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3 HISTÓRICO DA ECONOMIA DE CABO VERDE DESDE A

3.1 PRIMEIRO MOMENTO – CONTEXTOS ANTES DA INDEPENDÊNCIA

Cabo Verde foi descoberto em 1460, mas o povoamento começou anos mais tarde, por volta de 1462. Isto por causa de uma série de obstáculos, tais como o distanciamento em relação ao reino, as condições climáticas, limitados recursos naturais (DE ALBUQUERQUE; SANTOS, 2001).

Por isso, não eram muitos os interessados em fixar residência na ilha, e, para fazer face a essa situação, a Coroa portuguesa tinha, portanto, de intervir no sentido de tentar combater esses efeitos inibitórios provocados pelos condicionalismos já referidos. Conceder aos que se dispusessem a ir viver em Santiago diversos privilégios, através da Carta Régia de 1466 foi a solução encontrada. Garantiram-se, assim, aos futuros moradores, facilidades fiscais e comerciais no lucrativo e promissor comércio, principalmente o da escravatura, com a costa da Guiné (ALBUQUERQUE E SANTOS, 2001).

Percebe-se o quanto foi difícil viver e sobreviver nessas ilhas devido ás características especifica do país; muito cedo, os povoadores se depararam com um obstáculo, enfrentado ainda hoje pelos Cabo-verdianos, que é o de inserir o país no cenário internacional, tendo em conta as limitações que apresenta. Diante desta situação, se colocou e ainda se coloca a seguinte questão:

Se a abertura é a chave, tendo em conta os tais constrangimentos, como descobrir nas ilhas algo dotado de valor de troca que tivesse e que tenha interesse para o comércio internacional, de modo a sustentar um processo interno de acumulação econômica? (CORREIA E SILVA 2004, p. 79).

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Apesar de muitos considerarem que este modelo foi implementado por falta de alternativas (sem um setor privado forte e sem investimentos externos), de 1980 a 1990, a taxa média anual de crescimento econômico foi de 4,8%, explicada, em parte, pela política de substituição de importações que num primeiro momento se traduz num elevado crescimento econômico (JÚNIOR, 2007); mas, dada ás limitações do país, este modelo rapidamente se esgotou.

Essa é uma questão importante, histórica e recorrente, enfrentada desde o período da ocupação dessas ilhas; a inserção internacional e os esforços incessantes para concretizá-la constituem o verdadeiro motor da trajetória da economia Cabo-verdiana (CORREIA E SILVA, 2004).

Pelas Grandes Opções do Plano de 2002-2005, um dos três eixos estratégicos fundamentais do desenvolvimento de Cabo Verde é a inserção na economia internacional. Por conseqüência, um desenvolvimento estratégico do país passa pela busca de um equilíbrio dinâmico, que lhe permita sustentar um desenvolvimento inserido na dinâmica da economia mundial, com alteração qualitativa e estrutural de integração nessa economia mundial; por outro lado, identificar e potencializar esses fatores dinâmicos de competitividade contribuirá para o alargamento e aprofundamento da base produtiva do país, bem como para o reforço da posição competitiva, no quadro da sua participação na economia global. A inserção vantajosa na dinâmica da economia mundial pressupõe, particularmente, vencer o desafio da produtividade e da competitividade (MINISTÉRIO DAS FINANÇAS, PLANEAMENTO E DESENVOLVIMENTO REGIONAL, 2001).

É importante notar que o passado Cabo-verdiano nunca foi passivo em relação ás características congênitas do país, muito pelo contrario, caracterizou-se sempre pela tentativa de pelo menos minorar os seus efeitos; sempre foi acompanhado de experiências de crescimento e acumulação econômicos, e vários foram, ao longo da história, os esforços e as estratégias para transformar os constrangimentos do arquipélago em fonte e motor do seu enriquecimento econômico. A posição geográfica de Cabo Verde como fator de desenvolvimento foi a reflexão dominante, mas nunca consistente e duradoura (CORREIA E SILVA, 2004).

O primeiro grande ciclo histórico de crescimento econômico continuado de Cabo Verde assenta na valorização estratégica de Santiago como via de acesso ao lucrativo comércio com os Rios da Guiné, e no fato de se transformar no mercado de revenda e distribuição das mercadorias guineenses, primeiro para a Península Ibérica e suas ilhas atlânticas, depois, com muito mais intensidade, para as américas, em rápida e dinâmica colonização. De fato, a situação geográfica favorável torna Cabo Verde em um ponto estratégico do Atlântico. O crescimento econômico, demográfico e cultural que o arquipélago registra durante todo o séc. XVI é fruto de um contexto histórico, caracterizado por uma conjugação de fatores, como o domínio dos fluxos negreiros com comércio marítimo, a dependência da tecnologia da navegação de longo curso do regime dos ventos. No entanto, dado ao caráter desses fatores, as fraquezas estruturais das ilhas nunca tardaram a aparecer.

Por isso, a permanência de Santiago nas linhas de tráfego oceânico sempre esteve ameaçado (CORREIA E SILVA, 2004).

Diante desse contexto, se os Cabo-verdianos elegeram o fator externo como o grande impulsionador do desenvolvimento, por causa dos constrangimentos característicos do país, na verdade, o que se tem repetido, talvez desde período dos descobrimentos até esta data, é que existe alguma margem de ação no sentido de mudança desse determinismo. No entanto, o que se verifica é que a gestão das oportunidades que se abriram a Cabo Verde, de inserção internacional, tem sido passiva e rentista, ou seja, quando existe, se gasta, e quando deixa de haver, empobrece-se, por não se ter criado nenhuma capacidade local de antecipação, de formulação de alternativas e de resistência. Só se pode obter sustentabilidade se se transformar os recursos obtidos inicialmente para criar capacidade competitiva, em primeiro lugar, e para, em segundo, implementar programas de diversificação; assim, pode-se usufruir as oportunidades externas em função dessa estratégia de gestão, e os efeitos podem prolongar- se por muito tempo (CORREIA E SILVA, 2004).

É importante notar que, a idéia de independência (da separação de Portugal), não era natural, para um espaço, como o de Cabo Verde, que havia sido achado, povoado e administrado desde sempre pela soberania portuguesa; ao mesmo tempo, a independência nacional e a institucionalização da democracia, são fatores positivos a enfatizar; a estabilidade política, a paz, a tranqüilidade social e a democracia que se vive no país, são propiciadoras de vantagens comparativas e, embora intangíveis, são fatores capazes de impulsionar o desenvolvimento; esta experiência democrática vem ganhando uma crescente simpatia e credibilidade no exterior (CONSELHO DE MINISTROS, 2001).