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Além dos princípios puramente constitucionais relacionados, é interessante dispor sobre a classificação adotada por Aline Osório sobre os princípios 51 constitucionais eleitorais. Segundo a autora, a CF não trouxe expressamente os princípios eleitorais como fez em outros ramos do Direito. Devido a isso, não existe um padrão doutrinário sobre quais são esses princípios, variando conforme o autor nos diversos manuais eleitorais existentes.

A título de exemplo, Frederico Franco Alvim , separa em grupos de52

princípios, entre eles, o grupo dos Princípios Específicos do Direito Eleitoral e o grupo dos Princípios Processuais Eleitorais. O primeiro, engloba os princípios da lisura ou legitimidade das eleições, da competitividade das eleições, da autenticidade do resultado das eleições, da legalidade das eleições, da proteção do processo eleitoral, do máximo aproveitamento do voto, da máxima extensão do direito ao voto, da anualidade e da igualdade do voto.

O segundo, os princípios da tipicidade das ações eleitorais, da primazia do interesse público, da celeridade, da duração razoável do processo eleitoral, da economia processual, da preclusão instantânea, da adaptabilidade do procedimento, da devolutividade ou negação de efeitos suspensivos aos recursos eleitorais, da irrecorribilidade imediata das decisões interlocutórias de primeiro grau e da irrecorribilidade das decisões do Tribunal Superior Eleitoral.

Partindo das bases e fundamentos das regras do jogo eleitoral fixados pela CF, quais sejam, princípio democrático (art. 1º, ​caput​), princípio republicano (art. 1º, ​caput​), pluralismo político (art. 1º, V), soberania popular (art. 1º, parágrafo único, e 14, ​caput​), princípio representativo (art. 1º, parágrafo único), liberdade (art. 5º, ​caput​) e igualdade (art. 5º, ​caput​), a autora extraiu quatro diretrizes básicas para a regulação do

51 OSÓRIO, Aline. Direito Eleitoral e Liberdade de Expressão. Belo Horizonte: Fórum, 2017, p. 141. 52 ALVIM, Frederico Alvim. Curso de Direito Eleitoral. 2a. Ed. Curitiba: Juruá, 2016, p. 44.

processo político-eleitoral, chamados de princípios constitucionais eleitorais, que constituem pressupostos para um processo eleitoral livre, justo e democrático.

3.5.1 Igualdade Política entre os cidadãos

Previsto no art. 14, da CF, confere aos eleitores o igual valor do voto e a igual possibilidade de influenciarem o resultado das eleições. Decorre diretamente dos princípios democrático, representativo, republicano e da soberania popular. A efetivação da igualdade no campo político envolvem três dimensões:

a) Dimensão institucional, relacionada à extensão do sufrágio, às estruturas formais que viabilizam a representação política e ao sistema eleitoral adotado para a conversão de votos em cargos e postos de poder. Vai além da igualdade de voto para a ideia de igualdade de possibilidade de participação, por meio do debate público, o que interconecta profundamente igualdade política com liberdade de expressão;

b) Dimensão econômica, referente à interferência das condições e relações econômicas na participação política. Para tanto, é necessário associar políticas de erradicação do analfabetismo e da pobreza extrema; de redução dos impedimentos à liberdade de locomoção; e de acesso à educação de qualidade e ao mercado de trabalho;

c) Dimensão sociológica ou psicológica, referente aos diversos fatores que conferem a algumas pessoas ou grupos uma posição privilegiada no debate público, como capacidade de liderança, conhecimento técnico, carisma, fama e notoriedade, relacionamentos interpessoais e acesso aos meios de comunicação, sendo o Estado responsável por adotar medidas para superar esses obstáculos, possibilitando a população a

igualdade de acesso ou participação no debate público por meio da plena liberdade de expressão.

