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A Divulgação da Responsabilidade Ambiental: O Caso das Empresas Cotadas em Portugal

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A Divulgação da Responsabilidade Ambiental: O Caso das Empresas Cotadas em Portugal

Vera Joana Sousa Nunes Carvalho

Dissertação apresentada ao Instituto Politécnico do Cávado e do Ave para obtenção do Grau de Mestre em Contabilidade e Finanças

Orientador: Professora Doutora Sónia Maria da Silva Monteiro Co-orientador: Mestre Vanda Cristina Rodrigues Roque

Barcelos, Março de 2012

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A Divulgação da Responsabilidade Ambiental: O Caso das Empresas Cotadas em Portugal

Vera Joana Sousa Nunes Carvalho

Dissertação apresentada ao Instituto Politécnico do Cávado e do Ave para obtenção do Grau de Mestre em Contabilidade e Finanças

Orientador: Professora Doutora Sónia Maria da Silva Monteiro Co-orientador: Mestre Vanda Cristina Rodrigues Roque

Barcelos, Março de 2012

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RESUMO

A responsabilidade ambiental é já uma realidade assumida no seio das organizações e encarada como variável de extrema importância na gestão global de qualquer atividade económica.

Neste sentido, a Contabilidade, enquanto principal sistema de informação, teve que acompanhar esta realidade, captando e divulgando adequadamente as questões ambientais, de modo a proporcionar informação útil e relevante aos diferentes stakeholders.

Definimos, como principais objetivos desta investigação, a análise da amplitude das práticas de divulgação ambiental e a identificação dos seus fatores determinantes, tendo como amostra as empresas cotadas no Mercado de Cotações Oficiais da Euronext Lisboa.

Para a recolha dos dados, procedemos à análise de conteúdo dos Relatórios e Contas e Relatórios de Sustentabilidade, referentes ao ano de 2010 e, através de um Índice de Divulgação Ambiental (IDA), construído com suporte nas diretrizes da Global Reporting Initiative (GRI) e nas exigências do normativo contabilístico nacional (Norma Contabilística de Relato Financeiro nº 26- Matérias Ambientais), aferimos o nível de informação divulgada.

No que concerne aos fatores determinantes, e tendo como quadro teórico as Teorias de Legitimidade e dos Stakeholders, procurámos averiguar se determinadas características empresariais têm influência no nível de informação divulgada. Para o efeito recorremos a uma análise univariada e multivariada.

Os resultados do estudo evidenciam que uma grande parte das empresas cotadas na Euronext Lisboa (77%) apresentam informações ambientais nos seus relatórios anuais e o valor médio do IDA é de 0,40, indicativo de um nível de divulgação razoável, tendo em conta que os aspetos analisados são na sua maioria de relato voluntário.

Relativamente aos fatores explicativos do nível de divulgação, quer da análise univariada quer do modelo de regressão desenvolvido no âmbito da análise multivariada, resultou que o tamanho da empresa e a posse de certificação ambiental são variáveis explicativas do grau de informação apresentada. Os nossos resultados indiciam que a divulgação de informação ambiental é um meio utilizado pelas empresas para legitimar a sua atuação perante os distintos stakeholders.

Palavras-Chave: Divulgação Ambiental; Responsabilidade Ambiental; Relatório e Contas;

Relatórios de Sustentabilidade.

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RESUMEN

La responsabilidad medioambiental es una realidad que se asume en las organizaciones y es vista como una variable muy importante en la gestión global de cualquier actividad económica.

En este sentido, la contabilidad, como el principal sistema de información, tenía que vigilar dicha situación, recopilando y difundiendo los temas ambientales de manera adecuada, a fin de proporcionar información útil y relevante para los diferentes stakeholders.

Hemos definido como los principales objetivos de esta investigación de tesis, el análisis de la amplitud de las prácticas de divulgación medioambiental y la identificación de sus factores determinantes, en una muestra de empresas que cotizan en el Mercado de Euronext Lisboa.

Para recolectar los datos, hemos utilizado la técnica de análisis de contenido de los Informes Anuales y los Informes de Sostenibilidad, para el año 2010, y a través de un Índice de Divulgación Medioambiental (IDMA), basado en las directrices de la Global Reporting Initiative (GRI) y los requisitos la normativa contable nacional (Normativa Contable y de Información Financiera n º 26 - Materias Medioambientales), se ha determinado el nivel de información suministrada.

Respecto a los factores determinantes, y enmarcados en las teorías de la legitimidad y de los stakeholders, tratamos de determinar si algunas características empresariales influyen en el nivel de divulgación sobre la responsabilidad medioambiental, mediante un análisis univariante y multivariante.

Los resultados de nuestro estudio muestran que una gran parte de las empresas que cotizan en Euronext Lisbon (77%) presentan información medioambiental en sus informes anuales y el valor medio del IDMA es de 0,40, lo que indica un nivel de información razonable, considerando que los aspectos analizados son en su mayoría de presentación voluntaria.

En relación a los factores que explican el nivel de divulgación, tanto en del análisis univariante como del modelo de regresión desarrollado en el análisis multivariante, resulta que el tamaño de la empresa y la certificación medioambiental son variables explicativas del grado de divulgación medioambiental. Nuestros resultados sugieren que la difusión de la información medioambiental es un medio utilizado por las empresas para legitimar su actuación frente a los stakeholders.

Palabras-Clave: Divulgación medioambiental; responsabilidad medioambiental; Informes

Anuales; Informes de Sostenibilidad

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ABSTRACT

Environmental responsibility is already a reality in the organizations and it seen as of extreme importance in the overall management of any economic activity. In this sense, accounting, as the main information system, had to accompany this reality, capturing and disseminating environmental issues properly, so as to provide relevant and useful information to different stakeholders.

We have defined, as our main objectives of this research thesis, to analyse of the level of environmental disclosure practices and to identify of their determining factors, having sampled companies listed in Euronext Lisbon stock exchange.

For the collection of data, we have examined the information of content of Annual Reports and Sustainability Reports, for the year 2010 and, through an index of environmental disclosure (IDA), built with support in the guidelines of the Global Reporting Initiative (GRI) and regulatory requirements in national accounting (Accounting Standard Financial Reporting no. 26 -Environmental Matters), we assess the level of information disclosed.

Regarding the determinants of disclosure factors, and having as theoretical framework of theories and Legitimacy of Stakeholders, we have tried to ascertain if certain companies’

characteristics have influenced the level of environmental disclosure, using a multivariate and univariate analysis.

The results of the study show that a large proportion of companies listed on the Euronext Lisbon (77%) present environmental information in their annual reporting and the average value of the IDA is 0.40, indicative of a reasonable disclosure level, taking into account that the aspects analyzed are mostly voluntary reporting.

Explanatory factors in relation to the level of disclosure, either the univariate analysis of regression model developed within the framework of multivariate analysis, resulted in the company's size and ownership of environmental certification are explanatory variables of the degree of environmental disclosure. Our results indicate that the disclosure of environmental information is a medium used by businesses to legitimise their environmental performance to the different stakeholders.

Keywords: Environmental disclosure; Environmental Responsibility; Annual Reports;

Sustainability Reports.

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AGRADECIMENTOS

Ao longo da realização desta dissertação pude contar com o apoio de várias pessoas que, direta, ou indiretamente, contribuíram para que a mesma se concretizasse. A todas elas expresso aqui o meu sincero agradecimento.

Em primeiro lugar, à Professora Doutora Sónia Monteiro e à Mestre Vanda Roque pela orientação, apoio e acompanhamento imprescindíveis para a realização deste trabalho.

Aos colegas de mestrado pelo incentivo, partilha de experiências, carinho e pelos agradáveis momentos proporcionados.

Quero deixar uma palavra de apreço aos meus amigos da Escola Superior de Gestão - Marlene Miranda, Miguel Silva, Kátia Lemos e Ricardo Oliveira - pelo constante apoio e amizade.

