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Principais instrumentos de coleta de dados da pesquisa

2.6.1 Entrevista

A entrevista é considerada a principal técnica de coleta de dados no trabalho de campo (MINAYO, 2000; LÜDKE e ANDRÉ, 1986). Lüdke e André (1986, p. 33) afirmam que “[...] na entrevista a relação que se cria é de interação, havendo uma atmosfera de influência recíproca entre quem pergunta e quem responde.”

Através deste instrumento, o investigador pode obter dados que não encontrou disponíveis em outras fontes e, também, informações relacionadas ao indivíduo entrevistado, como suas opiniões e crenças (MINAYO, 2000).

As entrevistas podem ser classificadas de acordo com a forma em que se estruturam. Podem, por exemplo, ser classificadas em entrevistas passivas, ativas, que podem utilizar técnicas como o questionário, história de vida, entrevista semi-estruturada, entrevista aberta ou livre, entrevista estruturada ou fechada (HONIGMANN, 1954; TRIVIÑOS, 1987). No entanto, podem- se resumir essas formas em entrevistas estruturadas e não-estruturadas (MINAYO, 2000).

A entrevista estruturada, ou padronizada, é aquela durante a qual o entrevistador tem de seguir um roteiro de perguntas, igualmente com todos os entrevistados, seguindo a mesma ordem. É praticamente um questionário, que pode ser aplicado direta ou indiretamente pelo pesquisador, sendo mais vantajoso o primeiro modo, uma vez que se podem esclarecer eventuais dúvidas no momento de sua realização (MINAYO, 2000; LÜDKE e ANDRÉ, 1986).

Em relação às entrevistas não-estruturadas, especificamente falando das semi- estruturadas, é permitida ao entrevistador uma certa liberdade. As questões não são aplicadas rigidamente na mesma ordem, e adaptações no decorrer da entrevista podem ser realizadas, podendo o pesquisador introduzir questões ou mudanças de direcionamento com o intuito de aprofundar as informações colhidas (MINAYO, 2000; LÜDKE e ANDRÉ, 1986).

[...] aquela que parte de certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses, que interessam à pesquisa, e que, em seguida, oferecem amplo campo de interrogativas, fruto de novas hipóteses que vão surgindo à medida que se recebem as respostas do informante. Desta maneira, o informante, seguindo espontaneamente a linha de seu pensamento e de suas experiências dentro do foco principal colocado pelo investigador, começa a participar na elaboração do conteúdo da pesquisa.

Lüdke e André (1986) observam um ponto importante ao fazerem referência ao fato de que, na entrevista, o investigador precisa levar em consideração os fatos dados da comunicação não-verbal, como expressões e gestos do sujeito.

Nesse sentido, a forma de registro da entrevista passa por duas etapas: a gravação em áudio e a anotação durante a entrevista. O emprego conjunto dos dois métodos é o que confere maior eficácia ao trabalho, dada a possibilidade de driblar mais facilmente as desvantagens de ambos (LÜDKE e ANDRÉ, 1986).

Na gravação, todas as expressões orais, entonações e silêncios são registrados, porém, não há registro algum de expressões faciais, de gestos, enfim, de todos os signos da comunicação não-verbal. Estes podem ser recuperados pelo uso de um conjunto de anotações (LÜDKE e ANDRÉ, 1986).

Outra dificuldade da entrevista é verificada em relação à sua transcrição. Uma conversa, quando gravada, exige grande dispêndio de tempo para sua transcrição, obtendo-se como resultado um material cru, que necessita sempre ser comparado com a gravação e anotações do material (LÜDKE e ANDRÉ, 1986).

Ressalta-se que para uma pesquisa na qual é necessário avaliar o contexto em que as situações são vivenciadas, observando valores, regras e relações estabelecidas no grupo, a forma de entrevista estruturada, principalmente o questionário, mostra-se ineficiente, sendo mais adequado o uso da entrevista não-estruturada, especificamente a entrevista semi-estruturada (MINAYO, 2000).

Desta forma, o presente estudo, optou pela realização de entrevistas semi-estruturadas, que foram desenvolvidas individualmente em três momentos: inicial, a fim de investigar os hábitos anteriores ao processo; após os encontros em grupo, com os objetivos de desenvolver conteúdos importantes para a superação das lacunas de informação, para a desmitificação dos conceitos errôneos identificados e de conceituar os conhecimentos adquiridos com a prática dos encontros em grupo e; no momento final, em que foram buscados indícios de incorporação de conhecimentos e mudanças comportamentais (roteiro das entrevistas – Anexo B).

No início, foram realizadas nove entrevistas, após os encontros em grupo, 36 e, ao final, nove entrevistas, totalizando 54, que foram gravadas em oito mini-fitas cassetes e, posteriormente, transcritas, o que geraram 96 páginas.

2.6.1.1 Sobre a entrevista inicial

A entrevista inicial foi realizada individualmente com os participantes da pesquisa a fim de observar melhor as suas características pessoais, sociais e de saúde e suas expectativas quanto ao curso e aos temas para discussão nos encontros em grupo.

