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3 HISTÓRICO DA ECONOMIA DE CABO VERDE DESDE A

3.2 SEGUNDO MOMENTO – DE 1975 A 1990

Com a independência política em 1975, havia profundas preocupações com a viabilidade econômica de Cabo Verde. Um país sem recursos naturais, com uma enorme carência de infraestruturas e capital humano, um PIB real per capita, em 1975, de US$190, distante do de outros países. Sua viabilização econômica tem sido impulsionada do exterior, através das remessas de divisas de emigrantes e ajuda pública ao desenvolvimento. A independência em 1975 representou a oportunidade de romper com o ciclo de

subdesenvolvimento e pobreza existente e caminhar rumo ao desenvolvimento (JÚNIOR, 2007).

O modelo de economia que vigorou desde a independência até 1990 refletia uma visão estatizante da economia baseada na ajuda pública ao desenvolvimento, na remessas de divisas de emigrantes e na abertura ao investimento estrangeiro (LÓPEZ, [2002]). Cabia ao Estado o monopólio da atividade econômica e a função de organizar a economia, conceber e programar o modelo de desenvolvimento, criar infraestruturas e mobilizar recursos, impossibilitando assim, uma ação mais ativa da iniciativa privada. Assim se explica por que os primeiros anos pós-independência caracterizaram-se pelo intenso esforço diplomático na tentativa de se conseguir recursos externos, visto que, nesse período31, a ajuda pública constituía o fator fundamental de desenvolvimento (ROCHA, 2008).

O volume de investimentos públicos realizados terá crescido entre 1978/1981 à taxa média anual de 32%, confirmando a forte intervenção do Estado na economia. Os investimentos continuaram elevados ao longo do período de 1980 a 1990, principalmente em nível da construção (com destaque para as habitações, edifícios não habitacionais e obras), da silvicultura, dos equipamentos e material de transporte, crescendo a taxas anuais elevadas e crescentes (INE, 2009).

De 1982/1985 foi implementado o I Plano Nacional de Desenvolvimento (PND), cujo objetivo fundamental era a criação de bases para o estabelecimento de infraestruturas e industrialização do país, criação do emprego e redução da pobreza, criação de um forte setor empresarial estatal, com aposta nos setores agrícolas, de serviços sociais e de infraestruturas básicas; no entanto, apesar de os resultados dos programas implementados dependerem muito das condições externas32, eles foram positivos (ROCHA, 2008).

Entre 1980 a 1983, a taxa de variação anual da inflação atingiu valores elevados, de cerca de 19%, mas, a partir de 1984, começou a diminuir e a estabilizou em torno dos 7%; uma das explicações para a baixa taxa de inflação durante este período, inclusive mais baixo do que a média verificada no Mundo e na África, está no fato de logo após a independência as ajudas em bens alimentares terem sido elevadas, tendo o governo repassado esses produtos às populações a preços baixos.

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Entre 1975 e 1981, Cabo Verde mobilizou cerca de 242 milhões de dólares de ajuda.

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Gráfico 1 - Evolução da taxa anual de inflação medida pelo IPC de Cabo Verde, Mundo e África, de 1980 a 1990

Fonte: Autor, baseado no IMF (2009).

No que se refere ao PIB per capita, verificou-se também melhorias significativas; por exemplo, em 1975 era de US$190, já em 1980 chegou a cerca de US$550, atingindo essa média até 1985, para depois aumentar significativamente, atingindo cerca de US$900 em 1990. Portanto, se verificou um crescimento extraordinário do PIB per capita durante os primeiros quinze anos pós-independência, que se traduziu, entre outros fatores, na melhoria das condições de vida das populações Cabo-verdianas (IMF, 2009).

0,0 100,0 200,0 300,0 400,0 500,0 600,0 700,0 800,0 900,0 1000,0 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990

Gráfico 2 - Evolução do PIB per capita de Cabo Verde (em USD), de 1980 a 1990

Fonte: Autor, baseado no IMF (2009).

Por outro lado, a taxa de crescimento do PIB também foi alta durante este período, com destaque para os anos 1981, 1983 e 1985, quando se verificaram taxas mais elevadas, em conseqüência das políticas implementadas, principalmente o II PND; já a partir de 1985, com a diminuição dos fluxos de financiamento externos, o modelo começou a dar sinais de esgotamento, que se tornaram evidentes nos últimos anos desta década. Houve, dessa maneira, uma queda da taxa de crescimento do PIB, passando de 8,7% em 1985 para cerca de 0,8% em 1990 (IMF, 2009).

Gráfico 3 - Evolução da taxa de crescimento do PIB de Cabo Verde, Mundo e África, de 1980 a 1990

Fonte: Autor, baseado no IMF (2009).

Nesse sentido, iniciativas diversas foram desenvolvidas a fim de dar um novo impulso ao crescimento da economia; assim, o II PND (1986/1990) pretendia consolidar os ganhos conseguidos, diversificar a economia e reduzir esse tipo de dependência, além de uma aproximação gradual ao setor privado. A indústria, a pesca, o setor de serviços, e de turismo constituíam a base de crescimento da economia, financiados por empréstimos concessionais, remessas, donativos e receitas do aeroporto Internacional do Sal (ROCHA, 2008).

Em conseqüência da queda no crescimento do PIB, provocado pelo esgotamento do modelo voltado para dentro, redução das fontes externas de financiamento e das limitações das tentativas de industrialização, não foi possível realizar a totalidade dos investimentos públicos, e, como conseqüência disso, a meta de criação de empregos não foi atingida, permanecendo o desemprego em 25%. O saldo da conta corrente foi negativo na maior parte das vezes, principalmente nos primeiros anos de 1980, resultado da insuficiência das transferências relativamente ao déficit da balança de serviços e rendimento (CONSELHO DE MINISTROS, 2001).

-60,0 -50,0 -40,0 -30,0 -20,0 -10,0 0,0 10,0 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990

Gráfico 4 - Balança conta corrente de Cabo Verde (em % do PIB), de 1980 a 1990

Fonte: Autor, baseado no IMF (2009).

Portanto, este período ficou marcado pelo aumento dos desequilíbrios macroeconômicos, tanto em nível interno como externo, traduzidos em um crescimento acelerado da dívida interna, em uma poupança interna cada vez mais negativa, no déficit agravado do setor público, na redução dos serviços portuários, do tráfego aéreo e marítimo, o que contribuiu para a redução dos fluxos externos. Apesar disso, pode-se considerar que o modelo de desenvolvimento implementado teve resultados satisfatórios. O PIB per capita teve um crescimento ascendente, passando de US$540 em 1980 para US$900 em 1990; a taxa de inflação, com exceção dos anos 1980 a 1984, foi sempre baixa, inferior às taxas médias verificadas no Mundo e na África; o PIB registrou taxas de crescimento espetaculares, principalmente nos primeiros anos de 1980, e apesar de apresentar taxas menores nos anos seguintes, continuou elevado quando comparado com a taxa de crescimento verificada no Mundo e na África (IMF, 2009).

3.3 TERCEIRO MOMENTO – MUDANÇA DE MODELO E DE ESTRATÉGIA