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Como referido, o desenvolvimento do ensino superior e a sua governação são processos recentes em Cabo Verde. A primeira universidade, a Universidade Jean Piaget de Cabo Verde (uma instituição privada) data do ano 2001 e a Universidade de Cabo Verde (Uni-CV) foi instalada no ano académico de 2006/2007.

Durante muitos anos, a formação superior dos cabo-verdianos nas mais diversas áreas foi assegurada no estrangeiro, no quadro da cooperação e da ajuda pública ao desenvolvimento. A formação superior em Cabo Verde, iniciada em 1979, como resposta à carência de professores para o ensino secundário, foi-se alargando, no entanto, para áreas como agricultura, ciências do mar, gestão portuária, contabilidade, gestão e administração, através de pequenas escolas que se evoluíram para institutos, mas atuando apenas com cursos do nível de bacharelato, ou seja, não conferentes do grau de licenciatura. No total, nas cinco instituições do ensino superior, no ano académico 2000/2001, frequentavam apenas 717 alunos (Ministério do Ensino Superior, Ciência e Inovação [MESCI], 2015), o que daria em média, pouco mais de 100 alunos por instituição.

de ofertas de vagas e bolsas pelos parceiros internacionais, não havia outro caminho, se não apostar na criação de instituições do ensino superior capazes de engendrar respostas para a procura de formação nas mais diversas áreas, mas também para fazer o país enquadrar-se na dita era da sociedade do conhecimento.

É assim que do ano 2001 a 2012 foram criadas dez instituições do ensino superior, sendo seis de natureza universitária e quatro institutos universitários. Entre essas instituições está a Uni-CV criada a partir da fusão dos três institutos públicos de ensino superior que existiam (Instituto Superior da Educação - ISE, Instituto Nacional de Administração e Gestão - INAG e Instituto Superior de Engenharias e Ciências do Mar – ISECMAR).

Nesse contexto, emergiu-se um novo quadro de maior visibilidade do ensino superior no arquipélago, passando esse setor a constituir-se num dos principais focos de atenção político-social. Tanto é assim que, de 2001 a 2014, o número de efetivos estudantís no ensino superior passou de 717, para 13393, representando um aumento de mais de mil alunos por ano (MESCI, 2015).

Face a essa nova realidade vivida por Cabo Verde, mas também que se verifica no plano internacional, motivada pela forte procura do ensino superior devido à consciência, cada vez maior, da importância do conhecimento e relevância deste, enquanto instrumento de desenvolvimento económico e de mobilidade social (Krücken, Kosmützky & Torka, 2007), a governação do ensino superior, enquanto subsistema educativo, e da universidade constitui-se numa questão nova, por conseguinte, num desafio que é colocado à sociedade cabo-verdiana.

Como governar a universidade para que, como refere Sobrinho (2016), ela possa contribuir para a elevação da dignidade humana, pela construção das bases de uma sociedade mais justa, mais igualitária e desenvolvida moral, intelectual e economicamente, é a questão que se coloca, particularmente, num país de pouca tradição e experiências académicas, como Cabo Verde. A questão se coloca ainda com maior preocupação quando se considera que se trata de um país com uma população reduzida e com o agravante de 35% desta viver ainda na pobreza absoluta (Instituto Nacional de Estatística, 2016).

É neste quadro que surge o nosso interesse pela problemática da governação da universidade e do ensino superior, de uma forma geral, tendo por isso constituído o objeto da presente tese de doutoramento em Educação, especialidade em Administração e Política Educacional: A Governança Universitária: Modelos e Práticas. O Caso da Universidade de Cabo Verde.

Nesta perspetiva, a nossa preocupação deu origem à seguinte questão de partida: Como se processou a governação da Universidade de Cabo Verde no período de 2006 a 2015?

Como linhas de força para a compreensão da temática e proceder à sua apreciação, como previsto no objetivo geral, o caminho heurístico seguido orientou-se pelas seguintes questões geradoras: a) Quais são os stakeholders internos e externos identificados e considerados nos processos de organização e funcionamento da Uni-CV, tendo em conta a sua missão? b) Que atores participam do processo de governação da Uni-CV? c) Como é que os stakeholders internos percecionam a autonomia da Uni-CV? d) Como se processa o financiamento público e formas alternativas de financiamento da Uni-CV? e) Como se desenvolvem as políticas estratégicas no domínio da docência? f) Como se desenvolvem as políticas estratégicas nos domínios da investigação? g) Como se desenvolvem as políticas estratégicas nos domínios de transferência do conhecimento na Uni-CV?

Estas questões orientaram toda a investigação conducente ao objetivo geral da tese, consistente em: Apreciar a governação da Universidade de Cabo Verde no período de 2006 a 2015.

A materialização deste objetivo foi processada através da concretização dos seguintes objetivos específicos: a) Analisar como o conceito de stakeholders internos e externos é desenvolvido na Uni-CV, no seu processo de governação; b) Identificar os atores participantes do processo de governação da Uni-CV; c) Explicitar a perceção que os stakeholders internos têm sobre a autonomia da Uni-CV; d) Apresentar o financiamento público e formas alternativas de financiamento da Uni-CV; e) Analisar como se desenvolvem as políticas estratégicas no domínio da docência na Uni-CV; f) Descrever como se desenvolvem as políticas estratégicas na área de investigação na

Uni-CV; g) Descrever como se desenvolvem as políticas estratégicas na área de transferência do conhecimento na Uni-CV.

De um modo geral, com a mobilização de respostas para os diferentes objetivos operacionais, de forma articulada, foi possível proceder à apreciação da governação da Universidade de Cabo Verde, no período de 2006 a 2015 e, dessa forma, dar uma contribuição para o processo de governação da referida instituição, mas desejamos, particularmente, poder contribuir para que o debate público e a reflexão sobre o processo de governação do ensino superior e das universidades possam ganhar espaço no campo político e académico em Cabo Verde.