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A Problemática, a Questão Central e os Objectivos do Estudo

1. FUNDAMENTOS EPISTEMOLÓGICOS DA INVESTIGAÇÃO

1.2 A Problemática, a Questão Central e os Objectivos do Estudo

A formação inicial em enfermagem implica um percurso formativo, aliado simultaneamente a um percurso de vida, experiências e expectativas relacionadas com o futuro do indivíduo a nível pessoal e profissional. Paralelamente, implica o compromisso de aquisição de conhecimentos quer teóricos quer práticos, bem como a aquisição e o desenvolvimento de competências, criatividade e capacidade de análise crítica, indispensáveis para o exercício da enfermagem.

Nesta lógica, e como já foi referido em capítulos anteriores, a formação inicial em enfermagem caracteriza-se por dois tipos de momentos formativos: um momento teórico em sala de aula, na escola, e um momento prático que se desenrola em contexto de trabalho, designado neste estudo por ensino clínico. É na articulação entre o contexto académico e o contexto de prestação de cuidados que se contribui de forma importante para o desenvolvimento das práticas e, consequentemente, para a melhoria da qualidade dos serviços que se prestam à população, através da formação de profissionais de

CI enfermagem cada vez mais competentes e interessados em evoluir, quer pessoal, quer profissionalmente.

Foi com base no que acima ficou exposto que se desenvolveu a presente investigação, na qual se pretendeu identificar e analisar as aprendizagens realizadas pelos enfermeiros orientadores de alunos em ensino clínico, com o objectivo de, futuramente, se poder investir no melhoramento destas aprendizagens. Este objectivo pressupõe, por um lado, contribuir para que os enfermeiros orientadores se tornem orientadores cada vez mais competentes e conscientes da sua importância no processo formativo dos futuros profissionais; por outro lado, assegurar aos futuros alunos uma orientação na prática cada vez mais completa e com maior qualidade.

Pires (2004) refere ainda que a qualidade da supervisão de alunos em ensino clínico é de extrema importância para a construção do seu conhecimento pessoal e profissional, assim como para o desenvolvimento das suas capacidades crítico-reflexivas, e na consequente solidificação da própria identidade profissional.

Assim, a investigação em enfermagem, tem um papel cada vez mais importante, não se podendo dissociar a prática dos cuidados, da teoria e é nesta interdependência que a investigação “oferece novos caminhos à profissão.” (Colliére, 1999, p.340)

Existem inúmeros trabalhos de investigação na área da supervisão de alunos em ensino clínico, com perspectivas e abordagens diversas, que constituiram importantes contributos para este estudo. De entre eles, pode destacar-se o estudo desenvolvido por Carvalhal (2003, p.XXI), que tratou do tema da supervisão pedagógica de alunos de enfermagem, realizado em parceria por enfermeiros da prática clínica e enfermeiros docentes. Esta autora procurou “compreender e analisar o que cada um dos três

parceiros envolvidos no ensino clínico – professores enfermeiros, enfermeiros e estudantes – valorizam no papel de cada um dos orientadores clínicos”, com a intenção

de contribuir para uma formação mais equiparada à realidade, uma vez que constatou que existem, paralelamente, diferentes representações acerca do papel dos orientadores clínicos. Carvalhal (2003) dá-se conta de um conflito entre duas concepções distintas: uma que se situa num paradigma holístico, com uma aprendizagem baseada na reflexão, tendo o aluno um papel mais activo e intervencionista e o orientador um papel de apoio; e uma outra concepção que trata o ensino clínico como um espaço para a aplicação de

CII conhecimentos e onde, por isso, o aluno tem um papel mais passivo, sendo o orientador tido como um elemento transmissor de conhecimentos. Uma das conclusões do estudo de Carvalhal (2003), relativamente aos enfermeiros da prática, foi a de que estes se situaram mais na segunda concepção apresentada, quanto ao papel dos orientadores clínicos.

