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1 OS PRESSUPOSTOS TEÓRICOS PARA A PESQUISA

1.1 O TRATAMENTO CORRETIVO E O ENSINO COM FOCO NA FORMA

1.2.3 Os Princípios da Teoria da Polidez

Sabemos que todas as relações sociais, como também as em uma sala de aula, são guiadas por regras sociais de convívio. Uma das regras sociais respeitadas, ou não, na interação oral, ou seja, na conversa, se refere à teoria da polidez. Ao analisar qualquer interação social é necessário considerar a teoria da polidez. O professor e o aluno, ao se engajarem em uma troca comunicativa, estão experienciando uma interação social, mesmo com papeis distintos e assimétricos.

De acordo com Kramsch (1998), os membros de um grupo cultural – como em uma sala de aula – precisam se sentir respeitados e não terem sua autonomia e orgulho ameaçados, eles precisam manter sua auto-imagem de pessoas polidas e respeitáveis no grupo social, o que se remete à teoria da polidez. A teoria da polidez (GOFFMAN, 1981; KRAMSCH, 1998) focaliza, em especial, as estratégias para a proteção da face. Kramsch (1998) define face como uma imagem positiva ou impressão que um interlocutor pretende mostrar aos outros interagentes, refletindo seus valores e suas crenças. Se essa imagem for rejeitada pelos demais participantes da interação, haverá uma conseqüente “perda da face”. Os atos ameaçadores da face são os que podem afetar a imagem pública de uma pessoa; os atos protetores da face dizem respeito aos atos atenuantes à possível ameaça da face; a face positiva é a necessidade de ser aceito pelos membros de um mesmo grupo social; a face negativade uma pessoa é a necessidade de ter liberdade de ação e não receber ordens.

Ao estudarem a polidez, Brown e Levinson (1987) entendem a noção de face como a imagem própria pública que os interlocutores querem manter e consiste em dois tipos específicos de desejos atribuídos pelos interlocutores uns aos outros: o desejo de não ser impedido em suas ações (face negativa), e o desejo de ser aprovado (face positiva). Os autores relatam que esses desejos se resumem no desejo dos falantes de não perder a face, ou seja, de evitar atos de ameaça à face (Face Threatening Acts ou FTA)6. Um FTA ameaça a própria imagem que o falante ou receptor acredita existir. Para que o próprio falante ou o receptor não perca a face, o falante pode usar certas estratégias. Primeiramente, o falante tem a escolha de produzir ou não produzir um FTA. Em segundo lugar, se ele escolher produzi-lo, o ato pode ser indireto ou direto. A produção de um FTA indireto evita que seja imposta qualquer tarefa ao receptor. Um FTA direto impõe uma tarefa ao receptor. Um FTA direto pode ser produzido

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com ou sem uma ação mediadora. Um FTA sem ação mediadora, direta, poderia ser um pedido feito com a forma imperativa, uma ordem. Um FTA com ação mediadora tenta neutralizar o potencial de destruição de face de maneira que tais modificações indicam claramente que não há intenção ou desejo algum em ameaçar a face. Em outras palavras, essa ação pode ter a função de conseguir a aprovação do receptor (face positiva) ou de preservar a liberdade de ação do receptor (face negativa).

Em suma, Brown e Levinson (1987) entendem que as pessoas, em geral, cooperam e esperam a cooperação dos outros para manter a face em uma interação e que a manutenção do rosto de cada um normalmente depende da manutenção do rosto do outro.

O entendimento de Lakoff (1973) a respeito da teoria da polidez assemelha-se aos conceitos de Brown e Levinson acima. Lakoff entende que há uma competência interacional em trocas comunicativas e identifica como seus dois componentes a clareza e a polidez. Entende que há 3 regras de polidez: não imponha, dê opções, e faça seu interlocutor sentir-se a vontade. Em outras palavras, os interlocutores enquanto engajados em uma troca comunicativa, irão naturalmente tentar evitar se impor, vão tentar oferecer opções uns aos outros evitando dar ordens, e irão tentar fazer com que a conversa seja agradável e posta de uma maneira que irá deixar todos seus integrantes se sentindo respeitados e aceitos.

