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Principais desafios para os artistas independentes na indústria da música

Capítulo I – Indústrias culturais e criativas

2.3 Principais desafios para os artistas independentes na indústria da música

Considerando a evolução da indústria da música, os stakeholders envolvidos e os hábitos de consumo de música no contexto ibero-americano, iremos apresentar uma síntese dos desafios que conseguimos apurar ao longo desta pesquisa e que podemos relacionar com o nosso objeto de estudo - um grupo de artistas independentes.

Quando começamos a analisar a indústria da música deparamo-nos com o facto de: o principal fator para um artista ou uma banda de música é pertencer ou não a uma das principais companhias majors. Como conseguimos observar, os artistas que trabalham com estas grandes empresas beneficiam de uma cadeia de valor de serviços associados desde a criação até à distribuição dos álbuns de forma a garantir o retorno.

Com base nisto podemos concluir que os artistas independentes, precisamente por não pertencerem a nenhuma major, terão maiores desafios no que diz respeito à produção, divulgação e distribuição dos álbuns produzidos já que não conseguem concorrer em pé de igualdade num mercado que é claramente liderado pelas majors 19 Os ganhos diretos são aqueles que revertem dos espectáculos ao vivo, venda de CD's, música

digital, aulas e outros eventos relacionados directamente com o tango. 20 Os ganhos indiretos são aqueles que dão suporte aos serviços diretos.

e, consequentemente, pelos artistas que a elas estão associados.

O grande desafio que os artistas independentes enfrentam atualmente, em termos da distribuição e divulgação da música que produzem, é tirar o maior partido possível dos inúmeros recursos disponíveis na Internet de forma a obter o maior retorno possível de vendas (Thorsby, 2002).

Por outro lado, se o agendamento de espetáculos e a participação de artistas em festivais nos países de origem pode ser um verdadeiro repto, mais difícil será programar um tour no estrangeiro sem a ajuda de um manager, o conhecimento dos programadores e da realidade do mercado musical local. Áreas em que a internet já não é um meio suficiente.

Outro aspeto que deve ser considerado pelos artistas independentes é o de garantir uma comunicação efetiva com os diferentes stakeholders com os quais o artista interage de forma a criar, estabelecer e manter relações. Neste sentido, é importante contar com um plano de comunicação que estabeleça os principais alinhamentos e estratégias para comunicar com os diferentes grupos de stakeholders (promotores, fans, imprensa, etc.).

Finalmente, devemos referir que os artistas independentes devem procurar ter acesso aos apoios e subsídios disponibilizados pelas instituições públicas, os organismos internacionais e privados. Estas organizações costumam ter projetos focados no desenvolvimento de artistas independentes, especialmente os que trabalham géneros musicais tradicionais.

CAPÍTULO II – RELAÇÕES PÚBLICAS E

COMUNICAÇÃO

Considerando que a finalidade deste projeto é associar as atividades de Relações Públicas (RP) à internacionalização de uma orquestra de tango argentino, neste capítulo iremos rever os conceitos e definições de Relações Públicas numa perspetiva estratégica, Relações Públicas Internacionais e Music PR (Relações Públicas para a Música). Em seguida e face às diferentes definições apresentadas, iremos analisar quais são as funções que os profissionais de Relações Públicas devem desempenhar nestes âmbitos. Finalmente, analisaremos quais são as fases a que um Plano de Relações Públicas deve obedecer com o fim de criar uma estratégia que permita estabelecer uma comunicação efetiva com os públicos de interesse21.

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Definindo as Relações Públicas

Para apresentar o conceito de Relações Públicas, vamos explorar a história desta função. Vários são os autores que referem que o próprio conceito de Relações Públicas remonta à antiguidade, associado à necessidade de comunicar. No entanto, não há consenso sobre as suas origens e, ao longo da história, o conceito de Relações Públicas tem vindo a assumir as mais variadas aceções com base em diferentes factos históricos.

Neste sentido, a função de Relações Públicas tem sido associada às publicações diárias do imperador romano Júlio César, à utilização do termo propaganda pela Igreja Católica no século XVII e à necessidade de uma nova forma de comunicar com as massas nas duas etapas da Revolução Industrial. Também é de referir a 21 Um aspecto que é importante esclarecer antes de prosseguir é que os termos stakeholder e público

intermediação das Relações Públicas, nos Estados Unidos da América, perante os ataques da imprensa às empresas nas crises económicas que se verificaram a partir do ano de 1880 e a valorização dos agentes de imprensa e dos agentes que realizavam os conhecidos “pseudo acontecimentos” com o propósito de aparecer na imprensa dessa época.

Devemos acrescentar que, se bem que o termo Relações Públicas tenha sido utilizado pela primeira vez pelo presidente norte-americano Thomas Jefferson no século XVII, só em 1900 se reafirmou a profissão com a criação da primeira agência de Relações Públicas em Boston nos Estados Unidos da América. A partir deste período, começaram a surgir grandes nomes, como Ivy Lee, que é considerado o primeiro profissional de Relações Públicas, seguido de Edward Bernays, conhecido como pai e fundador das Relações Públicas por elevar a profissão ao campo científico. Durante a Primeira Guerra Mundial, as Relações Públicas consolidam-se como profissão. Em 1920, o termo Relações Públicas comec a a ganhar maior

notoriedade no âmbito institucional e empresarial devido ao aumento da publicidade e a uma maior preocupaca o com a imagem das empresas.

Antes de prosseguir devemos ressaltar que o conceito e a profissão de Relações Públicas se desenvolveram mais nos Estados Unidos e por esse motivo a evolução da noção de Relações Públicas e os percursores desta profissão são muitas vezes relacionados a marcos históricos desse país. No entanto, a partir de 1950 a atividade de Relações Públicas começa a ter expansão a nível global com a internacionalização de empresas dedicadas a este ramo e com o surgimento de organismos de profissionais de Relações Públicas nas principais capitais europeias.

Atualmente, a profissão é reconhecida globalmente, há, no entanto, ainda falta de conhecimento sobre as suas potencialidades. Isto deve-se em parte à multiplicidade de significados da noção de Relações Públicas, o que tem criado alguma subjetividade em relação à sua definição teórica e consequentemente em relação à profissão de Relações Públicas, e à existência de conotações negativas do termo Relações Públicas por algumas práticas associadas à profissão no passado.

Para esclarecermos melhor o conceito de Relações Públicas, apresentaremos algumas definições que consideramos enquadrar-se neste estudo.