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3.4 Resultados das discussões realizadas com os indivíduos

3.4.5 Tema cinco: Radicais livres

O tema sobre radicais livres foi contemplado na última reunião em grupo. Como dito na justificativa para os encontros, este assunto foi sugerido pela pesquisadora e aprovado pelos participantes. Muitas vezes, os indivíduos não conseguiram verbalizar seus anseios, mas, durante a entrevista referente ao encontro, pode-se verificar que eles se conscientizaram da importância da discussão deste tema nos encontros, pois está muito relacionado com as suas vidas, embora muitos não soubessem ao certo o que era:

[...] pra falar a verdade, eu não sabia sobre os radicais livres [...] (Maria).

[...] porque a gente sempre ouviu falar de radicais livres, mas não tinha uma noção certa [...] E no organismo, como que era, como agia [...](Cristina).

[...] eu já tinha ouvido falar de radicais livres, mas não sabia bem o que era [...] (Sueli).

Durante o encontro em grupo sobre este tema, os indivíduos puderam esclarecer algumas dúvidas, que geraram novas informações, diálogos e relatos, demonstrando, assim, o processo de construção do conhecimento:

P: [...] os radicais livres são moléculas instáveis produzidas pelo organismo durante as reações em que envolvem o oxigênio [...] Nós respiramos e as células precisam de oxigênio [...] porém, neste processo são formados os radicais livres [...] É uma situação normal [...] basta estarmos vivos para estar formando esses radicais [...] Nós precisamos nos alimentar bem para combater esses radicais livres [...] Eles acabam reagindo com as células do nosso corpo e trazendo prejuízos [...].

Clarice: Então, os radicais livres acabam atacando as nossas células [...]. P: Isso.

Clarice: [...] as células sadias.

P: Isso! Vão atacar as células sadias [...] Os radicais livres alteram o código genético e produzem uma multiplicação celular desordenada, levando ao câncer, ao envelhecimento, às doenças pulmonares, catarata, entre outras doenças [...] Os radicais livres são formados ao longo da vida, mas é na faixa etária em que vocês estão que são mais percebidos os efeitos deles. Então, a pele vai envelhecendo, vão aparecendo os problemas de saúde. Tudo em consequência desses radicais livres.

[...]

Cristina: [...] por isso que hoje tem os produtos que combatem os radicais livres [...] (se

referindo aos cremes pra pele).

P: Sim. Agora até os cremes têm flavonóides [...]. [...]

P: [...] a vitamina C é antioxidante, mas tem que tomar cuidado, pois ela é instável ao calor.

Clarice: A vitamina C não pode esquentar?

P: Não. Então, é importante abrir a fruta e já comer.

Clarice: Se ficou um tempo também, ela oxida. Você faz o suco de laranja, depois vai tomar só lá que horas [...] a vitamina C vai embora também, né?

P: Isso. Tem que ser na hora. Se for fazer um suco de laranja, faz na hora e já toma. Não deixe lá a tarde inteira [...].

A abordagem sobre o licopeno, um antioxidante encontrado, principalmente, no tomate e seus derivados e outros alimentos de cor avermelhada (BIANCHI e ANTUNES, 1999; SALGADO, 2007), foi realizada no oitavo e neste último encontro, pois, além de ser um componente de alimentos funcionais, sua propriedade antioxidante também permite a sua discussão na reunião sobre radicais livres. Sobre este assunto, verificaram-se alguns relatos que manifestam o processo de aquisição do conhecimento por vários participantes:

P: No molho de tomate tem mais licopeno do que no tomate cru. Clarice: Por que tem mais no molho?

P: Porque ele está mais concentrado. Clarice: Ah!

P: [...] tudo o que é vermelho tem licopeno.

Após este questionamento, alguns indivíduos permaneceram sem entender muito bem e Clarice partilhou a experiência do seu conhecimento adquirido com os outros companheiros, comentando novamente o que a pesquisadora acabara de explicar.

Durante os encontros, discutiu-se que existem diversos fatores externos que auxiliam na formação dos radicais livres, como a poluição, a radiação, o fumo, o álcool, os resíduos de pesticidas nos alimentos, dentre outros.

Cristina: O pior é que se você tá perto de uma pessoa que fuma, nem que ele não tá fumando, ele exala [...].

Clarice: O problema do cigarro é que ele mata devagarinho [...].

Este diálogo permitiu a contextualização sobre o tabagismo como problema social, promovendo a reflexão sobre esta situação, sinalizando os riscos que afetam a saúde tanto a nível individual quanto coletivo.

Clarice: O problema do cigarro é que ele mata devagarinho. P: É que nem as doenças crônicas. A gente descobre que tem... [...]. Dirceu: Na hora fica apavorado, depois vai acostumando.

Esses relatos evidenciam o agravo das doenças crônicas na sociedade e o comportamento que os indivíduos, geralmente, têm, em relação a elas, verificado pelo depoimento de Dirceu, que inclusive apresenta diversas destas, como o diabetes e a hipertensão. Ele sabe de suas patologias, tem a consciência sobre as complicações que podem advir e, mesmo com uma infecção no pé, causada pelo diabetes, não se sente motivado para realizar mudanças comportamentais devido a problemas psicossociais e a solidão.

