• Nenhum resultado encontrado

3. TUTELA JURISDICIONAL COLETIVA 1 INTRODUÇÃO

3.4 PRINCÍPIOS DE DIREITO PROCESSUAL COLETIVO

3.4.1 Princípio do Acesso à Justiça

O conteúdo do princípio do acesso à justiça em sede de direito processual coletivo não se limita ao mero direito de aceder formalmente aos tribunais, mas vai além, no sentido de alcançar a tutela efetiva dos direitos violados ou ameaçados.

O princípio que no processo individual diz respeito tão somente ao cidadão, objetivando a solução de controvérsias limitadas ao círculo de interesses da pessoa, no processo coletivo transmuda-se em princípio de interesse de uma coletividade, formada por até milhões de pessoas143.

3.4.2 Princípio da Universalidade da Jurisdição

O princípio da universalidade da jurisdição no direito processual coletivo significa que o acesso à justiça deve ser garantido a um número cada vez maior de pessoas, amparando um número maior de causas, pois é por intermédio deste que as massas têm oportunidade de submeter suas demandas aos tribunais. É o tratamento coletivo de direitos que abre as portas à universalidade da jurisdição.

Cotejando-se com o direito processual individual, neste tal princípio tem alcance mais restrito, limitando-se à utilização da técnica processual com o objetivo de que todos os conflitos de interesses submetidos aos tribunais tenham resposta jurisdicional144.

3.4.3 Princípio da Participação

141 MILARÉ. Édis. A ação civil pública na nova ordem constitucional. São Paulo: Saraiva, 1990, p.3.

142 Tópico inspirado no rol de princípios formulado por Ada Pellegrini Grinover e Gregório Assagra de Almeida. 143 GRINOVER, Ada Pellegrini. Direito Processual Coletivo. In: GRINOVER, Ada Pellegrini; MENDES,

Aluisio Gonçalves de Castro; WATANABE, Kazuo, op. cit., p. 12.

O princípio participativo é ínsito em qualquer processo, que tem nele seu objetivo político. Porém, enquanto no processo individual a participação se resolve na garantia constitucional do contraditório (participação no processo), no processo coletivo a participação se faz também pelo processo145.

A participação popular pelo processo contava com exemplo clássico referente ao Tribunal do Júri e, ainda, da atividade de conciliadores nos Juizados Especiais, porém, tratava-se de exemplos pontuais, ao passo que com o acesso das massas à justiça, grandes parcelas da população vêm participar do processo, conquanto por meio dos legitimados à ação coletiva.

Enquanto no processo individual a participação é exercida diretamente pelo contraditório, no processo coletivo o contraditório é exercido pela atuação do portador, em juízo, dos direitos transindividuais.

Há, assim, no processo coletivo, uma participação maior pelo processo, e uma participação menor no processo, pelo fato de não ser exercida individualmente, mas sim pelo denominado representante adequado.

3.4.4 Princípio da Ação

O princípio da ação é aquele que determina ser da parte a atribuição de provocar o exercício da função jurisdicional. Há, todavia, peculiaridade no Anteprojeto de Código Brasileiro de Processos Coletivos coordenado por Ada Pellegrini Grinover, ao dispor sobre iniciativas que competem ao juiz para estimular o legitimado a ajuizar ação coletiva, mediante a ciência aos legitimados da existência de diversos processos individuais versando sobre o mesmo bem jurídico146.

3.4.5 Princípio do Impulso Oficial

O processo, que se inicia por impulso da parte, segue sua caminhada por impulso oficial. Tal princípio rege de igual maneira o processo individual e o coletivo, porém, a soma

145 GRINOVER, Ada Pellegrini. Direito Processual Coletivo. In: GRINOVER, Ada Pellegrini; MENDES,

Aluisio Gonçalves de Castro; WATANABE, Kazuo, op. cit., p. 12.

de poderes atribuídos ao juiz é questão ligada ao modo como se exerce o princípio do impulso oficial em matéria de tutela jurisdicional coletiva147.

Trata-se, no processo coletivo, da chamada defining function do juiz, de que fala o direito norte-americano para as class actions.

O Anteprojeto de Código Brasileiro de Processos Coletivos dá nova dimensão ao princípio em análise, atribuindo ao juiz medidas como, por exemplo: 1) possibilidade de desmembramento de processo coletivo em dois - sendo um voltado à tutela dos direitos difusos e outro voltado à proteção dos individuais homogêneos, caso entenda conveniente para a tramitação do processo; 2) certificar a ação como coletiva; 3) dirigir como gestor do processo a audiência preliminar, decidindo de plano as questões processuais e fixando os pontos controvertidos; 4) flexibilizar a técnica processual, como, por exemplo, na interpretação do pedido e da causa de pedir; 5) determinar a suspensão dos processos individuais, em determinadas circunstâncias, até o trânsito em julgado da sentença coletiva148.

