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C APÍTULO IV – A PLICAÇÃO PRÁTICA DA METODOLOGIA PROPOSTA

4.2. IMPLEMENTAÇÃO DO 1.º CICLO DO PROJETO DE INVESTIGAÇÃO-AÇÃO

4.2.2. Primeira unidade: O trabalho e o mundo laboral

A primeira unidade didática teve, assim, início no dia 8 de janeiro como uma aula de 90 minutos. O objetivo principal era que os alunos compreendessem a situação laboral em Espanha e, para isso, começaram por perceber o lado negativo da falta de emprego, que domina os debates políticos atuais no país vizinho e surge frequentemente como indicador comparativo na análise da situação económica portuguesa. Achei melhor, numa fase inicial, captar a atenção dos alunos através de uma abordagem mais leve e apelativa, indo de encontro ao sentido de humor dos alunos, mostrando um vídeo de um conhecido humorista espanhol, José Mota5, que permitiu um primeiro contacto com o tema e com algum vocabulário específico do âmbito laboral. Nesta atividade, os alunos viram o vídeo duas vezes, a primeira para compreensão geral do conteúdo, a

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segunda para uma análise já mais aprofundada, apoiada numa ficha com perguntas de resposta múltipla. Entre a primeira e a segunda visualização foi feita uma pausa para esclarecer dúvidas de vocabulário. Este exercício foi feito através de mediação oral e os alunos depreenderam os sentidos pelo contexto, pela associação à língua materna, ou, em último caso, por paráfrases ou exemplificações feitas pela professora. Os alunos não tiveram dificuldade em fazer este exercício, nem em partilhar de uma forma introdutória o seu conhecimento sobre a situação de desemprego vivida em Espanha, embora não conseguissem identificar as principais causas ou zonas (norte, sul, ilhas) em que a taxa de desemprego era mais elevada, na fase de pré-leitura. Para saber mais sobre o tema, passaram à atividade seguinte, em que leram uma notícia atual sobre o desemprego em Espanha, responderam a perguntas de compreensão que os guiaram a estabelecer uma relação de analogia entre o conhecimento que possuíam sobre a situação no seu país para perceber as causas do desemprego tão elevado em Espanha. Para melhor expressarem a comparação entre a situação laboral entre Portugal e Espanha, foi introduzido o conteúdo gramatical da comparação de superioridade, igualdade e inferioridade.

Na segunda aula, continuou-se a exploração do tema com a apresentação de um vídeo sobre a “Geração Ni-ni”6, troca de impressões sobre o assunto e realização de um exercício escrito para perceber as causas e consequências desse estilo de vida em que os jovens optam por não trabalhar, nem estudar, formando orações causais, explicando as razões que levam a tal comportamento. Em seguida, passaram à análise de uma tabela sobre um jogo de computador, os Sims 2, em que estavam representadas as profissões que os personagens podem eleger e o percurso académico, social e profissional que devem seguir para atingir o sucesso, assim como as regras a que têm de obedecer e os benefícios que ganham. O objetivo era que os alunos, através de um estímulo motivador que os aproxima dos seus hobbies, pudessem compreender melhor a relação entre esforço e recompensa, e também a importância das competências sociais na carreira profissional. Seguiu-se a leitura de um pequeno texto de caráter testemunhal sobre a observação de um caso de sucesso profissional, onde tinham de observar a função e a forma dos verbos no pretérito indefinido, identificar o seu uso, compreender a regra pelas explicações da professora (por meio de uma apresentação powerpoint e no quadro)

6 Termo relativo a um segmento da população de uma determinada faixa etária, normalmente a partir dos

18 anos, que não estuda nem trabalha, mas que continua a viver em casa dos pais (La generación de los que ni estudian, ni trabajan).

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e aplicar os conhecimentos adquiridos em exercícios gramaticais sobre o tema em estudo. Como primeiro passo para um percurso de sucesso, em seguida, os alunos aprenderam a escrever uma carta de apresentação fazendo marketing pessoal, ou seja, aprendendo a reconhecer os pontos fracos e fortes: transformar os primeiros em aspetos positivos e realçar os segundos. Como atividade final, os alunos tinham de realizar uma entrevista de emprego, em grupos, para um posto de trabalho específico, com perfis de candidatos controversos, que punham em causa as noções de bem e mal dos entrevistadores. Estes teriam, no final, de justificar as suas escolhas.

Esta unidade foi definida de acordo com o perfil da turma que, segundo informações dos diretores de turma, elegeu como principal passatempo jogar jogos de computador e não se mostrava motivada nem para o estudo, nem para optar por uma carreira profissional específica (informações recolhidas através de entrevista com a professora orientadora). O nível de dificuldade foi relativamente alto tendo em conta o conhecimento médio dos alunos, o que se traduziu na dificuldade em compreender e realizar certas atividades, principalmente duas fichas de trabalho com exercícios escritos e de interpretação7. Na minha opinião pessoal, não foi tanto o nível de dificuldade, mas a forma como a informação foi apresentada, que exigia raciocínio lógico e chegar às conclusões por analogia, o que gerou dificuldades na sua execução. Foi evidente a reação geral de estranheza a uma abordagem diferente dos conteúdos e impôs uma alteração aos passos inicialmente planeados, para uma reformulação rápida do discurso, estabelecer relações de significado com aspetos práticos do quotidiano e dar instruções mais detalhadas, claras e precisas, para além de se realizar o primeiro exercício em conjunto, no grupo-turma, como exemplo.

4.2.2.1. Análise dos resultados do inquérito realizado no final da primeira unidade didática.

No final da unidade foi feita a autoavaliação e, conjuntamente, o questionário sobre a forma como aprendiam melhor e quais os hábitos previamente adquiridos para contactar com a língua de forma audiovisual. O questionário de autoavaliação foi concebido segundo o modelo de Nunan (2004: 149) em que o aluno descreve as

7 Fichas de trabalho n.os 1 e 2, em Anexos.

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competências que desenvolveu, assinalando com uma cruz a facilidade/dificuldade com que é capaz de as pôr em prática.

Acerca da metodologia que favorecia a sua aprendizagem, os meios mais apreciados foram os exercícios de gramática, depois a leitura e compreensão de textos, seguida das audições. A redação escrita sobre um tema proposto, os vídeos com compreensão escrita e a expressão de opiniões próprias e partilha da sua experiência pessoal foram os menos assinalados. No entanto, como podemos depreender da análise do gráfico abaixo, houve um grande equilíbrio nos resultados com uma grande homogeneidade de preferências.

Gráfico 1 – Atividades que melhor ajudam os alunos a aprender (1.ª unidade didática).

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