Um agradecimento especial à Sara, amiga e companheira nesta luta, sempre presente em todas as etapas, as boas e as menos boas, desta investigação.

À Carminho, manifesto a minha profunda gratidão pela sua colaboração e disponibilidade demonstrada.

Por último, e não menos importante, um obrigado aos meus pais, ao meu irmão e ao Rui, pelo

apoio incondicional, compreensão e paciência.

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ABREVIATURAS E SIGLAS UTILIZADAS CE - Comissão Europeia

CERT - Certificação ambiental

CNC - Comissão de Normalização Contabilística COP - Comunicação do Progresso

DC - Diretriz Contabilística

DRA - Diretriz de Revisão e Auditoria EMAS - European Management Audit System GEE - Gases com efeito de estufa GRI - Global Reporting Initiative

IAASB - International Auditing and Assurance Standards Board IAS - International Accounting Standards

IASB - Internacional Accounting Standard Board

IAPS - Recomendação Internacional de Prática de Auditoria IDA - Índice de divulgação ambiental

IFRIC - International Financial Reporting Interpretations Committee IFRS - International Financial Reporting Standards

IIRC - International Integrated Reporting Committee ISAE - International Standards on Assurance Engagements ISO - International Organization for Standardization IT - Interpretação técnica

NCRF - Norma Contabilidade e Relato Financeiro

NIC - Normas Internacionais de Contabilidade

ONU - Organização das Nações Unidas

POC - Plano Oficial de Contabilidade

RSE - Responsabilidade Social Empresarial

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SET - Setor

SGA - Sistema de Gestão Ambiental SIC - Standard Interpretation Committee

SNC - Sistema de Normalização Contabilística SPSS - Statistical Package for Social Science

TAM - Tamanho UE - União Europeia

UNEP - United Nations Environmental Programme

UNGC - Pacto Global das Nações Unidas

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ÍNDICE GERAL

ÍNDICE DE QUADROS ... X ÍNDICE DE FIGURAS ... X ÍNDICE DE GRÁFICOS... X

INTRODUÇÃO ... 11

CAPÍTULO I – REVISÃO DA LITERATURA ... 13

1. A C ONSCIENCIALIZAÇÃO E R ESPONSABILIDADE A MBIENTAL ... 13

1.1. Emergência da consciencialização ambiental ... 13

1.2. A Responsabilidade e Gestão Ambiental no Contexto Empresarial ... 16

2. O R ELATO DA R ESPONSABILIDADE A MBIENTAL ... 19

2.1. Enquadramento Teórico ... 19

2.1.1. Teoria da Legitimidade ... 20

2.1.2. Teoria dos Stakeholders ... 21

2.2. Enquadramento Normativo ... 22

2.2.1. Regulamentação Contabilística ... 23

2.2.1.1 Normas do International Accounting Standards Board ... 24

2.2.1.2 Recomendação da Comissão das Comunidades Europeias ... 25

2.2.1.3 Norma Contabilística de Relato Financeiro nº 26 ... 26

2.2.2. Princípios e Guias de Orientação... 28

2.2.2.1 Diretrizes da Global Reporting Iniciative ... 28

2.2.2.2 Princípios do Pacto Global das Nações Unidas ... 30

2.3. Apresentação e Divulgação da Informação Ambiental ... 32

2.3.1. Divulgação no Relatório e Contas ... 33

2.3.2. Divulgação no Relatório de Sustentabilidade ... 35

2.3.3. Perspetivas Futuras no Relato Ambiental – O Relato Integrado ... 38

3. A UDITORIA À I NFORMAÇÃO A MBIENTAL D IVULGADA ... 39

3.1. Auditoria ao Relatório e Contas ... 40

3.2. Auditoria ao Relatório de Sustentabilidade... 41

3.2.1. AA1000AS –AccountAbility Assurance Standard... 42

3.2.2. ISAE 3000 - International Standards on Assurance Engagements ... 43

4. R EVISÃO DE ESTUDOS EMPÍRICOS ... 44

4.1. Estudos sobre o relato obrigatório das matérias ambientais ... 44

4.2. Estudos sobre o relato voluntário das matérias ambientais ... 46

4.3. Estudos sobre os determinantes das divulgações ambientais ... 48

CAPÍTULO II – ESTUDO EMPÍRICO ... 56

1. O BJETIVOS DO ESTUDO E HIPÓTESES DE INVESTIGAÇÃO ... 56

2. D ESENHO DA I NVESTIGAÇÃO ... 61

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2.1. Amostra ... 61

2.2 Metodologia de investigação ... 61

2.3. Variáveis ... 66

2.4. Tratamento dos dados e procedimentos estatísticos... 68

3. A NÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ... 69

3.1. Análise Descritiva ... 70

3.1.1. Caracterização da amostra ... 70

3.1.2. Práticas de divulgação ambiental ... 71

3.1.3. Localização da informação ambiental ... 74

3.1.4. Elementos (itens) de Divulgação Ambiental ... 75

3.1.5. Índice de Divulgação Ambiental ... 79

3.2. Fatores determinantes do nível da divulgação ambiental ... 82

3.2.1. Análise Univariada... 82

3.2.2. Análise Multivariada ... 84

CONCLUSÕES ... 89

LIMITAÇÕES E INVESTIGAÇÕES FUTURAS ... 92

APÊNDICES ... 93

A PÊNDICE 1 – C ONTEÚDO PORMENORIZADO DAS DIRETRIZES GRI ... 93

A PÊNDICE 2 – E MPRESAS INTEGRANTES DA AMOSTRA ... 99

A PÊNDICE 3 – D IVULGAÇÃO AMBIENTAL POR CATEGORIAS ... 100

A PÊNDICE 4 – M ODELO DE R EGRESSÃO L INEAR (E MPRESAS D IVULGADORAS ) ... 101

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 102

(11)

