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3 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO COMO

3.3 Princípio da capacidade contributiva

A noção de capacidade contributiva, foi assentada na ideia de justiça fiscal (justiça distributiva), e tem sua origem vinculada ao próprio surgimento do tributo. Diz-se que já no antigo Egito se idealizava que os tributos deveriam preservar uma relação com o patrimônio do contribuinte (COSTA, 2012b, p.17).

Alfredo Augusto Becker (2010, p. 513), assevera que este princípio decorre “do ideal de justiça distributiva formulado pelos filósofos gregos e reaparece na filosofia escolástica”.

A noção de capacidade contributiva tornou-se mais exata na idade média, consolidando-se como postulado da tributação na transição do patrimonialismo para o capitalismo. A obra Riqueza das Nações, de Adam Smith, foi a grande difusora dessa concepção. O autor pregava que para a concretização da justiça fiscal, a sociedade inteira deveria arcar com o ônus de pagar tributo na proporção dos seus haveres (COSTA, 2012b, p.18 - 21).

Porém, somente no século XIX, na Ciência das Finanças Clássicas, surgiu a capacidade contributiva enquanto teoria precisa e coerente. Sendo desenvolvida pelo professor Benvenuto Griziotti (1949, p. 215 apud COÊLHO, 1996, p. 95), nos seguintes termos: “a capacidade contributiva indicava potencialidade das pessoas para contribuírem para os gastos públicos”.

No Brasil, o princípio da capacidade contributiva já encontra seus primeiros registros na Constituição Imperial de 1824, no artigo 179, inciso XV, que tinha a seguinte redação: “XV – Ninguem será exempto de contribuir para as despesas do Estado na proporção dos seus haveres.”

As Constituições de 1881 e 1934 abstiveram-se do assunto. Apenas em 1946 o assunto foi retomado no art. 202 da Carta Maior, in verbis: “art. 202. Os

tributos terão caráter pessoal sempre que isso for possível, e serão graduados conforme a capacidade econômica do contribuinte.”

O princípio, contudo, foi esquecido novamente durante a reforma tributária de 1965, ficando ausente da Constituição de 1967 e da emenda nº 01/1969, permanecendo vigente de forma implícita, como esclarece Luciano Amaro (2013, p. 163), retornando mais uma vez à Magna Carta de 1988.

Nas palavras de Aliomar Baleeiro (2012, p. 339), a capacidade contributiva do indivíduo significa congruência econômica para suportar, sem sacrificar o necessário à vida adequada e à dignidade da pessoa humana, uma fração do custo total gasto com máquina pública, devendo o legislador estabelecer um sistema de indícios e pressupostos dessa capacidade fiscal, por meio do fato gerador de cada imposto.

A Constituição vigente assevera que, havendo a possibilidade, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados conforme a capacidade econômica do contribuinte, facultado à administração tributária, especialmente para conferir efetividade a esses objetivos, identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos da lei, o patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte (CF/88, art. 145, § 1º).

Infere-se do dispositivo, que quanto maior a demonstração de riqueza de uma pessoa, maior deverá ser sua contribuição para as despesas públicas, assim como o inverso, quanto menor o patrimônio do contribuinte, menor o seu ônus para a realização das atividades estatais, de forma a não prejudicar as atividades econômicas e garantir o mínimo existencial e a dignidade humana.

A capacidade contributiva mostra-se essencial para a distinção entre os contribuintes e vital para a arrecadação estatal, respeitando os limites de cada um deles.

O Estado para que possa realizar suas finalidades e atingir o bem comum necessita de contribuição de todos os integrantes da sociedade, para atender às despesas públicas, na medida de sua capacidade contributiva (RODRIGUES, 2007, p.191). (Grifo nosso)

O princípio da capacidade contributiva está relacionado com o princípio da igualdade tributária, ambos objetivando a justiça fiscal, ou seja, a distribuição harmônica da carga tributária, conforme observa Roque Carrazza (2012a, p. 96 - 98):

É justo e jurídico que quem, em termos econômicos, tem muito pague, proporcionalmente, mais imposto do que quem tem pouco. Quem tem maior riqueza deve, em termos proporcionais, pagar mais imposto do que quem tem menor riqueza. Noutras palavras, deve contribuir mais para a manutenção da coisa pública. As pessoas, pois, devem pagar imposto na proporção dos seus haveres, ou seja, de seus índices de riqueza.

Além disso, funciona como norma limitadora ao poder de tributar, garantindo a efetivação, sempre que possível, da condição de igualdade horizontal. Em outros termos, os contribuintes com a mesma capacidade, serão compelidos a adimplir a mesma exigência fiscal, justificando a elaboração de leis que imponham o mesmo ônus fiscal para os sujeitos passivos nivelados financeiramente (Canazaro, 2015, p. 95 - 98).

