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4 ECONOMIA DE CABO VERDE E ANÁLISE DO SEU DESEMPENHO

5.1 AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS DO PAÍS

O plano internacional assumiu, desde sempre, um papel importante para o desenvolvimento de Cabo Verde. Por isso, conceder a devida atenção à esfera internacional é um imperativo para a boa gestão governamental. A inserção na economia internacional é um dos eixos estratégicos fundamentais para o desenvolvimento do país (CONSELHO DE MINISTROS, 2001). Esse sentimento da importância externa era já evidente, no séc. XVI:

A idéia de separação de Portugal, mesmo que pensada enquanto mera possibilidade de futuro (e das menos prováveis), não era natural, para um espaço, como o de Cabo Verde, que havia sido achado, povoado e administrado desde sempre pela soberania portuguesa (CORREIA E SILVA 2004, P. 119).

A cooperação internacional, quer de âmbito multilateral, quer de âmbito bilateral, tem sido e continuará a ser nos próximos anos decisiva para o desenvolvimento sustentado do país. Cabo Verde tem-se beneficiado de diversos programas de apoio de organizações internacionais, como as Nações Unidas (ONU), através do PNUD, UNICEF, FAO e a OMS, Organização Mundial do Comércio (OMC), Organização Internacional do Trabalho (OIT), a União Européia (U.E.), o Banco Mundial (BM), o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Europeu de Investimentos (BEI) e o Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), entre outros (CAIXA GERAL DE DEPÓSITOS, 2007).

O país integra-se em várias organizações subregionais, como a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), a Organização da Unidade Africana (OUA), o Comitê entre Estados de Luta contra a Seca no Sahel (CILSS) e a Comunidade de

Países de Língua Oficial Portuguesa (PALOP); também, tem participado ativamente em diversas iniciativas de mediação de conflitos internacionais (CAIXA GERAL DE DEPÓSITOS, 2007).

Os principais financiadores multilaterais de Cabo Verde são: o Banco Mundial (transportes, energia, infraestruturas), o FMI, a União Européia, o BAD (um dos financiadores do Aeroporto da Praia38). O apoio dessas organizações realiza-se sob a forma de donativos, empréstimos e implementação de políticas especificas (CAIXA GERAL DE DEPÓSITOS, 2007).

O Banco Mundial financia ações muito diferenciadas, em nível da gestão macroeconômica, da redução da dívida, de reformas institucionais, recursos humanos e infraestruturas; destacam-se o Projeto de Crescimento e Competitividade (2003-2007), no total de 13,5 milhões de dólares, e o Projeto de Criação de Capacidade para Privatização e Regulação (CAIXA GERAL DE DEPÓSITOS, 2007).

Dos programas financiados pelo FMI, destacam-se os referentes à denominada “Facilidade de Crescimento e Redução da Pobreza”. No final dos anos 1990, Cabo Verde viveu uma crise financeira, traduzida num déficit do setor público e num elevado déficit da balança de pagamentos; para ultrapassar a situação, foi estabelecido com o FMI um programa de estabilização econômica, que teve como conseqüências, um maior esforço no saneamento das contas públicas, através, entre outras medidas, da concretização de reformas institucionais. Atualmente decorrem negociações para um novo programa ao abrigo do chamado “Policy Support Instrument39” (CAIXA GERAL DE DEPÓSITOS, 2007).

No domínio das relações bilaterais, o país conta com o apoio de diversos parceiros, com destaque para Portugal, Estados Unidos e vários países europeus. Os Estados Unidos da América (EUA), principal destino dos emigrantes Cabo-verdianos, têm tido uma ação preponderante; entre 1977 e 1996, a Agência dos EUA para o Desenvolvimento (USAID) concedeu cerca de 127 milhões de dólares para financiar projetos de ajuda em treino de recursos humanos, desenvolvimento do setor privado e ajuda alimentar (CAIXA GERAL DE DEPÓSITOS, 2007).

Por outro lado, o Millenium Chalenge Account (MCA), é um programa do governo dos EUA destinado a combater a pobreza mundial; em contrapartida, o governo dos Estados Unidos exige critérios de boa gestão governamental, democracia e transparência do Estado. O programa estimula o desenvolvimento do capital humano, investindo na educação e

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É a Cidade Capital do país que fica na ilha de Santiago.

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assistência médica e promove a liberdade econômica através de liberalização do comércio. Em 2004, o conselho de administração do Millenium Challenge Corporation (MCC), agência do governo americano que rege o MCA, aprovou a proposta do governo de Cabo Verde de acesso aos fundos que ascende a 117,8 milhões de dólares dos EUA, dos quais 110,1 milhões de dólares financiados pelo MCC e 7,7 milhões pelo governo de Cabo Verde (CAIXA GERAL DE DEPÓSITOS, 2007).