ÍNDICE DE QUADROS

Q UADRO 1- O NORMATIVO DO IASB E AS MATÉRIAS AMBIENTAIS ... 24

Q UADRO 2 - S ÍNTESE DO CONTEÚDO DA NCRF Nº 26 ... 27

Q UADRO 3 - P RINCÍPIOS U NIVERSAIS DO UNGC ... 31

Q UADRO 4 - D IVULGAÇÃO AMBIENTAL NO R ELATÓRIO E C ONTAS ... 34

Q UADRO 5 - C ONTEÚDO DO R ELATÓRIO DE S USTENTABILIDADE ... 37

Q UADRO 6- E STUDOS SOBRE OS DETERMINANTES DA DIVULGAÇÃO AMBIENTAL ... 50

Q UADRO 7 – I TENS DO ÍNDICE DE DIVULGAÇÃO AMBIENTAL ... 64

Q UADRO 8 - M ODELO DE R EGRESSÃO L INEAR M ÚLTIPLA ... 69

Q UADRO 9 – C ARACTERIZAÇÃO SUMÁRIA DA AMOSTRA ... 71

Q UADRO 10 - E MPRESAS DIVULGADORAS E NÃO DIVULGADORAS ... 71

Q UADRO 11 - E MPRESAS DIVULGADORAS , POR SETOR DE ATIVIDADE ... 72

Q UADRO 12- C ARACTERIZAÇÃO DAS EMPRESAS DIVULGADORAS ... 73

Q UADRO 13 - R ELATÓRIO APRESENTADO PELAS EMPRESAS DIVULGADORAS ... 74

Q UADRO 14 - L OCALIZAÇÃO DAS INFORMAÇÕES AMBIENTAIS ... 75

Q UADRO 15 – Í NDICES DE DIVULGAÇÃO : ESTATÍSTICAS DESCRITIVAS ( TOTALIDADE DA AMOSTRA ) ... 79

Q UADRO 16 - Í NDICES DE DIVULGAÇÃO : ESTATÍSTICAS DESCRITIVAS ( EMPRESAS DIVULGADORAS – N=37) ... 80

Q UADRO 17- Í NDICE DE D IVULGAÇÃO , POR SETOR DE ATIVIDADE ... 81

Q UADRO 18 - T ESTES À NORMALIDADE DA DISTRIBUIÇÃO DAS VARIÁVEIS ... 82

Q UADRO 19 - R ESULTADOS DOS TESTES DE M ANN W HITNEY ... 83

Q UADRO 20 – R ESULTADOS DO TESTE DE S PEARMAN ... 83

Q UADRO 21 – R ESULTADOS DO TESTE DE R DE P EARSON ... 83

Q UADRO 22 - M ATRIZ DE CORRELAÇÕES ... 84

Q UADRO 23 - E STATÍSTICAS DE MULTICOLINEARIDADE ... 85

Q UADRO 24 – R ESULTADOS DO M ODELO DE R EGRESSÃO L INEAR M ÚLTIPLA ... 85

Q UADRO 25 - R ESULTADOS DA ANOVA ... 86

Q UADRO 26 – S ÍNTESE DOS FATORES EXPLICATIVOS DA DIVULGAÇÃO AMBIENTAL ... 87

ÍNDICE DE FIGURAS F IGURA 1 - V ISÃO GERAL DAS D IRETRIZES DA GRI ... 29

F IGURA 2 - N ÍVEL DE A PLICAÇÃO GRI ... 41

ÍNDICE DE GRÁFICOS G RÁFICO 1- A MOSTRA POR SETORES DE ATIVIDADE ... 70

G RÁFICO 2- I NDICADORES DE D ESEMPENHO A MBIENTAL ... 76

G RÁFICO 3 - I NICIATIVAS INTERNAS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL ... 76

G RÁFICO 4 - C REDIBILIDADE E COMPROMISSOS COM INICIATIVAS EXTERNAS ... 77

G RÁFICO 5 - A SPETOS F INANCEIROS E C ONTABILÍSTICOS ... 78

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INTRODUÇÃO

O agravamento dos problemas ambientais à escala mundial levou a uma crescente consciencialização da necessidade de conciliar desenvolvimento económico e preservação ambiental, no sentido de se alcançar o desenvolvimento sustentável. Como consequência, a legislação ambiental e as exigências dos stakeholders têm vindo a tornar-se cada vez mais rigorosas, obrigando as empresas a uma crescente preocupação e responsabilização com a questão ambiental.

Dada a importância que o ambiente tem vindo a adquirir na gestão global da atividade empresarial e a consciencialização que a sua comunicação é passível de gerar benefícios económicos, tem incentivado as empresas à sua inclusão no sistema de divulgação.

A Contabilidade, enquanto principal sistema de informação e meio de difusão empresarial, tem o desafio de acompanhar esta tendência e ser capaz de captar e divulgar adequadamente informação relacionada com a responsabilidade ambiental das empresas, de modo a proporcionar informação útil e relevante para a tomada de decisão dos diferentes stakeholders.

Neste sentido, é de salientar o trabalho desenvolvido pelos principais organismos de normalização contabilística, que de forma a integrar nos Relatórios e Contas informações da responsabilidade ambiental das empresas, têm procedido à elaboração de normas com exigências ao nível de reconhecimento e divulgação das matérias ambientais.

Paralelamente, algumas organizações internacionais, de destacar a Global Reporting Iniciative (GRI), lançaram importantes iniciativas no sentido de promover e uniformizar a comunicação da sustentabilidade, levando as entidades a produzir relatórios autónomos – relatórios de sustentabilidade -, específicos para as questões sociais e ambientais, que complementam e enriquecem as informações exigidas pelas normas contabilísticas.

Face ao exposto, é objetivo deste estudo investigar as práticas de relato ambiental das empresas a operar em Portugal, cotadas no mercado de cotações oficiais da Euronext Lisboa, e ainda determinar os fatores explicativos do nível de divulgação. Neste sentido, serão analisados os seus Relatórios e Contas e, quando existentes, os Relatórios de Sustentabilidade, do período de 2010.

Para levar a cabo os nossos objetivos estruturamos este trabalho em dois capítulos. O

primeiro capítulo é dedicado à revisão da literatura e o segundo dedidacado ao estudo

empírico.

(13)

No primeiro capítulo, e de forma a contextualizar os objetivos mencionados, começamos por apresentar uma breve referência aos marcos históricos em torno da responsabilidade ambiental e a consequente inclusão no seio das empresas. Neste ponto apresentamos um resumo de algumas iniciativas, a nível mundial, em prol da sustentabilidade do planeta focando os seus principais resultados e medidas alcançadas. Será ainda analisado o comportamento das empresas face à responsabilidade ambiental, bem como os mecanismos, designadamente os Sistemas de Gestão Ambiental, ao dispor das organizações para incorporar estas questões na sua estratégia empresarial.

O segundo ponto deste capítulo é dedicado ao relato acerca da responsabilidade ambiental, ou seja, à inclusão da variável ambiente no sistema de informação empresarial, de forma a prestar a informação completa, relevante e útil aos diferentes utilizadores da informação. Neste âmbito, serão, por um lado, apresentadas algumas teorias explicativas para a prática de divulgação das questões ambientais; por outro lado, é apresentado o panorama normativo aplicável nestas matérias, quer a regulação contabilística de cariz obrigatório, quer os princípios e diretrizes de orientação, de implementação voluntária. Serão também analisados os meios documentais, atualmente ao dispor das entidades, para integrarem estas informações ambientais, e ainda serão apresentadas as perspetivas futuras do relato das questões relacionadas com a sustentabilidade - o relato integrado.

Num terceiro ponto, são abordados os procedimentos de auditoria a efetuar, tanto às informações divulgadas nos relatórios e contas bem como nos relatórios de sustentabilidade, onde serão focados os normativos e mecanismos que regulam este processo de verificação.

Na quarta, e última secção deste capítulo, efetuar-se-á uma revisão de estudos empíricos sobre a divulgação ambiental, de modo a poder confrontar os resultados com os do nosso estudo.

O segundo capítulo é dedicado ao estudo empírico, onde começamos por apresentar o objetivo e as hipóteses da investigação, tomando como quadro de referência as teorias da Legitimidade e dos Stakeholders. Ao nível do desenho da investigação, é apresentada a amostra selecionada, a metodologia e o modelo desenvolvido, bem como a operacionalização das variáveis. O estudo empírico finaliza com uma análise e discussão dos resultados.

Este trabalho termina apresentando as principais conclusões e limitações do estudo,

apontando também algumas sugestões para investigação futura.

(14)

CAPÍTULO I – REVISÃO DA LITERATURA

1. A Consciencialização e Responsabilidade Ambiental

A crescente pressão externa para o desenvolvimento de uma atuação compatível com o desenvolvimento sustentável tem motivado uma maior consciencialização por parte das instituições, organismos e entidades, públicas e privadas. Por conseguinte, as empresas, enquanto principais fontes de contaminação, começaram a considerar as repercussões ambientais da sua atividade e a assumir a quota parte de responsabilidade na redução dos impactos negativos derivados da sua atuação.

Se para algumas empresas a assunção de uma responsabilidade ambiental representa unicamente um imperativo legal; para um número cada vez maior de empresas uma atuação favorável à proteção do ambiente é vista como uma fonte de vantagens competitivas.

Analisamos neste ponto, as principais iniciativas desenvolvidas em prol de uma maior consciencialização e responsabilização ambiental e a sua repercussão na gestão empresarial.

1.1. Emergência da consciencialização ambiental

A utilização excessiva dos recursos naturais, o aumento dos níveis de poluição - agravados pelo acentuado crescimento demográfico - e a crescente ocorrência de desastres ambientais, ligados às alterações climáticas, têm vindo a despertar ao longo dos anos uma maior consciencialização para a necessidade de preservar o meio ambiente.

