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De uma outra entrevista, Alexandre Castro-Caldas, a 1 de Abril de 2006 sustenta [Castro-Caldas, A 2006]:

3.1. As Prisões em Portugal

Até inícios do século XVIII o combate à criminalidade em todo o mundo era exercido através de castigos corporais e humilhação pública conduzindo por vezes à morte do criminoso. Só a partir da década de sessenta desse século é reconsiderada a justiça tradicional e as suas formas de punir (autênticos espectáculos públicos de horror e maldição, os suplícios, confissão pública dos crimes, o pelourinho e as obras públicas). Na Europa e nos Estados Unidos, a última metade desse século foi marcada por uma época de inúmeros projectos e reformas na ―redistribuição da economia do castigo‖ (cf., p.13) [Foucault, M. 2002], alicerçadas em novas teorias da lei e do crime e nas novas justificações morais e políticas do direito de punir. Com a redacção de códigos penais modernos, entra-se numa nova era da justiça penal. O acto de punir publicamente começa, aos poucos,

a ser visto de modo negativo, não compreendido e a deixar a suspeita de ser um ritual que mantinha com o crime ―afinidades espúrias: igualando-o em selvajaria,

acostumando os espectadores a uma ferocidade de que todos queriam vê-los afastados, …, fazendo o carrasco se parecer com criminoso, os juízes aos assassinos…‖ [Foucault, M. 2002]. Assim, a punição, aos poucos, torna-se a parte menos visível de todo um processo penal. A sua eficácia atribui-se ―à sua

fatalidade, não à sua intensidade visível‖ [Foucault, M. 2002]. Dentro desta nova filosofia de ocultação da punição, a primeira grande cadeia construída em Portugal foi a Cadeia da Relação do Porto que iniciou funções em 1789. Em 1843, a 2 de Março é aprovado por Decreto o Regulamento Provisório da Polícia das Cadeias, no entanto, o verdadeiro nascimento da prisão enquanto instrumento jurídico do Portugal moderno dá-se a 10 de Dezembro de 1852 quando o Duque de Saldanha assina o novo Código Penal que substitui as penas corporais das Ordenanças pelas penas efectivas de prisão. No entanto, continuam a não ser construídas cadeias no sentido actual do termo, ou seja, com regime celular. Em 1872 surge o Regulamento provisório das Cadeias Civis. E, só em 1901 surge o Regulamento definitivo. Em 1860 surge a primeira ―proposta de Lei Orgânica das Prisões‖. A Lei de 1 de Julho de 1867 institui em Portugal o sistema penitenciário de acordo com o modelo de Filadélfia e era abolida a pena de morte e os trabalhos públicos. Este modelo previa o regime celular, com a separação completa entre presos e o seu isolamento. Pretendia regenerá-los pela actividade prisional, pela instrução das primeiras letras e pela educação das virtudes religiosas. A primeira cadeia a ser construída para obedecer a estes princípios foi a de Lisboa que entrou em funcionamento em 1885 e mantém ainda hoje, quase inalterável, a sua arquitectura. O Código Penal de 1886 indicava a necessidade da construção das colónias penitenciárias para menores delinquentes, sujeitos condenados a penas de prisão maior, internados por medidas de segurança, alcoólicos, mendigos e vadios, entre outros. Por proposta do Director da colónia, o Conselho Superior dos Serviços Criminais poderia alargar em mais alguns anos a pena dos detidos considerados não recuperados. A liberdade condicional é instituída em 1893, mas raramente aplicada. Surge também a figura da pena suspensa. Endurecem, no entretanto, as criticas ao sistema celular tradicional e, em 1912, é determinada a construção da Colónia Penal Agrícola de Sintra, a primeira colónia agrícola que vem suprir as necessidades de ocupar os presos de origem e formação rural e desajustados de um modelo de cadeia citadina e de pretensões industriais na sua concepção. Desde

As Prisões em Portugal

R e c u r s o s M u l t im é d i a n a A l f a b e t i za ç ã o , L i t e r a c i a e I n s e r ç ã o S o c i a l | 109 1919, altura da sua criação, os Institutos de Criminologia desenvolveram trabalho científico ao nível do que melhor se conceptualiza e pratica na Europa. São mais tarde extintos. Em 1932 são criadas as colónias de Santa Cruz do Bispo e Santo Antão do Tojal. Em 1932, a Reforma Prisional reorganiza todo o sistema penitenciário português e é criada a Direcção Geral dos Serviços Prisionais (D. G. S. P.), que até hoje se mantém funções e, é iniciada a distribuição dos presos por cadeias diferentes conforme a duração da pena, ficando as colónias penais destinadas a receber presos com maior tempo de pena ou considerados de difícil correcção. A D.G.S.P. tem como objectivo administrar os estabelecimentos prisionais, exercer a observação, cautelar e fiscalizar o detido na trajectória do cumprimento da pena, bem como assistir e auxiliar o regresso à sociedade. (Decreto-Lei nº 265/79, de 1 de Agosto). Para cumprir esses objectivos, a D.G.S.P. trabalha com variadas equipas, de entre as quais, estão as socioeducativas, que visam à re-socialização dos detidos. Estas equipas procuram nas acções laborais e educativas cumprir a meta de assocializado dos detidos, valendo-se da educação escolar como aliada no processo. A Área Educativa da D.G.S.P. dinamiza acções culturais, contribui com informações referentes à realização da educação escolar no interior dos estabelecimentos prisionais do Estado, assim como pode definir Regulamentações/orientações em parceria com outras entidades públicas e privadas, tais como: Ministério de Educação (M.E.), Instituto de Emprego e Formação Profissional (I.E.F.P.) e Centro Protocolar de Formação Profissional para o Sector de Justiça (C.P.J.). O trabalho prisional e os ―campos de trabalho‖ são, pela primeira vez, regulamentados pelo Decreto-Lei nº 34674 de 18 de Junho de 1945. Só em 1976 é criado um tribunal especializado na execução das penas, o Tribunal de Execução de Penas, que decide sobre as liberdades condicionais e, ainda, as saídas precárias prolongadas dos reclusos ao exterior, então instituídas. O regulamento geral das prisões portuguesas, hoje em vigor, foi publicado no Decreto-Lei nº 265/79 de 1 de Agosto. Só em 1981 é instituído o termo ―Estabelecimento Prisional‖ para todo o tipo de prisões e entra em vigor a nova Lei Orgânica dos serviços prisionais, sofrendo alterações em 1983, 1989, 1997 e em 1999 por duas vezes. Em 1982, o serviço de assistência social nas prisões é substituído pelo Instituto de Reinserção Social, designado desde 2007 como Direcção de Serviços de Reinserção Social. Em 1999 é criada a carreira de administradores prisionais, corpo especializado na direcção, inspecção e planeamento das prisões.