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Princípios da necessidade e proibição do uso do conhecimento privado

No documento A oralidade no processo do trabalho (páginas 41-44)

4 PRINCÍPIOS DA PROVA JUDICIAL

4.1 Princípios da necessidade e proibição do uso do conhecimento privado

A prova necessária, pois, é a que demonstrará a veracidade do conteúdo das alegações das partes, tenham sido estas deduzidas na petição inicial ou na contestação. As meras alegações, desacompanhadas de qualquer arcabouço probatório que as suporte, não são suficientes para comprovação do fato alegado.119

Em verdade, o princípio da necessidade decorre da própria prestação jurisdicional

115 ECHANDÍA, Hernando Devis. Op. cit., p. 107. 116 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Op. cit., p. 60.

117 “Mas é do ponto de vista axiológico ou dos princípios que a autonomia do processo do trabalho está ainda

mais em crise, porque os princípios do processo laboral, que tradicionalmente o afastaram do processo civil (como a procura da igualdade material ads partes, o maior valor do acto conciliatório, a celeridade processual e a simplicidade de tramitação), parecem ser, cada vez mais, princípios gerais do processo civil. Em suma, podemos falar de uma tendência de laboralização do processo civil, que o novo CPC também prosseguiu, aliás com um especial vigor. Ora, perante esta evolução, não divisamos eixos valorativos ou princípios do processo laboral diferentes dos princípios do processo civil, ainda que o processo laboral mantenha algumas especificidades de relevo, com destaque para a condenação ultra petitum e para alguns processos especiais.” in RAMALHO, Mária do Rosário Palma. Op. cit.. in RAMALHO, Mária do Rosário Palma; e MOREIRA, Teresa Coelho (coord.). O novo Código de Processo Civil e o Processo do Trabalho – Estudos APODIT 2, p. 22.

118 Art. 769 - Nos casos omissos, o direito processual comum será fonte subsidiária do direito processual do

trabalho, exceto naquilo em que for incompatível com as normas deste Título.

do estado, cujos recursos, tempo e trabalho de seus funcionários judiciais não pode ser desperdiçado em busca de matéria que não trará solução ao litígio posto em juízo.120

A necessidade da prova está intimamente conectada ao típico sistema inquisitório do processo laboral brasileiro. O juiz, por meio do art. 765 da CLT, tem ampla liberdade de condução processual, e, na prática, indeferem provas (conforme art. 370, § único, do CPC/15121) que entendem desnecessárias a partir de uma prematura formação de convencimento a partir das provas produzidas até determinado momento da instrução. O indeferimento a produção de determinada espécie de prova deverá ser obrigatoriamente fundamentado.122 Evidentemente que este traço do processo autoritário (e da própria oralidade do processo) poderá influenciar em futura valoração.

A necessidade da prova também está instrinsicamente ligada ao objeto específico que se deve provar no litígio, o que é estabelecido com mais precisão na fase de saneamento do processo pelo estabelecimento dos temas de prova,123 conforme art. 357, II, do CPC/15. Não obstante a delimitação dos temas, o julgador de primeiro grau terá ampla liberdade para definir a condição de prescindibilidade da prova requerida ou não.124

O juiz de primeira instância, especialmente na seara trabalhista, tem contato direto e profundo com as partes e o processo, face o modelo oral de processo laboral brasileiro.

120 ECHANDÍA, Hernando Devis. Op. cit., p. 125.

121 Art. 370. Caberá ao juiz, de ofício ou a requerimento da parte, determinar as provas necessárias ao

julgamento do mérito.

Parágrafo único. O juiz indeferirá, em decisão fundamentada, as diligências inúteis ou meramente protelatórias.

122 Posição corroborada por indiscutível unanimidade do TST:

AGRAVO EM RECURSO DE REVISTA. DECISÃO MONOCRÁTICA. CERCEAMENTO DO DIREITO DE DEFESA. INEXISTÊNCIA. INDEFERIMENTO PROVAS INÚTEIS. A decisão monocrática proferida nestes autos merece ser mantida. Quanto à pretensa nulidade por indeferimento de produção de prova, o juiz é o diretor do processo, não configurando cerceamento de defesa o indeferimento de provas inúteis, uma vez formada a sua livre convicção motivada. O julgador acolhe a prova com o valor que reputar digno, desde que o faça justificadamente, atendendo aos fatos e circunstâncias dos autos, conforme ocorreu no caso em tela. Na hipótese, o julgador indeferiu as perguntas da parte por reputá-las impertinentes. Em tal contexto, não há que se falar em cerceamento do direito de defesa da parte que sucumbiu na sua pretensão.

(TST - Ag-RR: 1391020125090016, Relator: Emmanoel Pereira, Data de Julgamento: 05/12/2018, 5ª Turma, Data de Publicação: DEJT 07/12/2018)

123 “O juiz, porém, deve cuidar para não comprometer sua imparcialidade na condução do processo. A

necessidade da prova, ordenada de ofício, deve surgir do contexto do processo e não da atividade extra-autos, sugerida por diligências e conhecimentos pessoais ou particulares auridos pelo magistrado fora do controle do contraditório.” in THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil – teoria geral do direito processual civil e processo de conhecimento – vol. I, p. 459.

