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No que diz respeito a esta modalidade de prisão – prisão-pena –, torna-se necessário colacionar aqui o que nos ensina Renato Brasileiro (2015, p. 850, grifo nosso), que em sua obra conceitua prisão-pena da seguinte maneira:

A prisão penal, prisão-pena ou carcer ad poenam, é aquela que resulta de

sentença condenatória com trânsito em julgado que impôs o

cumprimento de pena privativa de liberdade. Só pode ser aplicada após um devido processo penal no qual tenham sido respeitadas todas as garantias e direitos do cidadão. Além de expressar a satisfação da pretensão punitiva ou a realização do Direito Penal objetivo, caracteriza-se pela definitividade.

Dessa forma, Nestor Távora e Rosmar Rodrigues Alencar (2015, p. 817, grifo nosso), explicam que:

A prisão é o cerceamento da liberdade de locomoção, é o encarceramento.

Pode advir de decisão condenatória transitada em julgado, que é a chamada prisão-pena, regulada pelo Código Penal, com o respectivo

sistema de cumprimento, que é verdadeira prisão satisfativa, em resposta estatal ao delito ocorrido, tendo por título a decisão judicial definitiva.

No dizer, Guilherme de Souza Nucci (2015, grifo do autor): “a sanção imposta pelo Estado, por meio de ação penal, ao criminoso como retribuição ao delito perpetrado e prevenção a novos crimes”.

Prossegue o autor explicando que:

O caráter preventivo da pena desdobra-se em dois aspectos (geral e especial), que se subdividem (positivo e negativo): a) geral negativo: significando o poder intimidativo que ela representa a toda a sociedade, destinatária da norma penal; b) geral positivo: demonstrando e reafirmando a existência e eficiência do direito penal; c) especial negativo: significando a intimidação ao autor do delito para que não torne a agir do mesmo modo, recolhendo-o ao cárcere, quando necessário; d) especial positivo: que é a proposta de ressocialização do condenado, para que volte ao convívio social, quando finalizada a pena ou quando, por benefícios, a liberdade seja antecipada. Conforme o atual sistema normativo brasileiro, a pena não deixa de possuir todas as características expostas em sentido amplo (castigo + intimidação e reafirmação do direito penal + ressocialização): o art. 59 do Código Penal menciona que o juiz deve fixar a pena de modo a ser necessária e suficiente para a reprovação e prevenção do crime. (NUCCI, 2015).

Nesse prisma, é válido ressaltar o que dispõe o Código de Processo Penal, em seu artigo 283:

Art. 283. Ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente, em

decorrência de sentença condenatória transitada em julgado ou, no

curso da investigação ou do processo, em virtude de prisão temporária ou prisão preventiva. (BRASIL, 1941, grifo nosso)

Art. 84. O preso provisório ficará separado do condenado por sentença

transitada em julgado.

[...]

Art. 105. Transitando em julgado a sentença que aplicar pena privativa de liberdade, se o réu estiver ou vier a ser preso, o Juiz ordenará a expedição de guia de recolhimento para a execução.

[...]

Art. 147. Transitada em julgado a sentença que aplicou a pena restritiva de direitos, o Juiz da execução, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, promoverá a execução, podendo, para tanto, requisitar, quando necessário, a colaboração de entidades públicas ou solicitá-la a particulares. (BRASIL, 1984, grifo nosso)

Então, a prisão-pena, diferentemente das prisões cautelares, necessariamente advém de uma sentença penal condenatória transitada em julgado. Gustavo Henrique Badaró (2017, grifo nosso), assim conceitua:

Assim, o trânsito em julgado da sentença penal condenatória ocorre no

momento em que a sentença ou o acórdão torna-se imutável, surgindo

a coisa julgada material. Não há margem exegética para que a expressão seja interpretada, mesmo pelo Supremo Tribunal Federal, no sentido de que o acusado é presumido inocente, até o julgamento condenatório em segunda instância, ainda que interposto recurso para o Supremo Tribunal Federal ou Superior Tribunal de Justiça.

O trânsito em julgado é o provimento jurisdicional definitivo, e que, antes dele, o que se tem é a utilização de instrumentos legais para que se chegue a uma sentença guerreada por cada uma das partes. (BADARÓ, 2017).

