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6 CONSTATAÇÕES A PARTIR DA REALIDADE INVESTIGADA

6.4 Aprendizagem e consolidação da participação e da cidadania

6.4.2 Revelações da consolidação da participação e da cidadania

Quando questionados sobre as principais revelações da Consulta Popular, ouviram-se questões que serão destacadas, tais como:

O PPP revela que a sociedade precisa aprender a fazer-se ouvir mais perante o Estado. A proposta do NHBP é nova porque advém da comunidade, ela propõe. Contudo depara-se com uma estrutura por parte do Estado com composição paternalista e eleitoreira. O Estado “hora vê a iniciativa da comunidade e hora não vê as necessidade e sim os votos que pode angariar com a iniciativa”. Assim é difícil porque quem precisa dos recursos precisa conviver silenciosamente com isso. A sociedade quer por si resolver seus problemas e quer o Estado como parceiro. Contudo o Estado está de olho nos votos e não nas necessidades da sociedade. Eu não posso me silenciar diante disso. (WF, conselheiro, 2010).

Quanto à participação do Novo Hospital Bom Pastor na Consulta Popular, este revelou que é necessário “uma democracia mais efetiva, menos clientelista”, na visão de alguns conselheiros. Pois tanto a sociedade como o Estado aprovam o Novo Hospital, contudo a liberação de recursos que deveria vir de forma como conseqüência desta aprovação até o final da obra não acontece. A forma como está estruturado o processo participativo faz com que a cada ano o Novo Hospital tenha que submeter-se a nova Consulta Popular. Além disso, pode necessitar, ainda, apoio de políticos para que o projeto, mesmo que aprovado, tramite até o final, ou seja, até a execução dos recursos que lhe são devidos pelo Estado. Pois pode ocorrer que o projeto fique “parado” em algum órgão do governo.

Carecemos de uma democracia mais efetiva menos clientelista. Pois uma vez o projeto aprovado no PPP, o governo deveria passar a ser parceiro da proposta, e não o que acontece hoje que mesmo depois de aprovado tem que se fazer uma via sacra para conseguir os prometidos recursos. Deveria

ser óbvio o repasse dos recursos após a aprovação do projeto. Contudo a cultura paternalista, clientelista não permite a conclusão da obra. Outras experiências como em países da Europa isso funciona. Na cidade de Münster, onde morei e conheço o prefeito na Alemanha a sociedade discutiu sobre a construção de um aeroporto. Claro essa discussão não foi reunindo toda a população em um auditório, foi com os representantes reunidos em comitês, grupos de trabalho. Todos os governos reconheceram a importância da construção do aeroporto e a partir dali encaminhou recursos até a execução e conclusão da obra. Neste caso o governo é parceiro. É não como aqui, que ficamos a cada ano aprovando o projeto e com o chapéu na mão solicitando recursos aos políticos. Essa visão é clientelista. Os políticos pensam que são donos do dinheiro. E o povo ainda não se deu conta disso. (WF, conselheiro, 2010).

O Processo de Participação Popular revelou, conforme os entrevistados, a ampla aprovação do projeto por meio do voto da população como também por meio de pareceres de instâncias como o Conselho Municipal de Saúde e a Comissão Bipartite Regional que abrange 21 municípios da região. Este último parecer foi necessário devido ao Novo Hospital ter caráter regional.

Entretanto, outros entenderam que o processo revelou que seria possível uma participação mais massiva da população apta a votar, elencando como sugestão que a Consulta Popular tivesse o repasse o regular, e que não fosse um episódio, mas um processo. Além disso, que tivesse por parte do governo uma maior publicização dos investimentos e uma forma de avaliar os efeitos desses projetos na qualidade de vida da população.

Hoje a consulta popular tem data pra começar e terminar. Eu acho que deveria ser uma ação permanente para que a população fosse percebendo que a sua participação faz a diferença que a sua participação pode mudar as coisas que de um modo geral, As pessoas reclamam: falta isso, falta aquilo, não temos estradas, não temos um atendimento adequado, não temos saúde. Reclamar, as pessoas reclamam bastante. Então o processo revela que é trabalhoso. Eu tenho certeza que o Corede vai dizer que trabalha o ano todo para fazer a Consulta Popular. Os conselhos de desenvolvimento também já devem estar preocupados para ver como fazem já deve fazer as reuniões periódicas, devem vir à tona os planos estratégicos dos municípios. Essas coisas não são muito claras para a população. Para a população parece um episódio, em tal data vai acontecer a Consulta Popular. E ai também nós nos botamos a fazer a busca do voto, porque cada instituição já está pensando seu projeto. Porque no nosso planejamento nos já estamos pensando como é que nós vamos participar da Consulta Popular, bom e depois daí a gente sai atrás do voto. Então a gente tem que ficar no período que antecede a consulta popular usando o meio eletrônico, a imprensa, escrita, falada, televisiva, usando nossos canais de relacionamento até mais pessoais. (ESB, vice-presidente social, 2010).

Houve registro de que a vinda dos recursos da Consulta Popular para a obra no Novo Hospital ativou postos de trabalho local e regional, direto e indireto. Como também denotou que a obra gera economia devido ao fato de que o Novo Hospital ser uma entidade filantrópica, em que os membros da diretoria não são remunerados, também porque não há gasto com viagens tendo em visto que os gestores residem no município da obra, “se fosse realizada pelo Estado, os custos seriam infinitamente maiores” (OS, ex-presidente, 2010).

O Processo de Participação Popular revela, entre os entrevistados, que o Estado deve dar continuidade à condução do processo independente de partido. Pois, segundo estes, o processo está institucionalizado, os aperfeiçoamentos realizados foram positivos, bem como estes favorece as discussões de forma organizada, ou seja, “retira a intromissão política. Inclusive os políticos não gostam muito do PPP porque a população tem deixado os políticos de fora. O contato da população acaba sendo mais com o Corede que é o gestor do processo” (OS, ex- presidente, 2010).