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CAPÍTULO I – REVISÃO DA LITERATURA

2. O R ELATO DA R ESPONSABILIDADE A MBIENTAL

2.2. Enquadramento Normativo

2.2.2. Princípios e Guias de Orientação

Para além da regulamentação contabilística das matérias ambientais, na sua maioria de

aplicação obrigatória e focada no relato financeiro, existe um conjunto de iniciativas

internacionais, e com reconhecimento a nível mundial, que se dedicam à publicação de “guias”

para a divulgação dos aspetos socias e ambientais das empresas.

O objetivo destes normativos não é modificar a forma de relato contabilístico mas

incrementar a informação financeira divulgada nos relatórios e contas, com informações de

caráter social e ambiental, quer através da elaboração de relatórios autónomos, quer pela

incorporação nos documentos obrigatórios de prestação de contas.

Um exemplo destas iniciativas são as diretrizes publicadas pela Global Reporting Iniciative (GRI),

instrumento de excelência utilizado para o relato voluntário das matérias de sustentabilidade.

Estas diretrizes têm a vantagem, em relação à regulamentação contabilística, de serem maiores

propulsionadores de comportamentos socias responsáveis por parte das organizações.

Além destas diretrizes de grande aderência empresarial, temos ainda organizações como a

ONU e a OCDE, que desenvolveram pactos, declarações, princípios e outros instrumentos

com linhas orientadoras de uma conduta socialmente responsável.

Apresentaremos de seguida a estrutura das diretrizes da GRI e ainda o quadro da Global

Compact das Nações Unidas (UNGC), na medida em que são duas estruturas de grande

aderência na elaboração dos relatórios de sustentabilidade.

2.2.2.1 Diretrizes da Global Reporting Iniciative

A GRI é uma instituição internacional independente, com o objetivo de desenvolver e

difundir diretrizes para a elaboração de relatórios de sustentabilidade, aplicáveis

voluntariamente por organizações, a nível mundial. A sua missão é oferecer uma estrutura,

credível e globalmente aceite, a fim de ser utlizada por organizações de qualquer dimensão,

setor ou localização na elaboração de relatórios sobre o desempenho económico, ambiental e

social (GRI, 2006).

As Diretrizes da GRI consistem em princípios e orientações que definem o conteúdo do

relatório, de forma a assegurar a qualidade da informação relatada e que fornecem um

conjunto de informações-padrão, composto por indicadores de desempenho e outros tópicos

a divulgar. Estas diretrizes encontram-se divididas em duas partes. Na primeira parte são

descritos os princípios e orientações de três elementos fundamentais no processo de

divulgação da informação: definição do conteúdo do relatório, controlo da qualidade das

informações e limite do relatório. Na segunda são apresentadas as informações-padrão que

devem integrar o relatório de sustentabilidade.

Relativamente à primeira parte destas diretrizes e, no que concerne aos princípios referentes à

definição do conteúdo do relatório, destacam-se o princípio da relevância, da inclusão dos

stakeholders, do contexto de sustentabilidade e de abrangência, essenciais para assegurar uma

apresentação razoável do desempenho da organização. Os princípios de equilíbrio,

comparabilidade, precisão, periodicidade, clareza e fidedignidade são também aplicados no

âmbito da elaboração de um relatório de sustentabilidade de modo a atingir a qualidade

apropriada da informação relatada. Esta secção termina com a orientação sobre como definir a

amplitude de entidades representadas pelo relatório, de forma a determinar o “limite do

relatório”, tendo como base os conceitos de “Controlo” e “Influência Significativa”.

A segunda parte destas diretrizes, dedica-se à especificação do conteúdo, secção onde são

apresentadas um conjunto de informações-padrão que devem ser divulgadas no relatório de

sustentabilidade, tendo sempre presente os princípios e orientações atrás referenciadas.

A figura 1 evidencia uma visão geral da organização destas diretrizes:

Figura 1 - Visão geral das Diretrizes da GRI

Como podemos verificar, pela análise à figura 1, o conteúdo do relatório encontra-se dividido

em três tipos de informações8 (GRI, 2006):

 Perfil: Referente às divulgações que definem todo o contexto para a compreensão do

desempenho organizacional global, tal como a estratégia, a análise, o perfil e a

governação.

 Abordagem de Gestão: Divulgações que abrangem a forma como uma organização

aborda um conjunto de questões, visando definir o contexto das informações para a

compreensão do desempenho numa área específica (económico, ambiental e social).

 Indicadores de Desempenho: Indicadores que evidenciam informações comparáveis

sobre o desempenho económico, ambiental e social da organização.

