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Principiantes versus experientes

CAPÍTULO II – O impacto com a realidade docente

2. Os problemas percebidos

2.1. Principiantes versus experientes

Para além dos estudos apresentados sobre os problemas que encontram os professores principiantes durante o período de iniciação ao ensino, a abordagem de outros trabalhos de investigação sobre os professores principiantes versus experientes, acabam por comprovar e reforçar, que os problemas inventariados poderão ser comuns aos principiantes e experientes, diferindo apenas no grau e no foco de preocupação bem como nas estratégias utilizadas para a solução dos problemas da classe.

Noutros estudos realizados em diferentes países, em que se procedeu à comparação entre professores principiantes e professores com experiência, foi possível concluir que os professores com experiência, também apresentam dificuldades em diversas áreas problemáticas já identificadas, à semelhança do que acontece com os professores principiantes.

Nesse sentido, considerámos pertinente o seu enquadramento neste trabalho, pelo acréscimo de informação que poderá significar a sua referência para a temática em análise.

Na revisão de estudos efectuada por Veenman (1988) a que já fizemos alusão o autor concluiu ainda que a maioria dos problemas sentidos pelos docentes não estão exclusivamente vinculados ao início da profissão, na medida em que não são só os professores principiantes que apresentam dificuldades, apresentando diferenças apenas no foco de preocupação. Assim, de entre todos os estudos, a disciplina na classe é a primeira preocupação reconhecida pelos professores principiantes (enquanto que para os mais experientes, este factor aparece apenas em quarto lugar). Motivar os alunos, lidar com diferenças individuais e avaliá-los são os três problemas que aparecem expressivamente na lista dos 24 problemas mais comuns (quadro nº 1). O planeamento das aulas e do dia escolar tem pouca expressão, aparecendo em 11º lugar.

Quanto aos professores experientes o foco dos problemas desloca-se da sala de aula (embora a disciplina escolar e outros aspectos sejam referenciados), para factores da profissionalidade docente - demasiadas obrigações administrativas, posição social insatisfatória, incerteza

básica sobre o sucesso como professor – acompanhando os resultados provenientes dos estudos sobre os ciclos de vida dos professores.

Jordell (1985) realizou um estudo na Noruega em que, através de um questionário, procurou comparar os problemas dos professores principiantes com os dos professores com experiência.

Com base numa amostra de 472 professores noruegueses, o autor concluiu que os problemas sentidos por uns e por outros são os mesmos, no que diz respeito:

aos aspectos relacionados com o tempo; aos recursos didácticos na escola;

aos problemas básicos do ensino (como exemplificar e diversificar os métodos de ensino);

ao tratamento individualizado dos alunos;

à percepção do êxito (ou fracasso) no desempenho das suas funções.

Simultaneamente foram ainda identificados alguns problemas típicos dos professores principiantes, nomeadamente:

a disciplina e a ordem na sala de aula; a planificação a longo prazo;

a atribuição de notas;

a detecção dos conteúdos anteriormente abordados; o nível de apresentação dos conteúdos;

a definição do papel do professor.

Desta forma, verifica-se que os problemas assinalados na investigação de Jordell (1985) não diferem dos encontrados noutras investigações, destacando como principal dificuldade a

Este estudo permitiu ainda concluir que os professores principiantes procuram mais orientação e ajuda do que os professores com experiência, sobre questões práticas, tais como a localização e uso de materiais, conhecimento das regras e rotinas da escola sobre problemas de ordem disciplinar e sobre o nível de conhecimento dos alunos. Quanto aos professores experientes verifica-se que solicitam mais orientação, em relação a problemas de natureza pedagógica (organização de actividades, motivação, diferenciação e individualização) e à planificação.

Esta investigação revelou que, para 6% dos professores inquiridos, os primeiros tempos na profissão constituíram uma experiência fortemente negativa e para 45% foi uma experiência negativa.

Outro estudo a merecer destaque é o de Evans y Trible realizado na década de 80 (cit. Veenman, 1988), em que os autores pretenderam comparar os problemas dos professores principiantes com os dos professores em formação. A amostra englobada por 179 futuros professores, cujos problemas foram comparados com os que Veenman (1984) destacou da sua revisão de literatura.

Assim, ambos os grupos tinham em comum problemas respeitantes à motivação dos alunos e ao tratamento das diferenças individuais. Porem, os resultados mostram que a ordem dos problemas de ensino entre os dois grupos é divergente. A disciplina na sala de aula, a avaliação do trabalho dos alunos e o relacionamento com os pais são prioritários para os professores principiantes, enquanto que os candidatos a professor exteriorizam problemas relativamente ao conteúdo disciplinar. A diferença na percepção de problemas prende-se, na perspectiva dos autores, com a relativa falta de experiência directa de ensino por parte dos candidatos a professor.

Prosseguindo na revisão de trabalhos de investigação sobre professores

experientes/principiantes, Marcelo Garcia (1988), referencia o estudo de Berliner, que visava a determinação das reacções dos professores experientes e principiantes durante a realização de determinadas tarefas.

Os resultados desta investigação permitiram concluir que, existem diferenças entre os professores principiantes e experientes quanto ao tipo de estratégia utilizada para a solução dos problemas da classe, nas atitudes para processar informação acerca dos estudantes, na forma como procuram conhecer os estudantes e avaliar o que aprenderam, na quantidade de

informação que recordam sobre os alunos, na quantidade e tipo de atenção que prestam aos exames e na informação dos trabalhos de casa, proporcionados durante a investigação.

Os estudos apresentados evidenciam que os problemas percepcionados não são exclusivos

dos professores em início de carreira. Na verdade, estes também “marcam presença” no dia a

dia do professor mais experiente, muito embora, não exista uma convergência nos domínios em que os problemas emergem. Para os professores principiantes as preocupações e

problemas centralizam-se na sala de aula, enquanto que para os experientes o “epicentro”das

preocupações assentam em outros factores da profissionalidade docente.

Caracterizando o professor principiante, por oposição ao professor experiente Alarcão (1991:74), apresenta a seguinte metáfora, clarificando assim as principais diferenças

existentes entre estes docentes. “A diferença entre o professor experiente e o jovem professor está em que

o professor no início da sua carreira tem de socorrer-se do saber e das ferramentas ainda pouco trabalhadas que adquiriu na sua formação inicial, enquanto que o professor experiente tem à sua disposição a ferramenta bem oleada do tal saber de experiência, feito que hoje começa de novo a valorizar-se e a designar-se por epistemologia da prática. O percurso dos novatos tende a ir do conhecimento explícito para a aplicação desse mesmo conhecimento; os experientes, esses agem espontaneamente com base num conhecimento que agora lhes é tácito porque ciclicamente interiorizado”.