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CAPÍTULO IV: O PRINCÍPIO DA SOBERANIA NA CONVENÇÃO SOBRE

2. OS PRINCÍPIOS DO DIREITO INTERNACIONAL DO MEIO AMBIENTE E A

2.4 O PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO

A escolha por abordar seguidamente o princípio da prevenção e da precaução baseou-se na semelhança entre ambos e na freqüência com que são confundidos. Inicialmente se tratará do princípio da precaução para depois estabelecer as diferenças e semelhanças entre eles. 411

Considerado uma inovação importante da Declaração do Rio, cabe ressaltar que o princípio da precaução não surge durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Ele já havia sido implicitamente enunciado na Carta Mundial da Natureza adotada pela Assembléia Geral das Nações Unidas em 1982, no preâmbulo da Convenção de Viena de 1985 e no Protocolo de Montreal de 1987. A partir de 1992, ele passa a integrar inúmeros tratados, dentre eles: a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas e a Convenção- Quadro das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica , ambas assinadas em 1992.

O princípio da precaução visa a impedir a degradação ambiental, mediante ação antecipada perante o risco, mesmo quando este ainda não pode ser previsto pela ciência. De acordo com Ruiz, até o final da década de oitenta, os acordos internacionais estabeleciam que as medidas ambientais deveriam se basear em dados científicos. Posteriormente, adotou-se uma atitude mais cautelosa que observava as incertezas científicas, se consideradas, poderiam minimizar alguns danos irreversíveis.412

O Princípio 15 da Declaração do Rio enuncia que:

De modo a proteger o meio ambiente, o princípio da precaução deve ser amplamente observado pelos Estados, de acordo com

411 Sobre este tema é indicada a leitura do livro: VARELLA, Marcelo Dias; BARROS-PLATIAU, Ana

Flávia. Princípio da precaução. Del Rey: Belo Horizonte. 2004.

suas capacidades. Quando houver ameaça de danos sérios ou irreversíveis, a ausência absoluta certeza científica não deve ser utilizada como razão para postergar medidas eficazes e economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental. De modo semelhante, a Convenção-Quadro sobre Mudanças Climáticas estabelece que as Partes devem adotar medidas de precaução, quando surgirem ameaças de danos sérios ou irreversíveis, e que medidas devem ser tomadas, mesmo diante da falta de plena certeza científica, e por fim, que devem ser estas eficazes em função dos custos.

Os textos acima trazem algumas características do princípio da precaução. São elas: ameaça de danos sérios e irreversíveis ao ambiente, e incerteza científica sobre os danos ambientais decorrentes.

Já a CDB, ao tratar indiretamente do princípio da precaução, não estabelece a necessidade de danos sérios e irreversíveis. Ela declara no preâmbulo que: “quando exista ameaça de sensível redução ou perda da diversidade biológica, a falta de plena certeza científica não deve ser usada como razão para postergar medidas para evitar ou minimizar essa ameaça”. Acertadamente, Sands413 afirma que a CDB não faz referência específica ao princípio da precaução; contudo o Protocolo de Cartagena o faz.

É difícil a produção de prova que ateste a certeza científica do nexo causal entre o dano ambiental e a ação. Com relação a isso, Varella destaca a posição da Corte Internacional de Justiça, ao afirmar:

No único caso em que foram discutidos a proteção ambiental e o princípio da precaução, a Corte Internacional de Justiça não reconheceu a eficácia do princípio e a falta de provas científicas concretas foi uma das causas para a recusa em considerar ilícitos

413 SANDS, Philippe. O Princípio da Precaução. In: VARELLA, Marcelo Dias; BARROS -PLATIAU,

os atos de proteção ambiental efetuados por um país contratante.414

Em resumo, o princípio da precaução reveste-se de grande importância para o direito ambiental e, em especial, para a proteção da diversidade biológica. O princípio em causa é aplicado em situações onde existam sérias ameaças à saúde e ao meio ambiente e que necessitem de uma ação urgente para evitar tais ameaças.

2.4.1 Diferenças entre Precaução e Prevenção

Milaré distingue os dois princípios com bastante simplicidade. Segundo o autor, a prevenção é mais ampla que a precaução, “uma vez que prevenção, pelo seu caráter genérico, engloba precaução, de caráter possivelmente específico”. 415

Alguns doutrinadores afirmam que, enquanto o princípio da precaução corresponde ao risco, o princípio da prevenção se relaciona com o perigo. Neste sentido, Leite e Ayala416 entendem que o princípio da prevenção se dá em relação ao perigo concreto e o princípio da precaução é dirigido ao perigo abstrato.

Consoante Paulo Afonso Leme Machado, quando existe certeza do dano ambiental, este deve ser prevenido; entretanto em caso de dúvida ou de incerteza aplica-se o princípio da precaução, ou seja, “a dúvida científica, expressa em argumentos razoáveis, não dispensa a prevenção”.417

414 VARELLA, Marcelo Dias; BARROS -PLATIAU, Ana Flávia Barros. Princípio da precaução. Del

Rey: Belo Horizonte. 2004. p. 293-294.

415 MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente. São Paulo: RT, 2000. p. 118.

416 LEITE, José Rubens Morato; AYALA, Patryck de Araújo. Direito Internacional na Sociedade de

Risco. Rio de Janeiro: Forense, 2002.

417 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 13 ed. São Paulo: Malheiros, 2005.

Barros-Platiau418 destaca que a maioria dos doutrinadores considera o princípio da precaução complementar ao da prevenção. Neste sentido, Pellet afirma que o dever de prevenção traduz-se por um certo número de obrigações vagas e gerais a cargo dos Estados.419

Destarte, quando os riscos de dano ao meio ambiente, ocasionados por uma atividade forem conhecidos, invoca-se o princípio da prevenção e, não havendo certeza sobre os riscos decorrentes da ação para o ambiente, recorre-se ao princípio da precaução, para inviabilizar a execução da atividade.