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1 OS PRESSUPOSTOS TEÓRICOS PARA A PESQUISA

3.1 A INFLUÊNCIA DA FORMAÇÃO E DAS CONCEPÇÕES DO PROFESSOR

3.1.3 Sandra

Como já informado, a professora Sandra é a única do grupo de professores que teve uma formação específica para o ensino de inglês como LE e lecionava inglês há dois anos quando foi realizada a entrevista. Como pode-se observar no questionário, Sandra utiliza um discurso próprio ao meio de ensino, ou seja, sua formação influencia suas respostas, usando

termos como “processo gradual”, “input” e “facilitador”. Sandra acredita que o insumo tem um papel essencial na aprendizagem, que o professor deve buscar ter um bom relacionamento com seu aluno, respeitando “a relação humana”. Sandra salienta que é necessário corrigir os erros dos alunos, mas não todos e nem “todo o instante”.

Formação

Ao falar sobre sua formação, Sandra aponta vários fatores que contribuíram para tal: sua experiência como aluna, sua formação universitária, suas leituras teóricas, citando nomes como Vygotsky e Piaget, excerto (42). Expressa que sempre quis ser professora, desde criança já ensaiava como seria quando professora, excerto (41). Nesses ensaios, obviamente, se apoiava na observação do que seus professores faziam. Portanto, mesmo tendo tido uma formação universitária em licenciatura, é marcante a influência da experiência de Sandra como aluna em sua prática como professora.

(41) “Quando eu era pequena, isto é verdade, eu dava aula para as paredes. Eu preparava minhas aulas, eu tinha tudo, eu imaginava falando com os pais, uma piração… Sempre quis ser professora, já brincava assim sozinha.”

(42) “Eu acho que (o curso de licenciatura) contribuiu muito porque, assim, tinha coisas que quando eu era estudante eu não me dava conta. A gente tem aula de metodologia didática, quando a gente aprende Piaget, Vygotski, aquelas coisas sobre ensino, como eles recebem ensino, como a gente deve passar, coisas que eu não tinha noção, coisas como aluna eu só aprendia”.

Como se aprende

Sandra não mencionou diretamente esse assunto ao ser entrevistada.

Papel do professor

Sandra diz que um dos papéis do professor é corrigir e, quando aluna, esperava e aceitava essa função do professor. Também afirma que é importante o professor conhecer seu aluno, saber o que ele gosta e, deduz-se do excerto (44), como ele se sente.

(44) “Eu acho que é pegar o espírito do aluno”

(45) “Eu acho que isto é uma coisa muito importante, se tu pega como é o aluno, do que ele gosta”.

Papel do aluno

Sandra não faz referência direta a esse tópico.

Feedback corretivo

Sandra faz menção à necessidade do professor de ter o respeito do aluno para poder ter seu feedback aceito por ele, excerto (46). Expressa que sempre gostou de ser corrigida e durante a entrevista deu exemplos de momentos em que isso ocorreu e como essas correções a ajudaram a progredir na aprendizagem de inglês. No entanto, mesmo apreciando correções, entende que muitos alunos não se sentem da mesma maneira e que, por isso, ela precisa ser cautelosa quando os corrige. O excerto (47) sugere que Sandra evita corrigir alunos mais quietos, mais tímidos. Isso leva à crença de que a correção deve ser evitada com alunos tímidos porque ela pode inibi-los e calá-los. Outra crença interessante que aparece na fala da Sandra é que a correção só é aceita, e por isso válida, se vem de alguém que é considerado valoroso para o aluno, ou seja, somente um professor competente pode ter suas correções aceitas pelos aprendizes.

(46) “Se o aluno não vai com a cara do professor, e ele sente que o professor não é competente suficientemente pra corrigir, ele complica…”.

(47) “... a correção, eu acho que é uma coisa delicada. porque cada pessoa é uma pessoa. E têm alunos que não gostam de ser corrigidos, têm alunos que têm excessos, que gostam de ser bastante corrigidos, tem aluno que não gosta, porque aí se intimida mais.”

Motivos de Sandra para empregar feedback reformulador e elicitativo

Relembrando, Sandra acredita que sua função principal seja a de “passar o conteúdo” e se “certificar de que os alunos entenderam”. Tal afirmação sugere que Sandra acredita que o professor transmite informações, ou seja, deve dar informações aos seus alunos e deve corrigi-los quando não estão usando essa informação de forma correta. Parece ter uma visão

estrutural sobre aprendizagem e ensino, ao mesmo tempo tem uma preocupação de não intimidar e/ou constranger seus alunos.

Sandra e seus motivos para o uso de recast

Sandra utiliza recasts quando tem pressa em dar continuidade à tarefa, excerto (48), para corrigir erros de pronúncia, para não interromper a fluência do aluno, para esclarecer informações para o aluno, excerto (49), e para chamar a atenção para o uso correto de estruturas e também para preveni-lo, excertos (50).

(48) “É, eu acho que é porque vai mais rápido.”

(49) “Abuse, é eu falei. Eu não falo toda a hora porque daí corta, mas, de tempos em tempos, se eu acho que é uma palavra que eu tenho que dizer, se for um erro bobo, alguma coisa tipo às vezes um “alzo”, daí eu falo “also”

(50) “É para chamar a atenção e dar uma leve intimidada, tipo não fala assim de novo, te toca.”

Motivos que Sandra apresenta para o uso de feedback metalingüístico

Sandra sugere que utiliza esse tipo de feedback quando o erro é recorrente e quando quer fazer um paralelo entre uma informação e algo da realidade do aluno para lembrá-lo da informação, como ilustrado nos excertos (51), (52) e (53).

(51) “É quando é uma coisa muito recorrente”.

(52) “`awards’ ... Eu tentei lembrar alguma coisa da realidade deles que eles poderiam se lembrar da palavra”.

(53) “...agora que eles já falaram bem errado eu vou explicar”.

A professora Sandra não utilizou elicitação durante a realização da tarefa, foi a única professora do grupo que não utilizou esse tipo de feedback. Foi a professor que forneceu menos feedback aos seus alunos e quando o fez optou por usar recasts e feedback metalingüístico.

Sandra pensa que sua formação universitária a ajudou muito profissionalmente. Ela cita nomes de pesquisadores e de autores como modelos daquilo que aprendeu. Sandra expressa que nunca teve problema com correção quando era aluna, gostava de ser corrigida e esperava que seus professores a corrigissem. Mesmo assim, ela acredita que o professor deve ter muito cuidado ao corrigir o aluno para não inibi-lo.

Afirma que não trabalha muito com recasts, espera que a reformulação venha de maneira espontânea do próprio aluno. Explica que pede que o aluno pense, e dá o feedback metalingüístico quando sente que o aluno precisa pensar sobre o erro para aprender. Ela acredita que o uso de recasts não faz o aluno pensar e, portanto, não é muito benéfico para a aprendizagem. Sandra salienta que é preciso fazer o aluno pensar para que realmente aprenda, mas não utiliza o tipo de feedback que mais exige processamento do aluno, a elicitação propriamente dita. Além disso, uma possível leitura da influência da formação da Sandra sobre sua conduta frente ao feedback corretivo seja que ela teve uma formação formal, ou seja, na universidade, baseada em leituras e discussões. Talvez por esse motivo ela não baseie suas decisões corretivas tanto em fatores subjetivos e afetivos como fazem os outros professores.

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