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Capítulo 5: COMO PESQUISAMOS? METODOLOGIA 11

5.1 O Problema: O Saber das Perguntas 11

O objeto de estudo desta dissertação é a relação entre o educador, o livro infantil e as crianças. Especificamente, a pesquisa pretende investigar de que maneira o educador, por meio da contação de história infantil, constrói possibilidades (ou não) de transformar a literatura infantil em um facilitador (ou não) da construção identitária da criança negra, na educação infantil, a partir de seu discurso ao ler a história, propiciando a criatividade e autoria de pensamento.

5..2 Objetivos 5.2.1 Objetivo geral

Analisar de que forma o professor da Educação Infantil (5-6 anos) utiliza, a partir dos momentos de contação de história por meio do seu discurso, os livros dos

119 cantinhos de leitura como um instrumento facilitador (ou não) da construção identitária, propiciando (ou não) a criatividade e autoria de pensamento da criança negra.

5.2.2 Objetivos específicos

 Analisar os critérios de escolha dos livros de literatura infantil que constituem os cantinhos de leitura da educação infantil na creche;

 Analisar como a técnica de contação de histórias na Educação Infantil da creche, realizados pela auxiliar da sala, pode servir (ou não) como possibilitador da construção de um espaço para o surgimento de valorização da identidade negra;

 Observar de que maneira os livros utilizados dos cantinhos de leitura da educação infantil na creche são (ou não) facilitadores da constituição identitária da criança negra na faixa de 5-6 anos de idade.

5.3 Lócus do estudo

A pesquisa foi desenvolvida em uma creche de cunho comunitário e filantrópico de uma rede católica, na Comunidade Santa Marta, localizada na Zona Sul do município do Rio de Janeiro.

A escolha da instituição se deu a partir de minha entrada no ano de 2012 no Colégio em que atuo como educadora de projetos sociais e voluntariado. O Colégio é da mesma rede católica da creche. As atividades de voluntariado realizadas diariamente pelos alunos do colégio são realizadas na creche citada. Desse modo, a minha entrada como pesquisadora foi de fácil acesso e o diálogo foi flexível e bem aceito.

Desde o meu primeiro contato com a creche pude perceber que neste espaço existe uma tensão entre identidades individuais, coletivas e institucionais, que acaba estabelecendo uma invisibilidade nos processos identitários das crianças.

A identidade institucional, que não é própria da comunidade no qual está inserida, a representação do humano é preferencialmente eurocêntrico-branca, embora os sujeitos que frequentam a creche – crianças, educadores e colaboradores – sejam, em sua maioria, negros e pardos. Além disto, os livros infantis que a creche possui são, em sua maioria, doados pelos alunos do Colégio. Tal questão me instigou a investigar e a discutir com mais complexidade as questões de relações étnico-raciais desta creche.

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5.3.1 Identidade velada da Creche

A creche está situada na Comunidade Santa Marta, que fica no bairro de Botafogo, zona sul da cidade do Rio de Janeiro. A instituição fornece a educação infantil na modalidade creche – berçário, maternal e pré-escolar em horário integral. Ela atende 122 crianças do maternal ao pré-escolar, distribuídas em 6 turmas.

A identidade da instituição até o ano de 2014 era de cunho comunitário, tendo ajuda da rede católica apenas por meio de doações de materiais e capital de forma pontual. Atualmente a creche é de uma rede católica na modalidade de filantropia. A identidade atual é dita como uma creche que expressa os ideais de uma educação pautada em valores da fé cristã, da justiça, de cultura de paz, da solidariedade, do respeito às diferenças e ao bem comum. O mote da instituição é “Todos por um e um por todos, o que nós fizermos é nosso.”

Ao olhar o projeto político pedagógico20 da creche pude refletir acerca de algumas questões colocadas no papel e que de lá para a prática na sala de aula, ainda falta bastante. Nos próximos subitens, citarei algumas das características da creche, citadas no projeto político pedagógico.

5.3.1.1 Missão da creche

A creche tem como missão promover a formação integral das pessoas, oferecendo educação de excelência com compromisso social.

5.3.1.2 Objetivo da creche

A creche tem como objetivos contribuir para o desenvolvimento integral das crianças em seus aspectos físicos, cognitivos, afetivos, culturais e sociais. Para tal, a creche afirma oferecer um ambiente que oportuniza a integração das crianças e possibilita experiências para que elas se expressem.

A creche aponta que esta proposta visa a exploração dos ambientes e dos materiais para que as crianças conquistem progressivamente sua autoestima entendendo esse valor como a capacidade de fazer escolhas e de solicitar ajuda. Os princípios contidos na Lei de Diretrizes e Bases (LDB n 9.394/96), os princípios expressos no Estatuto da Criança e do adolescente ( ECA Lei 8.069/1990) e os direitos fundamentais das crianças são norteadores do objetivo da creche.

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5.3.1.3 Justificativa sobre a estrutura da creche

A creche acredita na importância de oferecer experiências que possibilitem a expressão das crianças por meio de múltiplas linguagens (simbólica, plástica, musical, corporal, verbal e outras). Portanto, é que a creche acredita que se faz também necessário a organização dos ambientes das salas em cantos temáticos que instiguem a curiosidade das crianças.

5.3.1.4 Concepção de criança para a creche

A criança é entendida como um sujeito histórico e de direitos que constrói sua identidade nas interações, que experimenta, narra, constrói sentidos e produz cultura,

5.3.1.5 Concepção de desenvolvimento e aprendizagem

A creche considera que as aprendizagens são construções pessoais que se estruturam num processo de interação. Acredita que a linguagem da brincadeira é utilizada pelas crianças para ler o mundo ao seu redor. Na brincadeira a criança imita, atribui significados, cria e reconstrói as experiências percebidas e sentidas na realidade do seu cotidiano, a metodologia que a creche diz fazer uso, é a metodologia das atividades lúdicas.

Para a creche a brincadeira instiga a curiosidade, convoca à participação, promove o processo criativo, o pensar e oportuniza múltiplas formas de expressão. Implica também em interações onde há oportunidades para aprender a conviver, exercitando regras de convivência, bem como enfrentamento de desafios a serem superados.

5.4 Sujeitos – quem são os sentados na roda?