A consciencialização ambiental é um primeiro passo no caminho de uma procura de soluções para os problemas ambientais, onde todos (instituições, empresas, Administração Pública e cidadãos) têm um papel a cumprir na resolução desses problemas. Embora seja um processo lento, a consciencialização ecológica envolve a mobilização mundial de organismos em defesa das questões ambientais, tendo as últimas décadas sido marcadas por várias iniciativas em prol do ambiente.

Os desafios são imensos e passam por reduzir as emissões de CO2, controlar a quantidade da chuva, a velocidade do degelo, proteger a biodiversidade restaurando ecossistemas em declínio em todo o mundo como as florestas, os rios, os oceanos.

A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, realizada em 1972, em Estocolmo,

marcou a 1ª etapa dos debates ambientais, a nível mundial, e colocou na agenda dos governos

dos países de todo o mundo, o compromisso com o ambiente. É de destacar, como principais

(15)

resultados desta conferência, a prolificação de um Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP) e criação da Comissão Mundial do Ambiente e Desenvolvimento (WCED) 1 , cujo central objetivo era desenvolver uma publicação, aludindo aos principais problemas ambientais que colocam em risco a vida do nosso planeta bem como a atuação no sentido de os minimizar.

Esta publicação, desenvolvida pela WCED, foi oficialmente lançada em 1987, através de um relatório intitulado de “Nosso Futuro Comum”, também conhecido pelo Relatório Brundtland, que para além de alarmar da situação catastrófica do planeta, introduziu o conceito de desenvolvimento sustentável, mais conhecido e citado de sempre: “desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras satisfazerem as suas próprias necessidades”.

Outra iniciativa mundial, marcada por factos de elevada relevância em termos de ambiental, foi a Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente e Desenvolvimento (ECO-92 ou Cimeira da Terra), realizada no Rio de Janeiro em 1992. Nesta cimeira procurou-se estabelecer uma nova e equitativa aliança mundial através da criação de ações de cooperação internacionais para deter a degradação ambiental e promover o desenvolvimento sustentável.

Emergiram da ECO 92 documentos considerados estruturantes e significativos na abordagem aos problemas ambientais, à escala global, nacional e local, nomeadamente: a Agenda 21, a Declaração do Rio sobre Ambiente e Desenvolvimento e a Declaração dos Princípios para uma Floresta Sustentável e ainda Convenção Quadro das Nações Unidas para as Alterações Climáticas.

A Cimeira Social de Copenhaga, realizada em 1995, ficou conhecida por integrar a vertente social no conceito de desenvolvimento sustentável. Ao desenvolvimento económico e a proteção do ambiente, juntou-se um terceiro pilar - a coesão social. Assim, embora o desenvolvimento sustentável tivesse mantido o mesmo desígnio global, a sua implementação é realizada com base em três dimensões essenciais: o desenvolvimento económico, a coesão social e a proteção do ambiente.

Passados 5 anos da ECO92, em 1997, na 1ª sessão de acompanhamento da Cimeira da Terra, constatou-se que o ambiente continuava a degradar-se. Os vários Estados assumiram um compromisso de preparar políticas e estratégias nacionais em prol da sustentabilidade. O programa para a implementação da Agenda 21 aponta o ano de 2002 como data limite para as

1 Do original World Commission on Environment and Development.

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diversas administrações formularem e salientarem as suas Estratégias de Desenvolvimento Sustentável. No âmbito desta sessão, foi ainda discutido e negociado o Protocolo de Quioto, no sentido de fixar metas para a diminuição da emissão de gases nocivos ao ambiente, o qual veio a entrar em vigor no ano de 2005.

Em 2002, durante a Cimeira Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável - Cimeira de Joanesburgo -, que reuniu líderes de vários países, foram apresentadas estratégias para identificar metas quantificáveis que possibilitem a implementação da Agenda 21 pelos governos, de forma eficaz e com resultados visíveis.

Com o objetivo de encontrar soluções para as mudanças climáticas, realizou-se em 2009 a Cimeira de Copenhaga onde 192 países tentaram chegar a um protocolo que substituísse o protocolo de Quioto e à negociação de novos tetos para as emissões de gases com efeito de estufa. Todavia, a cimeira de Copenhaga terminou com um acordo muito longe do que se ambicionava. Ao invés de um novo tratado contra o aquecimento global, legalmente vinculativo e adotado por todos os países da Organização das Nações Unidas (ONU), tudo o que emergiu do encontro foi um acordo voluntário, para já subscrito por algumas nações.

Mais recentemente, realizou-se a Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável Rio+20. As Nações Unidas destacam o sucesso alcançado, enquanto que os ambientalistas criticam um acordo sem ambição. Tal como na cimeira de há 20 anos, só o tempo poderá dizer se a Rio+20 foi ou não um sucesso.

Ao nível internacional, e sob a alçada da ONU, permanecem os encontros e as discussões no âmbito da proteção do ambiental. Atualmente, o debate é ainda mais relevante e extravasa as questões ambientais, focando-se em todas as vertentes da sustentabilidade: a vertente económica, a ambiental e a social.

A União Europeia (UE) tem acompanhado estas iniciativas mundiais, na persecução do

desenvolvimento sustentável, assumindo as preocupações ao nível do ambiente um papel

importante na sua agenda política. Neste sentido, tem-se constatado a criação, por parte da

UE, de uma forte legislação ambiental, sendo de destacar, desde 2001, a criação e sistemática

atualização da Estratégia da UE para o Desenvolvimento Sustentável (EDS). Vários Estados-

Membros, incluindo Portugal, apresentaram as suas estratégias nacionais para o

desenvolvimento sustentável para a década de 2005-2015, e encontram-se comprometidos

com todos estes tratados e políticas desenvolvidas ao nível mundial e comunitário.

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1.2. A Responsabilidade e Gestão Ambiental no Contexto Empresarial

No processo de consciencialização ambiental, as empresas, enquanto principais fontes de contaminação, não podem ficar indiferentes, devendo assumir um papel ativo na preservação do ambiente. Os movimentos de proteção ambiental desenvolvidos em todo o mundo, a crescente pressão das organizações não-governamentais ambientalistas, a pressão dos consumidores, que cada vez mais procuram produtos “amigos do ambiente” e as imposições normativas conduzem as empresas a assumir uma postura mais responsável e a conferir às questões ambientais um papel de destaque na gestão global da sua atividade.

No seio da UE cabe realçar o Livro Branco sobre Responsabilidade Ambiental, da Comissão das Comunidades Europeias (CCE, 2000), para estabelecer a estrutura de um futuro regime comunitário de responsabilidade ambiental, cuja finalidade era melhorar a aplicação dos princípios ambientais consagrados no Tratado da UE, em particular, o princípio “quem contamina paga” 2 . A Comissão concluiu que o instrumento mais eficaz para implementar os princípios e a legislação ambiental da UE seria a criação de uma Diretiva em matéria de responsabilidade ambiental. Deste modo, garantia-se uma aplicação coerente do sistema em toda a UE, através da supervisão do direito comunitário por parte da Comissão e da jurisprudência do Tribunal de Justiça das Comunidades Europeias (Monteiro, 2006). É neste contexto que é criada a Diretiva de Responsabilidade Ambiental (Diretiva 2004/35/CE de 21/04).

Portugal, enquanto estado membro da UE e da ONU, encontra-se comprometido com os tratados e políticas destas instituições o que faz com que integre estas matérias nas suas políticas públicas internas. Deste modo, o Decreto-Lei n.º 147/2008, 29 de Julho, transpõe para o ordenamento jurídico português a referida Diretiva europeia relativa à responsabilidade ambiental em termos de prevenção e reparação de danos ambientais. O novo regime de responsabilidade ambiental alicerça-se num quadro legal orientado para a aplicação direta do

“Princípio do Poluidor-Pagador”, preconizando a responsabilização financeira do operador cuja atividade tenha causado danos ambientais 3 .