3.5.2 Igualdade de Oportunidades ou Paridade de Armas entre candidatos e partidos

O princípio da igualdade de oportunidades também é conhecido como igualdade de chances, da "paridade de armas" ou da isonomia entre os candidatos e partidos políticos. É deduzido dos princípios democrático, representativo, republicano, do pluralismo político e da soberania popular. Fundamenta-se no conceito de que candidatos e partidos políticos desempenham uma função-chave para o funcionamento do Estado Democrático de Direito, por meio da representação política e expressão da vontade popular. Para tanto o ordenamento jurídico deve garantir duas dimensões:

a) A igualdade de acesso à disputa eleitoral, referente a disposição de garantias suficientes para possibilitar que todas as ideias políticas presentes na sociedade possam participar da disputa eleitoral por cargos políticos;

b) A igualdade de condições de competição, ou seja, a igualdade de oportunidades de visibilidade entre as forças políticas, que visa garantir a liberdade para que os competidores busquem o apoio dos eleitores durante as campanhas, e ao mesmo tempo, alcançar uma igualdade material na disputa, estabelecendo alguns limites a essa liberdade de campanha, para que nenhum competidor possa se beneficiar de vantagens ou influências ilegítimas de poderes econômicos, midiáticos ou políticos.

Devido essas exigências, a projeção do princípio da paridade de armas assumem um caráter ambivalente:

a) Vertente negativa, que requer a neutralidade do Estado em relação às diferentes correntes políticas existentes e seus representantes, a garantia da liberdade de expressão e de campanha dos candidatos e dos partidos políticos, e a vedação de condutas abusivas por partes dos concorrentes, que permitam que estes se aproveitem de forma ilegítima das superioridades fáticas econômica, midiática e política, por exemplo, limite de gastos e proibição de propaganda paga no rádio e TV;

b) Vertente positiva, que exige a adoção de medidas prestacionais, voltadas à obtenção de um maior equilíbrio entre os competidores, garantindo-se condições mínimas de sobrevivência e participação a todos os candidatos e partidos na disputa, por exemplo, financiamento público de campanhas.

3.5.3 Legitimidade do Processo Eleitoral

Um processo eleitoral legítimo é aquele dotado de lisura, higidez e credibilidade pública, no qual o eleitor tenha plena liberdade para realizar suas opções de voto e que se impeça fraudes, manipulações e outros constrangimentos que alterem o resultado do pleito. A legitimidade está intrinsecamente ligada a justiça das eleições e deve ser assegurada sob duas perspectivas.

A primeira, refere-se a autenticidade do voto por meio da garantia de plena liberdade de escolha pela população. É dever do Estado assegurar que os cidadãos sejam livre e independentes para fazer seus julgamentos e para expressar na urnas suas conclusões e convicções. Pressupõe a liberdade de expressão, associação e reunião, de modo a ter acesso sobre diferentes alternativas políticas e elementos para formar o convencimento.

A segunda, refere-se a veracidade do escrutínio. Consiste na na tutela do resultado final das eleições, refletindo de maneira mais precisa possível, a vontade do

corpo eleitoral. É necessário garantir condições para que o resultado das eleições reflita a vontade popular depositada nas urnas e para que as escolhas dos eleitores não sejam falseadas e com vícios capazes de alterar o resultado do pleito.

3.5.4 Liberdade de Expressão Político-Eleitoral

Visa assegurar que os candidatos, partidos e cidadãos em geral possam expor e ter acesso a informações e opiniões sobre temas de interesse público que permitam a tomada das decisões políticas e eleitorais. O princípio está presente na propaganda política partidária, intrapartidária e eleitoral, no direito de resposta, na realização e na divulgação de pesquisas de intenção de voto e na publicidade institucional dos Poderes Públicos.

Permeia a cobertura nos meios de comunicação sobre as eleições, os candidatos e os partidos, e as manifestações da cidadania nas ruas e redes sociais. Também é identificado no financiamento de campanhas e na regulação dos gastos eleitorais e partidários. É o princípio tão essencial no processo eleitoral que compõe o conteúdo de todos os demais princípios substantivos estruturantes do direito eleitoral como o da igualdade política entre os cidadãos, o da igualdade de oportunidades entre candidatos e partidos e o da legitimidade do pleito. Da incidência da liberdade de expressão é possível extrair algumas garantias.

Primeiro, deve ser garantida sob a perspectiva dos candidatos e partidos, dos eleitores e cidadão em geral, e dos meios de comunicação em sentido amplo e outros fóruns de discussão política. Segundo, a proteção às manifestações expressivas não deve ficar confinada ao período eleitoral, mas também, aquelas que se verificam fora desses momentos. Terceiro, a proteção tanto do conteúdo quanto do tom em que são veiculadas, incluindo as minoritárias, contrárias a crenças estabelecidas, discordantes, críticas, incômodas, ofensivas ou negativas, ainda que em tom feroz, exaltado ou emocionado.

4 ANÁLISE DE DECISÕES SOBRE FAKE NEWS