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Capítulo 2 – Jornalismo

2.2. Princípios do jornalismo

As técnicas e discursos jornalísticos não são de todo uniformes em todos os jornais, nem para todos os jornalistas que escrevem sobre os temas da atualidade. Como tal, nem todas as notícias dominam as melhores técnicas de redação, a gramática ou mesmo os valores que o jornalismo preconiza. As técnicas nos textos jornalísticos podem não ser as mesmas, mas os princípios jornalísticos não devem ser excluídos do exercício profissional.

Tal como Jorge Pedro Sousa indica (Sousa, 2001, p. 122), estes são os princípios da enunciação jornalística que devem ser respeitados:

 Princípio da correção - Um texto jornalístico deve respeitar as regras gramaticais. E deve, igualmente, obedecer às normas de estilo em vigor no jornal. Mas, acima de tudo, deve ajustar-se à realidade, contando bem

o que há para contar, com intenção de verdade.

 Princípio da clareza - Um texto jornalístico tem de ser construído e organizado de maneira a ser facilmente acedido e compreendido, sem

 Princípio da simplicidade - A linguagem do texto jornalístico deve ser simples. Isto significa, por exemplo, que entre sinónimos deve preferir-se o mais comum e que as frases devem respeitar a ordem sujeito - predicado - complemento, desde que esta opção não represente uma sobrecarga estilística.

 Princípio da funcionalidade - Um texto jornalístico necessita de se adaptar às necessidades do jornal ou revista. Se apenas pode ter dois mil caracteres, o jornalista deve respeitar este espaço. Se for necessário, um texto jornalístico deve estar escrito de maneira a poder ser amputado de algumas partes, nomeadamente do final, sem que se perca nem a informação principal nem a lógica enunciativa.

 Princípio da concisão - Um texto jornalístico não pode ser prolixo. Pelo contrário, deve ser económico. "Escrever é cortar palavras" é uma máxima a respeitar. Para dizermos que o Presidente da República recebeu o primeiro-ministro em audiência não é preciso referir que o chefe do Governo usava um fato cinzento.

 Princípio da precisão - Cada palavra deve ser escolhida de acordo com o seu valor semântico. As fontes devem ser claramente identificadas, exceto se necessitarem de anonimato, e desde que se respeitem as regras deontológicas e as normas em vigor no jornal. Os acontecimentos e as ideias devem ser descritos com pormenor, mas sem chegar ao irrelevante.

 Princípio da sedução - Um texto jornalístico deve ser cativante e agradável. Deve ter vivacidade e ritmo. A sua leitura deve proporcionar prazer e gratificação.

 Princípio do rigor - Um texto jornalístico tem de ser preciso e rigoroso. As palavras devem escolher-se de acordo com o seu valor semântico. Os

acontecimentos e as relações que estes estabelecem entre si devem ser descritos com exatidão. As interpretações devem ser feitas partindo dos factos conhecidos para os desconhecidos, das partículas elementares para as complexas, sendo obrigatório mencionar as etapas intermédias do raciocínio.

 Princípio da eficácia - Um texto jornalístico deve construir-se de maneira a que o essencial seja imediatamente apreendido.

 Princípio da coordenação - Um texto jornalístico deve ser encadeado, lógico, conduzido, ordenado. A informação deve ser exposta por etapas, em blocos articulados e bem definidos. Os elementos intermédios de uma linha de raciocínio devem ser expostos. Não se pode passar da descrição dos factos à conclusão eliminando as referências aos elementos que permitiram atingir essa conclusão.

 Princípio da seletividade - A informação de um texto jornalístico deve ser selecionada. Devem evitar-se as evidências e as irrelevâncias informativas. A capacidade de selecionar a informação é, hoje em dia, uma das marcas distintivas do bom jornalismo.

 Princípio da utilidade - Um texto jornalístico deve ser comunicação útil, ou seja, deve ter um conteúdo útil e deve apresentar-se de forma a poder ser utilizado. O consumo e o uso da informação devem ser gratificantes.

 Princípio do interesse - Não se pode dar apenas informação importante. Há que dar também informação interessante. E há também que tornar interessante a informação importante, mesmo aquela que seja árida pela sua própria natureza.

dar ao longo da peça ajuda a estruturar o texto. As informações hierarquicamente mais importantes podem abrir a matéria, serem remetidas para o final ou ainda serem posicionadas estrategicamente ao longo da matéria.

Tal como será possível verificar na análise de conteúdo, alguns dos princípios apresentados pelo jornalismo português fogem ao tratamento noticioso de certas notícias, especialmente em jornais sensacionalistas. Exemplo disso são os princípios da coordenação, da clareza, da simplicidade e da eficácia anteriormente descritos. Com efeito, é o jornal tabloide Extra que apresenta construções frásicas demasiado longas (notícia nº 6 e notícia nº7), assim como algumas notícias do Público, que acabam por retirar o encadeamento de ideias, assim como a lógica ou a fácil perceção do conteúdo noticioso. Também as duas primeiras notícias analisadas no jornal O Globo apresentam uma construção frásica demasiado longa, o que pode toldar a compreensão dos leitores, assim como a coerência das notícias apresentadas

Por outro lado, os princípios de precisão e de rigor são notados em algumas das notícias analisadas através da variável exatidão, com pormenores relevantes para a compreensão das notícias, como é o caso do jornal Público – apresenta pormenores em seis das sete notícias analisadas e exatidão em todas as sete.

Quase todos os jornais respeitam o princípio da simplicidade, o jornal Folha de S. Paulo chega, inclusive, a detalhar expressões judiciais para um melhor entendimento do público (notícia nº 2). À exceção do jornal Extra que apresenta, por vezes, uma linguagem demasiado rebuscada e subjetiva, através do uso da adjetivação e expressões notoriamente parciais: “Sob a superfície turbulenta da briga pela herança do milionário português Lúcio Tomé Feteira - morto em 2000, aos 98 anos - desenrola-se outra, menor em escala, mas nem por isso menos agitada.”. Também o jornal Público, por ser considerado um jornal de referência, utiliza uma linguagem que, apesar de inteligível, poderá incluir, em algumas notícias, expressões ou palavras menos correntes e que, por isso, leve a uma compreensão não imediata por parte de alguns leitores. Expressões como habeas corpus ou trâmites ou até a construção frásica mais complexa poderão toldar o entendimento de algumas notícias. Por outro lado, inclui esclarecimentos para

que a informação passada seja compreendida por todos os leitores: “para que o juiz decida se pronunciará, ou não, [levar ou não a julgamento] o arguido.”

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