Com a publicação destas diretrizes, a GRI pretende fazer com que todas as organizações

encarem os relatórios de sustentabilidade como uma prática idêntica à elaboração de relatórios

financeiros. Para isso, a GRI, recorre ao seu desenvolvimento e aperfeiçoamento contínuo,

cujo processo de desenvolvimento implica uma abordagem global e que reúna o consenso de

todas as partes interessadas (GRI, 2006).

As diretrizes são revistas e atualizadas periodicamente, e tornaram-se um dos mais respeitados

guias para abordagem da Triple Bottom Line, uma vez que para além de configurarem uma

estrutura de suporte à comunicação da sustentabilidade, são impulsionadoras das práticas de

responsabilidade empresarial.

A GRI apresentou as primeiras linhas orientadoras para a elaboração de relatórios de

sustentabilidade, em 2000, versão que foi atualizada em 2002 e, em outubro de 2006, foi

publicada a terceira versão (conhecida por G3). Em março de 2011, no sentido de melhorar as

orientações em matéria de Direitos Humanos, foi lançada a G3.1, sendo já uma prioridade na

agenda da GRI a melhoria no conteúdo das atuais orientações, perspetivando-se a publicação

da G4 em maio de 2013 (GRI, 2011).

2.2.2.2 Princípios do Pacto Global das Nações Unidas

O Pacto Global das Nações Unidas (UNGC) 9, oficialmente lançado em Julho de 2000, é uma

iniciativa voluntária que procura fornecer um quadro mundial para promover o crescimento

8 As informações específicas a relevar dentro de cada uma destas categorias, serão alvo de maior detalhe no ponto 2.3,

aquando da análise da apresentação e divulgação das informações no relatório de sustentabilidade

sustentável. Participar do Pacto Global é assumir um compromisso de implementação,

divulgação e promoção de dez “Princípios Universais” nas áreas dos direitos humanos, direito

do trabalho, meio ambiente e corrupção (ver quadro 3).

Quadro 3 - Princípios Universais do UNGC

Direitos Humanos

1. Apoiar e respeitar a proteção dos direitos humanos proclamados internacionalmente

2. Evitar a cumplicidade nos abusos dos direitos humanos

Direito do Trabalho

3.Apoiar a liberdade de associação e o reconhecimento efetivo do direito à negociação coletiva

4. Apoiar a eliminação de todas as formas de trabalho forçado ou compulsório

5. Erradicar efetivamente o trabalho infantil

6. Eliminar a discriminação no emprego e na ocupação

Meio Ambiente

7. Apoiar uma abordagem preventiva para os desafios ambientais

8. Promover uma maior responsabilidade ambiental

9. Incentivar o desenvolvimento e a difusão das tecnologias ambientalmente sustentáveis

Corrupção

10. Atuar contra qualquer forma de corrupção, incluindo a extorsão e o suborno.

Fonte: Adaptado de UN Global Compact, 2004

A UNGC sendo uma estrutura para o desenvolvimento, implementação e divulgação de

políticas e práticas de sustentabilidade, exige aos seus aderentes que, anualmente, apresentem

um documento com a evolução da implementação dos Dez Princípios Universais e o seu

compromisso com a UNGC.

Este documento, designado de “Comunicação de Progresso" (COP), é um sistema de

comunicação às partes interessadas sobre o progresso alcançado pela empresa na

implementação do UNGC nas suas atividades e é uma ferramenta essencial para o objetivo

principal que é o alcance do desenvolvimento sustentável.

A COP pode variar de uma mera declaração para um relatório de sustentabilidade, onde, em

muitos casos, o relatório é chamado "relatório de sustentabilidade" em vez de "Comunicação

de Progresso".

Não existem critérios e linhas de orientação rígidos para elaborar essa “comunicação”. No

entanto, é de salientar as parcerias estratégicas entre a UNGC e a GRI na medida em que, os

relatórios de sustentabilidade elaborados segundo as suas diretrizes podem ser utilizados e

aceites como uma COP e, ao mesmo tempo, as diretrizes da GRI irão integrar os Dez

Princípios da UNGC.

Os signatários desta iniciativa internacional que não apresentarem, anualmente, a comunicação

exigida, serão retirados da lista de participantes ativos do UNGC, medida necessária para

proteger a integridade do projeto.

É neste sentido, que o UNGC é um excelente guia para o relato das questões sociais e

ambientais porque, ao mesmo tempo que incute nas empresas as práticas de RSE, exige a

apresentação e divulgação dessas práticas.

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