3.4.6 Princípio da Economia

Tal princípio preconiza o máximo de resultado na atuação do direito com o mínimo emprego possível de atividades processuais. Exemplo: reunião de processos em casos de conexidade, continência, litispendência e coisa julgada.

Com efeito, os conceitos de tais institutos no processo civil individual são extremamente rígidos, colocando entraves à identificação de processos, de modo a dificultar sua reunião ou extinção. Os Anteprojetos de Código Brasileiro de Processos Coletivos estatuem que, para a identificação dos fenômenos acima indicados, levar-se-á em conta não o pedido, mas o bem jurídico a ser protegido; desta feita, pedido e causa de pedir serão interpretados extensivamente, e a diferença dos legitimados ativos não será empecilho para o reconhecimento da identidade dos sujeitos. Isto significa que as causas serão reunidas com maior facilidade e que a litispendência terá um âmbito maior de aplicação149.

3.4.7 Princípio da Instrumentalidade das Formas

147 GRINOVER, Ada Pellegrini. Direito Processual Coletivo. In: GRINOVER, Ada Pellegrini; MENDES,

Aluisio Gonçalves de Castro; WATANABE, Kazuo, op. cit., p. 13.

148 Id. Ibid., p. 13. 149

O conceito deste princípio diz que as formas do processo não devem ser excessivas de forma a sufocar os escopos jurídicos, sociais e políticos da jurisdição, devendo assumir exclusivamente o formato necessário a assegurar as garantias das partes e a conduzir o processo a seu destino final, qual seja, a pacificação com justiça150.

Desta feita, a técnica processual deve ser vista sempre em consonância com os fins da jurisdição e ser flexibilizada de modo a servir à solução do litígio. O desmesurado apego à técnica tem levado a um número excessivo de processos que não atingem a sentença de mérito em virtude de questões processuais.

As normas que regem o processo coletivo devem ser interpretadas de forma ampla e flexível, sendo observado o contraditório e não gerando prejuízo às partes, nos moldes do que expressam os Anteprojetos de Código Brasileiro de Processos Coletivos.

3.4.8 Princípio da Máxima Efetividade do Processo Coletivo

O mencionado princípio decorre da necessidade de efetividade real e não meramente formal do processo coletivo. Com efeito, indispensável que sejam envidados esforços e realizadas todas as diligências para que se alcance a verdade151.

O interesse social presente nas ações coletivas impõe essa efetividade do processo coletivo. Tal princípio está implícito no artigo 5º, XXXV da Constituição Federal, que garante o acesso à justiça; no artigo 5º, § 1º, que determina a aplicabilidade imediata das normas definidoras de direitos e garantias fundamentais e no artigo 83 do Código de Defesa do Consumidor combinado com o artigo 21 da Lei de Ação Civil Pública.

Como corolário de tal princípio, o Poder Judiciário tem poderes instrutórios amplos, devendo atuar em busca da efetividade do processo coletivo independentemente de provocação das partes, sendo limitado apenas pelo que dispõe a Constituição Federal152.

Por fim, José Roberto dos Santos Bedaque aduz que

A maior participação do juiz na instrução da causa é uma das manifestações da postura instrumentalista que envolve a ciência processual. Essa postura contribui, sem dúvida, para a eliminação das diferenças de oportunidades em função da situação econômica dos sujeitos. Contribui, enfim, para a efetividade do processo153.

150 GRINOVER, Ada Pellegrini. Direito Processual Coletivo. In: GRINOVER, Ada Pellegrini; MENDES,

Aluisio Gonçalves de Castro; WATANABE, Kazuo, op. cit., p. 14.

151 ALMEIDA. Gregório Assagra de, op. cit., p. 576. 152 Id. Ibid., p. 577.

3.4.9 Princípio do Máximo Benefício da Tutela Jurisdicional Coletiva

O princípio em análise é decorrência lógica do próprio espírito do direito processual coletivo. Utilizando-se da tutela jurisdicional coletiva busca-se solucionar em um só processo um grande conflito social ou diversos conflitos individuais, unidos pelo vínculo de homogeneidade, evitando a proliferação de ações individuais e a ocorrência de situações de conflito capazes de gerar insegurança na sociedade154.

Esse princípio, que está implicitamente previsto no artigo 103 do Código de Defesa do Consumidor, busca o aproveitamento máximo da prestação jurisdicional coletiva, para evitar novas demandas, especialmente as individuais com idêntica causa de pedir155.

3.4.10 Princípio da Máxima Amplitude da Tutela Jurisdicional Coletiva

O princípio em tela estatui que para proteção dos direitos transindividuais são admissíveis todos os tipos de ação, procedimentos, medidas, inclusive provimentos antecipatórios, desde que adequados à efetiva tutela do direito coletivo pleiteado156.