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2. DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO REGIONAL E O PLANEJAMENTO DE

2.2. PLANEJAMENTO REGIONAL DE TRANSPORTES

2.2.3. Principais atores do planejamento regional de transportes

O sistema de transporte regional brasileiro possui um ambiente com diversos atores com diferentes interesses, no qual esses atores possuem capacidade de interferência no planejamento do setor. Baseado nos elementos intervenientes do transporte urbano, citados pela Empresa Brasileira de Transportes Urbanos – EBTU (1988), e realizando as devidas alterações, pode-se agrupar os atores do sistema de transporte regional em três categorias: poder público, prestadores de serviço e usuários. O Quadro 2.7 descreve os elementos intervenientes no processo de planejamento regional de transportes.

Embora seja o poder público o responsável legal para realizar os planos necessários ao setor de transporte regional, é importante que haja espaço para que as organizações privadas e os usuários do sistema possam contribuir com esses planos. Afinal de contas, o poder público presta serviços para a sociedade que é composta justamente por essas entidades privadas e usuários, além da comunidade em geral.

Quadro 2.7 - Elementos intervenientes no sistema de transporte regional (modificado – EBTU, 1988).

Poder público

É grupo legalmente responsável pelo sistema de transporte regional e que apresenta as seguintes obrigações: planejar, construir, ampliar, integrar, manter e restaurar a infra-estrutura de transportes; administrar, gerenciar, programar, operar, regulamentar e fiscalizar, comunicar a execução de serviços inerentes ao setor. Exemplos: Ministério e Secretarias de Transporte.

Prestadores de serviço

É a categoria responsável pela produção de transporte, possibilitando o deslocamento de pessoas e cargas e prestando, desta forma, um serviço público, por meio de concessão ou permissão. Normalmente é composta por empresas privadas que visam lucro. Exemplo: Transportadores de cargas e pessoas.

Usuários São os que se utilizam do serviço público para suprir suas necessidades

de deslocamento próprio ou de cargas.

Sendo assim, podem-se identificar os principais atores do processo de planejamento em cada uma dessas categorias. No poder público, a definição de tarefas é bem definida pelas legislações. No âmbito do poder público executivo federal, o Ministério dos Transportes – MT é o órgão da administração federal direta responsável por zelar pelo sistema de transportes terrestres e aquaviário federal. Existem órgãos do governo federal que são vinculados ao MT e dão subsídio as suas atividades. A lei nº 10.233 de 2001 estabelece os objetivos, as atribuições e as esferas de atuação dos órgãos federais no SNV. O Quadro 2.8 resume as descrições sobre esses atores do poder público federal.

Quadro 2.8 - Atores do Governo Federal no setor de transportes (Lei nº 10.233 de 2001).

CONIT

O Conselho Nacional de Integração de Políticas de Transporte – CONIT é vinculado à Presidência da República, com a atribuição de propor ao Presidente políticas nacionais de integração dos diferentes modos de transporte de pessoas e bens.

DNIT

O Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes – DNIT é pessoa jurídica de direito público, submetido ao regime de autarquia, vinculado ao Ministério dos Transportes. Constitui objetivo do DNIT implementar, em sua esfera de atuação, a política formulada para a administração da infra-estrutura do SFV, compreendendo sua operação, manutenção, restauração ou reposição, adequação de capacidade, e ampliação mediante construção de novas vias e terminais. A esfera de atuação do DNIT corresponde à infra-estrutura do SFV, sob jurisdição do Ministério dos Transportes, constituída de:

ƒ Vias navegáveis; ƒ Ferrovias1

e rodovias federais;

ƒ Instalações e vias de transbordo e de interface intermodal; ƒ Instalações portuárias2

.

1

Em estudos para transferência de competências a VALEC.

2

ANTT

A Agência Nacional de Transportes Terrestres – ANTT é uma entidade integrante da Administração Federal indireta, submetida ao regime autárquico especial e vinculada ao Ministério dos Transportes, com o objetivo de regular ou supervisionar as atividades de prestação de serviços e de exploração da infra-estrutura de transportes, exercidas por terceiros. Constituem objeto de atuação:

ƒ Transporte ferroviário de passageiros e cargas do SNV;

ƒ Exploração da infra-estrutura ferroviária e o arrendamento dos ativos operacionais correspondentes;

ƒ Transporte rodoviário interestadual e internacional de passageiros; ƒ Transporte rodoviário de cargas;

ƒ Exploração da infra-estrutura rodoviária federal; ƒ Transporte multimodal;

ƒ Transporte de cargas especiais e perigosas em rodovias e ferrovias.

