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Problemas e desafios da consolidação da participação e da cidadania

6 CONSTATAÇÕES A PARTIR DA REALIDADE INVESTIGADA

6.4 Aprendizagem e consolidação da participação e da cidadania

6.4.1 Problemas e desafios da consolidação da participação e da cidadania

Um problema do Processo de Participação Popular, apontado pela liderança local, foi o caráter “colonialista das estruturas de poder” no que se refere aos encaminhamentos por parte do governo no Estado em que este propõe para que a população vote em situações que seria de sua competência fazer, não necessitando consultar a população para tanto.

Penso que no PPP a população aprova aquilo que o executivo propõe. Existe certa “colonização da estrutura dos poderes”, há uma perda de substância do poder de participação, há democracia, mas não há educação política na mesma dimensão. Em algumas regiões o Estado propõe ao PPP o óbvio, como por exemplo, reforma em escolas. A população acaba votando em reformar uma escola, algo que seria óbvio que o Estado deveria fazer. Não é necessário votação para isso. (WF, conselheiro, 2010).

Na mesma linha de críticas sobre o processo foi mencionado, que o Estado também direcionava o investimento, cabendo a população somente dizer onde gostaria que o investimento fosse realizado. Não sendo dada a esta a opção de inovar ou a liberdade de expressar a totalidade da sua vontade.

Na Educação, por exemplo, o que acontecia era um “carimbamento do recurso”, ou seja, o Estado já dava o norte ou o direcionamento em que deveria ser investido, cabendo a população somente dar o endereço do investimento. Por exemplo: O Estado dava o norte de que o investimento seria feito em uma quadra de esporte, assim cabia a população somente votar se a quadra seria construída na Escola X do Bairro Y ou na Escola Z do Bairro H. Esse fato “restringia a criatividade da população”, bem como não cabia a ela optar por outros investimentos como, por exemplo, rede de esgoto, hospital ou outra necessidade. (OS, ex-presidente, 2010).

Entretanto, cabe destacar que em relação ao Novo Hospital Bom Pastor, os entrevistados acreditam que o PPP promova à educação política, a participação, a cidadania, pois este advém da vontade da sociedade civil organizada, ou seja, esta conseguiu expressar sua vontade.

No Novo Hospital Bom Pastor a comunidade apresenta e discute os projetos. Tem razoável sucesso. Destaco que o PPP promove a educação política resguardado àquilo que seria relativo aos Conselhos Regionais de Desenvolvimento, ai se distinguiu, pois tem projeto que são deveres do Estado. Mas um projeto com o NHBP não é. Ele é a expressão da vontade da sociedade, na solução de problemas que em muitos lugares espera-se que o Estado resolva tudo. (WF, conselheiro, 2010).

Outro problema recorrente mencionado pelos entrevistados foi a não execução dos valores relativos aos projetos votados pela população na Consulta Popular, ou uma execução parcial e não equilibrada, por vezes, por parte do Estado, gerando frustração, descrédito da população frente ao processo, agravada no início de 2007 devido à mudança de governo no Estado ocasionando instabilidade quanto ao pagamento dos valores em atraso.

Contudo o PPP sofreu uma crise de desencantamento por parte da população por volta dos anos de 2004, 2005, 2006, 2007 devido ao fato de que o que era votado e eleito pela população não era colocado em prática, ou seja, não eram liberados recursos por parte do governo estadual para que os investimentos de fato acontecessem. Então o processo era como um “faz de conta”. (OS, ex-presidente, 2010).

Contudo, a história mostra que o problema da não execução daquilo que a população decidiu como prioridade ocorre desde 1998, devido ao fato de que um governo não quer assumir aquilo que foi realizado pelo outro. Além desse conhecido dilema foram apresentados outros problemas como entraves burocráticos e o não encaminhamento de documentos no tempo adequado para o repasse dos recursos legais, bem como problemas de interpretação que também vem a dificultar a execução dos recursos e, por conseguinte, da vontade popular.

Esse problema de não execução ocorre desde 1998 com o governo Brito, porque o governo que assume não quer cumprir a consulta de outro. Ai o COREDE fica batendo na mesma tecla, tem que cumprir. No PT também houve muita dificuldade em cumprir inclusive o que foi votado no OP também houve problemas de execução de toda ordem. Por exemplo: Foi votado para que uma escola municipal de Ijuí fosse equipada com computadores. Ai o que o governo diz: Não pode. Tem que ser escola estadual. Então começou a se fazer amarras desse tipo e isso existe até hoje com todo tipo de problema. Tem amarras até constitucionais, às vezes, ou até de interpretação [...] que impedem que determinados projetos sejam implementados. (SLA, coordenador COMUDE, 2010).

Em relação à construção do Novo Hospital Bom Pastor, o atraso no pagamento dos valores da CP ocasionou um descompasso entre o cronograma previsto e o executado. Entretanto, a obra não parou devido ao apoio das empresas locais que concederam crédito ao Novo Hospital.

Todavia, segundo a direção executiva do Novo Hospital, o NHBP não veio a enfrentar dificuldades por entraves burocráticos que pudessem prejudicar a execução em dia dos recursos da CP.

A falta de uma discussão interna por parte do Estado junto às instâncias que deveriam acompanhar os trâmites da Consulta Popular, também foi percebida pelos entrevistados como um problema no processo como um todo, pois ocasionou entraves nos encaminhamentos. Contudo, este problema também não foi enfrentando pelo Novo Hospital Bom Pastor, devido a Secretaria de Saúde ter apresentado condições favoráveis.

No Estado, as secretárias não se preparam para acompanhar a Consulta Popular de modo geral. Exceto a Secretaria da Saúde que estava preparada. Os agentes das secretarias também não percebiam a

importância do processo. “Não foi feita uma discussão interna para agir”. (OS, ex- presidente, 2010).

Como desafio denota-se em relação ao PPP, a necessidade que este venha a promover a educação política, bem como a participação na sua essência, ou seja, sem anulação dos princípios que a fundamentam como a possibilidade de intervir nas decisões. A participação cidadã no PPP necessita ser revisitada. Uma vez que a promoção incentivada pelo Estado está em desarmonia com a construção preconizada por estudiosos visando a sua consolidação.