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A prisão temporária fora instituída no ordenamento jurídico brasileiro com a sanção da Lei nº 7.960, de 21 de dezembro de 1989, que, segundo Renato Brasileiro de Lima (2015, p. 973), “foi criada com o objetivo de assegurar a eficácia das investigações criminais quanto a alguns crimes graves”.

Nestor Távora e Rosmar Rodrigues Alencar (2015, p.860-861, grifo nosso) conceituam:

A temporária é a prisão de natureza cautelar, com prazo preestabelecido de duração, cabível exclusivamente na fase do inquérito policial – ou de investigação preliminar equivalente, consoante art. 283, CPP, com redação dada pela Lei no 12.403/2011 –, objetivando o encarceramento em razão

das infrações seletamente indicadas na legislação.

Corroborando a mesma ideia, Heráclito Antônio (2010, p. 427), considera que:

A prisão temporária tem finalidade precipuamente de caráter investigatório, pois sua decretação objetiva permitir à autoridade policial a coleta de elementos incidentes sobre as infrações penais e de sua autoria (art. 4° do CPP). Aliás, o legislador, ao tratar dos pressupostos dessa prisão, deixa claro, no art. 1°, I, da Lei n. 7·960/89, que terá ela cabimento "quando imprescindível para as investigações do inquérito policial". A rigor, não se pode vislumbrar, nessa modalidade de prisão, medida de caráter cautelar em seu exato sentido no campo processual penal.

A prisão temporária somente pode ser decretada pela autoridade judiciária e em razão de representação da autoridade policial ou, a requerimento do membro do Ministério Público, tendo em vista o que dispõe o artigo 2º da Lei n. 7.960, de 21 de dezembro de 1989. (TÁVORA; ALENCAR, 2015, p. 861).

Entretanto, Renato Brasileiro de Lima (2015, p. 984) opina:

A representação da autoridade policial ou o requerimento do Ministério Público precisam estar instruídos com indicativos suficientes de autoria ou participação delituosa (jumus comissi delicti), além da necessária comprovação do periculum libertatis, consubstanciado na indispensabilidade da segregação cautelar para assegurar a efetividade da investigação preliminar.

Nesse contexto, Aury Lopes Junior (2017), entende que, não se pode perder de vista que se trata de uma prisão cautelar para satisfazer o interesse da polícia,:

Pois sob o manto da “imprescindibilidade para as investigações do inquérito”, o que se faz é permitir que a polícia disponha, como bem entender, do imputado. Assim, ao contrário da prisão preventiva, em que o sujeito passivo fica em estabelecimento prisional e, se a polícia quiser conduzi-lo para ser interrogado ou participar de algum ato de investigação, deverá necessariamente solicitar autorização para o juiz, a prisão temporária lhe dá plena autonomia, até mesmo para que o detido fique preso na própria delegacia de polícia. Significa dizer que ele está 24 horas por dia à disposição de todo e qualquer tipo de pressão ou maus-tratos, especialmente das ardilosas promessas do estilo “confessa ou faz uma delação premiada que isso acaba”.

Reiterara-se que, em razão da prisão temporária ser uma prisão anterior à sentença penal condenatória transitada em julgado, mesmo que ela tenha esse caráter investigatório/policial, é extremamente excepcional sua decretação, conforme nos ensina Heráclito Antônio (2010, p. 428).

No que diz respeito à decretação da prisão temporária em razão do indiciado não possuir residência fixa ou não fornecer elementos que possibilitem a sua identificação. Nesse caso, haveria um risco de a investigação não se concretizar em razão do possível desaparecimento do investigado, o que é provável em razão deste não possuir residência fixa e nem estar devidamente identificado. (TÁVORA; ALENCAR, 2015, p. 863).

Já em razão da decretação da prisão temporária em razão da imprescindibilidade para as investigações do inquérito policial, Nestor Távora e Rosmar Rodrigues Alencar (2015, p. 862), asseveram que não é mera conveniência, e sim:

A essencialidade da medida para que as investigações possam lograr êxito, já que o indiciado, se em liberdade, será um obstáculo ao desvendamento integral do crime, pois a sua liberdade é um risco ao sucesso das diligências. É essencial que este fundamento esteja devidamente demonstrado para que a medida possa ser decretada.

No que tange à possibilidade de decretação da prisão temporária em razão de existir fundadas razões, de acordo com qualquer prova admitida na legislação penal, de autoria ou participação do indiciado nos relacionados no inciso III e suas alíneas da Lei nº 7.960/1989, com o que a legislação se preocupou foi, de

forma taxativa, indicar as infrações penais que permitem a decretação da prisão temporária. (TÁVORA; ALENCAR, 2015, p. 864).

Já no tocante ao procedimento a ser observado até a decretação da prisão temporária, Renato Brasileiro de Lima (2015, p. 984) observa que:

Quando houver representação da autoridade policial, deve o Ministério Público ser obrigatoriamente ouvido, a fim de que se manifeste quanto à presença dos pressupostos indispensáveis à privação cautelar da liberdade – fumus comissi delicti (inciso III do art. 1°) e periculum libertatis (inciso I ou II do art. 1 °). Na hipótese de uma prisão temporária ser decretada de oficio, ou diante de mera representação policial, sem a obrigatória e prévia manifestação do Ministério Público, ter-se-á manifesto constrangimento ilegal, haja vista ser o Parquet o titular da ação penal pública, sendo ilógica e arbitrária a adoção da medida cautelar sem que o dominus litis manifeste- se favoravelmente à adoção da medida. Com efeito, basta imaginarmos o quanto inconveniente seria a decretação de uma prisão temporária sem a aquiescência do órgão ministerial, caso o Ministério Público deliberasse posteriormente pelo não oferecimento de denúncia.

Por fim, tratando-se do prazo da prisão preventiva, Renato Brasileiro de Lima (2015, p. 984), esclarece que:

A prisão temporária será decretada pelo juiz, em face da representação da autoridade policial ou de requerimento do Ministério Público, e terá o prazo de 5 (cinco) dias, prorrogável por igual período em caso de extrema e comprovada necessidade. Da leitura do art. 2°, caput, da Lei n° 7.960/89, depreende-se que a prisão temporária não pode ser decretada de ofício pelo juiz. Preserva-se, assim, o sistema acusatório e o princípio da imparcialidade do juiz.

Desse modo, nas palavras de Aury Lopes Junior (2017): “a prisão temporária possui uma cautelaridade voltada para a investigação preliminar e não para o processo. Não cabe prisão temporária (ou sua permanência) quando já tiver sido concluído o inquérito policial”.

Uma vez estudado a prisão temporária, será abordada a prisão-pena, modalidade de prisão que não se trata de cautelar.

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