Na opinião de Gasperini (2016, grifo nosso):

E, havendo um inconformismo em relação à decisão prolatada na sentença, a matéria atacada poderá (faculdade) ser reexaminada por um órgão superior, através do exercício do duplo grau de jurisdição, o que se dá por meio dos recursos.

Os recursos têm como objetivo rediscutir a matéria atacada e servem para evitar o trânsito em julgado da decisão, impedindo a execução da pena. Depois de esgotadas todas as vias recursais, diz-se que a sentença alcançou o trânsito em julgado, que produz coisa julgada formal ou material, e sendo a sentença condenatória, dá início a uma nova fase processual, a da execução da pena, onde efetivamente o réu passa a cumprir a pena que lhe foi imposta.

Portanto, a prisão-pena, diferentemente das prisões cautelares é aquela que advém de uma sentença penal condenatória transitada em julgado, o que se configura quando, da decisão condenatória, não cabe mais nenhum recurso, ou seja, a decisão é imutável, momento em que se pode dar início ao cumprimento da pena fixada pelo juízo competente.

A seguir será analisado o julgamento do habeas corpus 152.752 pelo Supremo Tribunal Federal, cujo objetivo era impedir a execução provisória da pena imputada ao paciente em decisão condenatória proferida pelo segundo grau de jurisdição, no caso o Tribunal Regional Federal da 4ª Região.

4 POSICIONAMENTO ADOTADO PELO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL NO HABEAS CORPUS 152.752

Estudou-se, até o momento, o princípio da presunção de inocência, sua previsão na CRFB/88, assim como sua previsão na legislação internacional, da qual o Brasil é signatário; as modalidades de prisões cautelares existentes no ordenamento jurídico brasileiro e a prisão-pena, prisão esta que necessita de uma sentença penal condenatória transitada em julgado, conforme dispõe a CRFB/88 em seu artigo 5º, LVII.

Nesse contexto, julgou-se por oportuno analisar o julgamento adotado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no habeas corpus 152.752 (BRASIL, 2018), em que o objetivo era impedir a execução provisória da pena após a condenação em segunda instância, que, no caso em tela, era o Tribunal Regional Federal da 4ª Região.

Antes de adentrarmos à análise do julgado, faz-se necessário ressaltar algumas particularidades do caso, como, por exemplo o fato de o paciente no

habeas corpus ser o ex-presidente da República Federativa do Brasil, o sr. Luiz

Inácio Lula da Silva.

Luiz Inácio Lula da Silva fora condenado pelo Juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, a nove anos e seis meses de prisão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, crimes estes investigados na Operação Lava Jato, que concluiu que o ex-presidente teria recebido vantagens indevidas da empreiteira OAS por meio de um tríplex localizado no município de Guarujá, estado de São Paulo.

Inconformada com a decisão do juiz de primeira instância, a defesa do ex- presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e também o Ministério Público, recorreram ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região, que confirmou a condenação do ex- presidente, elevando sua pena a 12 meses e um ano de prisão, sendo o regime inicial, para o cumprimento da pena, fechado. Determinou-se, ainda, o início da execução da pena imposta, mesmo havendo a possibilidade de interposição do recurso especial e do recurso extraordinário.

A defesa do ex-presidente impetrou habeas corpus preventivo perante o Superior Tribunal de Justiça (HC nº 434766), com o objetivo de evitar a execução provisória da pena imposta pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região antes do

trânsito em julgado da sentença penal condenatória, tendo em vista a violação ao princípio da presunção de inocência. O Superior Tribunal de Justiça (STJ) negou a ordem, sob alegação da existência de amparo jurisprudencial das cortes superiores, o que permitiria a execução provisória da pena.

Inconformada com a decisão do STJ, a defesa do ex-presidente impetrou

habeas corpus perante o Supremo Tribunal Federal, que denegou, por maioria, a

ordem, entendendo que não existiu qualquer ilegalidade nas decisões que determinaram o cumprimento antecipado da pena após a condenação em segunda instância.

Portanto, é fundamental que seja analisada a decisão do STF, que permitiu a execução antecipada da pena mesmo antes do trânsito em julgado da sentença penal condenatória, abordando, de forma pormenorizada, as principais fundamentações utilizadas pelos ministros para impedir a execução antecipada da pena e, as principais fundamentações utilizadas no sentido de permitir a execução antecipada da pena, que será feita a seguir.

4.1 FUNDAMENTAÇÃO UTILIZADA PELOS MINISTROS FAVORÁVEIS A

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