ANTAQ

A Agência Nacional de Transportes Aquaviários – ANTAQ é uma entidade integrante da Administração Federal indireta, submetida ao regime autárquico especial e vinculada ao Ministério dos Transportes, com o objetivo de regular ou supervisionar as atividades de prestação de serviços e de exploração da infra-estrutura de transportes, exercidas por terceiros. Constituem objeto de atuação:

ƒ Navegação fluvial, lacustre, de travessia, de apoio marítimo, de apoio portuário, de cabotagem e de longo curso;

ƒ Portos organizados;

ƒ Terminais portuários privativos;

ƒ Transporte aquaviário de cargas especiais e perigosas.

Já nas esferas estaduais do poder público executivo brasileiro, as Secretarias de Transportes se assemelham nas competências do Ministério dos Transportes, porém nem todos estados seguem a estrutura organizacional do governo federal.

Como forma de possuir maior representação nacional e internacional e promover um esforço conjunto de troca de informações e experiências, os Departamentos de Estradas de Rodagem Estaduais e do Distrito Federal formaram a Associação Brasileira dos Departamentos Estaduais de Estradas e Rodagem – ABDER, cujas finalidades, segundo seu estatuto, são:

o Congregar os Departamentos de Estradas de Rodagem Estaduais e do Distrito Federal, visando promover estudos e encontrar melhor solução para os problemas administrativo, técnicos e científicos que lhes são inerentes;

o Representar os Departamentos junto a órgãos federais, entidades congêneres nacionais e internacionais, organismos internacionais ou outros que possuam atividades correlatas;

o Coligir, tratar, arquivar e divulgar dados e elementos informativos de interesse dos Órgãos Rodoviários Estaduais;

o Patrocinar cursos, palestras, seminários, transferência de tecnologia, entre outros eventos, de interesse dos órgãos Rodoviários Estaduais, bem como estimular o intercâmbio de conhecimento e de informações;

o Estimular a realização de pesquisas e estudos rodoviários em colaboração com institutos, Universidades e outras entidades.

Os atores agrupados como prestadores de serviço são normalmente empresas privadas que operam serviços públicos como o transporte nacional e interestadual de passageiros e o transporte de cargas; e que exploram a infra-estrutura de transportes como as concessionárias rodoviárias e ferroviárias. Esses atores quase sempre se associam formando um grupo mais forte para ter um peso maior na tomada de decisão. Um exemplo é a Companhia de Concessões Rodoviárias – CCR que administra, atualmente, 1.452 quilômetros de rodovias sob a gestão de empresas privadas.

O modelo de trabalho da CCR resulta da sinergia e troca de experiências que visam consolidar e expandir os negócios existentes, além de desenvolver novas oportunidades no Brasil e no exterior. Desta forma, segundo a CCR, foi desenvolvido um importante modelo de concessões de serviços públicos, no qual são controladas seis concessionárias: Ponte Rio-Niterói (RJ), NovaDutra (SP/RJ), ViaLagos (RJ), RodoNorte (PR), AutoBAn (SP) e ViaOeste (SP).

Uma outra importante organização no sistema de transporte regional que está em defesa dos transportadores é a Confederação Nacional do Transporte – CNT. A CNT é uma associação sindical de grau superior que reúne federações, que por sua vez aglomera sindicatos representativos de atividades ou profissões idênticas, similares ou conexas ao setor de transportes. Já um sindicato é associação prevista na legislação brasileira para representação de categoria profissional ou econômica. A Figura 2.8 mostra a estrutura hierárquica de uma confederação.

Segundo a CNT, atualmente a confederação contempla 29 federações e 02 sindicatos nacionais filiados e 16 associações nacionais vinculadas. Esta estrutura compreende 60 mil empresas de transporte e 700 mil transportadores autônomos, perfazendo 2,5 milhões de trabalhadores no setor, responsáveis pela geração de renda correspondente a 6,5% do Produto Interno Bruto (PIB). Os objetivos principais da CNT são:

o Coordenar e defender nacionalmente os interesses dos transportadores e de suas entidades representativas em todas as modalidades;

o Estimular e apoiar a integração dos diversos modais de transporte, na busca de ganhos de qualidade e produtividade para o setor;

o Promover e valorizar a interação dos modos de transporte;

o Executar atividades sociais de grande alcance, por meio das entidades que a compõem, especialmente o Serviço Social do Transporte (SEST) e Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (SENAT).

Figura 2.8 - Estrutura hierárquica de uma confederação (CNT, 2007).

Antigamente os usuários do sistema de transporte regional quase não participavam do processo de planejamento do setor, ou seja, ficavam a margem dos planos regionais de transportes. Hoje em dia, este cenário vem se alterando por força de movimentos de defesa do consumidor e mesmo por canais de ouvidoria do poder público e das empresas prestadoras de serviços que, de certa forma, influenciam em planos regionais. Porém, esses meios de participação são bastante fracos e estão distantes de serem considerados ideais para uma verdadeira participação no processo de planejamento no setor.

A seguir, serão apresentadas algumas noções de desenvolvimento econômico regional e a influência que tem a infra-estrutura de transportes no crescimento e desenvolvimento econômico de regiões.