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PRINCÍPIOS COMO VALORES (IDEIA DE VALOR E DE DIREITO)

Posto que, o estudo da principiologia constitucional é temática que deve estar no caminho do conhecimento de todo aquele que se debruça em interpretar o direito, ressalta-se, a importância do desdobramento do assunto não apenas no sentido alhures demonstrado, mas também, na abordagem desse fenômeno jurídico

76BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e aplicação da constituição. 7. ed. rev. São Paulo:

Malheiros, 2000. p. 155.

77VIGO, Rodolfo Luis. Interpretação jurídica – do modelo juspositivista-legalista do século XIX às

no sentido de demonstrar o alto nível valorativo-axiológico consubstanciado em seus comandos.

É bem verdade que, a luta da humanidade por direitos de ordem natural, direitos esses, conferidos por ocasião da própria natureza humana não sendo passíveis de delegação, alienação ou qualquer outra forma de disposição ou modificação, implicou no surgimento de diversas insurreições, batalhas e no extermínio de centenas de pessoas. Os proclamas daquelas classes liberais [classe burguesa], e posteriormente das classes proletariadas e sociais [classe dos trabalhadores], paulatinamente foram corporificando-se em textos legislativos de hierarquia maior dentro do aparato ligeferante do Estado. Consoante, é a referência encontrada na obra de TORRES78, acerca do elemento mínimo existencial conscrito nas Declarações de Direitos.

Nas declarações internacionais dos direitos humanos é que tem aparecido com mais freqüência o direito ao mínimo existencial. Proclama-o a Declaração Universal de Direitos do Homem (1948): ‘Toda pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para assegurar a sua saúde, o seu bem estar e o de sua família, especialmente para a alimentação, o vestuário, a moradia, a assistência médica e para os serviços sociais necessários’ (art. 25). A ‘Declaração sobre o Direito ao Desenvolvimento’, aprovada pela Resolução 41/128 da Assembléia Geral das Nações Unidas, de 4 de dezembro de 1996, reconheceu ‘que o desenvolvimento é um processo econômico, social, cultural e político abrangente, que visa o constante incremento do bem-estar de toda a população e de todos os indivíduos com base em sua participação ativa, livre e significativa no desenvolvimento e na distribuição justa dos benefícios daí resultantes’; e declarou, no art. 1º: ‘o direito ao desenvolvimento é um direito humano inalienável em virtude do qual toda pessoa humana e todos os povos estão habilitados a participar do desenvolvimento econômico, social, cultural e político, a ele contribuir e dele desfrutar, no qual todos os direitos humanos e liberdades fundamentais possam ser plenamente realizados’. Os internacionalistas vêm falando também de um direito ao desenvolvimento como direito humano. Claro que no tal direito ao desenvolvimento há aspectos essencialmente ligados aos direitos fundamentais, como acontece com o mínimo necessário à existência (educação básica, saúde preventiva, água potável, etc.) e com o mínimo ecológico (meio ambiente saudável). Mas há outras facetas, como o direito à moradia ou ao emprego, que entendem melhor com os direitos sociais, subordinados à idéia de justiça, que a nosso ver não se confundem com os fundamentais. Por isso mesmo os constitucionalistas e os filósofos do direito, ao contrário dos internacionalistas, resistem à inclusão do direito ao desenvolvimento entre os direitos humanos.

A existência dos princípios está intimamente ligada com a existência dos valores. Portanto, concebe-se os princípios como verdadeiros vetores qualificados

78TORRES, Ricardo Lobo. Os direitos humanos e a tributação imunidades e isonomia. Rio de

pela incumbência de refletir em todo o ordenamento jurídico, os valores considerados dentro de uma hierarquia, como os mais relevantes para uma determinada comunidade. É expressiva a preleção do notável professor Paulo de Barros Carvalho, reportada por LACOMBE, consistente em dizer que os “princípios são normas jurídicas carregadas de forte conotação axiológica. É o nome que se dá às regras do direito positivo que introduzem valores para o sistema, influindo vigorosamente sobre a orientação de setores da ordem jurídica”.79

Da relação dos tributos com os valores contidos nos comandos da ordem constitucional dos direitos e garantias fundamentais, em especial atenção, o princípio da solidariedade social/fiscal, tem-se que, nos Estados Monárquicos a arrecadação de impostos fundamentava-se tão somente na vontade do monarca, destinatário central-exclusivo do poder absoluto e irresponsável. Da transição do absolutismo para o liberalismo, e desse para o socialismo, emerge também uma nova visão diferenciada acerca da noção do tributo, não sendo mais possível ao Estado empreender o fenômeno da tributação sob os comandos totalitários da irresponsabilidade estatal, da espoliação, do confisco e da ilegalidade. Nas palavras de GRECO80, segue uma boa compreensão do assunto em comento:

Também o art. 23 da Constituição cria uma ruptura relativamente à tradição precedente. Realmente, dispondo que nenhuma prestação pessoal ou

patrimonial pode ser imposta senão com base na lei, não permite mais

considerar o tributo como prestação coercitiva apenas porque para a sua instituição está prevista a reserva de lei: legalidade e autoridade não são mais correlatas.”

Ainda, no tocante ao tema da relação dos tributos com os direitos e garantias fundamentais, inclusive o da solidariedade social/fiscal, afirma-se por Marco Aurélio Greco que, o dever fundamental do cidadão/contribuinte em prestar tributos ao Estado, não se exauri apenas no sentido obrigacional da relação do sujeito passivo, mas projeta-se também, para o plano da responsabilidade dos Poderes Públicos perante toda a sociedade em adotar autênticos mecanismos de

79LACOMBE, Américo Lourenço Masset. Princípios constitucionais tributários. 2. ed. São Paulo:

Malheiros, 2000. p. 11 apud CARVALHO, Sobre os princípios constitucionais tributários. RDTributário 55/153.

80GRECO, Marco Aurélio; GODOI, Marciano Seabra. Solidariedade social e tributação. São Paulo:

aplicação dos recursos arrecadados, implementando por via de consequência uma real e efetiva justiça fiscal pautada nos valores da solidariedade social.81

Assim, conclui-se que o estudo da principiologia constitucional, em especial, aqueles valores e postulados voltados para a afirmação do direito enquanto instrumento de desenvolvimento social e promoção de uma vida digna, indubitavelmente, visto o seu caráter axiológico, deve ser tido como um dos temas mais importantes na pauta dos hermeneutas.