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Em 1991, foi publicado Introduction to Permaculture com a intenção de servir como introdução ao modelo de design. Assim, ela seria uma obra mais sucinta e destinada a servir como base para os cursos e as primeiras instruções sobre o conceito. Porém, foi nesta síntese, com o apoio de Reny Mia Slay, que Bill Mollison atingiu as formulações melhor acabadas dos princípios éticos (Quadro 1, na Introdução deste texto) e dos princípios de design as quais são utilizadas até hoje em cursos.

Seguem abaixo os princípios de design em sua penúltima formulação, publicada em 1991, a qual se difundiu e é utilizada como um resumo do método de design da permacultura. São eles:

1. Localização relativa: O cerne da permacultura é o design, que representa a

conexão entre elementos. Não é a água, a galinha ou a árvore. É como a água, a galinha e a árvore estão ligadas. [...] [A] permacultura faz a conexão porque, tão logo você tenha compreendido a conexão, você pode alimentar a galinha a partir da árvore. Para permitir que um componente do projeto (tanque, casa, arvoredo, jardim, quebra-vento etc.) funcione eficientemente, devemos colocá-lo no lugar

certo. [...] [D]eforma que as necessidades de cada elemento sejam supridas pela

produção de outro. Para isso, necessitamos descobrir suas características básicas [...].

2. Cada elemento executa muitas funções: cada elemento no sistema deverá ser

escolhido e posicionado de forma a executar o maior número possível de funções [...]. Podemos fazer o mesmo com as plantas, selecionando espécies úteis e posicionando-as em um local onde serão utilizadas para um ou mais objetivos.

3. Cada função importante é executada por muitos elementos. Necessidades

básicas importantes, como água, alimentação, energia e proteção contra o fogo, deveriam ser supridas em duas ou mais formas [...].

4. Planejamento energético eficiente. A chave para o planejamento energético

eficiente (na verdade, o planejamento econômico eficiente) é o posicionamento de plantas, áreas para animais e estruturas de acordo com zonas e setores, com as únicas exceções para os fatores de mercado, acesso, inclinação do terreno, nuances climáticas locais, áreas de interesse especial (planícies alagadiças ou encostas rochosas) e condições de solo especiais, com lateritas duras ou solos de banhados. [O planejamento por zonas e o planejamento por setores] [...] cobrem

143 planos de zonas, setores e inclinação para um sítio “ideal”. Digamos, um terreno com inclinação leve, de frente para o Sol, onde encontramos poucas variáveis. Terrenos “reais”, todavia, serão tratados diferentemente, de forma que seus projetos serão mais complexos do que aqueles ilustrados.

5. Utilizando recursos biológicos. Em um sistema permacultural, utilizamos,

onde for possível, recursos biológicos (plantas e animais) para economizar energia e realizar o trabalho da fazenda. Plantas e animais são usados para fornecer combustível, fertilizante, aração, além de serem úteis no controle de insetos, controle de ervas invasoras, reciclagem de nutrientes, melhoramento dos habitats, aeração do solo, controle de incêndio, controle de erosão e assim por diante. [...]

6. Ciclos energéticos. Em nossos sistemas de suprimento alimentar modernos,

nutrição completa e uma dieta variada são obtidos através de uma rede mundial de transporte, armazenamento e publicidade. Obviamente, essa reticulação de alimentos gasta muito mais energia do que uma diversidade agricultural local, e só é possível devido ao subsídio de combustíveis fósseis. [...] Métodos “eficientes” têm sido forçados ao produtor, mesmo que em prejuízo da terra e da qualidade do produto a longo prazo. [...] Sistemas permaculturais visam interromper o fluxo de nutrientes e energia que saem do local e, ao contrário, transformá-los em ciclos, de forma que, por exemplo, restos de cozinha sejam reciclados para composto; esterco de animais seja levado para a produção de biogás ou de volta ao solo; a água cinza da casa flua para o jardim [...].

