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3.4 Resultados das discussões realizadas com os indivíduos

3.4.4 Tema quatro: Alimentos funcionais

O tema quatro, sobre alimentos funcionais, foi desenvolvido no oitavo encontro em grupo. A princípio, foi explicado aos educandos o que são esses alimentos e qual a sua importância para a saúde. Durante este processo de construção do conhecimento, destacaram-se alguns diálogos:

P: [...] os alimentos funcionais podem trazer a cura para as doenças? Ana: Não.

Dirceu: Pode estabilizar?

Cristina: Acho que pode diminuir alguma coisa.

P: [...] esses alimentos não curam as doenças, mas se forem consumidos, regularmente, podem surtir efeito. Por exemplo, diminuir o colesterol se comer alimentos ricos em fibras, que é uma substância funcional. Por exemplo, a aveia [...].

Os participantes manifestaram grande interesse nesse assunto, pois a associação do consumo dos alimentos funcionais com uma alimentação saudável (discutido no tema anterior) pode trazer efeitos benéficos à saúde, na prevenção e controle das doenças, mesmo que não traga a cura.

Amália: [...] eu como aveia todo dia e não resolve, mas diminuiu. P: Ela pode não resolver, mas ajudou a diminuir.

Sueli: Evitar também comer gorduras, frituras. Comer grelhados [...].

P: O consumo de fibras ajuda a reduzir o colesterol, mas será que só isso é suficiente? [...] Não. Temos que fazer como a dona Sueli falou: temos que ter uma alimentação equilibrada associada a isto.

Este diálogo evidencia que os indivíduos têm a consciência sobre a importância do consumo de alimentos funcionais associado à alimentação saudável.

Diante desses alimentos que possuem compostos ativos benéficos à saúde, foi questionada por uma das participantes, durante o encontro em grupo, a ação desses componentes e de vitaminas em cápsulas versus nos alimentos in natura: “[...] o que é mais absorvido? A vitamina no alimento ou no comprimido? [...] Hoje eu fui ao médico e eu perguntei se precisava tomar alguma vitamina e ele falou: “você que é regrada na comida? Esquece a vitamina!” (Clarice).

Durante os encontros, a importância do consumo de frutas e hortaliças, como fonte de vitaminas, minerais e fibras, foi extremamente conversada. Porém, a realidade indica que a maioria dos idosos no Brasil não tem o hábito de consumo alimentar desses e ingere poucas porções diariamente (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2004b; FLORENTINO, 2002). Diante deste fato, a própria participante concluiu: “[...] é muito mais fácil a pessoa tomar um remedinho do que ter que comer várias coisas [...]” (Clarice).

Nesta fase da vida, em que os hábitos alimentares estão arraigados, torna-se difícil a mudança de hábitos inadequados. O idoso, muitas vezes, acredita ser mais fácil ingerir um suplemento vitamínico do que realizar mudanças comportamentais do estilo de vida. Este suplemento acaba sendo mais um dentre os inúmeros medicamentos já utilizados pelo idoso, aumentando os gastos com a saúde.

Os participantes do curso iniciaram a discussão deste encontro com várias dúvidas sobre quais são os alimentos funcionais, os seus compostos ativos e exemplos de alimentos que os contêm.

[...] O açúcar demerara13 é funcional? [...] (Dirceu). [...] A multimistura é funcional? [...] (Clarice).

Mas, com o decorrer das discussões, começaram a ser recuperados os conhecimentos prévios dos educandos, que permitiram as novas discussões e a aquisição de conhecimentos por outros participantes:

Clarice: Eu já vi estudos que o brasileiro que comer a soja não faz tão bem quanto o japonês comendo, porque o japonês associa a soja com muito peixe, muita alga. Então, tem muita coisa envolvida aí também [...].

Ana: É que nem aquela margarina que custa uma fortuna e que dizem que abaixa o colesterol. Eu não acredito muito nisso [...].

Clarice: É que muita gente come a Becel normal pensando que é aquela Pro-Active. E realmente ela não vai ter efeito. Mas, ela (a Pro-Active) tem uma propriedade que eu não me lembro [...] mas ela abaixa. Porque já foi comprovada que ela abaixa.