Neste sentido, as empresas, para além da sua atuação no sentido de melhorar a sua performance económico-financeira e de criar riqueza para o acionista, tendem a atuar de acordo com

2 Mecanismo de Direito do Ambiente que impõe aos poluidores obrigações sob a forma de normas e/ou taxas, mediante os danos causados no ambiente.

3 Neste contexto, foi criada uma Comissão Permanente de Acompanhamento para a Responsabilidade Ambiental, tendo

como objetivo estabelecer mecanismos de articulação expeditos e auxiliara a Agência Portuguesa do Ambiente na tomada de

decisões, através da cooperação técnica e partilha de informação entre as várias entidades representadas, sempre que esteja em

causa um dano ambiental ou ameaça iminente desse dano.

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preocupações sociais e ambientais, conduzindo à emergência e à proeminência de um novo conceito – a Responsabilidade Social Empresarial (RSE) 4 – associado a uma boa performance financeira, social e ambiental.

Contrariamente à corrente de pensamento tradicional, para a corrente contemporânea os gastos com iniciativas de RSE são entendidos, não como um custo, mas como um investimento capaz de gerar benefícios a curto, médio e longo prazo, na medida em que, ao mesmo tempo que reduz os riscos de danos à natureza, elimina desperdícios e proporciona às entidades uma fonte de vantagens competitivas, atraindo clientes, trabalhadores e investidores.

Esta fonte de vantagens competitivas prende-se com o facto de, cada vez mais, os clientes, os consumidores e até os fornecedores, procurarem empresas com políticas voltadas para a preservação do meio ambiente e para um desenvolvimento sustentável, para estabelecer as suas ligações comerciais.

Por outro lado, os mercados financeiros valorizam cada vez mais estas matérias, sendo crescente o surgimento de índices bolsistas, impondo às empresas cotadas o cumprimento de um leque de requisitos nas áreas ambientais, sociais e de governance. Cabe destacar, o Dow Jones Sustainability Index (DJSI), que surgiu em 1999 nos Estados Unidos, e o FTSE4GOOD, criado em 2001, no Reino Unido. Atualmente estes índices constituem benchmarks de referência, uma vez que as empresas que neles são cotadas conseguem responder a um conjunto que critérios exigentes, que variam ao longo dos anos, de forma a acompanhar as expectativas da sociedade e dos demais stakeholders (Sustentare, 2008).

Pode dizer-se que a RSE é já uma realidade assumida pelos diversos intervenientes na gestão e análise empresarial, sendo considerada como de extrema relevância para a competitividade e sobrevivência das empresas.

Uma das ferramentas ideais para fazer com que as empresas priorizem as políticas ambientais e integrem uma abordagem planeada, coordenada e organizada para a gestão dos efeitos das suas atividades sobre o meio ambiente são os Sistemas de Gestão Ambiental (SGA). Os SGA repercutem-se na introdução de mecanismos de gestão destinados a controlar e a minimizar os impactos ambientais significativos dos produtos e serviços e melhorar o desenvolvimento económico global da organização.

4 A Comissão Europeia (CE) define a RSE como a “integração voluntária de preocupações sociais e ambientais por parte das

empresas nas suas operações e na sua interação com outras partes interessadas” (CE, 2001, pp. 4). De igual modo, a Asociação

Española de Contabilidad y Administración de Empresas (AECA, 2004) refere que o conceito de Responsabilidade Social

Corporativa está intrinsecamente vinculado ao conceito de desenvolvimento sustentávele, contemplando o impacto da acção

empresarial numa tripla dimensão: económica, social e ambiental

(19)

A implementação voluntária de um SGA está associada à publicação de normas e regulamentos que definem requisitos, sugestões e referências ao nível da política ambiental, de modo a que as entidades incluam a variável ambiente no seu sistema de gestão global e obtenham uma certificação e validação externa do seu SGA.

As normas de SGA com maior reconhecimento e com maior número de entidades aderentes são as normas da série da International Organization for Standardization (ISO) 14000 e o Sistema Comunitário de Ecogestão e Auditoria (EMAS) 5 .

A série ISO 14000 é uma série de normas relacionadas especificamente com o SGA e com ferramentas de apoio à gestão ambiental, designadamente: auditorias ao SGA; avaliação do desempenho ambiental; análise do ciclo de vida dos produtos e rótulos e declarações ambientais. No âmbito desta série, é a norma ISO 14001 que estabelece as especificações e linhas de orientação para a aplicação de SGA, com a finalidade global de apoiar a proteção ambiental e a prevenção da poluição, em equilíbrio com as necessidades socioeconómicas (NP EN ISO 14001, 2004).

Quanto ao EMAS, estabelecido pelo Regulamento CEE n.º 1836/93 de 29 de Junho, trata-se de um sistema cujo objetivo é a promoção da gestão e melhoria do desempenho ambiental das organizações. Aquando da sua adoção, em 1993, apenas permitia a participação voluntária às empresas que desenvolvessem atividades industriais, no entanto, na sequência da sua revisão, surgiu o EMAS II (regulamento CE n.º 761/2001, de 24 de Abril) alargando a participação voluntária a todos os setores de atividade. No contorno desta reformulação, outros elementos do regulamento foram revistos, com vista a reforçar a posição do EMAS e promover a sua escolha pelas organizações.

Nos últimos anos, o número de empresas (incluindo as portuguesas) com sistemas de gestão ambiental certificados pela ISO 14001 ou registados no EMAS, tem vindo a crescer, muito em resultado do reconhecimento dos benefícios alcançados com a sua implementação. Até o final de dezembro de 2010, mais de 250.000 certificados ISO 14001:2004 foram emitidos em 155 países e economias, representando um crescimento de 12% face a 2009. A China; Japão e Espanha estão no top dos países com um maior número de certificados (ISO, 2010). No que respeita ao EMAS, em março de 2012, havia mais de 8.000 unidades fabris, em mais de 4.500 organizações, registadas segundo os requisitos do EMAS (ww.emas.org).

5 Do original European Management Audit System

(20)

2. O Relato da Responsabilidade Ambiental

A postura das organizações em torno da RSE e a importância destas questões na sua atividade global, faz com que as empresas acrescentam no seu sistema de informação a sua atuação ambiental e social, de modo a dar a conhecer o seu desempenho a todos os níveis.

Tem-se, efetivamente, constatado um aumento no número de empresas que divulgam informação ambiental, integrando-a tanto nos Relatório e Contas anuais, como em relatórios autónomos de elaboração voluntária, destinados exclusivamente às questões da sustentabilidade empresarial.

É no relato ambiental que nos iremos focar nos próximos pontos do presente capítulo, nomeadamente nas teorias explicativas das práticas de divulgação ambiental, nas normas e princípios reguladores dessas divulgações e os principais meios adotadas pelas entidades para a apresentação dessa informação. Serão ainda apresentadas as perspetivas futuras no âmbito desta temática, na sequência dos trabalhos que, atualmente, estão a ser desenvolvidos pelos principais organismos normalizadores do relato empresarial.

2.1. Enquadramento Teórico

Várias têm sido as teorias que procuram explicar o fenómeno de divulgação social e ambiental por parte das empresas, já que, apesar de já existir, em alguns países, a obrigatoriedade de comunicar certas questões ambientais, o seu relato é na sua maioria de cariz voluntário.

Todavia, não foi, ainda, possível identificar uma única teoria que justifique e explique por si só, os motivos que levam as empresas a divulgar determinado tipo de informação. Há sim várias teorias que se complementam.

