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A TRIBUTAÇÃO NO TOCANTE AO RESPEITO DA DIGNIDADE HUMANA E

Conforme visto anteriormente, denota-se que no campo da tributação a exigência pela observância do princípio fundamental da dignidade humana, bem como do princípio da justiça fiscal, é medida razoável para uma boa interpretação das normas contidas na seara do Direito Fiscal. Diante de tal exigência, ressalta-se

113FISHER, Octavio Campos. Tributos e direitos fundamentais. São Paulo: Dialética, 2004. p. 157.

a importância em dar destaque acerca do fenômeno fiscal da tributação no tocante ao respeito que deve ser conferido aos valores fundamentais supramencionados.

Sabe-se que, o advento do Estado Democrático de Direito teve como pressuposto maior, a previsão de uma pauta de direitos naturais coligidos no Texto Maior do Estado como lídimos vetores fundamentais. Do mesmo modo, a criação de mecanismos jurídicos para assegurar de forma válida e efetiva a aplicabilidade desses direitos, traduziu-se no cenário político e jurídico autêntico interesse estatal em salvaguardar valores que garantisse o convívio pacífico em sociedade, bem como a imposição aos Poderes Públicos de emanar seus atos, sem perder de vista a observância obrigatória dos postulados constitucionais.

Nessa esteira, na lição de FERREIRA FILHO115, abordando o pensamento de Sieyès, encontra-se a seguinte reflexão:

A teoria do poder constituinte aparece no famoso panfleto Qu’ est-ce que le

Tiers État?, publicado por Sieyès em 1788. A lição deste é a de que,

formada a sociedade pelo livre acordo entre homens, é necessário que estes se sujeitem a um Poder, a fim de que os objetivos comuns sejam realizados. Este Poder, no entanto, deve ser constituído pelos homens integrados em sociedade. Esta ‘constituição’, porém, não importa apenas na organização do Governo, mas também na sua limitação, para preservação da liberdade e dos direitos naturais. Para essa constituição, segundo o famoso Abbé, os homens congregados em sociedade designam

‘representantes extraordinários’, que exercem o poder constituinte, o qual em última instância pertencem ao povo, ou nação, isto é, ao grupo gerado pelo pacto social. A obra desses ‘representantes extraordinários’ é a Constituição. Com base nesta é que se elegem os ‘representantes ordinários’, que vão exercer o Governo. Exercê-lo de acordo com a Constituição, dentro dos limites por esta traçados.

No tocante ao dever de respeito por parte do Estado Fiscal, no momento da tributação, aos primados da dignidade humana e da justiça fiscal, em decorrência do surgimento da celebração de um pacto universal, ou mais propriamente de um contrato social, entende-se que a atuação estatal no sentido de arrecadar impostos, deve ser compreendida como autêntico poder do Estado conferido pelo povo. Nesse sentido, os entes federativos da Administração Pública, ao implementar a tributação

115FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Estado de direito e constituição. 4. ed. rev. atual. São

cada qual no seu campo de atuação, devem propiciar reais mecanismos de fortalecimento das bases alicerçais de uma efetiva justiça fiscal.116

Em estudo contido em artigo científico, realizado por NOGUEIRA e ROSSO, é possível considerar que a atuação do Estado em prover os fins sociais por meios dos tributos, mais propriamente a promoção da dignidade humana, é subsídio para uma concepção de uma acertada evolução fiscal/social, notadamente a transição do Estado Fiscal para o Estado Social. A esse respeito, no sentido de dar clarividência ao assunto, segue a seguinte lição:

A verdadeira importância ou finalidade mais nobre do tributo é deveras majorada com a formação do Estado social, no qual as recém-adquiridas obrigações estatais e direitos sociais necessitam ser custeadas pelo povo, através de autorização direta ou por seus representantes, que necessitam desenvolver um sistema tributário como forma de suster o Estado do Bem- Estar. É evidente que antes o Estado limitava-se a proteger a liberdade e a propriedade do indivíduo vivente naquela sociedade, um Estado Mínimo, entretanto, com o advento do Welfare State os deveres estatais são consideravelmente acrescidos, sendo que a assistência social passa a exigir maiores receitas por parte desse Estado, as quais, faltante, acabam por incidir no bolso do contribuinte assistido ou não por esse Estado. Como a voracidade fiscal fora rapidamente sentida pelo povo, esse se viu obrigado a buscar novos instrumentos aptos a tutelarem a relação jurídica tributária, sendo que essa época, início do século passado, assenta-se como fonte de importantes avanços concernentes a princípios da tributação e de justiça fiscal.117

É inquestionável, que os caminhos a serem percorridos pela justiça fiscal, não são outros, senão as apertadas servidões que o sistema ligeferante fiscal hodierno propiciam aos mecanismos oriundos de uma real distribuição de riquezas, ou mais propriamente uma justiça distributiva. Tendo em vista que, o princípio da solidariedade social constitui-se em forte coluna, dentre outras, do ideário da justa tributação, assevera-se que o Estado brasileiro não somente tem o dever, mas sim, a obrigação de amealhar no cenário político e social, legítimas formas de distribuição

116NOGUEIRA, André Murilo Parente; ROSSO, Maria Izabel Souza. O estado fiscal e poder de

tributar. 2010. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/revistajuridica/index.htm> Acesso

em: 06 out. 2014.

117NOGUEIRA, André Murilo Parente; ROSSO, Maria Izabel Souza. O estado fiscal e poder de tributar. 2010. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/revistajuridica/index.htm> Acesso

de rendas, haja vista a extrema importância em dar guarida aos postulados da dignidade humana e da justiça fiscal.118

Feitas essas breves considerações, em torno do tema proposto no deslinde da presente seção, constata-se que os primados da dignidade humana, bem como da justiça fiscal, consistem em dar amplo sentido e alcance na interpretação do Direito Tributário. Portanto, verifica-se que a inobservância ou ainda o desrespeito a tais primados, constitui medida desprovida de legitimidade social.