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3.3. As etapas de triagem e escopo na avaliação de impacto ambiental

3.3.6. Principais dificuldades e críticas da triagem e escopo no Brasil e internacionalmente

Diversos autores têm apontado problemas nas etapas de triagem e escopo e estudado os meios de aperfeiçoá-las. No Brasil, vários estudos, como ABEMA (2013), CNI (2013), FMASE (2013), SÁNCHEZ (2008) e MPU (2004), indicam entraves no processo de licenciamento ambiental, muitos deles reflexos das dificuldades existentes nessas etapas, quais sejam:

 Ineficiência dos critérios, parâmetros e limites de corte utilizados pelas jurisdições para seleção de todos os projetos com efeitos significativos sobre o meio ambiente;

 Dificuldade e subjetividade na determinação da significância dos potenciais impactos a serem ocasionados pelos projetos;

 Dificuldade na definição para alguns projetos do grau de exigência da AIA (simplificada ou aprofundada);

 Interpretações equivocadas quanto ao caráter da lista de projetos sujeitos à realização do EIA/RIMA;

 Triagem inadequada de projetos com exigência de estudos ambientais não apropriados ao caso concreto, aumentando o custo e o tempo do processo;

 Ausência de critérios e parâmetros de corte que englobem aspectos locacionais;

 Termos de referência genéricos que não levam em consideração peculiaridades de cada atividade;

 Licenciamento cartorial, sem levar em consideração impactos cumulativos e sinérgicos, portanto, dificultando a determinação da significância dos potenciais impactos de projetos;  Desconsideração da vocação ou do potencial econômico do estado ou da região;

Metodologia e parâmetros de triagem não homogêneos a todos os entes federativos, prejudiciais à atração de investimentos;

 Ausência de padronização de critérios definidores de porte e potencial poluidor no país;  Inexistência de uma orientação nacional para a triagem de projetos e definição das

tipologias de atividades sujeitas ao licenciamento ambiental;

 Desconsideração de especificidades setoriais e heterogeneidade de projetos, não havendo aplicação de procedimentos diferenciados e simplificados, por exemplo, às micro e pequenas empresas;

 Falta de clareza e padronização de normas e conceitos, como “significativo impacto ambiental”;

 Insegurança jurídica;

 Precária estrutura dos órgãos ambientais;

 Desatualização tecnológica do licenciamento, com precariedade na informatização e disponibilização de dados;

Inexistência de bancos de dados integrados entre os entes federativos;

Inexistência de balcões únicos, com integração dos atos autorizativos ao longo do processo de licenciamento, como a Outorga do Direito de Uso da água;

 Necessidade do licenciamento ambiental ser apoiado e subsidiado por outros instrumentos de planejamento de políticas ambientais como a Avaliação Ambiental Estratégica - AAE e a Avaliação Ambiental Integrada - AAI, bem como por outros instrumentos de gestão, como o Zoneamento Econômico Ecológico - ZEE, os Planos de Manejo de Unidades de Conservação - UCs, Planos de Bacia, Outorga de Recursos Hídricos, Planos de Resíduos Sólidos, etc.

 Inutilização de instrumentos de planejamento territorial em uma escala que gere informações confiáveis; e

 Intervenções contrárias do Ministério Público ou liminares judiciais em relação aos processos de licenciamento dispensados da apresentação de EIA/RIMA, mesmo que os projetos sejam comprovadamente de baixo impacto.

Estudos internacionais, realizados nas últimas duas décadas, na Dinamarca, União Europeia, Inglaterra, Holanda, Espanha e Índia (CHRISTENSEN e KORNOV, 2011; WESTON, 2011; RAJARAM e DAS, 2011; PINHO et al., 2010; GARCÍA-MONTERO et al., 2010; KORNOV e CHRISTENSEN, 2009; KOORNNEEF et al., 2008; LAWRENCE, 2007; CHRISTENSEN, 2006; SNELL e COWELL, 2006; WOOD et al., 2006; NIELSEN et al., 2005; WOOD e BECKER, 2005; WESTON, 2004) têm demonstrado problemas similares nas etapas de triagem e de escopo, e apontados diversos outros.

Lawrence (2007) apontou que a determinação da significância dos potenciais impactos de projetos é frequentemente definida sem levar em consideração os impactos positivos. Isso se torna um desafio para a correta triagem de projetos. A avaliação dos impactos positivos é interessante na medida em que os efeitos adversos podem ser minimizados e, consequentemente, os projetos tendem a ter uma maior aceitação pública.

Christensen e Kørnøv (2011) relataram problemas como o poder discricionário das autoridades sobre a decisão de triagem; a influência de algumas questões no processo de triagem, como afinidade pessoal, experiência profissional, ideologia, limitação de tempo e disponibilidade de recursos; as decisões de triagem politicamente controvérsias; e o número crescente de critérios de triagem.

No trabalho de Weston (2011) foi indicada grande variedade de critérios de triagem entre os países da União Européia; a subjetividade da determinação da significância dos impactos de

projetos para avaliar a necessidade da AIA e, portanto, regras “duras ilegais” poderiam ser utilizadas nessa determinação; o desafio legal do poder público por indivíduos lesados pelas decisões de triagem; a ausência de evidências na maioria dos processos na Inglaterra que mostrem que eles foram triados; a aprovação de processos na Inglaterra sem passar pelo processo de triagem; a solicitação de estudos inadequados; a não exigência da AIA, mas evidências nos processos de solicitação de estudos específicos para mitigar impactos significativos; a má aplicação dos critérios de triagem, demonstrando que a cultura da “resistência” ou “repúdio” à AIA permanece forte na Inglaterra; e a insuficiência das teorias sobre AIA para avaliar sua eficácia no contexto de determinados regimes regulamentares. O estudo de Rajaram e Das (2011) aponta a falta de melhorias dos sistemas de AIA das nações em desenvolvimento; o desenfreado “fracionamento” dos projetos pelos proponentes para contornar o processo de AIA na Índia; a diferença entre o número de projetos listados na Diretiva sobre AIA da União Européia e dos regulamentos da Índia, ilustrando a extensa exclusão de projetos no processo de AIA indiano; os danos ambientais provocados por indústrias de pequena escala que foram implantadas sem AIA; a necessidade de se calcular os impactos cumulativos através de dados de múltiplas atividades; a necessidade de critérios de triagem claros e transparentes; e a importância da incorporação do conhecimento ecológico dos povos locais no processo de AIA.

Snell e Cowell (2006) verificaram que no Reino Unido os profissionais racionalizam o escopo dos estudos ambientais para garantir eficiência na tomada de decisão e justificam a exclusão da participação pública em razão da prematuridade, atrasos e conflitos. Informam ainda que a definição do escopo não está funcionando tão bem quanto poderia, em relação ao princípio da precaução e auxílio na eficiência da AIA.

4. ÓRGÃOS LICENCIADORES ANALISADOS