Ainda no desenrolar do mesmo estudo, a autora cita Corcoran e Tanner (1998), que consideram que a actuação do enfermeiro orientador de alunos em ensino clínico requer o domínio do conhecimento científico em enfermagem e da sua aplicação concreta na prática dos cuidados.

Belo (2003) refere o estudo realizado por Fasano (1981), que revela que os alunos aprendem enfermagem através do que vêem ser praticado nos diversos ensinos clínicos pelos enfermeiros do exercício, enquanto os enfermeiros docentes se ocupam da construção de uma enfermagem ideal.

Em relação a este aspecto, Colliére (1999) confere extrema importância à constante e emergente actualização dos profissionais intervenientes no percurso de formação dos alunos, nomeadamente nos enfermeiros docentes. Esta autora defende a necessidade de estes manterem o contacto com o contexto trabalho, com a finalidade de se estabelecer uma estreita relação com o exercício profissional, evitando assim o distanciamento da prestação de cuidados. Esta necessidade é comprovada pelo conhecido choque com a realidade quando os recém-formados entram no mundo do trabalho.

Serra (2007) desenvolveu um estudo onde procurou compreender a vivência do papel do enfermeiro, em contextos de prática clínica, supervisor de estudantes de enfermagem em formação inicial. O desenho da investigação inseriu-se numa perspectiva qualitativa, com recurso à entrevista semi-estruturada como método de colheita de dados. Para o tratamento dos mesmos, recorreu-se à análise de conteúdo. Este autor concluiu que os enfermeiros orientadores entendem que o desempenho do seu papel de supervisores da prática clínica potencia o seu próprio desenvolvimento pessoal e profissional, na medida em que implica um questionamento constante acerca da realidade e acerca do seu próprio desempenho, quer como profissional, quer como supervisor de alunos, podendo mesmo colocá-lo em causa.

CIII Com a presente investigação, pretende-se compreender que aprendizagens realizam os enfermeiros da prática clínica ao orientarem alunos do curso de licenciatura em enfermagem. Com o objectivo de poder, futuramente, transmitir e partilhar estas mesmas aprendizagens com outros enfermeiros, quer orientadores quer futuros orientadores, entre os contributos que se pretendem obter a partir desta investigação destaca-se: a melhoria da qualidade no processo de orientação de alunos em ensino clínico, que um dia irão exercer a profissão lado a lado para um mesmo objectivo, ou seja, o de prestar cuidados de enfermagem com qualidade.

Neste sentido, traçou-se o seguinte objectivo geral de investigação:

- Identificar as aprendizagens realizadas pelos Enfermeiros prestadores de cuidados no decorrer do processo de orientação de alunos do Curso de Licenciatura em Enfermagem, em Ensino Clínico.

Como questão de partida da pesquisa formulou-se:

- Que aprendizagens realiza o enfermeiro orientador, ao orientar alunos em ensino clínico?

As aprendizagens que os enfermeiros orientadores fazem em contexto de trabalho, ou seja, em ensino clínico, são o objecto de estudo da presente investigação.

Para o desenvolvimento e condução do estudo, formularam-se diversas questões auxiliares de pesquisa:

- Que aprendizagens resultam do percurso formativo e profissional dos enfermeiros orientadores, relevantes para o processo de orientação de alunos? - Quais são as suas representações sobre o acompanhamento das práticas? - Quais as estratégias pedagógicas que adoptam na orientação de alunos?

Considerando o Ensino Clínico como uma interacção entre vários intervenientes - enfermeiro orientador, aluno, utente pediátrico, enfermeiro docente (a tempo parcial, através de breves visitas ao local do ensino clínico, no caso da presente investigação) e equipa interdisciplinar - resultando por isso, num fenómeno baseado na experiência humana. Neste contexto, considerou-se ser o recurso à metodologia qualitativa, o mais

CIV indicado, uma vez que permite a compreensão das experiências vividas pelas pessoas na sua interacção com os outros, e o consequente conhecimento de sentimentos, valores, crenças e concepções inerentes a essas mesmas experiências. Assim sendo, apresenta-se em seguida o desenho metodológico do trabalho empírico desenvolvido na presente investigação.