Há autores tentam explicar estas motivações recorrendo a teorias de natureza económica,

entre as quais se destacam a Teoria Positiva da Contabilidade, a Teoria da Sinalização e a

Teoria da Agência, que consideram que o objetivo principal das informações divulgadas é

fornecer dados úteis aos acionistas e ao mercado de capitais. Nestes casos as justificações são

apoiadas em aspetos meramente económicos. Por outro lado, há investigadores que recorrem

a teorias políticas e sociais, tais como a Teoria da Legitimidade e a Teoria dos Stakeholders, que

se baseiam em argumentos sociais para explicar as divulgações e consideram existir uma

pluralidade de utilizadores das informações empresariais.

(21)

As teorias que melhor explicam e interpretam o relato da responsabilidade social e ambiental são aquelas que tiveram as suas raízes nas teorias políticas sociais, nomeadamente:

Teoria da Legitimidade e a Teoria dos Stakeholders. De seguida apresentaremos os principais contributos de cada uma destas teorias para a explicação das motivações do relato das questões ambientais.

2.1.1. Teoria da Legitimidade

A Teoria de Legitimidade é vista como uma das teorias que melhor explica a divulgação de informações sociais e ambientais (Monteiro, 2006). À luz desta teoria, as informações publicadas são uma estratégia utilizada pelas empresas para obter, por parte da sociedade, aceitação, aprovação e, consequentemente, legitimação. Estas entidades divulgam informação sobre a sua atuação ambiental com o objetivo de apresentarem uma imagem socialmente responsável que legitime o seu comportamento junto dos stakeholders.

A Teoria de Legitimidade assenta no pressuposto da existência de um “contrato social” entre as empresas e a sociedade, no qual a sociedade concede às empresas a garantia da sua sobrevivência, em troca de ações socialmente responsáveis por parte destas, correspondentes às suas expectativas. Deste modo, as organizações deverão constantemente certificar-se de que as suas atividades são aceites e estão em conformidade com os objetivos, as normas e os valores da sociedade, de forma a evitar o rompimento do contrato, colocando em risco a sua legitimidade (Watson et al., 2002; Branco e Rodrigues, 2006).

De acordo com Dowling e Pfeffer (1975), a organização desencadeará diversas ações para assegurar que as suas operações são percebidas como legítimas, sendo uma das principais a divulgação pública de informação.

Como as expectativas das comunidades mudam, as organizações devem adaptar-se e mudar, e, mais importante, devem comunicar essas alterações, desenvolvendo estratégias de informação consoante a crise de legitimidade que enfrentam no momento (Suchman, 1995; Tilling, 2004).

A intensidade e as estratégias de divulgação variam conforme a gestão pretenda aumentar, manter ou obter a legitimidade (Gray et al. 1995; O’Donovan, 2002).

A Teoria da Legitimidade advoga que as organizações apenas podem continuar a existir se a

sociedade onde se inserem entender que a organização está a operar sob um sistema de valores

que seja consentâneo com os próprios valores do sistema da sociedade (Gray et al. 1996). Esta

teoria baseia-se na ideia de que para continuar a atuar com êxito, as empresas devem agir

(22)

dentro dos limites daquilo que a sociedade identifica como um comportamento social e ambientalmente aceitável, que só consegue identificar e avaliar com a divulgação dessas informações, por parte das empresas.

2.1.2. Teoria dos Stakeholders

A Teoria dos Stakeholders trata de analisar os comportamentos e atuações adotados pelas organizações, em resposta às influências exteriores exercidas por distintos grupos de interesse, observando a definição da estratégia ambiental da empresa. Por conseguinte, o seu comportamento ambiental não depende exclusivamente de um ato voluntário da gestão mas, também é resultado de uma intenção consciente de satisfazer ou responder aos interesses das partes interessadas (Déniz Mayor e Pérez Alemán, 2003).

Neste sentido, alguns autores consideram que o enfoque dos stakeholders constituiu uma aproximação viável para tentar explicar o comportamento ambiental das empresas, sugerindo que o desenvolvimento de uma reputação corporativa como organização social e ambientalmente responsável, através de atividades de desempenho e revelação/divulgação de responsabilidade social e ambiental, deve fazer parte de um plano estratégico para gerir as relações com os stakeholders (Roberts, 1992).

A Teoria dos Stakeholders considera que as informações divulgadas pelas entidades não têm apenas como público-alvo investidores e acionistas, como defendido pelas teorias clássicas, mas sim uma multiplicidade de utilizadores das informações empresariais. Tal pressuposto também é assumido pela teoria da legitimidade. No entanto, enquanto a Teoria da Legitimidade atribui grande importância à sociedade em geral, a Teoria dos Stakeholders, distingue os diferentes grupos dentro da sociedade. Assume-se que, para além dos acionistas, existem outros grupos interessados na atuação das empresas e com os quais os gestores se devem preocupar de forma a obter o seu apoio e aprovação.

Deegan (2002) aponta dois ramos distintos desta teoria: o ramo ético e o ramo diretivo. O

ramo ético (ou normativo) defende que as organizações devem tratar os respetivos grupos de

stakeholders numa base democrática e de igualdade, sendo responsável perante todos eles na

divulgação de informação social e ambiental (Hill e Jones, 1992). Por outro lado, o ramo

diretivo (ou positivo), e o que mais tem permitido o desenvolvimento teórico sobre a

responsabilidade social, assume que a empresa tem necessidade de gerir em particular alguns

grupos de stakeholders, diferenciando-os de acordo com o seu poder ou influência sobre a

(23)

empresa, sendo as informações socias e ambientais divulgadas estrategicamente, tendo em consideração esses níveis de relação (Roberts,1992).

Neste sentido, Clarkson (1995), defende uma distinção dos diferentes stakeholders, em primários e secundários. Este autor considera como stakeholders primários, aqueles de que cuja participação, apoio e ligação depende a própria sobrevivência da organização. São geralmente considerados stakeholders primários os acionistas, empregados, fornecedores e clientes. Há uma enorme interdependência entre a organização e este grupo de stakeholders, na medida em que, se algum destes se encontrar descontente com as ações, valores e atitudes da entidade, esta poderá ficar prejudicada ou até impossibilitada de continuar com o seu negócio. Por sua vez, os stakeholders secundários não são essenciais para a continuidade e sobrevivência da organização, todavia influenciam ou são influenciados pela entidade e devem, segundo Harte e Owen (2001), ser geridas as suas necessidades.

Esta teoria tem permitido interpretar a divulgação de informação social e ambiental como indicativa da importância que é atribuída a cada grupo de stakeholders, sendo uma das que mais tem contribuído para o desenvolvimento teórico da RSE (Gray et al., 1996).

2.2. Enquadramento Normativo

Hoje, as empresas são chamadas a prestar contas não só aos investidores e aos credores, mas também a um conjunto de stakeholders (comunicação social, ambientalistas, trabalhadores, fornecedores, clientes) espalhados pelo mundo, os quais exigem informações que lhe possibilitem comparações quer no tempo quer no espaço.

Muitos esforços têm sido desenvolvidos para que a divulgação de informação, em matéria de ambiente, seja relevante, fidedigna, comparável e represente verdadeiramente a atuação e desempenho da organização, pois só assim as informações serão úteis aos utilizadores. Isto só é possível quando existem normativos específicos destinados a regular e a uniformizar estas questões.

Neste sentido, é de salientar o trabalho realizado pelos organismos de regulamentação contabilística, ao criar normas e impor exigências ao nível do reconhecimento e divulgação das matérias ambientais, bem como normas de auditoria que asseguram a fiabilidade das informações divulgadas.

Por outro lado, as diretrizes e guias de orientação, desenvolvidas por entidades não-

governamentais, são também iniciativas importantes que fomentam o relato da

(24)

sustentabilidade, proporcionando a harmonização das informações divulgadas e, ainda, são um meio de complementar e enriquecer as informações exigidas pelas normas contabilísticas.