Para Leech (1983), o Princípio da Polidez tem a função de manter o equilíbrio social entre os interlocutores. Se o Princípio da Polidez não for observado o canal de comunicação entre os interlocutores se fecha, e então, ouvinte nenhum será cooperativo com seu interlocutor. Leech (1983) sugere um esquema para o Princípio da Polidez com as seguintes máximas:

- Máxima de Tato: Minimize os custos do ouvinte, maximize os benefícios do ouvinte;

- Máxima de Generosidade: Minimize o seu próprio beneficio, maximize os benefícios do ouvinte;

- Máxima de Aprovação: Minimize as críticas ao ouvinte, maximize os elogios; - Máxima de Modéstia: Minimize o auto-elogio, maximize o elogio ao ouvinte; - Máxima de Concordância: Minimize a discórdia, maximize a concordância; - Máxima de Simpatia: Minimize a antipatia, maximize a simpatia.

Para Leech, a polidez tem que ser comunicada, através da observação das máximas descritas acima, e a ausência dessa polidez pode ser entendida como a ausência de uma atitude polida. Ao meu ver, o comportamento de professores de LE seguidamente evidenciam essas máximas, em especial a máxima de aprovação, de modéstia e concordância. Seedhouse (1997), em um trabalho já mencionado nesse mesmo capítulo, aponta que professores de LE raramente fornecem evidência negativa a seus alunos preferindo maneiras mitigadas de tratamento corretivo. Seedhouse afirma que esses professores evitam dizer “não” a seus alunos, evitam dizer que o que o aluno produziu “não está correto”. Penso que esses professores, ou seja, os professores de LE evitam dizer “não” justamente porque estão observando as máximas de Leech.

Os autores mencionados acima reconhecem a polidez como um fenômeno social universal. Fórmulas de polidez são parte das chamadas rotinas conversacionais, e, sendo assim guiam a participação de uma pessoa em sua interação social. A polidez é a comunicação do reconhecimento e respeito à relação social entre o falante e o ouvinte. A essência da polidez é salvaguardar o rosto positivo e negativo dos interlocutores.

É importante ressaltar, tendo em vista a análise que apresentarei no Capítulo 3, que acredito que os professores que tem por finalidade promover a interação entre si e seus alunos e entre os próprios alunos, aqueles professores que seguem os princípios do socioculturalismo entendendo que a aprendizagem ocorre na e através da interação, que esses professores agem de maneira condizente com a teoria da polidez. Em outras palavras, o comportamento em sala de aula, junto aos alunos, desses professores demonstra a preocupação de manter a face negativa e positiva de seus alunos, e de si mesmos. Tal comportamento vale também quando o professor está provendo tratamento corretivo.

Em suma, o presente estudo busca a compreensão dos fatores que norteiam as escolhas corretivas por professores de inglês como LE partindo da premissa de que esses fatores são vários e interligados; entendendo que motivos, disposições e crenças compõem esses fatores e fazem parte do processo de tomada de decisões de professores, como apontado por Wood (1996); segue a definição de que crença é aquilo que o professor acredita ser verdadeiro, como apresentado por Yero (2002); segue uma perspectiva êmica na investigação do comportamento do professor; e entende que a sala de aula é uma situação social e, como tal, seus integrantes, o professor e o aluno, se comportam respeitando regras sociais, como as da teoria da polidez. É importante ressaltar que optei por empregar o termo “motivo” ao me

referir às justificativas e às razões apresentadas pelos professores ao falarem sobre suas escolhas corretivas, entendendo que não é possível distinguir, e não é do interesse deste estudo fazer a distinção, entre os termos “crenças”, “motivos” e “disposições”, também partindo do princípio de que todos esses conceitos mencionados acima estão interligados e compõem os fatores que norteiam as escolhas de feedback corretivo.

O capítulo a seguir irá descrever o contexto em que o estudo foi realizado e apresentará como foi desenvolvido.

2 A GERAÇÃO DE DADOS

Este capítulo relata como, onde e com quem o estudo foi desenvolvido. Primeiramente, faço uma descrição da escola onde foi realizada a pesquisa, o que é seguido da apresentação dos alunos e dos professores envolvidos para, finalmente, tratar da metodologia empregada.

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