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Principais medidas de política educativa que condicionaram a evolução do sistema

1. Aspectos de evolução do sistema educativo

1.1. O equilíbrio do sistema

1.1.1. Principais medidas de política educativa que condicionaram a evolução do sistema

Até 1964, a escolaridade obrigatória no sistema de ensino nacional ficava-se pelos quatro anos do ensino primário, hoje designado por 1º ciclo do ensino básico. Somente em 1964, através do Decreto-Lei n.º 45 810 de 9 de Julho, é alargado o tempo de escolaridade obrigatória de quatro para seis anos, passando a abranger o ensino preparatório, actualmente denominado ensino básico do 2º ciclo.

As taxas de escolaridade nos ensinos secundário e superior eram baixas porque se tratavam de níveis não abrangidos pela escolaridade obrigatória e como tal, eram frequentados apenas por uma pequena facção da população considerada de elite. O acesso ao ensino superior era feito através da realização de um exame de aptidão, e embora a oferta de ensino superior fosse reduzida, era ainda assim suficiente para colmatar uma procura também ela baixa. No entanto, desde meados da década de 60 que existiam sinais de um grande aumento da procura ao nível do ensino superior.

De uma forma genérica, podemos dizer que até 1974 o sistema não apresentava grandes problemas quanto à sua dimensão. Contudo, estudos internacionais elaborados na época relativamente ao sistema de ensino nacional, apontavam para um grande crescimento do mesmo no futuro. A evolução do número de alunos, por nível de ensino, durante a década de 60, pode ler-se na tabela 2, onde se verifica que a maior variação ocorreu no ensino secundário (mais que triplicou), embora a população neste nível continuasse a ser reduzida quando comparada com os restantes. Pelo contrário, a menor taxa de crescimento processou-se no ensino básico do 1º ciclo (11,7%), facto absolutamente natural já que é neste nível que a população escolar tem sido mais relevante, porque de frequência obrigatória.

Tabela 2 – Evolução de alunos por nível de ensino para os anos lectivos de 1960/61, 1965/66 e 1970/71

Nível Ano Variação Variação

ensino lectivo quinquénio década

1960/61 888.235

Ensino básico 1º ciclo 1965/66 892.603 0,5%

1970/71 992.446 11,2% 11,7%

1960/61 82.053

Ensino básico 2º ciclo 1965/66 104.221 27,0%

1970/71 153.710 47,5% 87,3%

1960/61 106.988

Ensino básico 3º ciclo 1965/66 153.176 43,2%

1970/71 217.976 42,3% 103,7% 1960/61 8.360 Ensino secundário 1965/66 13.095 56,6% 1970/71 25.726 96,5% 207,7% 1960/61 24.149 Ensino superior 1965/66 33.972 40,7% 1970/71 49.461 45,6% 104,8% Alunos

Fonte: adaptado de Barreto;1996

Veiga Simão, à data, Ministro da Educação apercebeu-se daquelas tendências de crescimento e deu início ao primeiro grande projecto de reforma do sistema educativo nacional da segunda metade do século XX (...) cujas repercussões ultrapassaram em muito as fronteiras do sistema de ensino (Stoer;1983;793).

O processo foi despoletado com a crise académica gerada no seio da Academia de Coimbra no ano de 1969, e que esteve na origem da substituição do então Ministro da Educação, José Hermano Saraiva por Veiga Simão (Teodoro;1999). A crise académica era um reflexo do descontentamento da sociedade em geral e um sinal de mudança. Após ter tomado posse, a democratização do ensino passou a ser o cerne (...) do seu discurso e da sua acção política (ob. cit.;300) tendo retomado (...) o projecto de Galvão Telles de uma reforma geral do ensino (ob. cit.;301).

