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1 O DIREITO MATERIAL E SUAS NOVAS DIMENSÕES FACE À

2.4 Princípios norteadores do direito ambiental

2.4.5 Princípio da precaução

Assim como o princípio da prevenção, a precaução em matéria ambiental tem como finalidade afastar o perigo, no tempo, bem como no espaço, além da proteção contra o próprio risco e da análise dos possíveis danos surgidos com a execução da atividade.133

O primeiro questionamento que deve ser feito é: o que se pode entender por precaução? Paulo Affonso Machado, após um estudo mais detalhado do conceito, ensina que: “a precaução caracteriza-se pela ação antecipada diante do risco ou do perigo”.134

Desta forma, quando a Constituição Federal adotou como dever, em seu art. 225 a defesa e preservação do meio ambiente por parte de todos, classificando-o como bem essencial à qualidade de vida, inerentemente está adotando como um dos princípios basilares do Direito Ambiental o da prevenção e precaução.

Na verdade, a Constituição acaba por ser um reflexo da crescente preocupação, observada nos últimos anos, de precaver a degradação do meio ambiente.

Em sede de Convenções Internacionais, pode-se dizer que estes princípios por muito tempo já vêm sendo lembrados, como é o caso da Declaração de Estocolmo, em 1972. E, anos depois, foi reafirmado com a “Declaração do Rio de Janeiro”; a “Convenção da Diversidade Biológica” e a “Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima”. 135

133 DERANI, Cristiane. Op. cit., p. 258.

134 MACHADO, Paulo Afonso. Op. cit., 2002. p. 55.

135 Sobre o assunto, destaca Fábio Alcântara: “Em âmbito internacional, tem-se como destaque

a Conferência de Estocolmo (1972), realizada na Suécia sob a designação de 1ª Conferência Mundial sobre o Meio Ambiente. Essa conferência é considerada o principal evento a dar início, em caráter internacional, aos movimentos ecológicos que hoje estão em voga e que vieram alertar as sociedades para uma das questões mais complexas e cruciais da história recente da humanidade, ou seja, a questão do desenvolvimento sustentável. Entre esses encontros, é mister que se mencione a Agenda 21, que não foi apenas um documento, nem um receituário mágico, com fórmulas para resolver todos os problemas ambientais. A Agenda 21 foi um processo de participação em que a sociedade, os governos, os setores econômicos e sociais sentaram-se à mesa para diagnosticar os problemas, entender os conflitos neles envolvidos e pactuar formas de resolvê-los, de modo a construir o que tem sido chamado de

As duas últimas Convenções “apontam, da mesma forma, as finalidades do emprego do princípio da precaução: evitar ou minimizar os danos ao meio ambiente.”136

Mas, por que a tamanha importância dada ao referido princípio?

O fato se explica, já que a ocorrência de um efetivo dano ambiental por muitas vezes torna-se irreparável, restando, tão somente, a aplicação de medidas compensatórias, que na verdade nunca irão corresponder à efetiva recomposição do próprio bem lesado.

A atuação do princípio da precaução corresponde à busca do afastamento, tanto no tempo como no espaço, assim como a proteção contra o próprio risco e a análise do potencial lesivo, decorrente do conjunto de atividades. Sua atuação é percebida, com maior exatidão, na elaboração de políticas públicas ambientais, nas quais a exigência de utilização da melhor tecnologia disponível é necessariamente um corolário.137138

sustentabilidade ampliada e progressiva. [...] Ainda é imperioso que se comente sobre a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada de 3 a 14 de junho de 1992 na cidade do Rio de Janeiro. A reunião de cúpula ficou conhecida como Rio- 92, e a ela compareceram delegações oficiais de 175 países. Foi, ainda, a primeira reunião internacional de magnitude a se realizar após a Guerra Fria, justamente para se discutir o tema do meio ambiente. ALCÂNTARA, Fábio Bonomo de. Op. cit., p. 24.

136 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Op. cit., 2002, p. 56. 137 DERANI, Cristiane. Op. cit., 2001. p. 167.

138 Sobre este tema, o Tribunal de Justiça de São Paulo já proferiu decisão: AÇÃO CIVIL

PÚBLICA AMBIENTAL FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA - CONDENAÇÃO DA CONCESSIONÁRIA A ADOTAR MEDIDAS PARA REDUZIR A INTENSIDADE DOS CAMPOS ELETROMAGNÉTICOS ORIUNDOS DAS LINHAS DE TRANSMISSÃO – CABIMENTO - EMBORA INEXÍSTA UM ESTUDO CONCLUSIVO SOBRE O TEMA, IMPOSSÍVEL DESCONSIDERAR, DIANTE DAS INVESTIGAÇÕES ATÉ ENTÃO REALIZADAS, A GRANDE POSSIBILIDADE DOS CAMPOS ELETROMAGNÉTICOS DE BAIXA FREQÜÊNCIA SEREM AGENTES CARCINOGÊNICOS PARA SERES HUMANOS - APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO – RECURSO DESPROVIDO PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO – SEMPRE QUE HOUVER UMA PROBABILIDADE MÍNIMA DE QUE O DANO OCORRA COMO CONSEQÜÊNCIA DA ATIVIDADE SUSPEITA DE SER LESIVA, NECESSÁRIA SE FAZ PROVIDÊNCIA DE ORDEM CAUTELAR - O PRINCÍPIO É COROLÁRIO DA DIRETIVA

CONSTITUCIONAL QUE ASSEGURA O DIREITO AO MEIO AMBIENTE

ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO E À SADIA QUALIDADE DE VIDA - INTELIGÊNCIA DOS ARTS. 5°, CAPUT, E 225, AMBOS DA CF - RECURSO DESPROVIDO (grifou-se) TJ/SP Câmera especial do meio ambiente. Apelação nº. 679.208-5/5-00. Data do Julgamento:31/07/2008. Rel. Des. Renato Nalini.

Diante da natureza tão peculiar dos bens ambientais, qualquer forma de recomposição, por mais criteriosa que ela seja, tornar-se de difícil, para não dizer impossível, implementação.

Édis Milaré ressalta:

Enquanto a repressão e a reparação cuidam do dano já causado, a prevenção e a precaução, ao revés, atêm-se a momento anterior: o do mero risco. Na prevenção e na precaução, há ação inibitória. Na reparação, remédio ressarcitório. É essa a ótica que orienta todo o Direito Ambiental. Não podem a humanidade e o próprio Direito contentar-se em reparar e reprimir o dano ambiental. A degradação ambiental, como regra, é irreparável.

Continua o autor:

[...] os legitimados para o ajuizamento de ação civil pública não estão obrigados a aguardar a consumação do dano ambiental para agir; ao contrário, o remédio processual pode e deve ser usado para coibir práticas que apresentem mera potencialidade de dano, obrigando os responsáveis por essas atividades a ajustarem-se às normas técnicas aplicáveis de modo a mitigar o risco a elas inerentes.139

Não é por outro motivo que, quando se está diante de um bem ambiental, a adoção de uma tutela preventiva tende a ter maior grau de eficácia do que a tutela ressarcitória, que tem por finalidade reparar um dano já causado.

Como bem lembrado por Sérgio Arenhart a função da tutela ressarcitória é a de entregar à vítima a mesma situação anterior, existente antes da ocorrência do fato danoso140. O que, de qualquer modo, quando se está diante de dano ao meio ambiente, não é possível acontecer.