, sendo os temas de cura: viagem, energização, aprofundamento e centralização.

3.2.4. Quarta sessão

Figura 4 - Quarto cenário de Margarida

Nesta sessão, Margarida foi direto trabalhar na caixa de areia, não quis conversar e permaneceu praticamente todo o tempo da sessão montando e remontando o cenário. Informa ao pesquisador que montou algo que ficou imaginando na noite anterior, gostaria de ter montado uma cidade, mas olhando as miniaturas, decidiu fazer um zoológico. Atribuiu ao cenário o título de “O zoológico”.

No Sandplay, a expressão acontece através de imagens, há silêncio, mas há uma relação visual. Existe a relação com as figuras que aparecem na areia e há a relação visual entre o terapeuta e o paciente, o que cria outro tipo de relação terapêutica. O terapeuta de Sandplay não

está ausente, estar presente dessa maneira requer mais do que apenas falar (Bradway, Chambers, & Chiaia, 2005).

Considerando-se tais apontamentos, a quarta sessão foi pautada pelo silêncio, pouca verbalização foi feita durante o tempo no qual estavam juntos, terapeuta e paciente. Trata-se de um cenário que trouxe um movimento regressivo importante (Fig. 4). Para Jung (1928/2002), a regressão seria o movimento da energia psíquica em direção ao inconsciente para atender as demandas internas, ou seja, talvez para colocar ordem ao caos. Por energia psíquica, entende- se que, além da libido freudiana, encontra-se a necessidade de autopreservação, fome e inserção social, como combustíveis dessa energia (Jung 1928/2013).

Assim, nos deparamos com animais e pessoas juntas novamente, porém, de maneira diferente, os humanos agora observam os animais, mas não estão aprisionados com eles. Os instintos aparecem de maneira mais organizada, cercados e estão os humanos no controle.

Alguns aspectos estão conservados e se mantém de um cenário a outro. Ainda há um grupo de meninas no piquenique (Fig. 3) e o lago com o pato e as tartarugas (Fig. 3). Dois elementos novos aparecem na caixa de areia, as conchas e os carros.

As conchas presentes no cenário, são formações primitivas, têm em sua composição uma mistura orgânica e funciona como carapaças protetoras dos moluscos. Logo, as conchas tem o aspecto protetivo, assim como as tartarugas. Porém, oferecem um aspecto do feminino significativo que, segundo Chevalier e Bheerbrant (2015) diz respeito ao simbolismo da fecundidade, pois trazem a lenda do nascimento de Afrodite – deusa do amor, da beleza e da sexualidade, na religião grega – saída de uma concha, confirmando o simbolismo.

Igualmente, morte e prosperidade também são significados que a concha abarca. Assim, o conteúdo que a concha protege a pérola, traz prosperidade, mas é da morte de seu ocupante primitivo que se forma o conteúdo. Desse modo, o elemento feminino da concha e os símbolos do lago, pato e tartarugas, podem demonstrar as potencialidades de Margarida.

Os carros funcionam como impulsos que precisam do controle do ego, como lembra

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