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O Primeiro contato com as comunidades, com a escola e com as professoras

CAPÍTULO 2. METODOLOGIA DE PESQUISA

2.4. O trabalho de campo: o contato com as comunidades e as ferramentas

2.4.3. O Primeiro contato com as comunidades, com a escola e com as professoras

O primeiro contato com as escolas ocorreu no dia 22 de fevereiro de 2016; as aulas haviam iniciado no dia 11 de fevereiro desse ano, e as crianças estavam se adaptando à escola.

A primeira escola visitada foi a de Linha Cerejeira, no mesmo dia 22 de fevereiro de 2016, me direcionei também à escola de Linha Pinheiros para me apresentar para a professora, pois ainda não havia realizado uma apresentação do meu projeto e nem solicitado permissão para a realização da pesquisa na referida escola. A recepção da professora Cássia foi acolhedora. Então expliquei meu projeto e pedi sua autorização para a realização da pesquisa na escola. Esta professora logo respondeu: “veio ao lugar certo, aqui até as reuniões com os pais tive que fazer em ucraniano, as crianças falam muito o ucraniano40”. Fiquei surpresa, pois a informação oferecida pela professora Marlene dizia o contrário. A professora Cássia me convidou para entrar e assistir a aula já no dia 22. Imediatamente aceitei o convite.

As comunidades em si são muito acolhedoras; os pais ficaram sabendo, pelos filhos, que eu estava frequentando a escola e mandaram diversos recados de

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quanto estavam felizes por eu estar ali. Algumas crianças me diziam que suas mães tinham falado para que eu fosse tomar chimarrão na casa delas se eu tivesse tempo e diziam também: “ela falou que te ensina ucraniano41”.

2.4.4. A observação participante: a trajetória da pesquisa – desafios

e impasses

Como já mencionado anteriormente, sou moradora da região e atualmente resido na área urbana do município, desse modo, todos os dias me deslocava até as comunidades nas quais desenvolvi as observações da pesquisa de campo.

A distância entre essas comunidades e a área urbana é significativa (25 km a comunidade mais próxima e 35 km a comunidade mais distante). O problema é que o ano de 2016 (principalmente no primeiro semestre) foi caracterizado por períodos prolongados de chuvas, o que tornou difícil o meu acesso a essas comunidades, já que o acesso se dava por estradas de chão (não asfaltadas). Em períodos chuvosos, essas estradas são de difícil circulação. Como o meio de locomoção de que disponho é uma moto, então durante a pesquisa ocorreram banhos de chuva, tombos de moto no barro, pneu furado, correia da moto arrebentada, enfim, tive inúmeras dificuldades.

A professora Cássia, da escola de Linha Pinheiros, vendo o meu sofrimento, certo dia me ofereceu carona para ir com ela de carro à comunidade (“olha eu venho todos os dias de carro da cidade, se você quiser vir comigo, fique a vontade42)”. Logicamente logo aceitei o convite feito pela professora.

A observação foi realizada “quase43” que diariamente. As aulas das turmas

em que realizei a investigação funcionavam em período vespertino; desse modo, saía da minha casa por volta das 12h10min em direção à escola, ou à casa da professora que me dava carona.

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Anotações de diário de campo.

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Anotações de diário de campo, 09/03/2016.

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Teve exceções em que não pude comparecer para realizar a pesquisa, como por exemplo, participação em grupo de estudos, eventos e orientações.

No total foram 142 dias de observação, sendo 102 dias na comunidade de Linha Pinheiros e 40 dias na comunidade de Linha Cerejeira. As gravações em áudio foram realizadas somente na escola de Linha Pinheiros e totalizaram 526h/46min/16seg. Essas não foram totalmente transcritas, sendo realizado um recorte pelas anotações realizadas dos momentos que mais seriam relevantes para a presente pesquisa. O diário de campo totalizou 142 páginas de anotações e contém também transcrições de excertos das aulas.

Nossa proposta inicial, na pesquisa, era investigar duas comunidades, nas quais funcionam as escolas multisseriadas; no entanto, a escola de Linha Cerejeira recebe alunos de mais duas comunidades vizinhas, o que tornou necessário ampliar o foco da pesquisa para essas comunidades, já que essas são unidas pela escola e principalmente pela igreja, pois somente na comunidade de Linha Cerejeira é que tem a igreja católica de rito ucraniano, frequentada pela maioria dos moradores das comunidades observadas.

Inicialmente a escolha foi ficar alternando os dias em ambas as escolas investigadas, pois queria perceber como os sujeitos punham em ação as línguas no início do ano letivo. Depois de um mês de observações, optei por observar mais a escola de Linha Pinheiros, já que as práticas linguísticas observadas apontavam para um multilinguismo constante no referido contexto escolar. No segundo semestre de 2016, voltei à escola de Linha Cerejeira para observar o que havia mudado em relação ao primeiro mês de aula na escola.

Uma pesquisa participante, de acordo com Silva e Gonçalves (2014), citados por Kleiman, tem um comprometimento do pesquisador para com os grupos participantes da pesquisa;

[...] a responsabilidade do pesquisador é, por acima de tudo, para com os indivíduos que estuda e, em consequência, o pesquisador tem o dever de fazer tudo o que estiver ao seu alcance para proteger e promover a integridade física, social, e psicológica dos grupos estudados, bem como dos indivíduos nesses grupos, a fim de preservar sua dignidade e privacidade. (KLEIMAN, 2002, p. 191).

A responsabilidade aqui é compreendida como parte do comprometimento ético da pesquisadora em relação aos participantes pesquisados, já que esses carregam uma história e seus valores, que serão resguardados nesta pesquisa.

Considerando que esta é uma pesquisa etnográfica, portanto, participante, que abarca a observação, convém assinalar que, segundo Duranti (2000), a pesquisa etnográfica envolve duas formas de participação: a participação passiva e a participação completa; na participação passiva, segundo o autor, o pesquisador intervém o menos possível no local pesquisado; na participação completa, o etnógrafo interage com os participantes da pesquisa.

No contexto de sala de aula, tentei intervir o mínimo possível, para tentar evitar eventuais “problemas” decorrentes da minha presença em sala. Já nas comunidades investigadas (nas visitas às famílias e nos eventos que ocorreram nas comunidades), a minha participação poderia aqui se encaixar na participação completa, pois eu interagia o tempo todo com os participantes da pesquisa.

As anotações em diário de campo realizaram-se gradativamente, nas quais eu reflito sobre as observações das aulas e sobre os momentos vividos nas comunidades. De acordo com Rees e Mello (2011), normalmente em pesquisas etnográficas são realizadas observações nos contextos estudados; essas observações geram dados que são registrados em diário de campo. “As anotações de campo incluem descrições da situação e do ambiente em que ocorre a pesquisa como também anotações do que é dito pelos participantes do estudo” (REES; MELLO, 2011, p. 42-43). Essas anotações são registradas em um diário, no qual é possível ainda que o pesquisador descreva qualquer aspiração ou emoção vivida durante a pesquisa, bem como, as situações inusitadas ou frequentes observadas; ou seja, o diário de campo é um espaço destinado às reflexões do pesquisador que realiza diversas anotações. Posteriormente, essas anotações auxiliam na análise dos dados.