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5.1 A disciplina

5.1.2 Primeiras aulas

Percebe-se que, nas primeiras aulas, o tema “ensino” foi abordado ora menos, ora mais diretamente. Na primeira aula, constata-se uma discussão mais nítida sobre o tema, uma vez que foram tratados assuntos sobre a docência. Ao propor uma aula acerca do que era ser um bom professor, a professora da disciplina estimulou os licenciandos a manifestarem suas concepções sobre a atividade docente. Nesse

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A expressão “prática de ensino” é utilizada pelas autoras, referindo-se tanto ao estágio supervisionado quanto às atividades formativas a ele relacionadas. De qualquer forma, entende-se que essa expressão diz respeito, também, à disciplina específica “Prática de Ensino de Ciências Biológicas”, sobre a qual se debruça.

momento, percebem-se algumas idéias dos alunos sobre o ensino. Quando concordam que um bom professor é aquele que se preocupa com o desenvolvimento da ética e da cidadania de seus alunos, eles assumem uma posição segundo a qual ensinar não se resume à transmissão de conhecimentos e conteúdos, mas estende-se à formação do aluno em outras esferas além da acadêmica.

Ainda nesta primeira aula, ao discutirem sobre as imagens da profissão docente representadas nos trechos dos jornais, os licenciandos demonstraram possuir uma visão pessimista da mesma, ressaltando, sobretudo, aspectos ligados à baixa remuneração e à desvalorização social da categoria. Em relação a isso, também comentaram sobre as diferenças entre bacharelado e licenciatura, tal como pontuam Diniz-Pereira (2006) e Souza (2005). Para os licenciandos, a histórica consideração da licenciatura como apêndice do bacharelado, pode ser um dos motivos que embasam as visões pessimistas relativas à docência. Neste sentido, a desvalorização da licenciatura colabora para a descrença na profissão do professor.

Com relação à segunda aula, apontam-se apenas alguns momentos ilustrativos de uma abordagem mais direta sobre o ensino e também sobre a aprendizagem. Quando a professora sugeriu um exercício baseado na perspectiva do “ensino de ciências por investigação”, ela tornou visível sua própria concepção de ensino, além de instigar seus alunos a adotarem tal perspectiva. Segundo Azevedo (2004), pesquisas têm mostrado que os estudantes aprendem mais sobre a ciência e desenvolvem seus conhecimentos conceituais com maior profundidade quando participam de investigações científicas, semelhantes às realizadas nos laboratórios de pesquisa. Torna-se claro, então, que a professora acabou definindo, ao propor esta atividade, que para ensinar é importante propiciar um espaço, no qual os alunos tenham a possibilidade de planejar uma tarefa, de formular um problema, e de gerar questões.

No final desta aula, foram levantadas perguntas pela professora, sendo duas delas inteiramente relacionadas com os temas “ensino” e “aprendizagem”: “Como as pessoas aprendem ciências da natureza?” e “Como ensinar ciências da natureza?”. Ao propor estas questões, a professora ressaltou que o ensino e a aprendizagem das ciências da natureza possuem especificidades. Seu objetivo foi, assim, ajudar os licenciandos na tarefa de identificá-las e compreendê-las.

O que se destaca em relação à terceira aula é a postura assumida pela professora de que o docente deve desenvolver atividades de pesquisa. Neste sentido,

ela defendeu um estreito relacionamento entre a docência e a pesquisa, sinalizando uma concepção, conforme a qual é imprescindível para o professor desenvolver repertórios de pesquisador, mobilizando-os em sua prática. A esse respeito, Mendes e Munford (2005) tecem reflexões interessantes. As autoras sublinham que a consideração da sala de aula como espaço de pesquisa busca romper com a dissociação entre teoria e prática, problema característico dos modelos de formação nos moldes “3+1”. Pretende-se, ao contrário, ressaltar a escola como lugar de produção de conhecimento (e, portanto, de pesquisa), e não somente de aplicação de conhecimento oriundo da academia. Em outras palavras, apontar para o relevante papel da pesquisa no trabalho docente é relativizar a dicotomia que contrapõe o pesquisador acadêmico, de um lado, e o professor, do outro. Quando a professora da disciplina defende um estreitamento das relações entre docência e pesquisa, ela afirma a importância das pesquisas que se originam de questões elaboradas pelos professores, no próprio ambiente escolar. Ainda nesta aula, a professora evidenciou mais uma vez sua opção didática, ao trabalhar com atividades ilustrativas do “ensino de ciências por investigação”.

Na quarta aula, discutiu-se o tema “ensino” de forma bastante explícita, principalmente quando a professora retomou o bloco de questões introduzido na segunda aula (1: Por quê ensinar ciências da natureza? 2: O que caracteriza as ciências da natureza? 3: Como as pessoas aprendem ciências da natureza? 4: Como ensinar ciências da natureza?). O debate esteve focado nas principais razões que justificam o ensino de ciências. Todas as constatações feitas pelos alunos, sobre aspectos a serem valorizados e mobilizados na prática do professor, referiram-se exclusivamente ao ensino de ciências.

Já na quinta e sexta aulas, os assuntos trabalhados restringiram-se às questões sobre a natureza da ciência. Não houve nenhuma referência ao ensino e/ou à aprendizagem. Talvez isso possa ter acontecido exatamente em função da especificidade do assunto abordado nessas aulas, não trazendo implicações diretas para o debate sobre ensino e aprendizagem.

Finalmente, na sétima aula, o centro das discussões consistiu nas características dos currículos nos diversos níveis de ensino. A professora destacou a necessidade de se saber avaliar e criticar diferentes currículos. Novamente, não foram abordados de modo direto o ensino e a aprendizagem. No entanto, considera-se que a professora, mais uma vez, explicitou elementos de suas concepções de ensino, ao

destacar que a tarefa docente não estava resumida a uma transferência direta do conhecimento científico para o ambiente escolar. O professor, no seu ponto-de-vista, deve analisar criticamente o currículo de uma determinada disciplina, refletindo sobre as várias apropriações possíveis acerca do mesmo.