Desta forma, a educação nutricional tem o seu objetivo de favorecer a ampliação dos conhecimentos dos indivíduos, sobre nutrição, de uma forma consciente, para que eles possam atuar com autonomia sobre os seus problemas, auxiliando na prevenção e no controle de doenças, porém cada pessoa tem as suas particularidades e a realização das mudanças também depende da motivação pessoal (MARTINS, 2002).

Os indivíduos demonstraram dificuldades em obter um conhecimento mais científico sobre os processos de oxidação, reações que ocorrem no organismo com a presença de oxigênio e que geram os radicais livres: “[...] é um pouco difícil a gente entender sobre oxidação [...]” (Dirceu). Porém, o assunto foi tão interessante que incentivou a busca de maiores esclarecimentos após o encontro:

[...] sempre estimula a gente estudar, procurar [...] (Dirceu). [...] eu até andei procurando algumas coisas na internet [...] (Maria).

[...] eu sempre to procurando na internet sobre esse assunto. Eu sempre entro no site da terceira idade [...] e lá fala muito sobre alimentação [...] (Clarice).

Além disso, todas as discussões realizadas, não somente neste encontro, mas também sobre alimentação saudável e alimentos funcionais, que estão relacionados com hábitos alimentares adequados, favoreceram a ocorrência de mudanças comportamentais e que foram verificadas nesta entrevista:

[...] eu não gostava e deixava estragar as verduras aqui em casa. Agora, todo dia eu tenho comido uma salada, uma verdura [...] Tenho procurado comer porque sei que ajuda, né? [...] já faz uns três dias que eu to fazendo a linhaça, com leite desnatado e uma fruta. Você sabe que eu ando me sentindo tão bem [...] Eu coloco a aveia também [...] (Maria).

Os participantes exprimiram, durante o encontro, imensa satisfação na abordagem deste tema, que consideraram ser o mais importante de todos:

Sueli: Tudo isso é muito importante. (Os outros participantes concordaram).

Clarice: [...] o importante é que fique na cabeça da gente tudo isso da Pirâmide, os alimentos antioxidantes, os alimentos funcionais, que está resumido nessas duas partes que você acabou de falar.

P: Saber a prática [...].

Clarice: Saber a prática, porque agora quando você vai numa mesa você fala: opa! Espera lá! Mas isso a Carolina falou que é bom; isso a gente tem que comer menos [...] Assim, o importante é ficar na cabeça da gente essa parte. Que é um resumo de tudo o que você já falou.

Este conteúdo citado pelos participantes, realmente, foi a finalização sobre os encontros. Os indivíduos, neste momento, perceberam que não recebiam a informação apenas do que deviam ou não comer para terem uma boa saúde, mas também já sabiam as justificativas disso, que foram discutidas ao longo de todos os encontros.

Cabe ressaltar que, embora as discussões nesta reunião tenham sido de extremo interesse pelos participantes, estes não conseguiram verbalizar durante a entrevista inicial, nem em outros momentos da pesquisa, a necessidade da abordagem deste tema. Deste modo, a pesquisadora identificou lacunas de informação dos indivíduos. Porém, durante o encontro, estes entenderam a sua importância:

[...] na realidade, estava faltando mesmo [...] Os radicais livres são muito importantes. A gente precisa tomar consciência que é uma coisa que existe e que precisa fazer alguma coisa pra evitar. Porque os radicais livres vão atacar as células boas e, por meio de uma alimentação boa e balanceada, você pode evitar [...] (Clarice).

O relato de Clarice, a seguir, referido durante o encontro, evidencia a consciência sobre a importância do curso de nutrição e da forma como fora conduzido, indicando que a atividade educativa proposta contribuiu para a ampliação dos conhecimentos sobre nutrição dos indivíduos, para a motivação de mudanças comportamentais e para o autocuidado na preservação de sua saúde:

[...] você precisou ensinar o que era a Pirâmide, o que era alimentos antioxidantes e tudo isso daí (se referindo em geral sobre o curso). Porque tudo isso vai parar lá na frente e eu vou falar: não vou fazer isso, porque isso vai me causar tal coisa ou aquilo [...] (Clarice).

Infelizmente, neste dia, muitos participantes não compareceram ao encontro (quatro participantes). Porém, a abordagem do tema desenvolvido mostrou-se extremamente relevante por aqueles que compareceram e que evidenciaram grandes aquisições de conhecimentos:

[...] tem que evitar os radicais livres porque eles são muito reativos [...] Aonde eles se prenderem, ele vai tá envelhecendo [...] Tem que evitar as coisas que produz [...] (Dirceu). [...] deu pra aprender, pelo menos, que eles vêm do organismo mesmo, pela respiração [...] E o próprio organismo combate os radicais livres, mas ele precisa de vitaminas, de uma boa alimentação, que contenha aquilo que você precisa pra combater [...] A vitamina C, E, a A, betacaroteno, licopeno [...] Tem um ácido lá que eu nunca tinha ouvido falar [...] os flavonóides [...] (Cristina).

Todos esses depoimentos indicam o aprendizado e a consciência que os indivíduos adquiriram em relação ao tema, reforçando a sua importância de discussão, principalmente, nesta faixa etária em que se tornam mais visíveis os efeitos dos radicais livres.