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O princípio da dignidade humana é concebido dentro do rol dos direitos e garantias fundamentais, um dos mais relevantes princípios como mecanismo de interpretação constitucional do ordenamento jurídico brasileiro, inclusive o Direito Tributário. Por essa razão, objetiva-se nesse momento, traçar ao menos a noção conceitual da disposição constitucional relativa ao comando da dignidade humana.

86CORDEIRO, Rodrigo Aiache. Princípios constitucionais tributários. Porto Alegre: Sergio Antonio

Frabris, 2006. p. 99-100.

Primeiramente, é bom lembrar que a terminologia do vocábulo dignidade humana, está rigorosamente fundada no campo dos direitos humanos. Há divergência doutrinária, no sentido de distinguir direitos humanos dos direitos do homem. No entanto, longe de adentrar no debate da questão terminológica, ressalta se que o importante é ter em mente que o princípio da dignidade humana encontra supedâneo imediato na teoria dos direitos fundamentais individuais.88

Na lição de FERREIRA FILHO, verifica-se que a generalidade e o campo de abrangência do princípio da dignidade humana, regula todos os atos da vida em sociedade, traçando desde elementos básicos do fenômeno vital até elementos mais complexos, não menos importantes para o suporte existencial da vida humana.

Conforme já mencionado, eis a lição de FERREIRA FILHO.89

Por outro lado, ao declarar o cerne do Direito, as Declarações especificam direitos individuais, próprios a todos os seres humanos, sem exceção, com abstração e peculiaridades como a vinculação ao povo de determinado Estado. Com efeito, desse Direito – como se pretendia no século XVIII e ainda hoje se pretende – resulta que o homem tem algumas prerrogativas que lhe são próprias e co-naturais. A primeira e primordial é que o homem é livre, ou seja, ‘tem o direito natural e intangível de pensar e exteriorizar o seu pensamento, isto é, de desenvolver sua atividade física, intelectual e moral’. E como todos os homens são livres, todos os homens são igualmente livres, numa palavra, todos os homens são iguais em direitos (subjetivos). Esses direitos são as prerrogativas que, por emanarem diretamente da natureza humana, são intangíveis, inalienáveis, imprescritíveis. Constituem o cerne irredutível de liberdade de que o homem individualmente considerado, os homens coletivamente considerados não abrem mão, de forma alguma, para viver em sociedade, e como é contingência desta, sujeitam-se ao poder social. São a cláusula essencial do pacto ou contrato social. Tais direitos – insista-se – são próprios ao homem em razão de sua natureza. São anteriores a toda sociedade e a todo poder, já que sem que primeiro haja homens inexistem sociedade e poder. São intemporais, visto que a natureza humana é a mesma sempre. Deles, ninguém pode, validamente, abrir mão, porque a nenhum homem é dado renunciar à própria natureza. Toda alienação desses direitos é, pois nula. O seu desuso não importa em sua perda.

Com efeito, nota-se que os axiomas ínsitos ao princípio da dignidade humana, estão presentes em todas as etapas de evolução da teoria dos direitos fundamentais, notadamente aquelas teorias que corroboram com a existência de direitos de primeira, segunda, terceira, quarta e até mesmo os de quinta geração. É consabido que, em cada fase do desenvolvimento da consciência humana na

88BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 27. ed. São Paulo: Malheiros, 2012. p. 578. 89FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Estado de direito e constituição. 4. ed. rev. atual. São

afirmação de determinados direitos, elegeu-se uma respectiva nomenclatura para delimitar o campo e o momento do surgimento de tais valores, ocorre que o princípio da dignidade humana, visto o seu amplo caráter de abstração e generalidade, repousa em todas as etapas evolutivas da teoria dos direitos fundamentais.

Posto que, o princípio da dignidade humana é considerado ramo dos direitos fundamentais por excelência, o eminente jurista alemão Konrad Hesse, preleciona acerca da obrigação dos Estados em preservar o quanto possível a manutenção desses direitos, asseverando que referida tutela deve dar proteção não apenas contra a abusividade dos Poderes Públicos, mas também, protegê-los dos atos lesivos ou violações provenientes de interesses particulares.90

Ainda, há de ressaltar que o ponto de partida de interpretação da ordem jurídica, inclusive da ordem tributária, está precisamente na observância dos postulados imanentes aos direitos e garantias fundamentais, em especial, o princípio da dignidade humana. Da relação do fenômeno da tributação com os direitos e garantias fundamentais, extrai-se do pensamento de FISHER91, a seguinte lição:

O direito tributário há de ser visto e compreendido como inserido no campo da responsabilidade a que todas as entidades jurídicas têm, que é a de cumprir as destinações contidas na Carta Magna e na vontade popular, especialmente as de respeitar a dignidade humana e os valores da cidadania. Estes valores, entre outros, são os objetivos fundamentais visados pela República Federativa do Brasil, constituída em um regime democrático. [...] A realidade social exige, por todos os ângulos em que ela seja examinada, que os direitos da cidadania e do respeito à dignidade humana sejam respeitados de modo absoluto pelo Estado. Esses direitos não ficam limitados, apenas, à proteção da liberdade e outros expressamente definidos, mas, também, o de ser exigido dos poderes organizados que cobrem tributos em harmonia com os princípios da legalidade, da moralidade, da capacidade contributiva, da uniformidade, do não-confisco, da razoabilidade, da proporcionalidade e dos fins para os quais o Estado constituído, existe e funciona.

Incontestavelmente, tem-se que a base de toda sociedade democrática repousa nos valores apregoados pelos direitos e garantias fundamentais. Verifica-se que a interpretação da ordem legal, em especial a ordem fiscal, indubitavelmente deve estar de acordo com os postulados insertos na pauta desses direitos. No tocante ao princípio da dignidade humana, considerando o seu alto nível de

90HESSE, Konrad. Elementos de direito constitucional da república federal da Alemanha.

Tradução: Luiz Afonso Heck. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 1998. p. 278.

91FISHER, Octavio Campos. Tributos e direitos fundamentais. São Paulo: Dialética, 2004. p. 156-

abstração e generalidade, bem como o grau valorativo contido em seus proclamas, salienta-se que os mecanismos de implementação da legislação tributária, devem ter como pressuposto hermenêutico a promoção plena do exercício da dignidade humana.

3.6 PRINCÍPIO DA LEGALIDADE, JUSTIÇA (DAR A CADA UM O QUE É SEU) E