7. Sistemas intensivos em pequena escala. Ao contrário dos sistemas

centralizados em grandes colheitadeiras e carretas de transporte, o sistema permacultural é sintonizado nas ferramentas de mão (tesoura de poda, carrinho de mão, foice, machado) em um sítio pequeno, ou motores com uso modesto de combustível (pequenos tratores, roçadeiras, motosserra), em sítios maiores. Embora, a princípio, a permacultura aparente ser de trabalho intenso, ela não é um retorno aos sistemas proletários de colheitas anuais, escravidão e sofrimento sem fim e dependência total da servidão humana. Pelo contrário, ela prioriza o design da fazenda (ou sítio, ou quintal urbano, ou cidade) para o melhor benefício, utilizando uma certa quantidade de trabalho humano, uma acumulação para o controle de ervas daninhas, o uso de recursos biológicos, tecnologias alternativas que gerem e economizem energia e um uso moderado de máquinas, de forma apropriada.

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8. Acelerando a sucessão e a evolução. Ecossistemas naturais desenvolvem-se e

mudam com o tempo, dando espaço para a sucessão de diferentes espécies de plantas e animais. [...] Cada estágio cria as condições certas para o próximo estágio. Plantas pioneiras podem fixar nitrogênio, afofar solos pesados, reduzir salinidade, estabilizar encostas muito inclinadas, absorver umidade excessiva ou prover abrigo. Elas colonizam novos habitats, tornando mais fácil, para as outras espécies, seguir esse trabalho de modificação do ambiente até um momento mais favorável. Na agricultura convencional [...] estamos constantemente ajustando o sistema para trás e incorrendo em custos de trabalho e energia, quando interrompemos a ocorrência da sucessão natural. Ao contrário de lutarmos contra esse processo natural, podemos dirigi-lo e acelerá-lo para incluir nossas próprias espécies de clímax em tempo mais curto.

9. Diversidade. [...] A diversidade é frequentemente relacionada à estabilidade,

na permacultura. No entanto, estabilidade só ocorre entre espécies cooperativas, ou espécies que não causem prejuízo umas às outras [...] a importância da diversidade não está muito no número de elementos de um sistema, mas no número de conexões funcionais entre esses elementos. [...] O que procuramos é um consórcio de elementos (plantas, animais e estruturas) que trabalhem harmoniosamente juntos.

10. Efeitos de bordas. Bordas (no sentido de fronteiras ou limites) são interfaces

entre dois meios: é a superfície entre a água e o ar; a zona em volta de uma partícula de solo onde a água se liga; a linha da costa entre a terra e o mar; a área entre a floresta e o campo [...] Em qualquer lugar onde espécies, clima, solos, encostas ou quaisquer condições naturais ou limites artificiais se encontrem, existirão bordas. [...] A borda age como uma rede ou peneira: energias ou materiais se acumulam nas bordas, solo e detritos são soprados pelo vento contra uma cerca [...] Percebendo como bordas coletam materiais na natureza, podemos projetar para levar vantagem sobre o movimento natural de materiais e energia, em nosso sistema [...] Precisamos selecionar padrões de bordas apropriados ao clima, ao terreno, ao tamanho e à situação, pois diferentes sistemas e espécies de plantas necessitam de abordagens diferentes. Sistemas em pequena escala permitem uma complexidade maior; sistemas em grande escala devem ser simplificados para minimizar o trabalho.

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11. Princípios e atitudes47. As ideias a seguir são princípios ambientais e permaculturais que tratam do sítio, do ambiente ou do projeto, na realidade.

11.1. Tudo funciona em dois caminhos: cada recurso é uma vantagem e

ou uma desvantagem, dependendo do uso que se faça dele [...].

11.2. Permacultura é intensiva em informação e imaginação: a

permacultura não é intensiva em energia ou em capital, mas o é na informação. É a qualidade das ideias e da informação que usamos que determina a produção e não o tamanho ou a qualidade do local. Estamos usando não somente os nossos recursos físicos, mas a nossa habilidade em acessar e processar a informação. [...] Ela [a informação] representa conhecimentos, experiências, ideias e experimentação de milhares de pessoas, antes de nós. Se reservarmos tempo para ler, observar, discutir e contemplar, começamos a pensar em termos multidisciplinares e a projetar sistemas que economizem energia e nos deem produção.

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Este último princípio é uma aglutinação de dois princípios. O primeiro é o mesmo princípio 2 da publicação de 1988, “o problema é a solução” – listado acima – retomado por Mollison, desta vez, como uma diretiva transversal a qualquer princípio ou atividade da permacultura; o segundo princípio aglutinado, “Permacultura é intensiva em informação e imaginação” é inédito, por isso é dada maior atenção a ele. A subdivisão destes é uma opção do presente trabalho e visa destacar a diferença entre as duas ideias.

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