Ela foi realizada nos domicílios de cada um dos participantes para facilitar o acesso, pois não se dispunha de um local apropriado na faculdade e, mesmo que houvesse, isso dificultaria o comparecimento dos indivíduos ao local, devido as suas outras atividades diárias, custos financeiros, dependência de meios de transporte e, talvez, motivação para auxiliar no estudo. Com isso, a pesquisadora agendou antecipadamente os horários com cada um deles por telefone e compareceu em suas casas.

2.6.1.2 Sobre as entrevistas relativas aos encontros em grupo

As entrevistas após os encontros em grupo referem-se aos temas abordados nas reuniões. Elas não foram realizadas logo após a finalização de cada encontro, mas sim um ou dois dias em seguida, pois se julgou necessário um tempo maior para que as pessoas pudessem tomar posse do conteúdo discutido, tentassem relatar sobre os temas de nutrição desenvolvidos e se estavam conseguindo ou não seguir as recomendações sugeridas.

Com este tempo também, as pessoas poderiam refletir sobre os novos conhecimentos adquiridos e, relatariam o que realmente foi importante para si, mostrando um resultado mais fidedigno e não apenas responder, de qualquer forma, logo em seguida aos encontros, com as informações recém comentadas.

Como não se tinha a disposição um local adequado, na Unati, para a realização das entrevistas, estas também aconteceram nos domicílios de cada um dos participantes.

Para não cansar ou desmotivar os indivíduos com um número excessivo de entrevistas e também para facilitar o curso da pesquisa, as entrevistas relativas aos encontros em grupo, foram agendadas em blocos de temas.

Resumindo, tem-se a seguir um roteiro das entrevistas: Quadro 1 – Roteiro das entrevistas com os participantes da pesquisa. Entrevista 1: entrevista inicial.

Entrevista 2: entrevista sobre os encontros em grupo. Questões sobre os temas 1 e 2. Entrevista 3: entrevista sobre os encontros em grupo. Questões sobre o tema 3. Entrevista 4: entrevista sobre os encontros em grupo. Questões sobre os temas 3 e 4. Entrevista 5: entrevista sobre os encontros em grupo. Questões sobre o tema 5. Entrevista 6: entrevista final.

Para explicitar o quadro acima, a entrevista um foi realizada antes de iniciar o curso, durante a fase exploratória. No início do segundo encontro, foram agendados os horários para a primeira entrevista durante o processo de intervenção (entrevista 2) que englobou os temas abordados nos dois primeiros encontros (“Nutrição e envelhecimento” e “Escolha e compra de alimentos, rótulos e aditivos nos alimentos”).

Já a entrevista três contemplou os temas do terceiro, quarto e quinto encontros, pois eles abordavam assuntos semelhantes (“Alimentação saudável”). Os horários foram marcados no final do quinto encontro em grupo.

Embora os assuntos abordados no sexto e sétimo encontros fossem uma continuidade das discussões de reuniões anteriores, foi marcada uma nova entrevista. Resolveu-se não esperar mais duas semanas para a finalização do tema para a realização da entrevista referente a esses encontros, pois acumular todo o conteúdo abordado desde o terceiro encontro poderia causar a perda de alguns dados de aprendizagem, principalmente sobre os assuntos comentados nos primeiros encontros sobre o tema (terceiro e quarto encontros).

Na quarta entrevista foi finalizada a questão sobre alimentação saudável, abordada do terceiro até o sétimo encontro, e embora esta entrevista englobasse todo este vasto conteúdo, as questões foram dirigidas com um enfoque para as atividades desenvolvidas especificamente no sexto e sétimo encontros.

A quarta entrevista foi marcada no início da oitava reunião em grupo e também abordou o tema desta mesma reunião (“Alimentos funcionais”). A quinta entrevista contemplou o tema discutido no último encontro (“Radicais livres”) e foi agendada no final deste mesmo encontro. 2.6.1.3 Sobre a entrevista final

A entrevista final (vide Quadro 1) foi agendada com os participantes ao final do último encontro em grupo e realizada no mesmo dia da entrevista cinco. Tentou-se avaliar os pontos positivos e negativos das reuniões, se o curso atingiu as expectativas dos participantes e se a partir das discussões nos encontros em grupo houve mudanças comportamentais favoráveis para a saúde.

2.6.2 Encontros em grupo

O número de encontros em grupo demonstrou ser suficiente para o desenvolvimento dos temas sugeridos pelos participantes e para suprir os objetivos deste estudo.

Ao final, foram realizados nove encontros, gravados em cinco mini-fitas cassetes, que foram transcritos e geraram 70 páginas.

Estes materiais também serviram como dados para análise de comportamento e do processo de aquisição do conhecimento.

A proposta educativa, dentro da perspectiva pedagógica problematizadora, foi estruturada conforme os fundamentos de Freire (1988; 2000). A educação problematizadora, realizada com adultos, através da existência do diálogo entre o educador e o educando, desenvolve em ambos o processo de ter consciência das coisas, isto é, tem um caráter reflexivo e promove o poder de captação e de compreensão do mundo, fazendo o indivíduo refletir sobre sua inserção no contexto, podendo gerar atitudes que modifiquem sua vida.

Associada a metodologia qualitativa, a educação problematizadora pode permitir a averiguação da voz do idoso, suas práticas, anseios e limitações quanto ao comportamento alimentar.