Veiga Simão iniciou a sua acção reformadora, convidando um grupo limitado de colaboradores que o auxiliaram na preparação de dois documentos programáticos que tinham por objectivo a promoção de uma profunda renovação em todo o sistema de ensino nacional (Ralha;1997; in: Fundação das Universidades Portuguesas). Esses dois textos, designados respectivamente:

i. Projecto do Sistema Escolar

ii. Linhas Gerais da Reforma do Ensino Superior,

continham as linhas gerais de reforma do sistema educativo e estes constituíam (...) a peça-chave da estratégia de Veiga Simão (...) (Teodoro;1999;303) para o seu projecto de reforma. Os dois documentos foram apresentados publicamente em 1971 pelo próprio ministro e posteriormente publicados, (...) de molde a proporcionar uma ampla e aberta discussão pública (...) (Stoer;1983;793).

As principais inovações contidas no Projecto do Sistema Escolar (Fundação das Universidades Portuguesas;2002) eram as seguintes: criação da educação pré-escolar oficial; diminuição para os 6 anos de idade para o ingresso obrigatório na escola primária; aumento da escolaridade obrigatória para 8 anos; aumento de um ano no ensino secundário passando a ter dois ciclos, cada um com a duração de 4 anos; abolição dos exames de aptidão ao ensino superior; generalização do grau de bacharel nos estabelecimentos de ensino superior, criação de departamentos de ciências nas universidades e institucionalização de um novo sistema de formação de professores do ensino secundário. O Projecto do Sistema Escolar deu origem à Proposta de Lei de Reforma do Sistema Educativo (Lei n.º 25/X), sendo submetida a discussão na Assembleia da República. Esta Proposta de Lei acabou por ser aprovada e traduzida em Lei a 25 de Julho de 1973 sob o desígnio de Lei de Bases do Sistema Educativo, Lei n.º 5/73. Neste diploma ficou consagrado o direito à educação, a igualdade de oportunidades, o acesso pelo mérito e a liberdade do ensino em todas as modalidades (ob. cit.).

Seguindo ainda a mesma referência literária, o documento contendo as Linhas Gerais da Reforma do Ensino Superior teve expressão na Lei de Bases do Sistema Educativo, Lei n.º 5/73 mas, essencialmente, foi definitivo na elaboração do Decreto-Lei n.º 402/73 de 11 de Agosto, que consagrou a expansão e diversificação do ensino superior.

No entanto, até à aprovação desses dois diplomas e no que respeita ao ensino superior, Veiga Simão, deu inicio à sua acção reformadora de forma faseada no tempo. Teodoro (1999) distingue duas fases dessa acção:

- na primeira e através de medidas legislativas avulso, o ministro procede à revisão do estatuto da carreira docente, valorizando a investigação científica e criando condições para a dedicação exclusiva à docência e à actividade de investigação; alargamento de quadros; abertura de concursos públicos para lugares de topo da carreira universitária; reconhecimento de doutoramentos realizados em universidades estrangeiras; atribuição de bolsas de doutoramento em universidades estrangeiras e modernização de cursos universitários onde existiam condições institucionais para tal;

- numa segunda fase, Veiga Simão, apoiado tecnicamente pela OCDE, deu início ao (...) projecto de expansão e diversificação do ensino superior (...) que passava pela criação de novas universidades e de novos tipos de instituições de ensino superior, os institutos politécnicos e as escolas normais superiores (ob. cit.;309). O principal objectivo desta expansão era fazer face ao acréscimo da procura de ensino superior que já se fazia sentir. Por exemplo, entre 1960/61 e 1970/71 os alunos tinham quase duplicado. Seguindo o mesmo autor (ob. cit.;309), a preparação desse projecto constituiu, possivelmente, o mais importante exercício de planeamento alguma vez concretizado em Portugal no campo educativo. Foram elaborados um conjunto de estudos abrangendo tanto o nível nacional como o regional relativamente à procura de ensino superior, capacidade de atracção e acolhimento das principais cidades e à previsão das necessidades da economia nacional (Fraústo da Silva;1991; ap. Teodoro;1999).

De acordo com Teodoro (ob. cit.;309-310), foi com base nos resultados desses estudos, conjugados com (...) muitas pressões de natureza política e regional, que o plano de expansão e diversificação do ensino superior, aprovado pelo decreto-lei 402/73 (...), contemplou a criação de três novas universidades e de um instituto universitário, dez institutos politécnicos (seis de raiz e quatro resultantes da reconversão de estabelecimentos já existentes) e dez escolas normais superiores.