Podemos assim dividir estes normativos em duas vertentes, os de carácter legal, cuja aplicação é obrigatória, e os de adoção facultativa, com exigências de divulgação meramente voluntárias.

Nos primeiros enquadra-se a regulamentação contabilística, nomeadamente normas de relato financeiro, a adotar nos tradicionais e obrigatórios documentos de prestação de contas. Os segundos dizem respeito a propostas e diretrizes orientadoras da elaboração de relatórios autónomos, tal como os relatórios de sustentabilidade. Vejamos nos próximos pontos, em maior detalhe, estas duas abordagens normativas.

2.2.1. Regulamentação Contabilística

A crescente consciencialização e preocupação, por parte setor empresarial pelas questões ambientais, ocorrido nas últimas décadas, levaram a Contabilidade, enquanto principal sistema de informação, a acompanhar essa tendência.

Os diversos organismos de normalização contabilística, têm trabalhado no sentido de integrar nos relatórios e contas informações relativas à responsabilidade ambiental das empresas, seja através da criação de normas específicas para matérias ambientais, seja através de disposições dispersas em diferentes normativos.

Diversas são já as normas contabilísticas, a nível internacional, europeu e nacional, que demonstram a necessidade de integração da variável ambiente no sistema de informação contabilístico, de modo a refletir o seu impacto na posição económico-financeira das entidades. A nível internacional destacam-se algumas normas do IASB, que remetem para algumas questões contabilísticas relacionadas com o ambiente; a nível europeu salientamos a Recomendação da Comissão Europeia de 30 de maio de 2001, e a nível nacional a Norma Contabilística e de Relato Financeira n.º 26 – Matérias Ambientais.

Estes normativos dedicam-se mais especificamente ao reconhecimento, apresentação e

divulgação de informações de carácter ambiental no relatório e contas das empresas, ou seja,

focam as questões financeiras das matérias ambientais e incluídas na prestação de contas de

carater obrigatório.

(25)

2.2.1.1 Normas do International Accounting Standards Board

O IASB é um organismo privado cujo objetivo é desenvolver um conjunto de normas contabilísticas e de relato financeiro, de elevada qualidade, onde se enquadram as IAS (Internacional Accounting Standards ) e as IFRS (Internacional Financial Reporting Standards), e ainda as interpretações técnicas, nomeadamente, as SIC (Standard Interpretation Committee) e as IFRIC (International Financial Reporting Interpretations Committee).

Cumpre destacar que, por força do regulamento 1606/2002/CE, de 19 de julho, as normas do IASB são de aplicação obrigatória, desde 2005, para as sociedades com valores admitidos à negociação em mercado regulamentado, no seio da UE e que elaborem contas consolidadas 6 , estando muitas empresas portuguesas sob a alçada deste normativo.

A filosofia do quadro normativo do IASB é de que os relatórios e contas são o instrumento base de informação ao shareholder e que as questões ambientais não se diferenciam das restantes temáticas, daí não dispor de qualquer norma contabilística internacional que vise exclusivamente as matérias ambientais. Porém, dispõe de disposições e princípios contabilísticos aplicáveis a estas questões que se encontram dispersos em várias normas cujo conteúdo, relativamente às matérias ambientais, se descreve no quadro abaixo:

Quadro 1: O normativo do IASB e as matérias ambientais O normativo do IASB e as matérias ambientais

Norma Conteúdo

NIC 1 – Apresentação de Demonstrações Financeiras

Faz referência à elaboração de um relatório autónomo, como por exemplo, um Relatório Ambiental

NIC 12 – Imposto sobre os Lucros Refere uma conta para multas por contaminação ambiental NIC 16 – Ativos Fixos Tangíveis Refere o reconhecimento de ativos adquiridos por razões ambientais NIC 20 – Contabilização dos subsídios do

governo e divulgação do auxílio do governo

Refere que as licenças de emissão de CO2 não devem ser, quando atribuídas gratuitamente, no momento da receção geradoras de qualquer ativo

NIC 34 – Relato Financeiro Intercalar No seu apêndice C, prevê o uso de estimativas, para a provisão para gastos ambientais e custo de restauro de locais

NIC 36 – Imparidade de Ativos Faz referência a perdas de valor de ativos por razões ambientais NIC 37 – Provisões, Passivos Contingentes

e Ativos Contingentes

Prevê o reconhecimento como provisões as obrigações resultantes de acontecimentos passados, apresentando como exemplo gastos de limpeza de danos ambientais ilegais

NIC 38 – Ativos Intangíveis A empresa pode possuir ativos intangíveis de carácter ambiental

(Fonte: Adaptado de Eugénio, 2004)

(26)

É de salientar que, no âmbito da temática ambiental o IASB emitiu uma interpretação técnica para a contabilização das licenças de emissão de gases com efeito de estufa, a IFRIC 3 – Direitos de Emissão. Esta interpretação entrou em vigor em 2004, especificamente para as entidades abrangidas em programas governamentais com o objetivo de reduzir a emissão de gases com efeito de estufa, designadamente o Protocolo de Quioto. No entanto, em resultado de enormes críticas, alusivas à sua falta de qualidade e falta de fiabilidade, o European Financial Reporting Advisory Group (EFRAG) mostrou-se reticente quanto à sua aplicação na UE, pelo que foi retirada do normativo do IASB em 2005.

2.2.1.2 Recomendação da Comissão das Comunidades Europeias

Com o objetivo de fazer face à ausência de normativos contabilísticos ambientais a nível europeu e à necessidade de uma maior harmonização da divulgação das questões ambientais na prestação de contas das empresas, a Comissão Europeia, publicou, em Maio de 2001, a Recomendação 2001/453/CE.

Esta recomendação define, detalhadamente, as regras e linhas de orientação relativamente ao reconhecimento, mensuração, apresentação e divulgação das matérias ambientais nas contas anuais e relatórios de gestão das sociedades, de forma a melhorar a amplitude dessas informações e assegurar sua fiabilidade, transparência e comparabilidade.

Este diploma tomou como referência as disposições e aspetos espalhados por diversas IAS, e deveria ser transposto para o normativo nacional dos estados membros, ainda que com carácter facultativo. No entanto, segundo um estudo da PriceWaterHous Coopers (2004), muitos foram os países que ignoram por completo este instrumento da UE, sendo que apenas alguns países introduziram alguns dos elementos da recomendação nos seus normativos contabilísticos (tais como Dinamarca, e Finlândia). De acordo com um questionário efetuado por Barros (2011), apenas Espanha e Portugal acolheram de forma completa as disposições da recomendação na sua regulamentação contabilística interna, através da criação de uma norma contabilística específica de carácter obrigatório sobre as questões ambientais.

Não obstante, nos restantes estados membros há um claro cumprimento da Diretiva 2003/51/CE do Parlamento Europeu e do Conselho de 18 de Junho de 2003, que entre outros aspetos, passou a exigir a divulgação de informação de carácter social nas contas anuais

6 Este diploma previa a possibilidade dos Estados-Membros exigirem ou facultarem a adoção das referidas normas a outras

entidades que elaborem contas consolidadas ou a entidades integrantes do perímetro de consolidação. No caso português essa

(27)

das sociedades europeias abrangidas pelas IV e VII diretivas comunitárias, em particular no relatório de gestão (Barros, 2011).

2.2.1.3 Norma Contabilística de Relato Financeiro nº 26

No âmbito da regulamentação contabilística nacional, o diploma atualmente em vigor é a NCRF nº 26 – Matérias Ambientais, substituta da antecessora diretriz contabilística (DC) nº 29, com a mesma designação.

A DC nº 29 significou um importante passo em termos de normalização, no que respeita ao reconhecimento, valorimetria e divulgação de informação ambiental sendo a recomendação da Comissão das Comunidades Europeias 2001/453/CE a grande propulsora da introdução deste normativo em Portugal.

