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II. REVISÃO DA LITERATURA

2.1 Enquadramento do Salvamento Aquático

2.1.1 Primeiras Associações ligadas ao Salvamento

O Salvamento Aquático é relativamente jovem quando o encaramos numa perspetiva organizacional. O salvamento de marinheiros náufragos (salvatagem) parece ter ocorrido e desencadeado as primeiras organizações de salvamento aquático. Ao longo do tempo e em diversos países, surgia a necessidade de haver organismos que se preocupassem com esta problemática do salvamento aquático, uma epidemia que se alastra para todos os cantos do mundo.

A Associação de Salvamento Aquático "Chinkiang" ("Chinkiang Association for the Saving of Life"), estabelecida na China em 1708, foi a primeira organização deste tipo que se tem conhecimento no mundo). Esta organização desenvolveu torres de salvamento e materiais que pudessem ser utilizados com este propósito. Nos Países Baixos, em Amsterdão, nascia em 1767 a "Sociedade para Salvar as Pessoas que se Afogam" ("Maatschappij tot Redding van Drenkelingen"), com o principal objetivo de evitar a morte por afogamentos nos numerosos canais abertos existente na cidade. Até à data, esta sociedade permanece em existência e promove uma grande variedade de iniciativas na área da prevenção. Na Inglaterra, o esforço organizado para lidar com o salvamento aquático começou em 1774 e o uso de resgate com barcos foi iniciado somente em 1824 (Szpilman, 2010).

Em 1787, a Sociedade Humanitária de Massachusetts ("Massachusetts Humane Society") (EUA) começou o processo do que viria a se tornar um movimento de salvamento aquático nos Estados Unidos e se tornaria o USLSS ("United States Life-Saving Service"). O USLSS era composto por uma cadeia nacional extensa de torres de salvamento espalhadas pelo litoral dotada de pessoal ligado ao salvamento pelo Governo Federal, à qual pertence o crédito de 170 mil vidas salvas neste período. Em 1915, esta organização juntou-se ao

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"Revenue Cutter Service" para se tornar a Guarda Costeira Americana. Foi somente em 1800 que a natação, hoje conhecida como banho de mar, começou a emergir como uma forma extremamente popular de recreação e lazer.

Este tipo de atividade começou a tornar-se recorrente como prática desportiva e recreativa, acabando por serem construídos recantos para o lazer junto às praias em lugares como “Atlantic City” e “Cape May” em Nova Jersey. Como poderíamos constatar, o problema do afogamento começou a alastrar-se nessas áreas, não havendo medidas eficazes para controlar a taxa de mortalidade existente, muito devido à falta de prevenção e de proteção e socorro. Tardiamente, foram implementados vários métodos de prevenção ao afogamento, inclusive o uso de linhas de corda na água, ou seja, cordas fixas nas quais os banhistas poderiam agarrar-se e ter alguma segurança em meio aquático. Atualmente, este método ainda é utilizado, embora com menos enfâse face à dificuldade e critério de êxito na prevenção ao afogamento. Quando estas estratégias de prevenção provaram não resultar em sucesso, a polícia foi nomeada a executar o serviço de nadadores salvadores na Cidade de "Atlantic City". Entretanto, o serviço era demasiado dispendioso face aos recursos policiais e em nada se adaptava a sua responsabilidade.

Face a todas estas problemáticas, um grande grupo de nadadores salvadores foram empregados em 1892. Na altura, a formação ligada à área era escassa, o mesmo acontecendo com o material de salvamento, que era inexistente ou pouco ortodoxo na época. Na cidade de "Cape May", os esforços de reduzir o número de acidentes por afogamento começaram essencialmente com o uso de anéis de salvamento pendurados nas casas de banho e o uso de "dories" nas praias, que poderiam ser usadas para o salvamento. Em 1865, os hotéis começaram a contratar pessoas para atuarem em barcos que faziam o salvamento na sua orla (praia) e espaços aquáticos (piscinas). Esta estrutura foi o alicerce para organização dos Serviços Municipais de Salvamento Aquático, que continua até os dias de hoje.

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Por volta de 1900, a Cruz Vermelha Americana e o "YMCA" (Young Men’s Christian Association) iniciaram esforços juntos para reduzir o número de afogamentos, ensinando aos americanos a nadar e salvar-se uns aos outros quando em perigo na água. Esta campanha de treino em natação e salvamento com um enfoque em piscinas e praias interiores cresceu e atingiu um âmbito nacional, permanecendo como um dos pilares da prevenção até os dias de hoje.

A necessidade de prevenção de afogamento e serviços de salvamento foi baseada fundamentalmente na ocorrência de mortes por afogamento, verificando-se que as técnicas de salvamento ainda eram muito elementares, rudimentares e pouco eficazes no salvamento de vidas humanas. Estas mesmas técnicas baseavam-se apenas no uso de um nadador para salvar outro, ou seja, resgate homem-a-homem, e frequentemente sem equipamento. Os equipamentos de salvamento eram muito mais uma adaptação daquele que era utilizado pela USLSS para salvar os marinheiros do mar do que materiais próprios para o salvamento em praias. Mais especificamente, eram usados barcos de salvamento semelhantes aos usados pelo USLSS, posteriormente adaptados para o uso dos nadadores salvadores, e que tinham a principal função de remar para socorrer os banhistas em dificuldades e evitá-los da morte. Até hoje, estes barcos ainda permanecem em serviço em algumas áreas dos EUA. Importa porém registar que o método predominante de salvamento entretanto, era o de nadar até à vítima.

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A iniciação dos serviços de nadador salvador foi sempre devida ao resultado de perda de vidas humanas nas águas - afogamento - e, ainda hoje, é este fato que impulsiona a necessidade de aumento dos serviços e maiores recursos para a área de salvamento. Em 1918, 13 pessoas morreram afogadas em um único dia em San Diego, Califórnia, estimulando a criação de um serviço de salvamento que agora conta com 240 guarda-vidas que provêm resposta para emergências litorais 24 horas por dia, durante todo ano, naquela época do ano (American Red Cross, 2012).

Em Portugal, a organização atualmente ligada ao salvamento aquático, o Instituto de Socorros à Náufragos, conta já com uma bolsa de nadadores salvadores de cerca de 7500 profissionais qualificados e creditados. Este elevado número deve-se, em grande medida, ao acompanhamento e evolução de outros países mais enraízados no desenvolvimento, pesquisa e formação de técnicos especializados em meio aquático.

2.1.2 Origens do Primeiro Clube “voluntário” e início de