A relação entre Cabo Verde e a União européia iniciou com a adesão de Cabo Verde à Convenção de Lomé40 II, dois anos após a sua independência em 1975; essas relações desenvolveram-se através das sucessivas Convenções de Lomé, as quais foram substituídas, a partir do ano 2000, pelo acordo de Cotonou41 ACP42-UE (MINISTÉRIO DOS NEGÓCIOS ESTRANGEIROS, 2006).

Ainda segundo a mesma fonte, ao longo de todos esses anos, a Comunidade Europeia tem sido uma das principais doadoras de ajuda pública ao desenvolvimento de Cabo Verde. Ela contribuiu no período de Lomé II a Lomé IV (1977 - 2000) com uma média de 8,5 milhões de Euros por ano. Além do mais, a Comunidade e os Estados Membros contribuem com mais de 70% do comércio externo de Cabo Verde; o Acordo de Cotonou constitui o marco dessa relação, cuja principal característica reside no fato de estabelecer uma parceria baseada em um diálogo político sobre questões essenciais e fundamentais, na perspectiva de virem a ser estabelecidos Acordos de Parceria Econômica (APE), e em uma cooperação financeira em apoio ao desenvolvimento econômico, social e cultural de Cabo Verde.

A localização geográfica no cruzamento das rotas que ligam os continentes europeu, africano e americano, aliada à realidade intrínseca de Cabo Verde, pequeno país arquipelágico, confrontado atualmente com um novo patamar de exigências resultantes da sua graduação a país de rendimento médio, constitui desafios e oportunidades nos campos da segurança, da luta contra tráficos ilícitos e do seu próprio desenvolvimento. Ponderados esses desafios e oportunidades, o país alimenta o projeto de ancorar as suas relações em espaços que ofereçam respostas às suas especificidades e necessidades nos campos da segurança e do desenvolvimento, projeto esse intitulado de Transformação Estratégica de Cabo Verde. A União Européia surge como um desses espaços, por partilhar os mesmos valores democráticos e de boa governação econômica, as mesmas preocupações e vontade política de fazer face às

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Capital do Togo.

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Maior cidade do Benin.

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ameaças que lhes são comuns, incluindo as que resultam de uma fronteira partilhada (MINISTÉRIO DOS NEGÓCIOS ESTRANGEIROS, 2006).

Assim, segundo a mesma fonte, Cabo Verde espera desse novo quadro de relações, novas oportunidades para o seu desenvolvimento nos planos da cooperação/ajuda das relações comerciais e do investimento privado. Em suma, Cabo Verde alimenta o projeto de desenvolver com a União Européia uma Parceria Especial ou reforçada que, indo além da ótica de Cotonou, possa ser sustentado com acordos políticos e programas de cooperação mais abrangentes nos vários domínios citados.

Os Acordos de Parceria Econômica (APE) constituem, portanto, instrumentos concebidos para transformar as relações comerciais em regimes compatíveis com as regras de Organização Mundial do Comércio, e que visam alcançar a liberalização comercial considerada como um objetivo que contribuirá para o crescimento econômico, criação de riqueza e desenvolvimento sustentável. No entanto, a celebração do APE entre a UE e os Países ACP tem levantado reservas por parte destes últimos, devido às dificuldades em avaliar adequadamente custos e benefícios deles decorrentes. Receia-se que as perdas sejam superiores aos ganhos face aos ajustamentos que a estrutura das economias existentes terão de sofrer diante da liberalização comercial, nomeadamente na parte de eliminação das barreiras alfandegárias e dos direitos aduaneiros (CABO VERDE, 2006).

Essa questão assume contornos ainda mais complexos, quando surge a vontade de que a celebração dos APE se faça num quadro de um processo de integração regional por blocos dos Países ACP, no seio dos quais não só os efeitos nacionais se fazem sentir, como a diversidade estrutural entre países ACP se manifesta sobremaneira. A celebração de APE com incidência regional, diminuindo o poder regional dos Países ACP, nomeadamente face aos evidentes recursos superiores da União Européia, torna os países mais vulneráveis (nomeadamente os PMA, os estados exíguos e os países insulares), em um quadro de negociação conjunta que não salvaguarda as especificidades de cada país (CABO VERDE, 2006).

Cabo Verde encontra-se também integrado na Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) 43, que visa ao estabelecimento de uma união aduaneira e de um mercado comum entre os seus membros. A comunidade visa à promoção e integração na perspectiva de uma visão econômica da África Ocidental tendo em vista aumentar o nível de

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A CEDEAO foi criada através do Tratado de Lagos em 1975 com o objetivo de promover o comércio regional, a cooperação e o desenvolvimento na região; é país integrante, Benin, Burkina Faso, Cabo Verde, Costa do Marfim, Gâmbia, Gana, Guiné, Guiné Bissau, Libéria, Mali, Níger, Nigéria, Senegal, Serra Leoa e Togo.

vida das populações, de manter e estabilizar o crescimento econômico, de reforçar as relações entre os estados membros e de contribuir para o progresso e o desenvolvimento do Continente Africano – Tratado CEDEAO (CABO VERDE, 2006).