Esta diretriz transpôs para o quadro contabilístico português os preceitos da recomendação comunitária, com obrigatoriedade de aplicação a todas entidades sujeitas ao Plano Oficial de Contabilidade (POC), a partir de 2006.

Com a entrada em vigor, em 2010, do Sistema de Normalização Contabilístico (SNC), a DC nº29 deixou de produzir efeitos, na sequência da revogação do POC e de toda a legislação complementar. O SNC é um normativo baseado no quadro anglo-saxónico do IASB, no entanto a NCRF nº26 é a única norma que não tem correspondência com nenhuma IAS ou IFRS, uma vez que não é mais do que uma adaptação da DC nº29, que acolheu a Recomendação Europeia.

O conteúdo da NCRF nº 26, em tudo semelhante à sua antecessora, encontra-se dividido em sete pontos essenciais: objetivo, âmbito, definições, reconhecimento, mensuração, apresentação e divulgação e data de eficácia. A referida norma contém ainda um apêndice, relativo à contabilização das licenças de emissão de CO2, cuja regulamentação, no âmbito do POC, estava prevista pela Interpretação Técnica (IT) 4 – Direitos de Emissão de Gases com efeito de estufa.

No quadro 3, apresentam-se de forma resumida os principais aspetos preconizados por esta norma.

permissão estava prevista pelo Decreto-Lei n.º 35/2005, de 17 de Fevereiro.

(28)

Quadro 2 - Síntese do conteúdo da NCRF nº 26

Fonte: Adaptado de Pires, 2009

7 As informações a divulgar no Relatório de Gestão e no Anexo serão desenvolvidas no ponto 2.3, no âmbito da apresentação e divulgação da informação ambiental no Relatório e Contas.

Conteúdo da NCRF nº 26

Objetivo (§§ 1 e 2)

Prescrever os critérios para o reconhecimento, mensuração e divulgação relativos aos dispêndios de carácter ambiental, aos passivos e riscos ambientais e aos activos com eles relacionados resultantes de transacções e acontecimentos que afectem, ou sejam susceptíveis de afectar, a posição financeira e os resultados da entidade relatada.

Âmbito (§§ 3 e 4)

Aplicação às informações a prestar nas demonstrações financeiras e no relatório de gestão das entidades, devendo os critérios de reconhecimento e mensuração ser aplicados de forma consistente a todas as entidades que sejam objeto de consolidação.

Definições (§§ 5 a 11)

Carácter genérico São apresentadas definições de ativo contingente, passivo contingente; obrigação construtiva, e outras.

São definidos conceitos como ambiente, dispêndios de carácter ambiental.

Carácter específico

Reconhecimento (§§ 12 a 31)

Passivos de carácter ambiental

Reconhecimento de passivos sempre que ocorra uma obrigação legal ou construtiva relativa a danos ambientais.

Reconhecimento de ativos e passivos com base em estimativas fiáveis.

Em caso de estimativas não fiáveis, apenas proceder à sua divulgação (contingências).

Dispêndios de carácter ambiental

Regra – Reconhecidos em gastos de período.

Possibilidade de capitalização de dispêndios se cumpridos os requisitos de ativo

Mensuração (§§35 a 46)

Passivos Ambientais

Seleção da melhor estimativa possível, em função da natureza, tempestividade e probabilidade da ocorrência de futuras liquidações

Possibilidade de constituição gradual das quantias de passivos ambientais

Passivos ambientais de longo prazo: possibilidade de uso do valor presente/descontado dos fluxos de caixa futuros ou do custo corrente

Apresentação e Divulgação

(§ 47 a 49)

Relatório de

Gestão Apresenta as informações que devem ser divulgadas no Relatório de Gestão e no Anexo na medida em que sejam relevantes para a posição financeira da entidade 7 .

Anexo

Data de eficácia (§ 50)

A norma deve ser aplicada a partir de 1 de janeiro de 2010.

Apêndice

Contabilização das operações relativas aos Direitos de Emissão de Gases com Efeito de Estufa.

(29)

2.2.2. Princípios e Guias de Orientação

Para além da regulamentação contabilística das matérias ambientais, na sua maioria de aplicação obrigatória e focada no relato financeiro, existe um conjunto de iniciativas internacionais, e com reconhecimento a nível mundial, que se dedicam à publicação de “guias”

para a divulgação dos aspetos socias e ambientais das empresas.

O objetivo destes normativos não é modificar a forma de relato contabilístico mas incrementar a informação financeira divulgada nos relatórios e contas, com informações de caráter social e ambiental, quer através da elaboração de relatórios autónomos, quer pela incorporação nos documentos obrigatórios de prestação de contas.

Um exemplo destas iniciativas são as diretrizes publicadas pela Global Reporting Iniciative (GRI), instrumento de excelência utilizado para o relato voluntário das matérias de sustentabilidade.

Estas diretrizes têm a vantagem, em relação à regulamentação contabilística, de serem maiores propulsionadores de comportamentos socias responsáveis por parte das organizações.

Além destas diretrizes de grande aderência empresarial, temos ainda organizações como a ONU e a OCDE, que desenvolveram pactos, declarações, princípios e outros instrumentos com linhas orientadoras de uma conduta socialmente responsável.

Apresentaremos de seguida a estrutura das diretrizes da GRI e ainda o quadro da Global Compact das Nações Unidas (UNGC), na medida em que são duas estruturas de grande aderência na elaboração dos relatórios de sustentabilidade.

2.2.2.1 Diretrizes da Global Reporting Iniciative

A GRI é uma instituição internacional independente, com o objetivo de desenvolver e difundir diretrizes para a elaboração de relatórios de sustentabilidade, aplicáveis voluntariamente por organizações, a nível mundial. A sua missão é oferecer uma estrutura, credível e globalmente aceite, a fim de ser utlizada por organizações de qualquer dimensão, setor ou localização na elaboração de relatórios sobre o desempenho económico, ambiental e social (GRI, 2006).

As Diretrizes da GRI consistem em princípios e orientações que definem o conteúdo do

relatório, de forma a assegurar a qualidade da informação relatada e que fornecem um

conjunto de informações-padrão, composto por indicadores de desempenho e outros tópicos

(30)

a divulgar. Estas diretrizes encontram-se divididas em duas partes. Na primeira parte são descritos os princípios e orientações de três elementos fundamentais no processo de divulgação da informação: definição do conteúdo do relatório, controlo da qualidade das informações e limite do relatório. Na segunda são apresentadas as informações-padrão que devem integrar o relatório de sustentabilidade.

Relativamente à primeira parte destas diretrizes e, no que concerne aos princípios referentes à definição do conteúdo do relatório, destacam-se o princípio da relevância, da inclusão dos stakeholders, do contexto de sustentabilidade e de abrangência, essenciais para assegurar uma apresentação razoável do desempenho da organização. Os princípios de equilíbrio, comparabilidade, precisão, periodicidade, clareza e fidedignidade são também aplicados no âmbito da elaboração de um relatório de sustentabilidade de modo a atingir a qualidade apropriada da informação relatada. Esta secção termina com a orientação sobre como definir a amplitude de entidades representadas pelo relatório, de forma a determinar o “limite do relatório”, tendo como base os conceitos de “Controlo” e “Influência Significativa”.

A segunda parte destas diretrizes, dedica-se à especificação do conteúdo, secção onde são apresentadas um conjunto de informações-padrão que devem ser divulgadas no relatório de sustentabilidade, tendo sempre presente os princípios e orientações atrás referenciadas.

A figura 1 evidencia uma visão geral da organização destas diretrizes : Figura 1 - Visão geral das Diretrizes da GRI

Fonte: Global Reporting Iniciative (2006)

Referências

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