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1.17. Vygotsky

1.17.1. Principais idéias

Coincidentemente, a década de 20 significou um marco na carreira intelectual e profissional de Vygotsky. Nesse período foi convidado a trabalhar no Instituto de Psicologia de Moscou, posteriormente fundou o Instituto de Estudos das Deficiências e simultaneamente dirigiu um Departamento de Educação. Em 1924 escreveu o trabalho

Problemas da Educação de Crianças cegas, surdo-mudas e retardadas. Também liderou

um grupo de jovens cientistas, pesquisadores da psicologia e das anormalidades físicas e mentais. Apenas entre 1929 e 1930 escreveu mais de 50 trabalhos.

O interesse principal de Vygotsky foi o estudo dos processos de transformação do desenvolvimento humano na sua dimensão filogenética, histórico-social, ontogenética e microgenética (WERTSCH, 1988). Deteve-se no estudo dos mecanismos psicológicos mais sofisticados (funções psicológicas superiores), como o controle consciente do comportamento, atenção e lembrança voluntária, memorização ativa, pensamento abstrato, raciocínio dedutivo, capacidade de planejamento etc.

As funções psicológicas superiores referem-se a mecanismos intencionais, ações conscientemente controladas, processos voluntários. Estes processos não são inatos, eles se originam nas relações entre indivíduos humanos e diferem dos processos de origem biológica, presentes na criança pequena e nos animais (reações automáticas, ações reflexivas e associações simples), justamente pela sua complexidade.

Vygotsky procurou identificar as mudanças qualitativas do comportamento humano e sua relação com o contexto social. Seguindo este propósito, fez relevantes reflexões sobre a educação e seu papel no desenvolvimento humano. Segundo Cole (COLE, 1991), ele foi o primeiro psicólogo moderno a sugerir os mecanismos pelos quais a cultura torna-se parte da

natureza de cada pessoa. Um desses mecanismos são as relações entre história individual e social - determinante no processo de desenvolvimento humano. Para ele, nós nos tornamos humanos pela interiorização da cultura. A atividade mental é resultado da aprendizagem social, da interiorização de signos sociais e da interiorização da cultura e das relações sociais. O aprendizado é considerado por Vygotsky como um aspecto necessário e fundamental no processo de desenvolvimento das funções psicológicas superiores.

Vygotsky procurou desenvolver estudos que comprovassem sua idéia de que o pensamento adulto é culturalmente mediado, sendo a linguagem o principal meio dessa mediação.

Em seus trabalhos, Vygotsky procurou estudar como as pessoas, com a ajuda de instrumentos e símbolos, direcionam a sua atenção, organizam a memorização consciente e regulam a sua conduta. A essência do comportamento humano reside em sua mediação por instrumentos e símbolos (VYGOTSKY, 1978). Os instrumentos (faça alusão à mediação dos processos mentais superiores) orientam-se para fora, utilizados para transformar a realidade física e social, enquanto que os símbolos são orientados para dentro, auto- regulando a própria conduta.

Em nossas vidas somos orientados não pelos objetos que nos circundam diariamente, mas pelo significado que damos a estes. Em diferentes situações, incorporamos estímulos relacionados aos signos. Dessa forma, se viajando por uma estrada a 120 km/h, visualizamos uma placa de trânsito dando permissão para o tráfego a 110 km/h, realizamos determinada manobra, diminuímos a velocidade, alterando nosso comportamento anterior. Schedrovitsky (SCHEDROVITSKY, 1982) observa que atribuímos significado aos objetos que nos circundam e agimos de acordo com esse significado.

Todo o processo de aculturação se processa, segundo Vygotsky, pela interiorização desses instrumentos psicológicos. São exemplos desses instrumentos, os sistemas de contagem, as técnicas mnemônicas, os sistemas de símbolos algébricos, as obras de arte, a escrita, esquemas, diagramas, mapas, desenhos mecânicos; enfim, todo tipo de sinais convencionais de uma sociedade.

Ainda, a pedagogia cria processos de aprendizagem que conduzem o desenvolvimento, e essa seqüência de ações resulta em zonas ou áreas de desenvolvimento (VYGOTSKY, 1978).