Tem-se, então, que este julgador terá melhor posição para qualificar as provas como necessárias ou não. Por vezes, é claro, a admissibilidade da prova, por sua necessidade, pode ser revisada pelo Tribunal ad quem125, pois o juiz de primeiro grau não é o único destinatário da prova, considerando-se a função revisora de material fático do Tribunal.126

A priori, não há qualquer incompatibilidade do art. 357 do CPC/15 ao processo trabalhista. Nem mesmo a Instrução Normativa nº. 39/2016 do TST consignou como aplicável ou não o dispositivo ao processo laboral. Todavia, não é o que ocorre corriqueiramente na Justiça do Trabalho. Os juízes trabalhistas nem sempre fixam temas controvertidos a serem resolvidos pela produção probatória, porém, quando o fazem, procuram limitar a produção da prova oral em juízo, em espécie de delimitação de temas de prova previamente ao início da oitiva das testemunhas na audiência de prosseguimento. É justamente o problema especificado por SOUTO MAIOR127: o procedimento trabalhista brasileiro pode variar não só de região para região, mas também de juiz para juiz, até mesmo magistrados da mesma circunscrição.

O CPT permitia ao juiz do trabalho deixar de fixar a base instrutória previamente à audiência final caso a matéria fosse de notada simplicidade. Todavia, ao nosso ver, com a

125 NULIDADE PROCESSUAL. CERCEAMENTO DE DEFESA. INDEFERIMENTO DE PROVA TESTEMUNHAL. O

fato do juízo de origem acolher a prova pericial técnica quanto à ausência de condição insalubre de trabalho, não significa que tal entendimento não seja passível de revisão em sede recursal. Daí decorre a necessidade de instrução do feito com elementos suficientes para análise e julgamento dos pedidos decorrentes da alegada exposição a agentes insalubres no local de trabalho. Configura-se o cerceio de defesa, a eivar de nulidade o julgado, quando do próprio laudo emergem dúvidas razoáveis acerca da exposição a agente insalubre, não podendo a produção de prova testemunhal ser considerada desnecessária para o deslinde das questões controvertidas e devendo ser assegurada às partes a solução amparada em ampla dilação probatória. Recurso provido, oportunizando-se a produção de prova requerida.

(Acórdão: 0001261-41.2013.5.04.0702 (RO); Redator: ANA LUIZA HEINECK KRUSE; Órgão julgador: 4ª Turma; Data: 23/08/2018; TRT4)

126 “Os tribunais de segundo grau têm função revisora do juízo de fato externado em primeiro grau. Nessa

contingencia, introduz-se outro dado, devedno o juiz recordar que a prova não é apenas para formar seu proprio convencimento, mas, em condições similares, à do órgão de superior hierarquia. Quanto maiores e melhores os subsídios reunidos na instrução, melhor desempenhará o órgão revisor a sua função, evitando, ademais, a invalidade do processo, porque configurado cerceamento à defesa da parte, ou a conversão do julgamento do recurso em diligência, a fim de completar a prova.” in ASSIS, Araken de. Op. cit., p. 162.

127 “Primeiro, que a visão prática de um pode não ser a de outro e a conseqüência disso foi que, na ausência de

uma teoria consistente, o procedimento trabalhista deixou de atender ao seu principal objetivo, que é estabelecer uma previsibilidade da atuação dos sujeitos do processo. O que se vê, hoje em dia, é que não existe um procedimento trabalhista, mas o procedimento do juiz. A angústia que aflige os advogados não é aprender o procedimento trabalhista como conceito, mas conhecer o procedimento de cada juiz, mais especificamente, do juiz que está atuando na Vara, em momento determinado.” in SOUTO MAIOR, Jorge Luiz. O princípio da oralidade no processo do trabalho. Diário das Leis Trabalhistas, p. 12.

promulgação do CPC/13, deixou de ter aplicabilidade tal norma. Não há qualquer previsão no diploma civilista da possibilidade de não se estabelecer a base instrutória, podendo se considerar o art. 49, nº. 3, do CPT, foi revogada por incompatibilidade do novo regime processual civil e sua fase de gestão processual. Esta disposição afeta, sem dúvidas, a quantidade de testemunhas que poderão ser ouvidas no processo laboral, de acordo com a fixação dos fatos controvertidos e o disposto nos artigos 64 e 65 do CPT.128

De uma forma ou de outra, a fixação dos temas de prova é reflexo da necessidade da prova de acordo com os enunciados expostos pelo autor em sua petição inicial e as alegações defensivas do réu em contestação.

Indubitavelmente, ao consagrar os meios de prova disponíveis às partes e ao juiz para obtenção da veracidade das alegações feitas, implicitamente proíbe-se a utilização de quaisquer outros fatores que provenham de fontes não especificadas. Em especial, o juiz deve ser figura neutra e sem preconceitos provenientes de meios obtidos fora do processo judicial. Para que se atinja liberdade na utilização dos meios de prova, portanto, o juiz não deve ter conhecimento extraprocessual (ou privado) dos fatos expostos no litígio, pois, mesmo que inconsciemente, influenciá-lo-ia na decisão de requerimentos probatórios e, eventualmente, na decisão de mérito sobre a demanda.129 Bem ao contrário, conhecendo os fatos que originaram o litígio, há de abster-se de julgar.

No documento A oralidade no processo do trabalho (páginas 41-44)