Na entrevista, tentou-se resgatar também os conhecimentos adquiridos no oitavo encontro. Foi questionado aos educandos o que são os alimentos funcionais e em quais alimentos estão presentes:

[...] os legumes, as verduras, as frutas [...] (Maria).

[...] eles fazem bem pro intestino, pra pele, pra todo o organismo [...] (Ana).

[...] são aqueles que além dos nutrientes, eles têm mais algo que ajudam a regular o organismo. Ômega 3, ômega 6 [...] eu nem sabia que existia tudo isso. Tem também o ácido linolênico [...] (Dirceu).

[...] são alimentos que fazem bem pro organismo e que estão sendo estudados [...] Eles previnem, combatem um monte de coisa [...] Que nem a soja, não é? [...] (Cristina).

Este tema, frequentemente abordado nos meios de comunicação, foi de grande interesse dos participantes. Assim, os indivíduos indicaram conhecimentos prévios sobre muitos alimentos funcionais, porém, muitas vezes, não conseguiram verbalizar o que são e o que contêm. Esta parte mais científica do conteúdo de aprendizado tornou-se mais difícil de assimilação, entretanto, ressaltou-se a importância junto ao grupo de averiguar se eles sabiam, de uma forma geral, em quais alimentos os componentes funcionais, benéficos para a saúde, estão presentes, pois, deste modo, podem colocar o conteúdo na prática diária, consumindo esses alimentos que são fontes dos compostos.

Alguns participantes indicaram falhas de memória, durante a entrevista, para relatar sobre os conteúdos discutidos:

[...] eu falei pra você que eu ando muito esquecida [...] (Maria). [...] minha cabeça tá péssima [...] (Ana).

[...] eu lembro, mas não sei explicar [...] (Lúcia).

Porém, mesmo não conseguindo explicar cientificamente sobre os assuntos abordados, eles acreditavam que na prática realizavam corretamente: “[...] posso não lembrar nomes agora, mas acho que na prática faço certo [...] to consumindo muito legume, verdura, frutas [...] acho que to me alimentando de forma mais adequada [...]” (Sueli).

Com todas as discussões sobre a importância do consumo de alimentos funcionais, indícios de conscientização e de mudanças comportamentais também foram relatadas na respectiva entrevista:

[...] eu to tentando comer mais arroz integral [...] (Dirceu).

[...] aqui em casa a gente não come muito soja [...] Agora a gente vai ter que mudar isso! [...] A farinha de soja eu também vou ver se eu acho pra comprar e por no leite [...] (Cristina).

[...] eu to comendo fibra de trigo [...] (Sueli).

Durante o oitavo encontro surgiu novamente o comentário sobre produtos diet e light, discutidos no segundo encontro, sobre os rótulos dos alimentos. Desta vez, a pesquisadora pediu a participação dos educandos para responderem a questão e, portanto, averiguar a aquisição do conhecimento discutido anteriormente:

Ana: [...] e aqueles sucos de soja com pêssego ... têm o light [...] (Vozes).

P: O que é o light?

Dirceu: O light tem 25% a menos de algum produto. P: Isso. No mínimo 25%. E o diet?

Dirceu: O diet é zerado.

Neste penúltimo encontro, uma das participantes deu o seguinte depoimento: “[...] eu acho que esse curso fez com que a gente ficasse mais crítica, observando coisas que, normalmente, você não observa. Por exemplo, ontem eu fui num passeio e, na hora de comer, colocaram a mesa e eu fiquei observando como se come mal [...]” (Clarice).

A capacidade de analisar fatos, tornando-se críticos durante o processo educacional, favorecendo reflexões, a consciência e a motivação para tomar decisões e realizar mudanças comportamentais são alguns dos objetivos e das características da educação problematizadora proposta por Freire (1980; 1988; 2000; 2001).

Freire (1980) complementa que ações preventivas implicam numa transformação no meio ambiente e na mentalidade de toda a população, tornando-se necessário que todos se sintam responsáveis pela preservação da saúde coletiva.

Assim, o depoimento anterior exprime que a atividade de educação nutricional associada à prática problematizadora atingiu seus objetivos, estimulando o pensamento crítico dos

educandos, evidenciando contribuições para que os indivíduos consigam mudar ou controlar suas atitudes para o favorecimento da manutenção da saúde e da qualidade de vida.