Vygotsky identifica dois níveis de desenvolvimento: um que se refere às conquistas já efetivadas, que ele chama de desenvolvimento real ou efetivo, e o outro, o nível de desenvolvimento potencial, relacionado às capacidades em vias de serem construídas.

“O nível de desenvolvimento real pode ser entendido como referente àquelas conquistas que já estão consolidadas na criança, aquelas funções ou capacidades que ela aprendeu e domina, pois já consegue utilizar sozinha, sem assistência de alguém mais experiente da cultura (pai, mãe, professor, criança mais velha etc.). Este nível indica, assim, os processos mentais da criança que já estabeleceram, ciclos de desenvolvimento que já se completaram”.

“O nível de desenvolvimento potencial também se refere àquilo que a criança é capaz de fazer, só que mediante a ajuda de outra pessoa (adultos ou crianças mais experientes). Nesse caso, a criança realiza tarefas e soluciona problemas através do diálogo, da colaboração, da imitação, da experiência compartilhada e das pistas que lhe são fornecidas” (REGO, 1995).

A disparidade entre o que a criança é capaz de realizar de forma autônoma (nível de desenvolvimento real) e aquilo que ela faz em colaboração com elementos mais capazes do

seu grupo (nível de desenvolvimento potencial) dá-se o nome de Zona de Desenvolvimento Proximal.

O conceito de ZDP refere-se à seguinte seqüência:

O desenvolvimento da criança é visto de forma prospectiva, pois a ZDP define aquelas funções que ainda não amadureceram, que estão em processo de maturação, funções que amadurecerão, mas que estão presentes em estado embrionário (Vygotsky, 1991).

O aprendizado é o responsável por criar a ZDP, na medida em que, em interação com outras pessoas, a criança é capaz de colocar em movimento vários processos de desenvolvimento que, sem a ajuda externa, seriam impossíveis de ocorrer. Esses processos se internalizam e passam a fazer pare das aquisições do seu desenvolvimento individual (REGO, 1995).

Para Vygotsky, o desenvolvimento pleno é dependente do aprendizado que o indivíduo realiza em determinado grupo cultural, a partir da interação com outros indivíduos de sua espécie. Esse preceito reforça o papel de grupos para o desenvolvimento de um ambiente de aprendizagem.

A teoria sociocultural de Vygotsky sobre a aprendizagem enfatiza que a inteligência humana provém da nossa sociedade ou cultura, e que ocorre em primeiro lugar através da interação com o ambiente social (YOKAICHIYA, 2001).

Um problema é oferecido a criança recebe orientação de um adulto de como resolvê-lo a criança alcança o objetivo e outro exercício é oferecido a criança resolve-o independentemente da ajuda do adulto.

As concepções de Vygotsky sobre o funcionamento do cérebro humano fundamentam-se em sua idéia de que as funções psicológicas superiores são constituídas ao longo da história social do homem. Na sua relação com o mundo, mediada pelos instrumentos e símbolos desenvolvidos culturalmente, o ser humano cria as formas de ação que o distinguem de outros animais (LA TAILLE, 1992).

Para Vygotsky, o desenvolvimento humano é um processo mediado. Enquanto sujeito do conhecimento, o homem não tem acesso direto aos objetos, mas um acesso mediado, isto é, feito através dos recortes do real, operado pelos sistemas simbólicos de que dispõe (OLIVEIRA, 1991).

A idéia da mediação comporta dois aspectos: O conteúdo mental de natureza simbólica.

O homem é capaz de representar objetos, situações e eventos do mundo real no universo psicológico individual. Essa capacidade de lidar com representações que permite o indivíduo de fazer relações mentais na ausência dos referentes concretos e transcender o espaço e o tempo presentes.

Os sistemas simbólicos que se interpõe entre sujeito e objeto de conhecimento. Esse processo tem origem social. Através da cultura o indivíduo recebe os sistemas simbólicos de representação da realidade. Ao longo do desenvolvimento do homem em sociedade, internalizam-se formas culturais de comportamento, por meio de atividades externas e funções interpessoais transformam-se em atividades internas, intrapsicológicas.

Portanto, “as funções psicológicas superiores, baseadas na operação com sistemas simbólicos, são, pois construídas de fora para dentro do indivíduo. O processo de internalização é assim, fundamental no desenvolvimento do funcionamento psicológico humano” (OLIVEIRA, 1991).

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