• Nenhum resultado encontrado

Muitas questões chamadas “éticas” são na realidade questões de relação. O termo “ética” é actualmente tão utilizado que nos podemos questionar se é sempre usado com pertinência, e isto também entre os profissionais de saúde; não se ganha nada com a banalização. Toda a situação que coloca questões, que interroga as pessoas ou os grupos, que põe em causa os valores, é facilmente qualificada de “ética”. Ora a metodologia proposta sobre a expressão de “ processo ético” não é sempre necessária. Não se pode dizer que haja vários níveis de questões propriamente éticas relevantes no âmbito dos cuidados de enfermagem? Porque, em certo sentido, “tudo é ético” no contexto das profissões de cuidar, porque todo o acto se inscreve numa relação.

Onde começa, então, a ética?

A relação é uma situação em que intervêm diversos factores que acontecem de diversas maneiras. É assim, por exemplo, que a relação de ajuda se aprende; trata-se de um trabalho sobre o próprio, para melhor se conhecer, discernir sobre as suas atitudes espontâneas, como seja aprender a escutar, a reformular. Ora, algumas questões qualificadas como éticas são na realidade questões de relação. O que é então ética e mesmo simplesmente a deontologia, é cada um responder à exigência de se formar, ou de fazer intervir alguém com formação quando isso é necessário.

Também todas as dificuldades nascidas numa relação, não estabelecida, ou mal estabelecida (por exemplo no acolhimento ao serviço, por ocasião de informações mal dadas ou mal recebidas, nas queixas dos doentes que não são atendidas, ou nas relações entre colegas); não colocam necessariamente problemas directamente éticos: alguns revelam a necessidade de pôr em

32

BESANCENEY, Jean-Claude (1992). Qu´est-ce qu´un “problème étique” Paris, Soins (561/562), Junho/Julho, p. 5-6.

prática uma deontologia. A ética não existe para corrigir as insuficiências relacionais ou deontológicas.

Pode-se dizer o mesmo, no âmbito das dificuldades que nascem do encontro de várias culturas. Como interpretar tal pedido ou tal recusa de um “cuidado” quando as dificuldades se complicam com o problema das línguas? O que é então ético, é encontrar o meio de as resolver seja através do conhecimento pessoal da cultura maioritariamente representada no nosso sector de actividade, seja através da intervenção de pessoas competentes.

Nestes domínios, que frequentemente não põem em causa senão a relação enfermeira-doente, os progressos que se conseguiram em alguns serviços hospitalares derivam do enquadramento de acções de humanização.

Os Dilemas éticos e o processo de tomada de decisão

Um dilema ético é uma situação em que a dificuldade de escolha da opção a realizar é por diversas razões difícil. Podemos considerar, de acordo com Alfaro-LeFevre (1996)33, que o dilema ético-moral envolve uma situação em que existem duas ou mais escolhas disponíveis, mas nenhuma delas parece satisfatória, sendo necessário escolher a melhor de todas.

A identificação dos dilemas éticos, e a forma de reflectir sobre eles, muitas vezes em períodos de tempo muito limitado e em situações de interdisciplinaridade nem sempre correctamente clarificadas, torna necessário que os profissionais de enfermagem possuam os conhecimentos e a experiência para contribuírem para a correcta compreensão, análise e tomada de decisão, à luz de referências bem ponderadas.

Surgem diariamente várias situações em que existem duas ou mais alternativas razoáveis e é necessário escolher entre elas; ou quando uma opção que se pensa escolher conduz a uma consequência não desejada, ou ainda numa situação em que não se sabe o que fazer, isto é, o que é correcto fazer.

Como se procede no quotidiano dos cuidados perante estas situações? A resposta a esta pergunta podemos encontrá-la com alguma visibilidade quando se trata das chamadas situações “pesadas”, em que muitas vezes são

33

ALFARO-LEFEVRE; Rosalinda (l996). “Pensamento crítico em enfermagem. Um enfoque

chamadas as Comissões de Ética para emitir o seu parecer; mas como se responde às questões dos dilemas profissionais e dos dilemas ético-morais que se vivenciam no decurso dos cuidados de “todos os dias”? É aqui que se coloca a questão do contributo da Dimensão Ética da Enfermagem, e da necessária qualificação específica da enfermeira para analisar, reflectir e contribuir para as decisões que estão inerentes a todo o processo de cuidados. Esta competência requer que os profissionais considerem em cada situação os seus valores pessoais e profissionais, as crenças e tradições, as perspectivas multidisciplinares, o enquadramento das várias alternativas para a acção, a decisão colectiva e as implicações concretas da decisão tomada. Em resumo podemos dizer que a competência Ética exige que o profissional de enfermagem confronte os valores humanos universais face aos valores dos actores em presença.

Este acto ético em que se procura o compromisso do melhor objectivo a atingir a partir do conjunto dos dados da situação é único e não pode ser transposto para outra situação.

O processo de decisão ética consiste na aplicação das competências éticas na análise e síntese referentes à identificação da situação e dos textos legais e/ou deontológicos que se podem aplicar, bem como os desejos e reacções do doente e família face à doença e ao tratamento. Consiste, ainda, numa abordagem reflexiva sistemática em que se procura identificar os Valores pessoais e profissionais, confrontando-os uns com os outros, as Crenças e tradições, as perspectivas multidisciplinares, pretendendo-se contribuir para o estabelecimento das várias alternativas para a acção, que deverão ser consideradas colectivamente e finalmente visa a aplicação da escolha proposta e a necessária avaliação de resultados, enquadrando as implicações práticas da decisão.

O processo de tomada de decisão ética deve ser acompanhado de vários aspectos como seja:

- Assegurar-se dos aspectos técnicos - científicos. - Ter como referência os Direitos do Homem.

- Considerar os aspectos jurídicos: a Lei exprime um consenso social que a ética não pode ignorar.

- Pensar nos aspectos deontológicos: as regras profissionais constituem as normas que definem a responsabilidade.

- Analisar as cartas, as recomendações e os “avisos” especializados.

- Ter em conta os dados religiosos e respeitar as diferenças culturais.

6. OS PRINCÍPIOS DE AUTONOMIA, BENEFICÊNCIA, NÃO MALEFICÊNCIA

Documentos relacionados