No cotejo do art. 145, § 1º, da Constituição Federal, o legislador referiu-se somente aos impostos. Não obstante a norma Constitucional, as demais espécies tributárias também deverão considerar a capacidade contributiva do sujeito passivo, sempre respeitando suas peculiaridades individuais, conforme ensina Hugo de Brito Machado Segundo (2018, p. 95) e Luciano Amaro (2013, p. 167).

Para exemplificar o exposto anteriormente, Hugo de Brito Machado (2004, p.76 - 77) pontua que nas taxas, em que é tributada a prestação efetiva ou potencial de atividade estatal específica e divisível ou o exercício do poder de polícia, razão pela qual não se deve dimensioná-las pela capacidade contributiva. No entanto, não significa que esta última não possa ser utilizado de forma alguma nessa espécie tributária, apontando as isenções das taxas judiciais para pessoas hipossuficientes como um caso de efetiva aplicação do princípio.

O caráter pessoal, previsto constitucionalmente, exprime que todos os impostos devem ter seu montante calculado em consonância com as peculiaridades inerentes à cada contribuinte. Contudo, essa espécie de tributo é comumente classificado como pessoal, por levar em consideração as condições pessoais do contribuinte. Já os impostos reais são aqueles quantificados somente através da matéria tributável.

Em consequência dessa classificação, questiona-se a possibilidade da aplicação do princípio da capacidade contributiva aos impostos ditos reais, como o Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).

A doutrina é quase uníssona em afirmar que os impostos reais devem seguir o princípio da capacidade contributiva, tendo em vista a justiça fiscal (AMARO, 2013, p. 165) e a seletividade em função da essencialidade, em que o gravame deverá ser inversamente proporcional à essencialidade do bem, como forma de efetivação indireta do princípio em epígrafe.

Exemplificando, o consumo de certos produtos são verdadeiras demonstrações de capacidade contributiva, como a compra automóveis de luxo, bebidas importadas, eletrodomésticos sofisticados e aparelhos eletrônicos, evidenciando o alto poder aquisitivo do consumidor, razão pela qual devem contribuir em maior escala para orçamento público (MACHADO, 2004, p. 75).

O termo “sempre que possível” a que se refere o § 1º do art. 145 da CF/88 não significa que será facultado ao legislador atender o princípio em epígrafe, mas que é um objetivo a ser alcançado com a máxima efetividade possível. Os limites à sua efetivação são impostos pelas demais regras e princípios do sistema jurídico e pela realidade dos fatos, mas nunca pela vontade do legislador (MACHADO SEGUNDO, 2018, p.94).

Como bem observa Paulo de Barros Carvalho (2012, p.173), o conceito em estudo poderá ser compreendido em dois sentidos: absoluto ou objetivo e relativo ou subjetivo.

O primeiro caso retrata a eleição, pela autoridade legislativa competente, de fatos que demonstram sinal de riqueza apta a ser tributada. Já o segundo, busca a parcela da riqueza a ser recolhida, observando as condições individuais do contribuinte e atuando como critério de graduação e limite do tributo (VASCONCELOS, 2013, p. 33).

Diante disso, assevera Regina Helena Costa (2012b, p. 28 -32):

Capacidade contributiva absoluta ou objetiva quando se está diante de um fato que se constitua numa manifestação de riqueza; refere-se o termo, nessa acepção, à atividade de eleição, pelo legislador, de eventos que demonstrem aptidão para concorrer às despesas públicas. Tais eventos, assim escolhidos, apontam para existência de um sujeito passivo em potencial.

[...] A capacidade contributiva relativa ou subjetiva - como a própria designação indica - reportar-se a uma sujeito individualmente considerado. Expressa aquela aptidão de determinada pessoas de contribuir na medida das possibilidades econômicas de determinada pessoas. Nesse plano, presente a capacidade contributiva in concreto, aquele potencial sujeito passivo torna-se efetivo - apto, pois, a absorver o impacto tributário.

Em razão do princípio da capacidade contributiva ser critério para tributação justa e idônea, que exprima a potencialidade de arcar com ônus tributário, vale ressaltar que existem limites a serem respeitados para que não se extinga essa capacidade, quais sejam, o mínimo existencial e o não confisco.

Ademais, no sistema tributário brasileiro, o preceito possui três critérios de aferição: a) patrimônio; b) renda; c) consumo. Através dessas três hipóteses é que se realiza a efetiva métrica de quanto cada sujeito passivo poderá contribuir para a manutenção estatal, ou seja, quanto maior o patrimônio e a renda, e quanto mais supérfluos os produtos consumidos, cresce a obrigação tributária sobre o contribuinte.

A inobservância, pelo legislador, do retro postulado, pode vir a cercear ou obstar o exercício de outros direitos, como da liberdade de iniciativa, liberdade de profissão e de propriedade. (COSTA, 2012b, p. 115 - 116).

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