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PROBLEMAS DO SUS NA PERCEPÇÃO DOS GESTORES LOCAIS,

No documento Medicina Homeopática: Avaliação de Serviço (páginas 182-185)

Autores como Mendes, Pinheiro e Luz, vêm delineando os inúmeros problemas enfrentados para estruturação e manutenção do SUS, porém não será objeto deste trabalho aprofundar o assunto, apenas discutir e analisar as principais dificuldades apontadas pelos atores entrevistados neste estudo, em Vitória, ES.

A crise da saúde pública é reentrante e vários aspectos são identificados para a conservação dos graves impasses. O principal problema é a deficiência do acesso da população, as enormes filas de espera, a má qualidade do atendimento e a falta de resolutividade do sistema como um todo, especialmente nos serviços de urgência. O descaso governamental contribui para que a atual situação se perpetue, devido aos baixos investimentos nos setores relacionados à saúde e a má alocação de recursos.

O SUS continua com os mesmo problemas de vinte anos atrás, os pacientes nos corredores dos hospitais, sempre com as mesmas queixas. Pra se marcar um consulta tem que passar uma noite na fila (fala do profissional).

A pior crise é pelo descaso do governo, só lembram da gente quando querem conseguir votos. Se quisessem melhorar contratariam mais médicos, faltam médicos. No papel é diferente da realidade (fala do usuário).

Para os gestores, as principais causas da longa espera pela consulta se relacionam ao aumento populacional e a crescente demanda de usuários dependentes do SUS, em decorrência do empobrecimento da população e da deficiência de profissionais na Rede.

Há um tempo atrás, 80% da população tinha plano de saúde. Mas hoje essa situação inverteu, e a maioria das pessoas não tem condições de pagar ao plano privado. Hoje no máximo 20 % têm plano de saúde e por isso a demanda do SUS aumentou tanto [...] (fala do gestor).

[...] atendemos de 300 a 400 pacientes por dia no PA. Isso é desumano com a equipe. Eles atendem a todos que procuram, independente de onde sejam. Se saírem daqui vai procurar atendimento onde? Não é atribuição do PA, mas é atribuição do SUS atender todo mundo! (fala do gestor).

Valer-se do SUS é um direito de qualquer cidadão, mas os problemas e as distorções existentes no Sistema inibem o acesso da maioria da população de maior nível socioeconômico e cultural que, ao optar pela assistência privada, deixam de pressionar as instituições por uma assistência digna e de qualidade. No entanto, o aumento de pessoas de classe média e de maior escolaridade que ingressam no SUS tem ampliado o grau de exigência da clientela. É o que comenta um usuário: "O SUS é importante porque quem paga imposto tem que ter direito a uma assistência de qualidade e deve ser igual para todos, mesmo para aqueles que têm algum poder aquisitivo"

Nessa ordem, a clientela menos favorecida economicamente, sem condições de pagar por um plano de saúde, opta pelo SUS pela falta de recursos e não por opção, já que na opinião dos usuários, a alternativa que oferece melhores condições e mais segurança é a medicina privada. Mendes (2001, p. 57) relembra que “ao criar-se um sistema singular para os pobres, dada a desorganização social desses grupos excluídos e sua baixa vocalização política, o sistema tende a ser subfinanciado e, portanto, ofertar serviço de menor qualidade” , quando, na verdade, a saúde ou os seus serviços não têm que ser para os pobres; pobres por vezes, são os recursos destinados.

Essa opinião não é consensual, algumas pessoas demonstram grande satisfação com o atendimento prestado, ainda que haja diferenças expressivas na qualidade da atenção, dependendo do município que freqüentam e do tipo de serviço que usam.

Eu tou pelo SUS porque não posso pagar plano de saúde, mas este serviço demora muito (fala do usuário).

O SUS não é igual em todo lugar não. Nessa faixa do interior, eu pagava alguém que dormia na frente do posto de saúde pra conseguir a vaga pra pediatra ou qualquer outro médico ou dentista. O SUS deixava muito deixa a desejar. Aqui é bem melhor [...] (fala do usuário).

Os problemas de infra-estrutura são recorrentes e se estendem também para a carência de equipamentos básicos e insumos de baixo custo. Parece estar institucionalizado a inoperância dos responsáveis pelos serviços, bem como a conivência de grande parte dos profissionais. É freqüente a aquisição de produtos

de baixa qualidade com pequena vida útil, de forma que, freqüentemente, não se pode dispor de recursos mínimos para a execução de procedimentos indispensáveis numa Unidade de Saúde. São fatores que desestimulam fortemente as equipes compromissadas.

Existe todo um problema estrutural de resolutividade que você não consegue avançar. Você vai trabalhar num pronto-socorro e o aparelho de cardioversão tá estragado. Você tem que ficar fazendo adaptações, aí pega o laringoscópio que está com a lâmpada queimada [...] (fala do profissional).

Por outro lado, a ineficiência do atendimento do SUS é também fruto da má atuação de grande parte dos servidores da saúde que, por não serem devidamente valorizados com bons salários, capacitação e perspectiva profissional prestam um atendimento improdutivo e sem resolutividade.

[...] eles vêm até aqui e fingem que atendem e o doente fica igual a uma bolinha de pingue-pongue [...] (fala do profissional).

[...] têm muitos médicos que só teoricamente trabalham. Eles vêm até aqui e fingem que atendem. Não resolvem o problema do doente. Então talvez se valorizassem mais o profissional, se fosse mais respeitado e também se valorizasse mais em termos de remuneração, ele não precisaria ficar fingindo que trabalha e correr atrás de um consultório. Porque é aquela história, um finge que trabalha e o outro finge que paga e quem paga por tudo isso é o povo que não tem um atendimento adequado (fala do profissional).

Há grandes impasses para solucionar as crises visando ao sucesso do SUS, mas necessariamente passam pela construção coletiva e pelo maior envolvimento dos profissionais em todas as instâncias, num espírito de fortalecimento da capacidade de exercício da cidadania. "O SUS é idealisticamente interessante, acho que é por aí mesmo, tem que caminhar, tem que ter um alto idealismo, mas tem que batalhar junto [...]” (fala do profissional).

Identificam-se como indispensáveis para a melhoria da atenção prestada no SUS, mudanças estruturais nos currículos das escolas de formação dos cursos da área das ciências da saúde, a fim de melhor capacitar os profissionais e promover um comprometimento ideológico com o sistema. Essa qualificação implica em alcançar uma transformação de prática, tornando-a mais humana e voltada para as reais necessidades dos usuários. A idéia de se promover trocas de saberes, parceria

entre os diversos profissionais de saúde deve ser enfatizada em virtude da necessidade de construção de um trabalho integrado e interdisciplinar indispensável para o sucesso do SUS. "[...] O SUS precisa humanizar mais esse atendimento. Não são só números, mas quantas pessoas você atendeu... Será que as pessoas estão satisfeitas com o que está aí? [...]" (fala do profissional).

No documento Medicina Homeopática: Avaliação de Serviço (páginas 182-185)